O LIMITE DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO EM SENTIDO FENOMENOLÓGICO A PARTIR DA TESE SOBRE “A POBREZA DE MUNDO DO ANIMAL”
Palavras-chave:
Mundo, pobreza de mundo, mundo animal, transcendência, metafísicaResumo
O objetivo deste artigo é mostrar como, no curso de 1929/30, Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo finitude e solidão, Heidegger expõe e defende, mediante a tese sobre a pobreza de mundo do animal, o mundo em sentido fenomenológico-transcendental como constitutivo ontológico do ser-aí que, enquanto ser-no-mundo e, portanto, formador de mundo (Weltbildend), difere radicalmente do animal que, enquanto pobre de mundo (Weltarm), não tem acesso ao ente enquanto ente e, por isso, é excluído da abertura do ser. Heidegger pretende, além de estabelecer um abismo entre o homem e o animal, demonstrar o mundo como um tema fundamental da metafísica, enquanto evento que ocorre no ser-aí e sua finitude e transcendência. No entanto, o limite da tese sobre a pobreza de mundo, seja pela inacessibilidade da vida em si mesma, seja pelo antropocentrismo latente no privilégio do ser-aí, leva Heidegger a, paulatinamente, abandonar a tese da pobreza de mundo do animal, de modo que, depois da viragem (Kehre), o animal passa a ser caracterizado como sem mundo. O artigo termina com a leitura de Agamben, cuja peculiaridade, sobretudo no modo como interpreta uma suposta proximidade entre a essência da animalidade, enquanto perturbação (Benommenheit), com o tédio profundo (der tiefen Langweile), enquanto tonalidade afetiva fundamental do ser-aí, além de denunciar o antropocentrismo nas análises de Heidegger e propor o que ele denomina de suspensão da suspensão da dicotomia entre homem e animal, aponta para os desdobramentos dessa problemática no pensamento de Heidegger depois da viragem.