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Dossiê Literatura e Filosofia
Vol. 25 No 1 (2023)Organizadores: Prof. Dr. Alex Fabiano Correia Jardim/Unimontes
Prof. Dr. Elton Luiz Leite de Souza/UNIRIO
A relação entre filosofia e literatura são conhecidas historicamente. Citando a tradição grega, podemos lembrar da presença de temas de Homero em Platão, não obstante sua abordagem negativa acerca da criação poética e da mímesis. Os próprios “diálogos socráticos” eram inicialmente um gênero literário mais geral, gênero incorporado e adaptado por Platão para fins filosóficos.
Mais recentemente, poderíamos ainda citar a afirmação de Deleuze segundo a qual o filósofo cria personagens conceituais para definir seus conceitos, personagens esses tomados de empréstimo de um procedimento análogo na literatura. Ou seja, para ser plenamente compreendido, compreendido de maneira não apenas teórica, um conceito filosófico requer mais do que a definição lógica: o conceito requer que um personagem o explique vivendo-o (tal como o personagem conceitual-Sócrates que define-explica o conceito de Bem praticando-o, sendo do Bem a boca , os pernas e braços).
Teríamos vários exemplos que ilustram essa relação, pois a literatura esteve sempre presente no itinerário histórico e conceitual da filosofia, seja no campo da filosofia da arte, da estética ou até mesmo numa forma mais específica através de disciplinas, projetos de pesquisa, grupos de estudos em literatura e filosofia. Nesse sentido, essas relações e interlocuções constituem importantes debates e são temas frequentes nas análises de Platão, Rousseau, Condillac, Goethe, Voltaire, Schlegel, Diderot, Novalis, Sartre, Simone de Beauvoir, Nietzsche, Camus, Derrida, Foucault, Deleuze, etc.
Por outro lado, é importante ressaltar que a literatura, por sua vez, recepciona os conceitos filosóficos, como nos romances que incorporam o subjetivismo, o idealismo, o realismo, sem contar os escritores que se dedicaram à ficção com conteúdos filosóficos, como Umberto Eco, Milan Kundera, Dostoiévski, Shakespeare, Hermann Hesse, Herman Melville, Henry Miller, Kafka, Sartre, entre outros.
A inter-relação entre as áreas é de tal ordem que se percebe nos movimentos históricos dos diversos períodos literários os movimentos das ideias filosóficas. Seja como reconfiguração de temas ou na construção de perspectivas, a literatura em geral foi sempre sensível aos saberes promovidos pela filosofia, além da influência da literatura como antecipação de questões filosóficas em autores como Sófocles, Flaubert, Proust, Beckett, Joyce, Michel Tournier, Zola, Dostoiévski, Lewis Carrol, etc.
A ideia deste número da Araticum (v. 25, n. 1), Dossiê Literatura e Filosofia, não é apontar ou estabelecer qualquer tipo de hierarquia entre literatura e filosofia. Muito pelo contrário, a ideia é criar as condições para uma composição possível, mais ou menos harmônica. Parafraseando Nietzsche, a filosofia , tal como a literatura, seria uma forma de contemplação do espetáculo sublime do mundo. O que estará em jogo a partir desses dois olhares (Literatura e Filosofia), é o pensamento, a imaginação, a intuição, a percepção, a memória. Não está em questão estabelecer uma classificação no sentido de afirmar “este é filósofo”, “este é um escritor/literato”. Claro, salvo os estilos da escrita e seus movimentos, uma obra pode ser pensada a partir de vários olhares, sempre aberta e sem ser reduzida a uma única forma, dura e enrijecida, como acontece em toda classificação categórica. Como não perceber um poderoso movimento filosófico em Lima Barreto, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Hilda Hilst, Conceição Evaristo e outras centenas de escritoras e escritores? Nesse aspecto, literatos tornam-se filósofos e filósofos tornam-se literatos, experimentando devires a partir da experiência da escrita.
Este número da Revista Araticum pretende tratar dessa relação entre literatura e filosofia abandonando a perspectiva de que ambas não se comunicam ou são irreconciliáveis. A perspectiva é apontar e tecer entre elas questões comuns e próximas. Se há quem defenda a existência de um limite, de uma fronteira entre esses dois campos do pensamento, por outro lado, existem aqueles que problematizam o ultrapassamento dessa fronteira, numa convergência absolutamente produtiva, criativa e potente. Mas uma coisa é inegável : tanto a filosofia quanto a literatura se implicam enquanto modos de criação, de reflexão, de fabulação e olhares. E incentivar e fomentar esse belo encontro, essa bela 'mistura' , é o que pretendemos neste número.
Os organizadores
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DOSSIÊ ESCRITAS DE SI - ARTE E POLÍTICA NA EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE
Vol. 24 No 1 (2022)Os textos em primeira pessoa – entre os quais, a autobiografia, a carta, o diário, o ensaio – contam uma história da sensibilidade moderna e da forma como relacionamos verdade e ficção na complexa dinâmica entre realidade social, subjetividade e linguagem. Assim, o estudo da escrita de si revela aspectos particulares da percepção do sujeito quanto a si mesmo e quanto ao mundo: notamos a recorrência do indivíduo autorreflexivo, que está integrado socialmente, na tradição iniciada por Rousseau, mas também na escrita de si produzida por mulheres, geralmente submetidas, isoladas ou apartadas dos sistemas de poder, bem como nas experiências de contar a si mesmo elaboradas por indígenas, que questionam a própria noção de sujeito e de experiência individual, ou, ainda, nas narrativas de identidades diaspóricas. Entre as experiências em torno da escrita autobiográfica – não só enquanto ato de documentação de si, mas também como investimento em processos de invenção da subjetividade –, há como denominador comum a centralidade do desejo de autocompreensão e de entendimento do mundo, através da vivência individual. Este dossiê pretende reunir o debate sobre diferentes práticas e suportes da escrita de si a partir do século XX, sobretudo por meio de uma articulação entre ética e estética, arte e política.
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Dossiê Espaços & Deslocamentos
Vol. 23 No 1 (2021)O conceito de fronteira, originário da Geografia, é atualmente utilizado para refletir sobre as relações sociais contemporâneas, abarcando as variantes espaço, lugar, região, território, dentre outras. Segundo Rogério Haesbaert, em seu livro, O mito da desterritorialização. Do fim dos territórios à multiterritorialidade (2011), essa categoria de análise ainda é usada para se discutir questões mais abrangentes, como identidades situacionais, migrações transnacionais, capitalismo, relações de poder e de soberania, portanto, em uma perspectiva mais sociológica que antes, mas sem perder o sentido relacionado com a História e a Geografia. À semelhança de Milton Santos, em A natureza do espaço (2006), Haesbaert nos alerta sobre a importância de nunca se analisar o território como espaço neutro, mas sim como um lugar de constante disputa para fins de reprodução econômica. Haesbaert apresenta quatro macrodimensões territoriais: política (hegemônica e que o encara como espaço delimitado/controlado, por meio do qual se exerce determinado poder); cultural (como produto da apropriação da dimensão simbólica/subjetiva por um determinado grupo em relação ao seu espaço de convivência); econômica (com a prioridade da dimensão espacial das relações econômicas, sendo visto como fonte de recursos e local de lutas entre classes sociais ou entre capital-trabalho) e a naturalista (concepção de território animal de demarcação de espaço físico, enquanto característica humana inata). A Revista Araticum, v.1 de 2021, se propõe a apresentar uma série de artigos que abordem essa temática na literatura e em outras artes, a fim de se problematizar espaços, fronteiras, identidades e deslocamentos – questões tão graves em nossa atualidade.
Organizadores
Andrea Cristina Martins Pereira
Ivana Ferrante Rebello -
Literatura Surda e Outras Literaturas Marginais
Vol. 21 No 01 (2020)Dossiê Literatura Surda e Outras Literaturas Marginais
A Revista Araticum apresenta, nesta edição, o Dossiê Literatura Surda e outras literaturas marginais. Os artigos discutem temáticas relacionadas à Literatura Surda e suas mais diversas manifestações, além de contribuições que contemplam outras produções literárias à margem do cânone da literatura clássica. Na seção Vária, os artigos apresentam temas diversificados. A Literatura Surda, assim como as outras Literaturas Marginais, apresenta-se como voz dissonante que insurge, colocando-se na sociedade, a partir do questionamento de escolhas e padrões pré-estabelecidos pelos ouvintes que, durante séculos, relegaram os surdos às margens socais. Assim, este número da Revista propõe-se como um espaço privilegiado para as vozes silenciadas da Literatura Surda e de outras Literaturas Marginais.
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Dossiê Antonio Candido
Vol. 20 No 2 (2019)Esta edição da revista Araticum, por meio do presente dossiê, presta uma homenagem ao crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017), autor de um conjunto de obras que, sem dúvida, revolucionou os estudos da literatura brasileira. Neste momento de crise democrática no Brasil e em outros países da América Latina, revisitar o legado de Antonio Candido torna-se imprescindível. Toda a simbologia de qualquer homenagem que se faça a ele terá sempre os traços humanistas, engajados e conscientes do papel essencial da democracia e do socialismo, aspectos que tanto marcaram a sua personalidade e o seu pensamento.
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Revista Araticum
Vol. 4 No 2 (2011)A Revista Araticum é um periódico semestral do Programa de Pós-Graduação em Letras/Estudos Literários da Universidade Estadual de Montes Claros e tem como objetivo divulgar estudos críticos sobre a literatura brasileira, com ênfase na literatura de Minas Gerais, por meio de ensaios, artigos e resenhas.