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A dinâmica socioeconômica de Colíder e a sua inter-relação com as cidades pequenas na região norte do estado de Mato Grosso
The socioeconomic dynamics of the city Colíder and its interrelation with small towns in the northern region of the state of Mato Grosso
La dinâmica socioeconómica de Colíder y su interrelación con los pequeños pueblos de la región norte del estado de Mato Grosso
Revista Cerrados (Unimontes), vol. 20, núm. 02, pp. 327-355, 2022
Universidade Estadual de Montes Claros



Recepción: 23 Junio 2022

Aprobación: 06 Noviembre 2022

Publicación: 01 Diciembre 2022

DOI: https://doi.org/10.46551/rc24482692202230

Resumo: Este artigo traz uma reflexão acerca da influência da pequena cidade por meio da oferta de bens e serviços para as populações das cidades circunvizinhas, tendo como objetivo analisar a influência socioeconômica de Colíder sobre os municípios do seu entorno com vistas a demonstrar a sua importância para a região imediata. Para alcançar o objetivo proposto, os procedimentos metodológicos utilizados consistiram em pesquisa bibliográfica embasada em autores que debatem sobre o tema, a coleta de informações via formulário e aplicação de entrevista realizada nos estabelecimentos de comércio, de saúde, do Ensino Superior e técnico da referida cidade. Ao término dos procedimentos citados, as informações foram analisadas e interpretadas por meio de uma abordagem quanti-qualitativa. Como resultado, obteve-se que Colíder possui uma dinâmica econômica com atividades importantes para cidades de seu entorno, dispõe de serviços diversos e organização comercial capaz de atender população local e das cidades vizinhas. Destaca-se também que as relações de Colíder ultrapassam os municípios limítrofes a ela, mas é a proximidade que intensifica as relações, haja vista as cidades mais próximas se destacarem na procura por Colíder para obter bens e serviços.

Palavras-chave: Rede urbana, Cidades pequenas, Influência, Influence.

Abstract: The present article shows a discussion on the influence of the small town by means of the provision of assets and services to the populations of the surrounding cities, aiming to analyze the socioeconomic influence of Colíder on the surrounding municipalities in order to demonstrate its importance for the immediate region. To achieve the proposed objective the methodological procedures used in this research consisted of a bibliographic research based on authors who debate about the subject; it was applied the collection of information via formulary and application of an interview carried out in four establishments: commercial, health, College Education and Technical Education. At the end of proceddings mentioned, the information was analyzed and interpreted through a quanti-qualitative approach. As a result, it was found that Colíder has an economic dynamics with important activities for surrounding cities, has several services and commercial organization capable of serving the local population and neighboring cities. It is also noteworthy that Colíder relations go beyond the neighboring municipalities, but it is the proximity that intensifies relations, given that the nearest cities stand out in the search for Colíder to obtain goods and services.

Keywords: Urban network, Small towns, Colíder – MT.

Resumen: : Este artículo reflexiona sobre la influencia del pueblo a través de la provisión de bienes y servicios a las poblaciones de las ciudades aledañas, con el objetivo de analizar la influencia socioeconómica de Colíder en los municipios de su entorno para demostrar su importancia para la región inmediata. Para lograr el objetivo propuesto, los procedimientos metodológicos utilizados consistieron en la investigación bibliográfica a partir de autores que debaten sobre el tema, la recolección de información a través de un formulario y la aplicación de una entrevista realizada en establecimientos comerciales, de salud, de Educación Superior y técnicos de esa localidad. ciudad. Al finalizar los procedimientos antes mencionados, la información fue analizada e interpretada bajo un enfoque cuantitativo-cualitativo. Como resultado se encontró que Colíder tiene una dinámica económica con actividades importantes para las ciudades aledañas, cuenta con diversos servicios y organización comercial capaz de atender a la población local y ciudades aledañas. También es de destacar que las relaciones de Colíder van más allá de los municipios vecinos, pero es la proximidad lo que intensifica las relaciones, dado que las ciudades más cercanas se destacan en la búsqueda de Colíder para obtener bienes y servicios.

Palabras clave: Red urbana, Pueblos pequenos, Influencia, Colíder – MT.

Palabras clave Colíder – MT

Introdução

A cidade e a rede urbana não são fenômenos recentes. Entretanto, a forma como se apresentam na atualidade é resultado da intensificação do modo de vida capitalista, especialmente a partir da revolução industrial, bem como do avanço das tecnologias de informação e comunicação e dos meios de transportes, que possibilitaram a interligação entre as localidades diversas, formando uma malha de cidades, que envolve tanto os pequenos núcleos urbanos quanto as grandes metrópoles, as cidades globais e megalópoles (SPOSITO, 1988, CARLOS, 2009, CORRÊA, 1989).

O processo de urbanização (no sentido de aumento do número de cidades e de população vivendo neste espaço) também foi ampliado com a revolução industrial, isto porque houve com ela a necessidade da geração de um mercado consumidor para os produtos industrializados e também de mão de obra, atraindo, portanto, a população para o espaço urbano, consequentemente com este processo se intensificou as relações entre as cidades, formando então uma rede de cidades, e conforme Corrêa (2006) esta seria um conjunto de centros urbanos articulados numa complexa relação. O entendimento dessas relações permite uma melhor compreensão da região.

O estudo de rede urbana, conforme especifica Corrêa (2006, p. 17), tem sido realizado por geógrafos de diferentes correntes interpretativas e a abordagem que se tem em maior número é aquela que leva em conta as diferenças “das cidades em termos de funções, dimensões básicas de variação, relações entre tamanho demográfico e desenvolvimento, hierarquia urbana e relações entre cidades e regiões”.

Os estudos sobre hierarquia e rede Urbana perpassam pelas teorias clássicas de localização das atividades econômicas; nos estudos empreendidos no âmbito da Geografia há a fundamentação em Walter Christaller na sua Teoria das Localidades Centrais (1966). Sobre esta teoria, o IBGE (2018) afirma que ela constitui base teórica para vários estudos sobre o tema rede urbana, e é a mais difundida no século XX.

A inda na mesma publicação do IBGE de 2018, está exposto, seguindo a teoria de localidades centrais, que as funções centrais que uma cidade pode exercer se efetivam a partir da produção e distribuição de bens e serviços para a população das localidades do entorno, seja ela do meio rural ou dos centros urbanos vizinhos e que a localização das atividades básicas induz à organização de um sistema hierárquico de cidades.

O IBGE (2018) faz uma ressalva quanto a teoria das localidades centrais, o fato de que ela apresenta uma conjuntura de equilíbrio econômico e não se preocupa em descrever como surgiram as concentrações geográficas das atividades produtivas que formam a base de funcionamento das localidades centrais, mas apesar disto os estudos de Christaller são considerados referências importantes na construção do conhecimento sobre rede urbana.

A abordagem do tema rede urbana tem sido de grande relevância para o planejamento urbano e regional; entende-se que, com os avanços tecnológicos na área de comunicação e de transporte que intensificou o processo de globalização, houve uma alteração nas relações entre as cidades das mais variadas dimensões, portanto emerge a necessidade de compreendê-las considerando também as cidades pequenas.

Compreende-se que a cidade pequena pode exercer atração em relação ao seu entorno imediato, o estudo feito pelo IBGE (2018), é de suma importância para o entendimento da rede urbana brasileira, contudo verifica-se, uma lacuna quanto a função e a abrangência da área de influência em cidades pequenas, uma vez que há a utilização de generalização para realizar a classificação das cidades.

Nessa conjuntura é que neste texto tem-se como objetivo analisar a influência socioeconômica de Colíder sobre os municípios do seu entorno, ou seja, nos municípios com os quais possui limites territoriais, com vistas a demonstrar a sua importância para a região imediata.

Colíder está localizada no norte do estado de Mato Grosso, a cerca de 634 km de distância da capital Cuiabá, pertence a região geográfica imediata de Sinop, a 32 km a esquerda do Km 935 da BR-163, sentido Pará, é cortada pela rodovia MT-320, nas coordenadas geográficas entre 10º48’18” Sul e 55º27’22” Oeste e uma altitude de 315 m acima do nível do mar (IBGE e PREFEITURA MUNICIPAL DE COLÍDER). Na figura (1) que segue pode ser visualizada esta localização e os municípios limítrofes.

A escolha desta localidade para o estudo realizado ocorreu devido a sua localização na fronteira agrícola do estado de Mato Grosso e na Amazônia legal que como as demais cidades desta região tem passado por transformações importantes, atreladas não ao processo de industrialização, mas pelas dinâmicas decorrentes da expansão agrícola.

Ressalta-se que o objetivo deste estudo não é elaborar e nem mesmo seguir um modelo teórico, mas sim evidenciar algumas relações que são estabelecidas por pequenas cidades que não aparecem quando se aplicam modelos, como é o caso do estudo da Região de Influência das Cidades-IBGE.


Figura 1
Localização de Colíder (MT) e os municípios limítrofes
Organizada pelos autores, (2022).

Metodologia

Para o desenvolvimento da pesquisa foi adotado o materialismo histórico e dialético como método de abordagem. Como procedimentos metodológicos delineou-se as seguintes etapas: levantamento e pesquisa bibliográfica; envio de formulários e aplicação de entrevista; sistematização e análise das informações; interpretação e discussão dos resultados.

No levantamento e seleção de obras houve a busca por aquelas que abordam os aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa em si e da Geografia em específico, especialmente as que tratam do assunto – rede urbana e pequenas cidades sobre diversas perspectivas. A coleta de informações foi realizada via formulário e entrevista semiestruturada. O formulário foi enviado para o e-mail dos estabelecimentos de interesse da pesquisa e as entrevistas foram realizadas via aplicativo de celular whatsapp em decorrência da pandemia da COVID 19, que impôs o distanciamento social. Estas duas formas de coleta de informação foram adotadas porque alguns representantes dos estabelecimentos preferiram a entrevista ao invés de responder aos formulários, esta escolha foi possível pelo contato prévio por telefone.

Participaram da pesquisa estabelecimentos comerciais, de saúde e Ensino Superior e Técnico, público e privado, perfazendo um total de vinte e um (21) estabelecimentos. Deste total, dezesseis (16) são estabelecimentos comerciais (supermercado atacado e varejista, loja de vestuário e calçados, casa agropecuária, estabelecimento de autopeças e de revisão de veículos), optou-se por aqueles que possuem maior fluxo de pessoas, identificado por meio de observação indireta; dois (2) da saúde, um privado e o outro público, os únicos existentes na cidade e; por fim, três (3) estabelecimentos de educação; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, educação profissional, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, ensino superior público e Faculdade de Colíder – FACIDER, ensino privado, também são os únicos estabelecimentos que ofertam cursos presenciais na cidade.

É importante destacar que todos os estabelecimentos que participaram da pesquisa estão localizados na cidade de Colíder/MT, ou seja, a constatação dessa região de influência foi obtida a partir de entrevistas e formulários enviados aos representantes das empresas de Colíder e não de entrevistas feitas aos consumidores.

A entrevista ou o formulário foram respondidos pelos representantes dos estabelecimentos que desempenham suas atividades no setor administrativo. Por meio deste procedimento buscou-se especialmente informações sobre as cidades de origem dos clientes, pacientes ou estudantes e quais as cidades que buscam os produtos e serviços de Colíder.

A sistematização e a análise das informações obtidas foram realizadas por meio de uma abordagem quanti-qualitativa. A quantitativa foi utilizada pela necessidade de evidenciar a quantidade de pessoas de outros municípios que se deslocam até a área estudada, assim como o número de cidades que mantém relação com Colíder, possibilitando gerar tabelas e mapas com estas informações.

Recorreu-se também à abordagem qualitativa porque algumas respostas não são quantificáveis, seguindo o entendimento de Minayo (1994, p. 21 e 22) de que esta abordagem situa-se em “um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”. Este universo contempla aspectos “que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Portanto, a adoção da abordagem quanti-qualitativa ocorreu por entender que uma complementa a outra e que na análise da cidade pequena apenas as informações quantitativas não são suficientes para explicar a sua realidade. A última etapa da pesquisa foi a interpretação e discussão acerca da influência socioeconômica de Colíder para as cidades de seu entorno, tomando como base a fundamentação teórica e metodológica do método de abordagem adotado.

Rede Urbana: Conceituação e seu Estudo na Geografia

A cidade não pode ser compreendida como uma materialidade pronta e acabada, é preciso entendê-la como um processo, um movimento ao longo do tempo, como explica Carlos (2009). Para entender a cidade numa perspectiva geográfica, tem de incorporar na análise o aspecto histórico, pois através dele é possível a compreensão da materialidade apresentada pela cidade no momento atual, portanto é indispensável fazer uma análise do desenvolvido político, social, urbano e econômico que culminaram na urbanização.

A urbanização proporcionou mudanças de natureza ambiental e social tanto no campo como na cidade, por isso ela é compreendida, nos dizeres de Elias (2013, p. 26) como “um fenômeno bastante complexo, dada a multiplicidade de variáveis que nela passam a interferir, como, por exemplo, a modernização agropecuária associada ao setor industrial”.

Contudo, apoiando-se em Sposito (1988), é preciso afirmar que a urbanização é essencialmente uma dimensão espacial e decorrente de modificações econômicas e sociais que estão essencialmente na base do desenvolvimento capitalista, mas não pode ser tomada apenas como consequência da industrialização, muitas das pequenas cidades, inclusive do estado de Mato Grosso surgem a partir da modernização da agropecuária.

Dentre os aspectos que possibilitaram a modernização da agropecuária, pode-se elencar, por exemplo, o desenvolvimento da indústria, as melhorias no transporte e nos meios de comunicação. Com isso, de acordo com Santos (1993), o espaço se torna fluido de forma que permite que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, o capital, passem a ter grande mobilidade.

A mobilidade expressa acima faz que haja uma intensificação das formas de socialização, de fluxo internacional, da atividade econômica sob o domínio do modo capitalista de produção, estabelecendo uma rede entre diversas localidades. Portanto, em concordância com Dias (2018), há a concepção de que a categoria de análise denominada de rede favorece a compreensão da dinâmica territorial, porque ela incorpora a noção de conexidade da relação com a urbanização, da divisão internacional do trabalho e da diferenciação entre cidades.

Partindo da ideia de Raffestin (1993), de que a “circulação e a comunicação são as duas faces da mobilidade”, a presença de redes é uma forma típica de organização. As redes, então, instrumentalizam e organizam o espaço de forma a possibilitar a distribuição dos fluxos de bens e de serviços, é claro que não está fora desta relação os fluxos imateriais, mas não vêm ao caso aqui tratado. Esta atuação por meio de redes ao longo do tempo age na produção do espaço a partir do momento em que se formam, transformam-se e se reestruturam para atenderem as demandas do sistema capitalista.

Santos (2006, p. 176), em relação às redes explica, que “as definições e conceituações se multiplicam, mas pode-se admitir que se enquadram em duas grandes matrizes: a que apenas considera o seu aspecto, a sua realidade material, e uma outra, onde é também levado em conta o dado social”. Já Carlos (2007) expõe que a sociedade de consumo impõe à coletividade, numa articulação entre o global e o local, novos padrões organizacionais, assim as diversas redes que se formam no espaço aproximam homens e lugares ao mesmo tempo em que os isola.

Ao refletir sobre o que é rede, Sposito (2008, p. 48), considerou os seguintes elementos: estrutura, escala, atores, território e fluxos. Para ele esses elementos na configuração das redes, associa-se de forma labiríntica, tornando-se impossível a sua observação somente pelo enfoque quantitativo, é “qualitativamente que se pode compreender as possibilidades de articulação desses elementos entre si”.

Corrêa (2005), que se dedicou bastante ao tema rede, especialmente rede urbana, coloca que no decorrer do século XX, pôde-se perceber que o conceito de rede reaparece de forma atualizada. Assim, o autor explica que o capitalismo ao se organizar e se expandir faz com que as redes geográficas assumam diversas formas de manifestação, tornando-se ainda gradativamente mais importantes.

Ao estudar as variedades de redes geográficas, Corrêa (2012, p. 6) ressalta que a mais significativa delas é a rede urbana e a define como um “conjunto de centros urbanos articulados entre si. Considerada como uma síntese, se não de todas, de muitas e muitas redes geográficas cujos nós e fluxos específicos iniciam-se, finalizam ou passam pelas cidades”.

A cidade, conforme Fresca (2010), abriga os agentes que se relacionam entre si, por este processo envolvem centros urbanos de variados tamanhos e de distintas complexidades. A rede, então, pode ser compreendida como um produto de muitas interações entre os variados agentes econômicos e sociais distribuídos pelo espaço geográfico.

A rede e a hierarquia urbana, segundo Bessa (2012) estão no debate atual, isto porque envolvem relações entre questões econômicas, políticas e sociais e suas relações globais e sistêmicas, notadamente, determinadas por um mundo em constante mutação, que representa um desafio permanente.

Por intermédio da análise da rede urbana é possível visualizar como ocorre a interação das cidades, as quais ocupam níveis diferentes e desenvolvimento diferenciado. Corrêa (1989) afirma ser a rede urbana o conjunto de conexões e relações articulado de uma ou mais cidades, que se integram por meio de fluxo de pessoas, bens, serviços e informações.

A rede urbana compõe um tema importante para entender a articulação entre as cidades na região, no território nacional e no mundo. Em análise da rede urbana brasileira, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, indica que a rede urbana nacional compreende o agrupamento de cidades que influenciam o território brasileiro e a movimentação de bens, pessoas e serviços que se estabelecem entre elas (IPEA 2002).

Ainda sobre a conceituação de rede urbana, Santos (2014, p. 68) a define como “um conjunto de aglomerações produzindo bens e serviços junto a uma rede de infraestrutura de suporte e com os fluxos que, através desses instrumentos de intercâmbio, circulam entre as aglomerações”.

O estudo da rede urbana favorece a compreensão das características, das conexões e das hierarquias entre diferentes cidades. Neste contexto, os objetos de estudo da Geografia são variados, a formação da rede urbana e toda sua complexidade faz parte desse temário, como assevera Santos (1993, p. 53): “houve um tempo em que se podia tratar a rede urbana como uma entidade onde as cidades se relacionam segundo uma hierarquia de tamanho e de funções. Esse tempo passou. Hoje cada cidade é diferente da outra”.

O conceito de rede, adotado neste texto que ora se apresenta está em consonância com o exposto pelos autores e vai além do modelo christalleriano, por entender que assim pode-se chegar a compreensão de como ocorrem as relações entre Colíder e as cidades de seu entorno imediato, pois possibilita analisar não somente os aspectos quantitativos, mas também os qualitativos desta relação.

A cidade pequena na rede urbana

Estabelecer uma classificação ou um conceito geral para cidade pequena é um trabalho árduo, pois existem muitas diferenças entre esse grupo de cidade e suas formas de urbanização. Santos (2014, p. 85) explica que quando se faz referência à cidades pequenas, o primeiro ponto que vem à mente é o número de habitantes, então o autor chama a atenção para o fato de que, “Aceitar um número mínimo, como fizeram diversos países e também as Nações Unidas, para caracterizar diferentes tipos de cidades no mundo inteiro, é incorrer no perigo de uma generalização perigosa”.

Corrêa (2011) em sua reflexão sobre o conceito de cidade pequena, discute que esta compõe objeto cuja analise está imbuído de encaminhamentos distintos e questionável. Segundo ele, apesar das dificuldades para o estabelecimento desta conceituação, ela se faz necessária mesmo que de uma forma provisória, incompleta e com algumas inconsistências, pois só assim se pode avançar nos estudos desta categoria de cidade.

As cidades pequenas na visão de Sposito e Jurado da Silva (2009, p. 206), ao passarem por transformações no decorrer do tempo apresentam formas e funções variadas. Segundo eles “A própria delimitação de um determinado núcleo urbano como sendo uma pequena cidade já indica uma série de discussões, porque não há unanimidade e muito menos consenso a respeito da melhor explicação para esse conceito/noção”.

A rede urbana brasileira, consonante IBGE (2018) está estruturada em duas dimensões, a saber: a hierarquia dos centros urbanos e as regiões de influência e que a partir delas como parâmetro desses estudos, subentende-se que os centros de zona e centros locais, com média que varia entre 7,5 mil a 60 mil habitantes, são considerados pequenas cidades. Há aqui uma conceituação fundada no quantitativo demográfico.

Fresca (2010) em seu estudo de cidades pequenas disserta que um dos critérios usados para a classificação delas têm sido os dados demográficos. Entretanto, adverte que ao utilizar este caminho para caracterizar uma cidade como sendo pequena, corre-se o risco de igualar cidades que na sua especificidade são diferentes.

Com a mesma linha de pensamento de Fresca (2010), no que tange classificar as cidades conforme o número de habitantes, Santiago (2011, p. 17) concorda que cabe a cada país ou instituição definir as variáveis para classificá-las em pequena, média ou grande. “Todavia, deve-se atentar que não é apenas o tamanho que caracteriza uma cidade, mas, sim, as funções presentes” especialmente quando a análise recai sobre a rede urbana e interações entre as cidades.

Cada cidade, seja ela classificada em pequena, média ou grande, apresenta especificidades e para entender cada uma delas são variados os pontos a serem analisados. No que se refere a cidade pequena, conforme Fresca (2010), só recentemente pesquisadores das diversas ciências têm se interessado em desenvolver pesquisa sobre as cidades pequenas e passaram analisar a sua importância, sua dinâmica econômica, social e cultural no cenário da urbanização brasileira.

Compreende-se então que um dos pontos a ser considerado para entender a cidade pequena e seu papel no contexto brasileiro, é a rede urbana. A compreensão das cidades segundo Becker (2009, p. 122) só é possível de ocorrer a partir “do entendimento de seu papel no conjunto de cidades. É do relacionamento entre as cidades que advém a maior parte de suas dinâmicas. Então, não basta olhar os atributos locais de uma cidade para compreendê-la”.

Na concepção de Santiago (2011), a rede urbana diferencia-se pela relação entre as cidades de diversos tamanhos em uma mesma região ou entre regiões diferentes, e mais o que definirá a inclusão de uma cidade na rede urbana, não é apenas o fator demográfico ou as funções presentes, mas o entrosamento desses elementos juntamente com as relações econômicas e socioespaciais que mantém com outras cidades independente do tamanho e da distância.

Os estudos e as discussões sobre a temática cidade pequena e sua participação na rede urbana é extremamente relevante ao possibilitar a compreensão de como se dão as interações/articulações socioespaciais e, consequentemente, vislumbrar a perspectiva de maior conhecimento sobre elas. A reflexão sobre o estudo da arte da temática em tela, leva o direcionamento ao pensamento de Sposito e Jurado da Silva (2009, p. 215) de que a pesquisa dela não deve ser desenvolvida somente explorando “os coeficientes de drenagem capitalista que um determinado centro apresenta, mas é, sobretudo, demonstrar qual o papel/significado da cidade pequena na divisão territorial do trabalho”.

Colíder, tomando por base o critério quantitativo, é uma cidade pequena. Para o IBGE (2018) pequenas cidades são aglomerados urbanos que possuem uma população de até 60 mil habitantes; por este critério, Colíder se enquadra no grupo das pequenas cidades, tem uma população estimada para 2021 em 33.855 habitantes e uma área de 3.112,091 km². Neste sentido, ressalta-se o que expõe Melo (2008, p. 483) “O tamanho demográfico, por mais problemático que seja, deve ser considerado. Entretanto, não deve ser empregado como o único elemento que identifica uma pequena cidade”.

Empregando o critério qualitativo, apoiando em Santos (2014), Corrêa (2006), Fresca (2010), Melo (2008), Sposito e Jurado da Silva (2009), entende-se que Colíder demograficamente é uma cidade pequena, mas qualitativamente está inserida em uma área economicamente dinâmica, onde se desenvolve a agricultura e a pecuária moderna, busca atender as demandas básicas de sua população, além de abrigar funções político administrativas, residenciais, econômicas – serviços, indústrias e comércio; sociais como, educação, saúde, segurança. Desse modo, o urbano também está presente nas pequenas cidades, conforme Sposito (2013, p.39) nelas “há complexidade, há vida”. Assim devem ser compreendidas para que se possa conhecê-las e inseri-las corretamente nos planejamentos de desenvolvimento local e regional.

Contexto histórico, geográfico e econômico de Colíder-MT

No concernente aos aspectos geográficos a unidade climática em que está inserida a cidade de Colíder, conforme Tarifa (2011, apud PADILHA, 2017) é denominada de Clima Equatorial Continental Úmido, com estação seca bem definida da Depressão Sul-Amazônica, com temperatura média anual em torno de 25º C. Com relação à precipitação, o volume anual gira em torno de 2.000 a 2. 3000mm, conforme Camargo (2011 apud ANDRADE, 2019).

Os autores Carmo, González e Sousa (2019, p. 8) ao realizarem um estudo de vulnerabilidade socioambiental no levantamento das características ambientais do município de Colíder, afirmam que “os principais fatores que influenciam nas condições climáticas no norte do estado do Mato Grosso e no município de Colíder em particular são a latitude, a continentalidade e a atuação dos mecanismos de circulação atmosférica de macro escala”.

No que se refere à hidrografia, o município está inserido na sub-bacia hidrográfica do rio Carapá, que juntamente com seus afluentes deságuam no rio Teles Pires e vão contribuir para a formação daquela que é considerada a maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica. O rio Carapá é de grande importância para o município de Colíder, pois a maior parte da água que abastece a cidade é proveniente das nascentes de pequenos cursos d’água que deságuam neste canal. (PADILHA, 2017).

A criação de Colíder, conforme Calonga (2015), está atrelada aos incentivos fiscais e projetos do Governo Federal da década de 1970. Porém, a ocupação desse espaço começa a ser tensionado com a Marcha para Oeste que é lançada oficialmente em 1938, com a proposta de colonizar as terras da região Centro-Oeste até a Amazônia.

As primeiras ocupações da área onde hoje localiza o município, ocorreram no início da década de 1970 e o fator que vai proporcionar condições para a colonização dessa área é a abertura da rodovia Cuiabá – Santarém, BR-163, cujas obras foram planejadas dentro do Programa de Integração Nacional (PIN). Para colocar em prática o processo de ocupar e integrar essa região ao restante do país, o governo militar atribuiu às empresas de colonização privada a execução do projeto de posse dessa área, sendo a Colonizadora Líder – responsável pela efetivação dos planos de ocupar o espaço que no futuro deu origem ao município, que recebeu primeiramente o nome de Gleba Cafezal - mais tarde tornara-se Colíder, uma junção das palavras Colonizadora Líder (LANARI, MOREIRA; FERREIRA, 2015).

Proveniente da imensa área do município de Chapada dos Guimarães, a área do município de Colíder tornou-se distrito pela lei estadual nº 3746, de 18-06-1976; foi elevado à categoria de município com o nome de Colíder, em dezoito de dezembro de 1979, pela lei estadual nº 4158/1979. De acordo com o IBGE, o município recém-criado tinha uma área de 53,091 Km² e diversos distritos que ao longo da década de 1980 foram desmembrados do município sede. Sendo assim o município perdeu parte do seu território e também uma parcela da população, fato registrado pelos censos do IBGE de 1991 e 2000.

Colíder está inserida na região imediata de Sinop. Entre os 141 municípios do Estado de Mato Grosso, Colíder ocupa o vigésimo primeiro lugar no ranking de maior população, com densidade demográfica, de acordo com o IBGE (2010) de 9,95 hab/km². Quanto à situação do domicílio, tem-se na área urbana 25.014 habitantes e na área rural 5.752 habitantes.

A BR-163 é o principal eixo de acesso e também de escoamento da produção agropecuária na região norte do estado de Mato Grosso. O município de Colíder e as cidades circunvizinhas para interligar a essa rodovia federal, contam com as rodovias estaduais MT – 320 e MT – 208 que liga a região ao restante do país por meio de via terrestre. A construção da BR-163 fez parte do Plano de Integração Nacional do governo federal que oportunizou o acesso à terra a um conjunto de novos sujeitos econômicos, sociais e políticos (IBGE, 2017, SELUCHINESK 2008, MARGARIT, 2013, PMSB, 2018).

O espaço do município tem apresentado transformações no desenvolvimento da produção e na configuração da dinâmica produtiva, este iniciou nas atividades agropecuária a partir do modelo de pequenas propriedades com a exploração familiar na agricultura e pecuária. Entretanto, Colíder como outras cidades da região vem passando por mudanças na paisagem, com a apropriação do campo pelo agronegócio.

A economia do município tem como base o setor primário, conduzido pela agropecuária, destacando positivamente as atividades da pecuária nas áreas de laticínio e frigorífico. No que se refere à economia de forma geral, o Produto Interno Bruto (PIB) do município de Colíder em 2018 foi de R$880.677,96 mil representando uma participação de apenas 0,64% no PIB de Mato Grosso, IBGE cidades (2021).

O desenvolvimento das atividades agrícolas fortaleceu as atividades urbanas destinadas ao abastecimento da produção e outros bens e serviços diversificados, a economia do município teve uma participação expressiva dos setores da indústria e serviços, juntos foram responsáveis por 58,03% do valor adicionado para a formação do PIB no município em 2018, os dois setores são integrados pela produção agropecuária, que movimenta a economia local.

Colíder tem seu comércio ativamente organizado na agropecuária. Nesse sentido, a cidade conta com diversas lojas de insumos, que oferecem fertilizantes, equipamentos, máquinas agrícolas para atender a demanda do campo, essa dinâmica fortalece a função da cidade na região, que conta também com seis agências bancárias, ofertando diversos serviços na área financeira. Dispõe ainda de equipamentos, serviços públicos e privados, que atraem a população das cidades circunvizinhas.

De acordo com o Censo escolar – sinopse (2020), apresentado na página do IBGE Cidades, o município de Colíder dispõe de escolas públicas e privadas, com uma taxa de escolarização de 97,2% entre a população de 6 a 14 anos, registrada pelo IBGE em 2010. Segundo dados do Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP - Censo Educacional 2019, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-IDEB – foi de 5,9 para os anos iniciais do Ensino Fundamental (Rede pública) e 4,9 para os anos finais do Ensino Fundamental (Rede pública), 3,9 foi IDEB obtido pelo Ensino Médio (Rede pública).

O Ensino Superior, está presente na cidade com atendimento e atividades diárias com atuação de Universidades públicas, como a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso (IFMT) e a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), que atuam em parceria com a Universidade Aberta do Brasil na modalidade Ensino à Distância – EAD e/ou semipresenciais.

A Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) por meio do Campus Universitário Vale do Teles Pires oferta também cursos na modalidade presencial. A cidade conta ainda com as Universidades privadas como Faculdade de Colíder-FACIDER que oferece cursos presenciais e na modalidade à distância, a UNIASSELVI, UNICIC, FAMA, FAEL, UNINTER, UNIP e UNOPAR oferecem cursos mistos, presencial, semipresencial e 100% online. A modalidade na formação de nível técnico oferecido pelo setor privado também está presente ofertando esse tipo de formação, é o caso do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC. Em suma, a progressiva diversificação de cursos superiores e técnicos, assim como a qualidade do ensino municipal demonstrado na avaliação do IDEB, permite à cidade atender a sua demanda por qualificação e também dos municípios vizinhos.

De acordo com dados do CNES/Datasus (2021) a cidade dispõe de uma Secretaria Municipal de Saúde, 8 Unidade Básica/PSF, 7 postos de saúde e três hospitais. Oferece serviço de emergência 24 horas para atender a população, além de clínicas, laboratórios e outros estabelecimentos de saúde, incluindo os da rede privada que se encontram instalados na cidade. A população da cidade é atendida pelo Hospital Regional, referência em assistência hospitalar para o município e região, segundo a Secretaria de Comunicação Social do Estado-Secom/MT, foi necessário uma ampliação em 2021 nesta unidade hospitalar, para abrigar uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) equipada com 10 leitos e também mais 20 leitos clínicos.

A importância de Colíder para os municípios do seu entorno

A atual dinâmica do espaço de Colíder evidencia características de uma pequena cidade que vem garantindo sua função de centralidade ao norte de Mato Grosso, classificada pela IBGE (2018) como Centro de Zona A, verifica-se o fortalecimento da sua influência e sua capacidade de atrair população de localidades próximas, mantendo as relações urbanas de proximidade.

Para comprovar a afirmação acima, a técnica de entrevista e de aplicação de formulários foram utilizadas para analisar a ligação dos diferentes aspectos urbanos de Colíder com seu entorno, buscou-se a visão por meio dos representantes de segmentos como Comércio, Saúde, Ensino Superior e Técnico sobre a procura por seus serviços pela população de outras cidades, analisando a importância de cada segmento para Colíder e a forma como esses bens e serviços contribuem para a relação com os municípios circunvizinhos.

A análise das informações obtidas possibilitou identificar ligações de Colíder com outras cidades, como é o caso de Altamira, no estado do Pará, distante de Colíder 1.323,8 km tida como Centro Sub-Regional A na classificação do IBGE e com outras um pouco mais próximas, que possuem uma grande oferta de bens e serviços, exemplo de Sinop (MT), apontada pelo o IBGE (2018) como capital regional C. É importante ressaltar que nestes casos são procuras ocasionais, não se caracterizam como um fluxo permanente de consumidores destas cidades.

Entretanto, constatou-se um fluxo diário entre Colíder e as cidades de Nova Canaã do Norte, Nova Santa Helena, Itaúba, Terra Nova do Norte, Nova Guarita, Marcelândia, em virtude da atração direta da população por comércio e serviços baseados nas relações de proximidade, também foram citadas outras cidades da região como; Carlinda, Alta Floresta, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, Matupá, Sinop, Paranaíta, Apiacás, Nova Bandeirante, Nova Monte Verde, Novo Mundo, todas essas cidades localizadas em Mato Grosso.

Uma das maiores causas que impulsiona o deslocamento de pessoas na rede urbana, saindo de seus municípios a procura de atendimento em outras cidades, segundo o IBGE (2018), é a demanda por serviços de saúde. Assim sendo, Colíder é procurada pela população das cidades do seu entorno por dispor de estruturas físicas, equipamentos e recursos humanos, para atendimento básico e de média complexidade, propiciando a população local e das cidades circunvizinhas acesso a serviços e profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos, para o apoio ao diagnóstico e tratamento.

Observa-se, que a presença de instituições públicas de saúde é um forte indicador utilizado para entender a área de influência de uma cidade, isso se deve ao alto dinamismo nas organizações espaciais que envolvem os serviços de saúde. As semelhanças e diferenças nas centralidades geradas pela busca direta dos habitantes de outras cidades e aquelas produzidas pela localização dos serviços ofertados permitem uma análise apurada da territorialidade da saúde para o município, podendo facilitar a elaboração de políticas públicas voltadas para a melhoria desses serviços IBGE (2018).

As universidades possuem um papel importante no desenvolvimento da sociedade, desenvolvendo projetos e pesquisas, que contribuem nas inovações tecnológicas, econômicas e sociais que influenciam decisivamente na produtividade local e regional. No que se refere ás Instituições de Ensino Superior, a cidade de Colíder surge com um grande número de estudantes de outros municípios em busca de acesso aos cursos de nível superior. Moura (2015) reitera que o principal legado e função social de uma Instituição de Ensino Superior “é seu papel na construção de uma sociedade melhor e mais justa, através de suas atividades vinculadas ao ensino, à pesquisa e com grande importância aos exercícios da extensão universitária” (MOURA, 2015, p. 97).

Sobre os municípios e cidades atendidas pelas instituições públicas e privadas do Ensino Superior e técnico, as cidades com maior número de matrículas são, Colíder, Itaúba, Nova Canaã do Norte, Nova Guarita, Nova Santa Helena, Terra Nova do Norte, Matupá, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo.

No topo do ranking das cidades com o maior número de consumidores que busca Colíder para aquisição de bens e serviços estão: Nova Santa Helena e Nova Canaã do Norte (Tabela 1), evidenciando que quanto mais próximos os municípios, maior a quantidade de pessoas buscando produtos e serviços em Colíder.

Tabela 1
Classificação das cidades com maior número de pessoas buscando Colíder para acessar bens e serviços

as autoras, (2022).

Verificou-se um comportamento frequente da população das cinco primeiras cidades, que busca suprir suas necessidades básicas de bens e serviços em Colíder. Esta por sua vez, desempenha um papel de atração, em relação às cidades menores de seu entorno.

Fresca (2010) ressalta que, “As pequenas cidades ainda são responsáveis por atender parcela significativa da população em termos de bens e serviços imediatos à sua população”. Contudo, deve-se apreender que estes apresentam outras características qualitativas quando comparados a outros momentos do passado, ou seja, “os bens e serviços tornaram-se muito mais abrangentes em razão das necessidades ou imposições do sistema de consumo à população urbana” (FRESCA, 2010 p. 78).

Fundamental nesse caso é destacar a presença regular do consumidor de outras cidades na dinâmica econômica de Colíder, contribuindo para a consolidação deste centro urbano enquanto cidade pequena, assim como para ampliar a sua participação na oferta de bens, insumos e serviços para as cidades de seu entorno em razão da demanda gerada fortalecendo, desta maneira, seu papel de intermediação na rede urbana. Esta situação identificada vai ao encontro do que Santos e Amorim (2015) sinalizam: “a centralidade vem a ser a capacidade de atração/dispersão entre os objetos fixos e os fluxos de bens, serviços e mercadorias”

No que tange o estabelecimento da área de influência das cidades, de acordo com o IBGE (2018), um elemento fundamental é a atração exercida entre os núcleos urbanos próximos. Esta relação foi identificada em Colíder, pois as cidades que possuem maior número de pessoas que a busca para acessar algum tipo de bens e serviços, estão em relação a ela em uma distância média que não ultrapassa 150 Km, com quatro delas a menos de 100 Km (Figura 2).

Nota-se, que a distância é um fator importante na escolha da população para o deslocamento, os entrevistados frisaram que, o maior quantitativo de consumidores de outras cidades é oriundo das cidades mais próximas, o que pôde ser visualizado na figura (2) acima.

Corrêa (2011, p. 7) afirma que é muito mais confiável diferenciar se uma cidade é pequena pelo seu nível de centralidade do que que pelo seu quantitativo demográfico, pois “ela se caracteriza por ser um centro local, isto é, um centro que exerce centralidade em relação ao seu território municipal, sua hinterlândia,” afirmando ainda que, em muitos casos, essa pequena cidade possui em “suas hinterlândias”: cidades menores que no passado foram distritos subordinados a elas. Nessa conjuntura, cabe salientar que Colíder teve como distritos as cidades de Itaúba, Guarantã do Norte, Nova Canãa do Norte e Matupá; centros locais para os quais Colíder consegue ofertar uma quantidade de bens e uma diversidade de funções centrais, que lhe assegura um grau de centralidade.


Figura 2
As cidades e o número de menções a elas feitas nas entrevistas
Organizada pelas autoras, (2022).

A seguir, (na tabela 2) é possível visualizar a área de influência de Colíder que está posta pelo IBGE Cidades (2021).

Tabela 2
Área de influência apresentada pelo IBGE Cidades.

IBGE Cidades. Pesquisa direta (2021).

É possível verificar pelos estudos do IBGE (2021) que apenas as cidades de Nova Canãa do Norte e Nova Santa Helena fazem parte da área de influência de Colíder. No entanto, essa pesquisa constatou que consumidores de outras cidades, como Itaúba, Marcelândia, Terra Nova do Norte, buscam Colíder para o acesso a produtos e serviços. Compreende-se, portanto, que estes centros locais não se vinculam unicamente com a sua região de influência, neste caso a cidade de Sinop.

A tendência é que a população destas cidades limítrofes com Colíder busque Sinop, apenas quando Colíder não atende suas necessidades, já que o custo do deslocamento não compensa. Na mesma situação aparecem outras duas cidades: Nova Guarita e Peixoto de Azevedo. Segundo o IBGE (2018), Nova Guarita está na área de influência de Alta Floresta, entretanto devido à proximidade com Colíder, os habitantes dessa cidade a procuram para obtenção de bens e serviços, ocorrendo o mesmo com Peixoto de Azevedo.

Colíder tida como polo microrregional, inserida na Mesorregião Norte de Mato-Grossense, conforme a pesquisa realizada, desempenha a função de ofertar as cidades menores de seu entorno, bens e serviços básicos, como comércio, saúde e educação, oferecendo ainda serviços públicos federais e estaduais, o que aumenta sua importância e assegura sua centralidade na região.

O resultado da análise empreendida aponta para o entendimento de que quanto maior for a procura por bens e serviços, maior também será a oferta por parte do comércio local, fortalecendo a economia do município e as relações com seu entorno. Observou-se também que as relações de Colíder com outras cidades vão além daquelas do seu entorno, ou seja, limítrofes a ela, mas a proximidade intensifica as relações, pois são aquelas mais próximas que têm seus habitantes fazendo o deslocamento para Colíder em busca de bens e serviços.

Considerações finais

O processo de expansão da fronteira econômica sobre a Amazônia proporcionou a formação de uma rede urbana importante. Com a implantação dos projetos de colonização, houve a criação de novos núcleos e com a dinamização da região pela agropecuária, as cidades passaram a fazer parte de uma rede urbana que ao longo do tempo adquiriu formas mais complexas, portanto as pequenas cidades localizadas nesse espaço incorporam fatores econômicos modernos de essência capitalista.

Neste contexto encontra-se o polo microrregional de Colíder que possui uma dinâmica econômica com atividades importantes para cidades de seu entorno, dispõe de serviços diversos e organização comercial capaz de atender população local e das cidades vizinhas, desempenha um papel de centralidade tanto em nível intraurbano como interurbano, o que dinamiza as relações com as demais cidades, aumentando o fluxo de consumidores a procura de bens e serviços.

Para compreender as relações estabelecidas entre Colíder e as cidades vizinhas, três questões precisaram ser discutidas: primeiramente caracterizar Colíder como uma cidade pequena e sua formação espacial, em seguida analisar as atividades econômicas e sua distribuição no conjunto da região, só então foi possível destacar a centralidade dela por meio do fluxo de consumidores de outras cidades à procura de produtos e serviços, como a saúde e a educação.

O estudo aponta na direção de que é preciso desenvolver mais pesquisas sobre a dinâmica econômica e a participação na rede urbana das pequenas cidades, levando em conta as atividades produtivas e o desenvolvimento desses centros urbanos que concentram grande número de relações com os seus municípios vizinhos, apesar do pequeno quantitativo demográfico.

Compreende-se que as pequenas cidades não podem ser entendidas somente a partir de dados quantitativos, mas sim pelo que ela representa na sua região. As cidades brasileiras são muito heterogêneas, o que demonstra a necessidade de analisá-las nos seus aspectos quantitativos e qualitativos.

Ao realizar a pesquisa exposta compreendeu-se que a contribuição dela está na disponibilização de informações que podem contribuir com os agentes do poder público responsáveis pela elaboração de plano de desenvolvimento e planejamento urbano, de maneira que possam pensar em ações conjuntas entre os municípios da microrregião de Colíder, uma vez que o estudo demonstrou uma importante dinâmica na relação entre eles, o que demanda o implemento de medidas em que todos assumam os ônus e os bônus desta relação.

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Notas

Maria Rosa De Souza Silva É Graduada e Mestre em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Atualmente é professora da Educação Básica pela Secretaria de Estado de Educação-SEDUC/MT.

Endereço: Rua Quinze de Novembro – 1151, Jardim São Paulo, Mirassol D'Oeste - MT, 78280-000.

Judite de Azevedo do Carmo É Graduada, Mestre e Doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Atualmente é professora Adjunto do curso de Graduação em Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT/Campus de Cáceres).

Endereço: Avenida dos Ingás, n. 3000, Jardim Imperial, Sinop, Mato Grosso, CEP: 78500-000.



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