“PENSAR COMEÇA TALVEZ AÍ”: DERRIDA E A QUESTÃO ANIMAL
DOI:
10.46551/2448-30952023v27n208Palavras-chave:
Derrida, Animal, Logocentrismo, LinguagemResumo
O presente trabalho busca pensar a questão acerca do animal no pensamento do filósofo franco-argelino Jacques Derrida. Partindo do pressuposto de que a tese do logocentrismo é, como afirma Derrida, antes de tudo uma tese sobre o animal, procuramos demonstrar de que maneira a desconstrução do privilégio concedido ao logos ao longo da história da filosofia no ocidente implica, como um aspecto estrutural necessário, uma certa indagação acerca do animal, como aquele vivente sempre enxergado desde a sua falta de logos. As implicações ético-políticas de uma tal indagação ficam evidentes quando pensamos a “estrutura sacrificial” que essa falta que constitui o animal representa: estar fora do logos significa, ao menos, ser um vivente reduzido à corporalidade, sendo esta entendida tão somente como disponibilidade para o exercício de um poder por parte daquele que, possuidor do logos, ascende à categoria de soberano. Tal concepção de soberania é um traço distintivo do que se chamou, ao longo de mais de dois milênios, filosofia. Por filosofia se entende, então, um certo gesto soberano de exclusão e rebaixamento do outro, seja este outro o animal, seja ele a escritura. Tal qual o animal, também a escritura é enxergada desde a sua falta de logos, desde a sua distância com relação à origem do sentido. Animal e escritura se aproximam ou se assemelham, então, aos olhos da filosofia, como a perpétua ameaça de um fora sobre o qual não é totalmente possível exercer sem perda a soberania, o que leva à sugestão de que pensar começa talvez aí.
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