NOTA EDITORIAL
Resumo
Apresentamos ao público a Poiesis: Revista de Filosofia, vol. 14, n. 1 de 2017. O presente
número é uma contribuição de pesquisadoras e pesquisadores da Argentina e do Brasil que se
dedicam à interpretação e atualização do pensamento de Hannah Arendt. O nosso Dossiê
Hannah Arendt reúne artigos que discutem os mais variados temas sobre a pensadora que se
tornou referência obrigatória na filosofia política contemporânea. Quando o mundo assiste
atônito a consagração de governos fascistas e o espraiamento da violência gratuita é hora de
repensarmos sobre o que ainda pode a política diante das ideologias reducionistas que se
espalham como vírus numa velocidade alucinante no mundo virtual. E quando essas mesmas
ideologias são transpostas para a realidade comunitária, o que vemos é um show de violência
e intolerância assumindo o controle desde os grandes centros até mesmo as pequenas
comunidades. Pela pena de Hannah Arendt somos levados a problematizar essas e outras
questões candentes com as quais estamos envoltos em nosso cotidiano. No artigo que abre o
dossiê, Arendt intérprete de Hobbes: problemas de lo político moderno, Beatriz Porcel
apresenta alguns aspectos cruciais da crítica arendtiana a Hobbes destacando a filosofia
política hobbesiana como embasamento de um Estado Leviatã que surgiria para atender aos
interesses da classe burguesa da época. Nesse sentido Hobbes propõe uma espécie de
subjetivação do espaço público. Na sequência, somos brindados com o artigo de Paula
Hunziker, Memoria, historia y tragedia: dilemas de la narración en la reflexión política
de Hannah Arendt, onde a autora explora a reflexão arendtiana da história numa perspectiva
do pensamento épico e trágico. Trata-se de uma novidade metodológica de Arendt que tenta
escapar dos esquemas tradicionais de uma interpretação do Totalitarismo a partir da chave de
uma “história universal”. Fechando o ciclo das autoras argentinas temos o artigo intitulado
Giorgio Agamben en la brecha entre el pasado y el futuro: reflexiones acerca de la
presencia de Hannah Arendt en sus primeros escritos. No referido artigo a autora Anabella
Di Pego promove uma cuidadosa análise de alguns conceitos arendtianos que foram cruciais
para o filósofo italiano. A autora sustenta que a reflexão sobre a ação, a história e o tempo,
presentes na obra de Arendt, serviram de pano de fundo para que Agamben desenvolvesse sua
pesquisa sobre o biopoder. Seguindo o nosso dossiê, temos o artigo de Geraldo Adriano
Emery, cujo título, A leitura arendtiana da mentira na política, já indica que se trata da
análise sobre a utilidade da mentira na vida pública. Arendt chama a atenção para o risco que
a política corre quando a mentira adentra ao espaço público e, como mentira organizada, se
torna um instrumento deliberado de negação da realidade, e, por conseguinte, de suspeita da
verdade. O artigo seguinte é uma reflexão sobre A dissolução do Estado e seus elementos
totalitaristas na perspectiva de Hannah Arendt de autoria de Júlia Lemos Vieira. Nele a
autora retoma a análise arendtiana sobre as práticas imperialistas que criaram solo favorável
para o surgimento dos movimentos totalitários que ascenderam como governos totalitários na
Europa. O artigo seguinte é Ação, trabalho e labor segundo Hannah Arendt, de autoria de
Ricardo Luiz de Souza, O autor aborda em linhas gerais a visão arendtiana acerca das
atividades humanas e no mesmo movimento analisa de modo mais pormenorizado a crítica
que Hannah Arendt dirige ao filosofo Karl Marx quando o mesmo trata da relação entre o
trabalho e o homem. Já no artigo Hannah Arendt e Aristóteles: um olhar sobre liberdade,
temos uma parceria entre Giseli Lima, Lamia Saadi Tosi e Pedro Saadi Tosi, autores que
propõem discutir como Arendt, ao se apropriar do conceito de liberdade presente na obra do
filósofo grego, é capaz de depurar o conceito criticando o modelo grego de democracia. A
partir daí eles procuram demonstrar, a luz da filosofia arendtiana, de que modo o pensamento
da filosofia clássica ainda possui uma força heurística suficiente para sustentar algumas
reflexões contemporâneas sobre a política. E seguida temos o artigo Sentido e Legitimidade
da Política em Hannah Arendt. Nele o autor José Santos coloca em discussão alguns
aspectos da análise feita por Arendt em relação ao sentido do politica no mundo
contemporâneo, cuja herança política vem da perda da autoridade na modernidade e sobretudo
da experiência com os governos totalitários. E encerrando o nosso Dossiê Hannah Arendt,
temos Ricardo George de Araújo Silva que por meio do artigo Resistência e Identidade:
Uma leitura do gueto e do Caso Dreyfus a partir do pensamento de Hannah Arendt
avança em suas reflexões sobre situação dos judeus frente as ameaças do antissemitismo
europeu. O autor parte da seguinte questão: “Diante da situação de opressão, a resistência é a
saída ou deve-se sucumbir à assimilação?” Ricardo, seguindo os passos da análise de Hannah
Arendt do paradigmático caso Dreyfus, entende que no espaço público cabe o exercício da
resistência, uma vez que esse é agônico e mantém-se aberto a esse proceder.
Desejamos uma leitura proveitosa a todos!