Identidades transnacionais como via para o universalismo genuíno: uma aproximação entre Léopold Senghor e Darcy Ribeiro (mediada por Gilberto Freyre e Leopoldo Zea)
DOI:
10.46551/issn.2527-2551v19n2p.240-265Palavras-chave:
Darcy Ribeiro, Léopold Senghor, civilização, Identidades transnacionaisResumo
Este artigo propõe comparar a negritude em Léopold Senghor e o latino-americanismo em Darcy Ribeiro. Estamos principalmente interessados em apontar como a noção de “civilização” aproxima os dois autores: o entendimento da civilização negro-africana como parte constitutiva de uma futura “civilização do universal” em Senghor, e a ideia de “civilização emergente” em Ribeiro. A chave para a comparação (e aproximação) entre ambos está em seus usos de civilização. E isto fica mais evidente ao colocá-los em diálogo com Gilberto Freyre e Leopoldo Zea. A fim de facilitar este encontro, é do nosso interesse lançar mão particularmente do Freyre lusotropical, que em sua reflexão remete a um encontro global de civilizações, e do Zea de América en la historia, que, ele próprio um leitor de Freyre, procura definir a posição da América com base em uma releitura crítica – via Toynbee – da filosofia da história de Hegel. O artigo pretende ser uma contribuição à história das ideias (ou história intelectual), bem como um convite ao diálogo com abordagens mais filosóficas destinadas a discutir formas de pensar a unidade e a diversidade das culturas e, em particular, o lugar dos povos não europeus na história.
Downloads
Referências
BARBOSA, Muryatan Santana. O TEN e a negritude francófona no Brasil. Recepção e inovações. RBCS, v. 28, n. 81, 2013.
BARTELSON, Jens. Acabando con el Imperio: Lusotropicalismo como ideología imperial. Relaciones Internacionales, n. 30, 2016.
BOELE VAN HENSBROEK, Pieter. African Political Philosophy, 1860-1995: an inquiry into families of discourse. Tese, University of Groningen, 1998.
BRAUDEL, Fernand. Las civilizaciones actuales: estudio de historia económica y social. Madrid: Tecnos, 1966.
CÉSAIRE, Aimé. Discours sur le colonialisme, suivi de Discours sur la Négritude. Paris: Présence Africaine, 2004.
DESCOLA, Philippe. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard, 2005.
DEVÉS, Eduardo. Pensamiento periférico: Asia-África-América Latina-Eurasia y algo más. Una tesis interpretativa global. Santiago: Ariadna, 2017.
DUSSEL, Enrique. Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da filosofia da libertação. Sociedade e Estado, 31(1), 2016.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
EL-MALIK, Shiera. Interruptive discourses: Léopold Senghor, African Emotion and the poetry of politics. African Identities, v. 13, n. 1, 2015.
FREI BETTO. Sinfonia Universal. A Cosmovisão de Teilhard de Chardin. São Paulo: Ática, 2003.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2019.
________________. O mundo que o português criou. São Paulo: É Realizações, 2010.
________________. Aventura e rotina. Sugestões de uma viagem à procura das constantes portuguesas de caráter e ação. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001.
________________. Integração portuguesa nos trópicos. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, 1958.
KISUKIDI, Nadia Yala. Nostalgia and Postcolonial Utopia in Senghor’s Négritude. In: NIEMEYER, Katharina (ed.). Media and Nostalgia. Yearning for the Past, Present and Future. Londres: Palgrave Macmillan, 2014.
KOTHARI, Ashish, SALLEH, Ariel, ESCOBAR, Arturo, DEMARIA, Federico, ACOSTA, Alberto (orgs.). Pluriverso: dicionário do pós-desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2021.
KOZEL, Andrés. El estudio de las ideas en el siglo XXI. Una propuesta de articulación desde el enfoque civilizacional. Wirapuru, n. 5, 2022.
_____________. Darcy Ribeiro y el concepto de civilización. Cuadernos Americanos, n. 164, 2018.
_____________. La idea de América en el historicismo mexicano. México: El Colegio de México, 2012.
KOZEL, Andrés, PEREIRA DA SILVA, Fabricio (orgs.). Os futuros de Darcy Ribeiro. São Paulo: Elefante, 2022.
LÖWY, Michael, SAYRE, Robert. Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015.
PEREIRA DA SILVA, Fabricio. Em busca da comunidade: caminhos do pensamento crítico na periferia global. São Paulo: Elefante, 2023.
RIBEIRO, Darcy. América Latina: a Pátria Grande. São Paulo: Global, 2017a.
______________. Gilberto Freyre. Uma introdução a Casa Grande & Senzala. In: Gentidades. São Paulo: Global, 2017b.
______________. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Global, 2015.
______________. Utopia selvagem: saudades da inocência perdida. Uma fábula. São Paulo: Global, 2014.
RIPERT, Yohann. Senghor reading Marx. Marx Colloquium, Columbia University, 2016.
SCHOLL, Camille Johann. Léopold senghor e a lusofonia: entre conceitos, diálogos e recepções (1957-1988). Tese de Doutorado, PPGH, PUCRS, 2021.
SENGHOR, Léopold. O contributo do homem negro. In: SANCHES, Manuela Ribeiro (org.). Malhas que os impérios tecem. Textos anticoloniais, contextos pós-coloniais. Lisboa: Edições 70, 2011.
_________________. Ce que je crois: Négritude, francité et civilisation de l'universel. Paris: Grasset, 1988.
_________________. La négritude et l’Amérique latine. Nouvelle Revue des Deux Mondes, n . 2, 1974.
_________________. Senghor em diálogo. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1965.
_________________. The spirit of civilization or the laws of African negro culture. Presence Africaine, n. 8-9-10, 1956.
STAROBINSKI, Jean. La palabra civilización. Prismas. Revista de Historia Intelectual, n. 3, 1999.
TABOADA, Hernán, KOZEL, Andrés (comps.). En busca de la civilización latinoamericana. México: UNAM, 2022.
WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retórica do poder. São Paulo: Boitempo, 2007.
ZEA, Leopoldo. América en la historia. México: Fondo de Cultura Económica, 1957.