Na rua se faz trabalho: música e religiosidade entre rastafaris na periferia paulistana
DOI:
10.46551/issn.2527-2551v20n1p.107-132Palavras-chave:
Rastafari; Música; Religião; Lazer; Colonialidade.Resumo
A música se tornou uma das maiores formas de expressão do Rastafari, movimentação cultural que surgiu em 1930 na Jamaica e que durante o seu desenvolvimento estabeleceu conexões entre religiosidade, política, lazer e trabalho. Apesar de sua transnacionalização estar associada à difusão de um veículo da cultura popular, a música reggae, é no nyahbinghi que reside a principal fonte espiritual e musical, sendo ele um serviço (cerimônia ou trabalho espiritual) onde são entoados chants (hinos) ao toque de três tambores principais. Neste artigo serão abordados aspectos da organização de um grupo formado por rastafaris, o Instituto Cultural Bola de Fogo, apresentando reflexões sobre a prática do nyahbinghi a partir do trabalho de campo realizado nas apresentações-rituais que acontecem na cidade. Para uma melhor contextualização, inicialmente trarei algumas considerações históricas sobre o rastafari e sua musicalidade, o que remente a uma política contra o colonialismo e a colonialidade. Passado e presente confluem, bem como o material e o espiritual, trazendo conhecimento ancestral e benesses curativas. Inserido em programações de lazer periférico, percebe-se a importância da política e da religião emergindo nas ruas e espaços públicos na cidade.
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