SARTRE E A DISSOLUÇÃO DO SENTIDO DA EXISTÊNCIA COMO DISSOLUÇÃO DA TEMPORALIDADE DO PROJETO
Palavras-chave:
Sartre, existencialismo, literatura, temporalidade, ontologia.Resumo
O protagonista do romance A Náusea (1938), Antoine Roquentin, não consegue se conectar com os outros e dar sentido a si e ao mundo ao seu redor. Esta desarticulação de sentido se expressa em um profundo mal-estar, a Náusea. Para restituir o sentido perdido, Roquentin busca uma articulação temporal que, como em uma estrutura narrativa, pudesse conectar o passado com o presente. No entanto, Roquentin conclui que o passado não existe, só existe um presente contingente que se arrasta sem passado e futuro. Neste artigo, vamos mostrar que a há uma conexão necessária entre tempo e sentido para pensar a dissolução do sentido em A Náusea como dissolução da temporalidade. Para isso, recorreremos à descrição onto-fenomenológica da temporalidade em O ser e
o nada. A leitura de O ser e o nada nos faz compreender que o sentido não deve ser buscado no passado, mas em um projeto quanto ao futuro. É a ausência de projeto que faz o sentido se
desarticular. Seguindo esta linha de interpretação, podemos afirmar que a possibilidade de “salvação” da Náusea vislumbrada por Roquentin no projeto de ser escritor é justamente um projeto quanto ao futuro. Neste projeto há uma ambiguidade: ao mesmo tempo que deseja criar uma obra de ficção, Roquentin quer se reconectar com o real através do imaginário: ser lido pelos outros que dariam a ele o sentido de ser um escritor que “vivia perambulando pelos cafés”. O projeto de ser escritor, articulando a realidade com a criação imaginária, nos faz concluir que a amplitude do sentido temporal do projeto é muito mais rico que o “verniz” do insuficiente sentido lógico e habitual que inicialmente Roquentin buscava atribuir às coisas.
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Referências
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