“Da nossa história quem sabe somos nós”: memória, saberes e práxis de r-existência entre os Tenetehar-Tembé
“We are the ones who know our history": memory, knowledge and praxis of r-existence among the Tenetehar-Tembé
DOI:
10.46551/issn.2317-0875v29n2p.22-45Palavras-chave:
Amazônia, povos indígenas, tradições orais, território, história TembéResumo
Este artigo busca analisar elementos da história e cotidiano do povo Tenetehar-Tembé, da Terra Indígena Alto Rio Guamá (nordeste paraense), a partir de suas próprias memórias e narrativas, que elucidam experiências de vida diante de situações de tutela e violência na região. Nesse ponto, a memória dos mais velhos é importante para entender os pormenores do passado indígena recontado pelos Tembé, cujas vivências extrapolam as dimensões objetivas registradas pela documentação oficial. Através da etnografia e da história oral, enquanto metodologias necessárias ao trabalho com os povos indígenas, foi possível acessar uma realidade outra, narrada a partir do ponto de vista Tembé, que denuncia as arbitrariedades chanceladas, em certo grau, pela FUNAI e centraliza o papel dos Tenetehar-Tembé nesses processos históricos. Entre os povos indígenas, a oralidade é um elo importante de transmissão intergeracional e aprendizados sobre a história, os saberes tradicionais e as práticas culturais que demarcam sua indianidade, e constroem a memória coletiva ancestral. Desse modo, o protagonismo indígena é reiterado e inserido num conjunto de ações construído pelos Tembé para defender seu território, afirmar sua identidade étnica e garantir assim a sua existência enquanto povo.
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