SOBRE VIDA E NARRAÇÃO EM JEAN-PAUL SARTRE E PAUL RICŒUR: UM OLHAR A PARTIR DO PROBLEMA DA MULTIVOCIDADE DO CONCEITO DE EXPERIÊNCIA
Palavras-chave:
Existencialismo; vida e narrativa; Jean-Paul Sartre; Paul Ricœur.Resumo
Neste texto, inicialmente serão apresentadas as perspectivas opostas de Jean-Paul Sartre e
Paul Ricœur acerca da relação entre viver e narrar. Se, para Sartre, vida e narrativa são inconciliáveis,
uma vez que o filósofo entende que as narrativas não são mais do que meras falsificações de
experiências singulares, para Ricœur, por outro lado, a experiência já possui de antemão uma estrutura
que permite o ancoramento das narrativas na própria vida, ao que chamou de traços pré-narrativos das
ações. Depois dessa elucidação inicial, este texto apresenta ainda a hipótese de que essa oposição entre
os dois filósofos franceses se deve ao fato de ambos operarem com conceitos de experiência distintos,
pois Sartre utiliza o conceito oriundo das filosofias do cogito, tradição esta que se desenvolve na
filosofia transcendental e culmina na fenomenologia, ao passo que Ricœur, por sua vez, pertence à
tradição que tem suas bases na hermenêutica, sobretudo em Wilhelm Dilthey, para quem a experiência
viva se expressa de maneira mais ampla do que a mera relação de uma consciência com seu objeto
intencional, e tem desdobramentos significativos nos pensamentos de Walter Benjamin e Hannah
Arendt, a quem Ricœur é tributário. Para demonstrar essa hipótese, será de fundamental importância a
distinção feita por Benjamin entre experiência [Erfahrung] e vivência [Erlebnis], assim como a
relação entre memória e narrativa em Arendt, algo encontrado também em Benjamin. Se for provada
essa hipótese, será possível afirmar que as duas perspectivas se antagonizam apenas na aparência,
podendo-se afirmar, então, que os dois filósofos têm razão acerca do que afirmam sobre a relação
entre a experiência e as narrativas, ao mesmo tempo, embora não sob o mesmo aspecto.
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