“Mais do que objetos”: duas lideranças e pesquisadoras Tupinambá em busca dos seus “ancestrais” na França
DOI:
10.46551/issn.2527-2551v21n1p.250-278Palavras-chave:
Mantos tupinambá; Interação humano-não humano; acesso a patrimônio cultural; museus europeus; protagonismo feminino.Resumo
Através de experiências de Glicéria, Jéssica Tupinambá e Nathalie Pavelic, o artigo destaca a importância do acesso ao patrimônio cultural usurpado de povos indígenas para revitalizar a memória ancestral dos povos indígenas. Discute-se mais particularmente o caso dos mantos Tupinambá conservados em instituições europeias, enfatizando a necessidade de políticas de acesso e repatriação que respeitem os direitos e desejos das comunidades. O papel dos encantados na cosmologia tupinambá e a sua influência na produção de novos mantos são analisados, ilustrando a interação constante entre humanos e outros-que-humanos na cultura Tupinambá. O texto critica a discrepância entre os discursos decoloniais dos museus e suas práticas conservadoras, e chama atenção para o protagonismo feminino na liderança das negociações de repatriação e na produção cultural. Este estudo de caso evidencia as complexas negociações entre povos indígenas e museus, destacando a perspectiva indígena em um debate global sobre patrimônio cultural, restituição/repatriação/retorno e memória ancestral.
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