SUBJETIVIDADES, DADOS E ALVOS DIRECIONADOS: O QUE RESTA À PSICOLOGIA?

Autores

  • Marcelo Gonçalves Rodrigues
  • Jéssica Raquel Rodeguero Stefanuto

DOI:

10.46551/2448-30952024v29n211

Resumo

O presente trabalho, fundamentado na Teoria Crítica da Sociedade, discute sobre a tarefa histórica da Psicologia em uma época marcada pela conversão das já danificadas individualidades em dados e em alvos. Soma-se a isso um contexto de crescente militarização da vida e de educação dos sentidos a partir de uma estética e uma lógica da guerra. A sociedade neoliberal contemporânea parece dobrar a aposta em sua ofensiva sobre as condições de vida e sobrevivência, garantindo a
retroalimentação do capital a qualquer custo. Assim, a educação pela dureza e a militarização das subjetividades surgem como formas de vida em um cenário insustentável e inabitável apesar do desenvolvimento técnico material. Essa razão instrumental domina e destrói as possibilidades de experiência real da subjetividade ao reduzi-la a um objeto de valor econômico substituível e os corpos em alvos desumanizados, ajustando os sentidos a uma estética de mais violência e exploração. O
pensamento psicológico e dialético deve denunciar as tensões e contradições imanentes desse poder do estado tecnocrático. Nesse sentido, a proposta é aprofundar as reflexões sobre as contradições do desenvolvimento técnico atual que, ao invés de figurar como promessa de salvação, sequer é capaz de solucionar os problemas que cria e, frequentemente, acelera o agravamento das questões que deveria resolver. Identificar as inconsistências e falhas no interior desse sistema de poder técnico e burocrático é pensar a Psicologia. E pensá-la hoje, em tempos de crise brutal da individualidade requer que se
considere o desenvolvimento que parece nos qualificar mais para a guerra que para a vida.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcelo Gonçalves Rodrigues

Psicanalista; docente e supervisor clínico no curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Educacional de Penápolis (SP) FAFIPE/FUNEPE; mestre em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista - UNESP- FCL, campus Araraquara; psicólogo formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Bauru. Desenvolveu estudos e pesquisas sobre a temática “Universidade, aceleração e semiformação”. É integrante do Grupo de Pesquisa Ética, Educação e Direitos Humanos, na linha de pesquisa: Teoria Crítica, Novas Tecnologias, Ética e Educação. Desenvolve es udos relacionados às conexões entre inteligência artificial, algoritmos, corpo e inconsciente.

Jéssica Raquel Rodeguero Stefanuto

Psicóloga; técnica em Música; mestre em Educação Escolar; doutora em Educação. Atualmente é docente no
curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Educacional de Penápolis
(FAFIPE/FUNEPE), atuando nas áreas de Psicologia da Educação, Psicologia do Desenvolvimento e afins.

Referências

ABRAHAM, Yuval. “A mass assassination factory”: Inside Israel’s calculated bombing of Gaza. +972 magazine. Israel-Palestina, 2023. Disponível em: https://www.972mag.com/massassassination-factory-israel-calculated-bombing-gaza/

ADORNO, Theodor Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento:fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

ADORNO, Theodor Wiesengrund. “Crítica cultural e sociedade”. In. COHN, Gabriel (org). Theodor W. Adorno: Sociologia. Trad. Flávio Kothe. p. 76-91, São Paulo: Editora Ática, 1986.

CANIATO, Angela; CESNIK, Cláudia Cotrim; RODRIGUES, Samara Megume. “A captura da subjetividade pela violência simbólica da indústria cultural: da submissão à culpabilidade dos indivíduos”. Psicologia USP, v. 23, n. 4, p. 661–681, set. 2012. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pusp/a/CcWsmh7c3gfRJxfgG33MkkL/?format=pdf&lang=pt > (acesso em set. 2023).

CHAMAYOU, Grégoire. “Nota introdutória sobre sociedade com alvos direcionados: uma breve história dos corpos esquemáticos”. Trad. Jorge Bastos Cruz. Novos estudos CEBRAP, n. 102, p. 107–127, jul. 2015a. Disponível em: < https://doi.org/10.25091/S0101-3300201500020007 > Acesso em set. 2023.

CHAMAYOU, Grégoire. Teoria do drone. Trad. Célia Euvaldo. São Paulo: Cosac Naify, 2015b.

Coelho, Henrique; Gimenez, Elza; Rouvenat, Fernanda; Torres, Lívia. “Sequestrador de ônibus é morto por atirador de elite na Ponte Rio-Niterói; os 39 reféns passam bem”. G1 Rio e TV Globo, Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-dejaneiro/noticia/2019/08/20/tiros-sao-ouvidos-em-sequestro-a-onibus-na-ponte-rioniteroi.ghtml

COHEN, Peter. “Arquitetura da destruição”. Filme-documentário. Versátil Home Vídeo. Alemanha: Universal, 1992. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R1rWOwKnr1M

CORBIN, Alain. “O segredo do indivíduo”. In. PERROT, Michelle. História da vida privada,4: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. Trad. Denise Bottmann, Bernando Joffily. p. 392-465. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo póscapitalista. São Paulo: Ubu Editora, 2023.

FAUSTINO, Deivison; LIPPOLD, Walter. Colonialismo digital: por uma crítica hackerfanoniana. São Paulo: Boitempo, 2023.

FEENBERG, Andrew. Transforming technology. New York, Oxford University Press, 2002.

FIGUEIREDO, Luís Claudio Mendonça; SANTI, Pedro Luis Ribeiro de. Psicologia, uma(nova) introdução: uma visão histórica da Psicologia como ciência. São Paulo: EDUC, 2006.

FIGUEIREDO, Luís Claudio Mendonça. A invenção do psicológico: quatro séculos de subjetivação (1500-1900). São Paulo: Escuta, 2007.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume, 2011.

FRANCO, Renato Bueno. “De Baudelaire ao Bungee-Jump”. In: PEDROSO, L.A.; BERTONI, L.M.. (Org.). Indústria Cultural e Educação (reflexões críticas). Araraquara: JM Editora, 2002.

GIDDENS, Anthony; SUTTON, Philip. Conceitos essenciais da Sociologia. Trad. Claudia Freire. São Paulo: Editora Unesp, 2016.

HARAWAY, Donna J. Ciencia, cyborgs y mujeres: la reinvención de la naturaleza. Universidad de Valencia: ediciones Cátedra, 1995.

JONES, Marc Owen. “Fact or fiction?” Israeli maps and AI do not save Palestinian lives. Al Jazeera English, Doha, 2023. Disponível em: https://www.aljazeera.com/opinions/2023/12/4/fact-or-fiction-israeli-maps-and-ai-do-notsave-palestinian-lives

MARCUSE, Hebert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Tradução de Giasone Rebuá. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

MARCUSE, Hebert. Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Tradução de Álvaro Cabral. 8. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

MOREIRA, Jacqueline de Oliveira. “Mídia e Psicologia: considerações sobre a influência da internet na subjetividade”. Psicol. Am. Lat., México, n. 20, 2010 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-

X2010000200009&lng=pt&nrm=iso >. (acesso em set. 2023).

NUNES, Rodrigo. Nem vertical nem horizontal: uma teoria da organização política. Trad. Raquel Azevedo. São Paulo: Ubu Editora, 2023.

SANTINI, Rose Marie. O algoritmo do gosto: os sistemas de recomendação on-line e seus impactos no mercado cultural. Vol.1 Curitiba: Appris, 2020.

SANTINI, Rose Marie. O algoritmo do gosto: tecnologias de controle, contágio e curadoria de si. Vol. 2. Curitiba: Appris, 2020.

SZTULWARK, Diego. A ofensiva sensível: neoliberalismo, populismo e o reverso da política. Trad. Gabriel Bueno da Costa. São Paulo: Elefante, 2023.

ZUIN, Antonio Álvaro Soares. O trote na universidade: passagens de um rito de iniciação. Cortez, 2002.

Downloads

Publicado

2024-11-27

Como Citar

Rodrigues, M. G., & Stefanuto, J. R. R. (2024). SUBJETIVIDADES, DADOS E ALVOS DIRECIONADOS: O QUE RESTA À PSICOLOGIA?. Revista Poiesis, 29(2). https://doi.org/10.46551/2448-30952024v29n211

Edição

Seção

Artigos do Dossiê Escola de Frankfurt e Teoria Crítica da Sociedade: Novas Abordagens