Morte à espreita: história de um turismo macabro associado à caça da baleia em Lucena - Paraíba (1970-1990)
Death on the prowl: history of macabre tourism associated with whale hunting in Lucena - Paraíba (1970-1990)
Palavras-chave:
História, Meio ambiente, Baleia, EspetáculoResumo
Até o final da década de 1980, um tipo de turismo singular que se apresenta hoje inaceitável para muitas pessoas, foi explorado no litoral norte da Paraíba: tratava-se do esquartejamento dos cetáceos na então chamada “pesca da baleia”, realizada na praia de Costinha, município de Lucena, distante aproximadamente 50 km da capital João Pessoa. O espetáculo da morte e do
esquartejamento dos enormes mamíferos marinhos que durou até a proibição da atividade pela Lei Federal 7.643 de 18 de dezembro de 1987, era realizado pelos trabalhadores da Companhia de Pesca Norte do Brasil (COPESBRA) e realizado em plena praia, atraindo curiosos da região, grupos de turistas e até personalidades políticas ao local do abate e do processamento dos cetáceos. Alguns hotéis de João Pessoa, a exemplo do Hotel Tambaú, chegaram a incluir no seu roteiro turístico visitações à praia de Costinha, onde estava instalada a estação baleeira, para que seus hóspedes pudessem ter a oportunidade de presenciar o espetáculo promovido pela empresa nipo-brasileira que monopolizava a atividade baleeira. Matérias de jornais da época fornecem indícios para se retomar e rediscutir a atividade baleeira no Brasil, particularmente na costa da Paraíba, considerando aspectos relacionados às questões éticas, culturais e históricas das práticas humanas com relação aos maus tratos com animais. Os derivados baleeiros, principalmente acarne e o óleo, explorados na costa paraibana serviram para o enriquecimento de um setor empresarial ligado ao capital japonês. Já a morte e o esquartejamento dos animais capturados, eram explorados como espetáculo circense, sendo prestigiado por turistas de várias cidades brasileiras e incentivados por setores da sociedade local e empresarial. O presente artigo discute aspectos históricos dessa atividade que por décadas fomentou o desenvolvimento econômico de Lucena.
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Referências
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