ENTRE RASTROS: PRELÚDIO PARA DOIS PENSAMENTOS DA ALTERIDADE
DOI:
10.46551/2448-30952023v27n207Palavras-chave:
Alteridade, Derrida, Levinas, Temporalidade, RastroResumo
Jacques Derrida e Emmanuel Levinas, em suas respectivas abordagens filosóficas, enfatizam que o modelo de pensamento e de linguagem proposto pela filosofia ocidental resultou em uma redução violenta na compreensão e comunicação da realidade e das relações humanas, devido à persistente ênfase em categorias como a presença e a identidade. Diante desse cenário, Derrida e Levinas propõem desarticular o primado da identidade como detentora exclusiva do saber e da linguagem. Além disso, eles questionam a pretensão do discurso da totalidade que busca reduzir o mundo, as relações e o transcendente à primazia da consciência. Como resultado, os filósofos rejeitaram o estatuto das filosofias da presença da tradição filosófica, apresentando bases comuns para um outro modo de se fazer filosofia. A partir da análise do artigo “O vestígio do outro”, de Emmanuel Levinas, e do livro “Margens da Filosofia”, de Jacques Derrida, este artigo tem como objetivo apresentar como a noção de rastro possibilita uma intertextualidade latente no pensamento desses autores. O rastro não se limita a ser uma simples marca deixada pelo outro ou um vestígio puramente físico. Em vez disso, ele nos instiga a ir além de qualquer sinal evidente e perceber que, no contexto do pensamento da desconstrução e do pensamento da ética da responsabilidade, o rastro remete para uma concepção de temporalidade outra. Além disso, ambos os filósofos exploram a noção de rastro, apontando para uma alteridade radical que escapa à apreensão, quer seja através da linguagem ou da relação ética. Essa alteridade é concebida como uma diferença absoluta e irredutível. Assim, ao introduzirem a noção de rastro, os filósofos nos convidam a acolher o totalmente outro (tout autre), que escapa às nossas concepções convencionais. Eles nos instigam a reconhecer a complexidade e a riqueza das relações humanas e da realidade que nos rodeia.
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