Desenvolvimento, paradigmas de planejamento urbano e o Plano Diretor municipal: a experiência de Montes Claros - MG
Palavras-chave:
Planejamento urbano, Plano Diretor, Montes Claros.Resumo
O planejamento é uma prática inerente ao ser humano sendo adotada nos diversos âmbitos sociais, sobretudo, no político-governamental. O planejamento
assume importância categórica na atualidade por influenciar diretamente a organização das sociedades. O Estado realiza o planejamento governamental e rege suas ações conforme certas racionalidades, expressas de forma paradigmática, o que nem sempre condizem com a sua função de administrar, promovendo a justiça e o bem-comum. Em um contexto político de multiplicidade de atores sociais, as relações entre Estado, mercado e democracia se expressam conflituosamente no espaço da cidade definindo os rumos do planejamento e do desenvolvimento urbano. Um planejamento que prioriza
os interesses econômicos em detrimento dos sociais exclui a maioria da população das decisões públicas, essas características têm sido tradicionalmente praticadas no Brasil, denotando um planejamento urbano de caráter conservador. Contudo, a Constituição Federal Brasileira de 1988 e a Lei do Estatuto da Cidade de 2001 assumiram um novo paradigma para o planejamento urbano, revestindo de autonomia o governo municipal e instituindo o Plano Diretor como principal instrumento de planejamento. Diante disso, este trabalho realizou algumas considerações sobre a conjuntura do planejamento urbano de Montes Claros, cidade média localizada no Norte de Minas Gerais, buscando identificar os traços do paradigma de planejamento norteador do governo local, tendo em vista também o seu histórico (pós década de 1970). A metodologia utilizada baseou-se em pesquisa bibliográfica e documental, aplicação
de entrevistas junto à Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal da cidade e observação da realidade local. A análise mostrou que Montes Claros não tem uma tradição de planejamento como processo de construção do desenvolvimento local voltado a atender às demandas da população, tendo predominado lógicas alheias à sua realidade. O Plano Diretor apresenta-se generalista, apenas expondo objetivos e diretrizes sem esclarecer de forma contundente ações a serem realizadas, prazos a serem cumpridos e mecanismos a serem empregados, sendo isto deixado a cargo das políticas setoriais em muitas situações. Também não adota alguns instrumentos de planejamento e gestão previstos no Estatuto da Cidade e prevê a participação popular, mas com uma esfera de atuação muito reduzida.
Downloads
Referências
ACSELRAD, H. Políticas ambientais e construção democrática. In: VIANA, G.; SILVA, M.; DINIZ, N. (Orgs.). O desafio da sustentabilidade: um debate socioambiental no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001. p.75-96.
ALTVATER, E. Os desafios da globalização e da crise ecológica para o discurso da democracia e dos direitos humanos. In: HELLER, A. et al. A crise dos paradigmas em ciências sociais e os desafios para o Século XXI. 1 reimp. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 1999. p.267.
BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Programas Urbanos. Plano Diretor Participativo. Coordenação Geral de Raquel Rolnik, Benny Schasberg e Otilie Macedo Pinheiro. Brasília: Ministério das Cidades, 2005.
BRASIL. Presidência da República. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 10 abr. 2010.
CARVALHO, P. F. Instrumentos legais de gestão urbana: referências ao Estatuto da Cidade e ao Zoneamento. In: BRAGA, R.; CARVALHO, P. (orgs.). Estatuto da Cidade: política urbana e cidadania. Rio Claro: LPM-IGCE-UNESP, 2000. p.41-59.
DOMINGUES FILHO, J. B. Planejamento governamental e democracia no Brasil. Uberlândia: EDUFU, 2007. 219 p.
FRANÇA, I. S. A cidade média e suas centralidades: O exemplo de Montes Claros no norte de Minas Gerais. 2007. 240 f. Dissertação (Mestrado em Geografia), IG/UFU, Uberlândia–MG, 2007.
FREY, K. Governança urbana e participação pública. Rac-Eletrônica, v.1, n.1, art. 9, p.136-150, Jan./Abr. 2007. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/rac-e>. Acessado em: 13 jul. 2010.
FERREIRA, J. S. W. Gestão democrática e participativa: um caminho para cidades socialmente justas?. Ibase: Democracia Viva, n.18, Set./Out., 2003. Disponível em: . Acessado em: 25 ago. 2010.
GARCIAS, C. M.; BERNARDI, J. L. As funções sociais da cidade. Revista Direitos Fundamentais e Democracia, Unibrasil, Curitiba, v.4, 2008.
GUIMARÃES, A. A. M. Participação social e políticas públicas: novos rumos para a construção de políticas emancipatórias. In: WILDHAGEN, C. D. Diálogos sociais: reflexões e experiências para a sustentabilidade do desenvolvimento do Norte e
Nordeste de Minas Gerais. SEDVAN/IDENE. Belo Horizonte: Ed. IMGS – Instituto Mineiro de Gestão Social, 2009. p.19-43.
GOMES, F. S. Discursos contemporâneos sobre Montes Claros: (re)estruturação urbana e novas articulações urbano-regionais. 2007. 181f. Dissertação (Mestrado), Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte-MG, 2007.
IBGE. Estimativas das populações residentes, em 1º de julho de 2009, segundo os municípios. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ estimativa2009/POP_2009_TCU.pdf>. Acessado em: 16 jul. 2010.
IBGE. Censo Demográfico 2000: Resultados do universo. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/universo.php?tipo=31o/ tabela13_1.shtm&paginaatual=1&uf=31&letra=M>. Acessado em: 25 ago. 2010.
LEITE, M. E.; LEITE, M. R.; CLEMENTE, M. S. Geotecnologias e gestão urbana:uma aplicação na identificação de terrenos públicos municipais. São Paulo: EGAL, 2009.
MATIELLO, A. M. Da Carta de Atenas ao Estatuto da Cidade: questões sobre planejamento urbano no Brasil. Impulso, Piracicaba, n.17, v.44, 2006. p.43-54.
MEIRA, T. A. V. Do clientelismo à participação: orçamento Participativo em Montes Claros. Revista Urutágua, Maringá, nº 16, ago./set./out./nov. 2008.
MONTES CLAROS. Prefeitura Municipal. SEPLAN. Plano Diretor de Montes Claros. Montes Claros: PMMC, 2001.
MONTES CLAROS. Prefeitura Municipal. Lei Orgânica Municipal. Montes Claros: PMMC, 2004. Disponível em: <http://www.montesclaros.mg.gov.br/publica_legais/ lei_organica.pdf>. Acessado em: 14 out. 2009.
MONTES CLAROS. Lei nº 4.198 de 23 de dezembro de 2009. Dispõe sobre o uso e ocupação do solo no município de Montes Claros e dá outras providências.
OLIVEIRA, F. L. Sustentabilidade e competitividade: a agenda hegemônica para as cidades do Século XXI. In: ACSELRAD, H. (Org.). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. p.193-217.
PEREIRA, M. A. Cidade média e região: o significado de Montes Claros no Norte de Minas Gerais. 2007. 350 f. Tese (Doutorado em Geografia), IG/UFU, Uberlândia-MG, 2007.
RIBEIRO, L. C. Q. A (in)governabilidade da cidade? Avanços e desafios da reforma urbana. Apud: SOUZA, M. L. Desenvolvimento urbano: a problemática renovação de um “conceito”-problema. Revista Território, Rio de Janeiro, ano III, nº5, p.5-29, jul./dez. 1998.
RODRIGUES, A. M. Estatuto da Cidade: função social da cidade e da propriedade. Alguns aspectos sobre população urbana e espaço. Cadernos Metrópole, n.12, p-9-25, 2º sem. 2004.
______. O espaço urbano e as estratégias de planejamento e produção da cidade. In: PEREIRA, É. M. (Org.). Planejamento urbano no Brasil: conceitos, diálogos e práticas. Chapecó: Argos, 2008. p.111-126.
ROLNIK, R. Planejamento Urbano nos Anos 90: novas perspectivas para velhos temas. In: RIBEIRO, L. C. Q.; SANTOS JUNIOR, O. A. (Orgs.). Globalização, fragmentação e reforma urbana: o futuro das cidades brasileiras na crise. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.
SANTOS, J. C. A percepção dos atores sociais frente à intervenção pública: uma análise sociológica do conjunto habitacional Vargem Grande. 2009. 106 f. Dissertação (Mestrado), Unimontes/PPGDS, Montes Claros-MG, 2009.
SOUZA, M. A. A. O II PND e a política urbana brasileira: uma contradição evidente. In: DÉAK, C.; SCHIFFER, S. R. (orgs.). O processo de urbanização no Brasil. 1 ed. São Paulo: Edusp, 1999. p.111-143.
SOUZA, M. L.; RODRIGUES, G. B. Planejamento urbano e ativismos sociais. São Paulo: UNESP, 2004.
SOUZA, M. L. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento à gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
______. Participação popular no planejamento e na gestão urbanos no Brasil: vinte anos de esforços, conquistas e tropeços (1986-2005). In: In: PEREIRA, É. M. (Org.). Planejamento urbano no Brasil: conceitos, diálogos e práticas. Chapecó: Argos, 2008b. p.215-224.
VAINER, C. B. Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In: ARANTES, O.;VAINER, C.; MARICATO, E. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. p.75-103.
______. Os liberais também fazem planejamento? Glosas ao “Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro”. In: ARANTES, O.;VAINER, C.; MARICATO, E. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007b. p.105-119.
VILLAÇA, F. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DÉAK, C.; SCHIEFFER, S. R. O processo de urbanização no Brasil. São Paulo, SP: Edusp/Fupam, 1999. p.169-243.
Downloads
Publicado
Como Citar
Licença
Copyright (c) 2010 Revista Cerrados
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Nesta Revista, os Direitos Autorais para artigos publicados são do(s) autor(es), sendo os direitos da primeira publicação pertecentes à Revista Cerrados. Os artigos são de acesso público, de uso gratuito, de atribuições próprias, de atribuições educacionais e de aplicações não comerciais.