“Mais do que objetos”: duas lideranças e pesquisadoras Tupinambá em busca dos seus “ancestrais” na França

Autores

  • Glicéria Tupinambá Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Jéssica Tupinambá Faculdade de Tecnologia e Ciências
  • Nathalie Pavelic Université Paris 8 https://orcid.org/0000-0002-1197-7146

DOI:

10.46551/issn.2527-2551v21n1p.250-278

Palavras-chave:

Mantos tupinambá; Interação humano-não humano; acesso a patrimônio cultural; museus europeus; protagonismo feminino.

Resumo

Através de experiências de Glicéria, Jéssica Tupinambá e Nathalie Pavelic, o artigo destaca a importância do acesso ao patrimônio cultural usurpado de povos indígenas para revitalizar a memória ancestral dos povos indígenas. Discute-se mais particularmente o caso dos mantos Tupinambá conservados em instituições europeias, enfatizando a necessidade de políticas de acesso e repatriação que respeitem os direitos e desejos das comunidades. O papel dos encantados na cosmologia tupinambá e a sua influência na produção de novos mantos são analisados, ilustrando a interação constante entre humanos e outros-que-humanos na cultura Tupinambá. O texto critica a discrepância entre os discursos decoloniais dos museus e suas práticas conservadoras, e chama atenção para o protagonismo feminino na liderança das negociações de repatriação e na produção cultural. Este estudo de caso evidencia as complexas negociações entre povos indígenas e museus, destacando a perspectiva indígena em um debate global sobre patrimônio cultural, restituição/repatriação/retorno e memória ancestral.

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Biografia do Autor

Glicéria Tupinambá, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Liderança da comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro (Terra Indígena Tupinambá de Olivença), Mestranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), Brasil.

Jéssica Tupinambá, Faculdade de Tecnologia e Ciências

Liderança da comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro (Terra Indígena Tupinambá de Olivença), graduanda em Direito pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Brasil. Especialização em Estado e Direito dos Povos e Comunidades Tradicionais pela Universidade Federal da Bahia  (UFBA), Brasil.

Nathalie Pavelic, Université Paris 8

Pós-doutora Capes-Cofecub "Gênero ameaça(N)do”, Laboratoire d’Études de Genre et de Sexualité (LEGS), Université Paris 8, França.

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Publicado

2024-03-26

Como Citar

Tupinambá, G., Tupinambá, J., & Pavelic, N. (2024). “Mais do que objetos”: duas lideranças e pesquisadoras Tupinambá em busca dos seus “ancestrais” na França . Argumentos - Revista Do Departamento De Ciências Sociais Da Unimontes, 21(1), 250–278. https://doi.org/10.46551/issn.2527-2551v21n1p.250-278

Edição

Seção

Dossiê