A VIDA (NÃO) É BELA: CINEMA ENTRE NIETZSCHE E ADORNO
DOI:
10.46551/2448-30952024v29n205Resumo
O artigo analisa o filme A vida é bela (1997), sustentado pelos comentários de Türcke (2001) e Kertész (2001), à época de seu lançamento. As controvérsias causadas pela então crítica intelectual ao filme são contestadas pelos referidos comentadores. Por sua vez, as motivações dessas contestações expõem suas fundamentações filosóficas necessárias à compreensão do filme, demandando uma contextualização mais aprofundada. Intenções estéticas contidas no filme, tais como a tematização do modo deformado da vida e a descaracterização do cotidiano de Auschwitz como jogo, encenadas por seu protagonista, Guido, são fontes riquíssimas para o entendimento do conceito nietzschiano de amor fati. No entanto, é necessária a compreensão dos jogos de inversão, tanto em Nietzsche como em Adorno, para o entendimento das distintas perspectivas assumidas pelos dois filósofos, a saber, afirmatividade e negatividade. A própria recepção do filme pela crítica enseja uma análise mais aprofundada da impotência crítica do pensamento em nosso tempo, incapaz de diferenciar os propósitos da arte e da ciência e de saber valer-se de imagens de pensamento fundamentais à arte e à vida. Nesse aspecto, o pensamento adorniano apresentará os dispositivos apropriados para elucidar o declínio da dignidade humana provocado pela razão instrumental. Ao largo da exposição, a teoria estética como forma de pensamento possível em Adorno se torna uma evidência. A negatividade interna à tristeza intelectual contará com o modelo constelacional para sua expressividade, por meio do olhar atento à primazia do objeto. Por fim, algumas cenas do filme se mostram capazes de destacar certas experiências do pensamento imaginadas por Adorno, em especial na sua
apropriação do conceito de redenção.
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