Apresentação
Resumo
Apresentação
Os textos reunidos neste número da Revista Araticum atestam o crescente interesse pelo afeto e suas diversas potencialidades poéticas, teóricas, analíticas, de resistência contra o retrocesso político e contra a emergência do fascismo, além de uma perplexidade diante do recrudescimento dos dispositivos de controle do corpo e dos sujeitos no Brasil e no mundo (ver texto de Alessandra Rech nesta edição). Como afirma Gregory J. Seigworth e Melissa Gregg em The Affect throry reader, “o afeto surge em um entre-lugar: nas capacidades de agir e de sofrer a ação de algo” (tradução nossa) (2010, p. 1). Esse caráter liminar do afeto sintoniza-se com esses “tempos de relacionamentos virtuais e identidades pulverizadas”, de acordo com a expressão de Geraldo da Aparecida, um dos colaboradores deste volume.
Assim, a própria questão de sujeito retorna como um elemento norteador e provocador de leituras. Não encontramos aí nem mais o sujeito estável e desincorporado do cartesianismo nem o sujeito invisível e anônimo que resultou de algumas (des)leituras de teorias pós-estruturalistas. Trata-se de entender os diversos vetores de forças sociais e ideológicas que perpassam o sujeito e que emanam dele, promovendo encontros e fricções, descobrindo histórias e vidas através de relatos em diferentes suportes e mídias.
Vale ressaltar, aqui, o legado dos estudos feministas e da Queer theory para o que chamamos de teoria do afeto. Desde os anos 1980-1990 vários autores têm buscado renovar o entendimento sobre as políticas da emoção, cruzando fronteiras disciplinares e fomentando discussões que convergem, neste número, para formas que vão desde a análise das relação interartes na produção de artistas contemporâneos, passando pelo escrutínio de conceitos e autores já consagrados na literatura brasileira (como é o caso de Luciene Pereira, que aborda os temas da civilidade e cordialiadade em Guimarães Rosa), até aproximações entre textos atuais e antigos (ver texto de Rafael Quevedo).
Não estaríamos, então, com esta proposta, somente buscando confirmar o que Patricia Clough chamou de “virada afetiva” nos campos das ciências humanas e sociais (conf. The affective turn: theorizing the social, 2010). Os textos publicados aqui nos mostram que não há um corpo coeso que poderia se cristalizar em torno do rótulo “teoria do afeto”. Seria mais interessante pensar em diversas teorias do afeto, divulgar tendências em plena fruição em outros países no que diz respeito à questão das emoções, e criar espaços para o debate e para a reflexão nessa direção em nosso país, permitindo que autores possam trazer suas experiências de pesquisa e seus afetos para o âmbito da publicação acadêmica.