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O CARTAZ #ELENÃO COMO ETIQUETA COMUNICACIONAL E DE INSURGÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE AGÊNCIA E MOBILIZAÇÕES EM REDE

Resumo: Em setembro de 2018, o movimento #EleNão se difundiu pelos 27 distritos brasileiros e algumas cidades do exterior em protesto contra a agenda política do então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro. Um cartaz de origem digital, amplamente difundido nas redes sociais e em materiais gráficos, com a vocalização "Ele Não", tornou-se a etiqueta de insurgência para a mobilização em rede. Paralelamente, um movimento liderado por mulheres por meio de um grupo na rede social Facebook, o Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, encadeava uma frente de ação coletiva e que, com a repercussão das pautas eleitorais, se imbricou à replicância do cartaz, alinhavando esteticamente os intentos mobilizados. A proposta do trabalho foi refletir esta perspectiva, considerando a enunciação de vocabulários, palavras de efeito e estéticas políticas nas mobilizações contemporâneas e suas possíveis relações com os sujeitos, sua agência e os espaços de mobilização reticulada. Discutiu-se o caráter comunicacional e insurgente do movimento, a partir de sua refletância on e off-line. O cartaz digital e a tessitura de sua difusão em rede tornou-se ferramenta arregimentadora e indumentária estético-retórica dos atos.

THE POSTER #ELENÃO (NOT HIM) AS COMMUNICATIONAL AND INSURGENCY ETIQUETTE: REFLECTIONS ON THE AGENCY AND MOBILIZATIONS IN NETWORK

Abstract: In September 2018, the #EleNão (#NotHim) movement spread throughout the 27 Brazilian districts and some cities abroad in protest against the political agenda of the then candidate for President of the Republic Jair Bolsonaro. A poster of digital origin, widely disseminated on social networks and in graphic materials, with the vocation "Ele Não" (Not him) has become the insurgency label for network mobilization. At the same time, a movement led by women through a group on the social network Facebook, Mulheres Unidas Contra Bolsonaro (Women united against Bolsonaro), chaired a front of collective action that, with the repercussion of the electoral agendas, became involved in the replication of the poster, aesthetically aligning the mobilized intentions. The proposal of the work was to reflect this perspective considering the enunciation of vocabularies, catchwords and political aesthetics in contemporary mobilizations and their possible relations with the subjects, their agency and the spaces of reticulated mobilization. The communicational and insurgent character of the movement was discussed, based on its on and offline reflectance. The digital poster and the tessitura of its network diffusion became a regimenting tool and aesthetic-rhetorical attire of the acts.

EL PÓSTER #ELENÃO (ELE NO) COMO ETIQUETA DE COMUNICACIÓN E INSURGENCIA: REFLEXIONES SOBRE LA MOTIVACIÓN DE AGENCIAS Y REDES

Resumen: En septiembre de 2018, el movimiento #EleNão (Ele no) se extendió por los 27 distritos brasileños y algunas ciudades del exterior en protesta contra la agenda política del entonces candidato a la presidencia de la República Jair Bolsonaro. Un cartel de origen digital, ampliamente difundido en redes sociales y en materiales gráficos, con la vocación "Ele Não" (Ele no) se ha convertido en la etiqueta insurgente para la movilización en red. Al mismo tiempo, un movimiento liderado por mujeres a través de un grupo en la red social Facebook, Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, presidió un frente de acción colectiva que, con la repercusión de las agendas electorales, se involucró con la réplica del cartel, alineando estéticamente las intenciones movilizadas. . La propuesta del trabajo fue reflejar esta perspectiva considerando la enunciación de vocabularios, lemas y estéticas políticas en las movilizaciones contemporáneas y sus posibles relaciones con los sujetos, su agencia y los espacios de movilización reticulada. Se discutió el carácter comunicativo e insurgente del movimiento, basado en su reflectancia on y offline. El póster digital y la tesitura de su red de difusión se convirtió en una herramienta de regimiento y atavío estético-retórico de los actos.

Palabras-clave: Mobilización social. Red. Insurgencia. Medios de comunicación.

Em 2018, a campanha eleitoral brasileira conviveu com flexões e transformações em sua percepção e condução. As ambiências midiáticas se tornaram mais intrincadas ao métier tradicional de debate, este que, por sua vez, foi perpassado por discussões que complexificaram as noções de governabilidade com reflexões mais acirradas acerca da função estatal, das ideologias e das políticas em torno das pautas identitárias.

A conjugação dos debates que são próprios do período eleitoral foram marcados pela produção de zonas complexificadas de discussão, potencializadas pela comunicação em rede. A atmosfera discursiva esperada para o certame se tornou um fenômeno de tratamento da informação e de posicionamento da comunicação, acompanhado por redes e dispositivos.

Convergências e movências no tocante ao debate democrático e aos modus operandi e vivendi de tratar a informação que balizam o processo eleitoral também foram acompanhadas. Fake news, fact checking e o papel das redes sociais como instrumentos eleitorais tornaram-se reflexões tão costumeiras quanto o exercício democrático do voto.

Das ambiências políticas e eleitorais, a ambiência midiática: uma camada interveniente sobre os processos, provocando deslocamentos do olhar e do compreender os ditames democráticos, os códigos ideológicos e as relações de consenso-dissenso.

O objeto comunicacional atravessa a experiência humana e na oferta de dispositivos, redes, recursos e ferramentas contemporâneas a experiência de acessar, produzir e intervir sobre a realidade foi alterada. Nesse sentido, alteram-se os modos de fazer e aprender política, povoando o imaginário de novas narrativas e realocações.

Na esteira comunicacional, destaca-se o acirramento entre apoiadores e opositores no espectro de candidatos, partidos e vertentes ideológicas postos em visibilidade nos noticiários, nas mensagens digitais e nos espaços de vida comum. Manifestações on-line e off-line também foram observadas como marcadores de um momento que acena para modificações de natureza social, política e comunicacional.

Em 29 de setembro de 2018, manifestações lideradas por mulheres se difundiram pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal em 114 cidades, além de Alemanha, França, Suíça e Portugal^[2]. Na vocalização, a oposição à agenda do então candidato à presidência - atualmente presidente da República - Jair Bolsonaro. O movimento foi consolidado na rede social Facebook, a partir de um grupo que reunia 2,9 milhões de mulheres^[3]. A rede social foi o ponto de ignição dos atos, bem como posto de informações e convocatória.

A estética e a gramática dos atos integrados reclama atenção. A liderança feminina que, a partir do debate eleitoral vigente, articulou discussões sobre políticas identitárias, tratativas de gênero, violência, minorias e problemáticas em torno das noções de desenvolvimento preconizadas e representadas pelo candidato de que protestavam e seus apoiadores. E as redes sociais como indumentárias de insurgência e mobilização reticulada.

O movimento foi intitulado de #EleNão, alcunha que indexou o debate a partir da hashtag central, e por um cartaz digital que viralizado, tornou-se a vitrine e a roupagem imagética e vocabular dos atos, incorporando seus sentidos políticos, sociais e comunicacionais.

Procurou-se aqui, refletir a etiqueta comunicacional e insurgente do movimento #EleNão como mobilização social de refletância on-line e off-line. Debruçou-se sobre a eclosão do movimento por meio do cartaz digital compartilhado em rede e sua arregimentação como indumentária retórica e de agência que designou protestos pelo país.

Interessou ao estudo considerar a enunciação de vocabulários, palavras de efeito e estéticas políticas nas mobilizações contemporâneas e suas possíveis relações com os sujeitos, sua agência e os espaços de mobilização reticulada. Procurou-se verificar ainda os sentidos políticos e midiáticos das práticas suscitadas a partir do cartaz em questão.

O movimento #EleNão pode ser caracterizado como uma mobilização social em rede com flexões on-line e off-line, calcado de atos insurgentes, códigos específicos e um ensejo objetivo que emergiu no espectro de discursos dentro do processo eleitoral, mas que se orienta para além do marcador temporal.

Mobilizações sociais em rede participam da trajetória de constituição dos movimento sociais tradicionais, interpolando sua dinâmica de promover sentidos e significados de luta por meio de um ditame e opositores em comum tendo por perspectiva a retomada ou a proposição de projetos de vida

Todavia, no espectro das redes encontram dinâmicas e estéticas específicas que alteram sua substância em termos de agenciamento, temporalidade, difusão e pervasividade no contexto sociopolítico do qual trafegam. Arregimentadas pela comunicação em rede, as mobilizações são fugidias em hierarquizações e permanências.

Sob o influxo de uma informação detonadora, as mobilizações eclodem como eventos-fenômeno efervescentes, tendo o campo de visibilidade das redes de operação online a intensidade de difusão necessária para criar e consistir em tempos reduzidos, estéticas e identidades provisórias de engajamento.

Ao longo da história, os movimentos sociais são produtores de novos valores e objetos em torno dos quais as instituições da sociedade se transformaram a fim de representar esses valores criando novas formas para organizar a vida social. Os movimentos sociais exercem o contrapoder construindo-se, em primeiro lugar, mediante um processo de comunicação autônoma, livre do controle dos que detêm o poder institucional. Como os meios de comunicação de massa são amplamente controlados por governos e empresas de mídia, na sociedade em rede a autonomia da comunicação é basicamente construída nas redes da internet e nas plataformas de comunicação sem fio. As redes sociais digitais oferecem a possibilidade de deliberar e coordenar as ações de forma amplamente desimpedida.

Esse processo permite que as pautas das mobilizações cresçam de modo escalar e territorial, ativando adeptos em um fronteiriço amplo, por flexões solidárias e modos pouco ortodoxos ou formais de participação social. Há um caráter episódico e volátil derivado da conjugação de operações on e off-line que, imbricadas, dão a tônica para manifestações ruidosas e vertiginosas aos noticiários, governança e objetos de oposição.

Destarte as diferenças conceituais e práticas, movimentos e mobilizações sociais se configuram de modo similar em termos de conjuntura. Isto é, há em ambas as acepções a emergência de sujeitos que se interpolam sua condição intersubjetiva em um cenário mobilizado, o despontar de uma realidade onde reivindicações se tornam projetos por meio de um engajamento educativo que partilha afetos, imagens e sentidos de luta (GOHN, 2014; 2018; TOURAINE, 1998; 2009; MANEIRO, 2006; BRANDÃO, 2004).

Na esteira do movimento #EleNão estavam em perspectiva temáticas fecundadas pelo período eleitoral que fazem emergir pelos sistemas de comunicação e no imaginário popular um estado acentuado de debate público. Tais aspectos, aliados à peculiaridade das mobilizações sociais em rede, produziram tessituras particulares de engajamento.

Entre os temas mais aquiescentes das eleições de 2018 estavam pautas ligadas a lutas identitárias e aspectos que remontam a projetos de país, espectros políticos e ideologias que tratavam de modos distintos - e frequentemente conflituosos - demandas sociais de gênero, orientação sexual, etnicidade e outros.

As declarações e perspectivas do então presidenciável Jair Bolsonaro sobre questões de gênero, especificamente dirigidas às mulheres, geraram diálogos de oposição e suscitaram a ativação da temática no debate eleitoral. Entre um desses diálogos, emergiu um grupo organizado e composto por mulheres no Facebook tendo por finalidade discutir os assuntos nesse dado contexto.

Intitulado "Mulheres Unidas contra Bolsonaro", o grupo conta com 2,5 milhões de participantes e tem por descrição: "destinado à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores"^[4]. O debate agregador de eleitoras contrárias às posições do político e seus apoiadores se expandiu e originou conflitos, como um ataque cibernético ao grupo^[5].

O avanço do debate concomitante à progressão da campanha eleitoral tornou difuso o diálogo do grupo amplamente visível à opinião pública. E, dada à plataforma em rede consolidada pelo grupo, tomou forma um movimento em rede que se flexionou em ativismos on-line com desdobramentos off-line.

A ferramenta eventos no Facebook foi utilizada para organizar atos em diversas partes do país, a partir da imbricação do grupo. As ruas foram tomadas em 29 de setembro em todas as unidades da federação, sem que movimentos sociais tradicionais tivessem a liderança estrita, sendo possível perceber a unidade de espectros políticos convencionalmente opostos no mesmo lado da luta mobilizada^[6].

A fluidez dos atos nas ruas como continuação do debate público deriva a constituição reticulada do processo. Isto é, o caráter das redes - seja pelo papel do grupo e outras articulações na internet, seja pela solidariedade relacional e identitária entre os sujeitos acionados na querela - foi fundamental para que o movimento tivesse uma conjuntura articulada, ágil e horizontal.

Dado o caráter espontâneo, efervescente e conjugado na internet, mobilizações dessa natureza são questionadas quanto à sua validade e efetividade, especialmente por não apresentarem tratativas institucionais de movimentos tradicionais. Nesse sentido, faz-se necessário se debruçar sobre os processos de subjetivação e agência dos sujeitos para lançar lume sobre a mobilização em questão.

O indivíduo se torna sujeito na medida em que interpola a constituição de si mesmo com a vida social, a partir das lógicas e dinâmicas dos centros de poder nos quais se move, navega e interage (TOURAINE, 2009). A potência e a agência do sujeito estão inexoravelmente ligadas às protuberâncias dos contextos sociais nos quais ele está inserido e é partícipe, em um tipo de subjetivação que se dá na imbricação do público e do privado.

A imanência e a impermanência do sujeito são paradoxais na medida em que expressam continuidades descontinuadas. Isso implica que a particularidade da construção do indivíduo, seu eu intercambiante e que está em constante transdução, torna-se sujeito de si quando sua identidade se reclina na ação, que por sua vez é inclinação sociopolítica.

A individuação é parte integradora, consolidadora, aspira lugares de experiência, expectativas, memória e composições intersubjetivas. Porém, sua imanência é facilmente subtraída e cooptada pelas centralidades hegemônicas e lógicas de dominação no tempo e no espaço (CASTELLS, 2009). O processo de constituição do sujeito por sua vez, parte do indivíduo, mas encontra na reação aos centros de poder sua práxis, que é protagonista, ruidosa e por vezes instável.

O arranjo no qual o processo de constituição de sujeitos se desenvolve desemboca em ações coletivizadas, quer movimentos sociais, mobilizações, redes ou articulações comunitárias diversas (GOHN, 2010; SCHERER-WARREN, 2006). Dispostas sobre o tecido social, essas manifestações da ação incidem sobre a estrutura complexa da sociedade, ora reclamando reconhecimento, ora (re)distribuição, ora ambivalências, ora querelas mais complexas.

Convém ressaltar que toda essa multiplicidade de ações e tipificações de mobilizações, resguardadas as riquezas dinâmicas e históricas de cada uma, contribuem para o desenvolvimento das sociedades no tempo e no espaço (SANTOS; CUNHA, 2018a; 2018b). As mobilizações em sua diversidade possuem um caráter educativo, capaz de introjetar novidade, vigor e inovação no espaço público, fortalecendo a cultura política e transformar realidades contextuais (BRANDÃO, 2004; GOHN, 2010; CASTELLS, 2013).

Isso se explica pela coletivização do sujeito que não é um princípio cosmogônico e de epifania do self, mas uma modulação que se constrói na experiência social que é tão subjetivo quanto racional e instrumental (TOURAINE, 1998; 2009). Portanto, a existência do sujeito está condicionada à contestação da ordem vigente ou na busca de integração. As manifestações de que ele participa, consequentemente, se formam e evoluem em sinergia à essa perspectiva.

A variabilidade de tipologias, temáticas e demandas são reflexos, projetos e documentos de sua conjuntura sócio-histórica, da qual poderá ser apartada. Disso advém as mudanças do tratamento dos movimentos sociais na contemporaneidade, considerando o passado de seu surgimento. Esse processo exige o trabalho de atenção à tradição, às lacunas e os contextos.

O indivíduo como o sujeito e sua potência-agência ainda requerem análises que os qualifiquem, tipifiquem, apreendam, destrinchem suas metamorfoses, situem seu papel e relação com o Estado e outros agentes, os novos instrumentais e tecnologias sociopolíticas, e se debrucem sobre a dimensão lacunar entre o dito e o não dito sobre sua existência (GOHN, 2010).

Destarte as possibilidades tão variadas quanto diversificadas, permanece a essência de agências e potências com identidade(s), forças de oposição e articulações em projetos de vida e sociedade. Sua característica por vezes instável e volátil fornece organização e conscientização à sociedade, com proventos de desenvolvimento, guardando permanências e continuidades metabolizadas.

Nesse prospecto, participam desta constituição dos sujeitos em potência e agência os processos e práticas de comunicação nas quais os sujeitos se movem. A linguagem corrente, os símbolos, os códigos, as imagens, as formas, e os dispositivos são vetores e significantes que se entrelaçam à performance dos sujeitos, tornando mais intrincada a relação entre os objetos de luta.

A comunicação em rede, especificada na relação virtualizante dos sujeitos no ciberespaço produzindo comunidade e sentidos (LÉVY, 2000), é produtora de tessituras que ampliam e modificam os significados da constituição e ação dos sujeitos (LEMOS, 2015). Não se trata, portanto, de dar centralidade preponderante ao meio, ao dispositivo ou à mensagem (incluindo aqui emissores, ruídos e receptores), mas na relação entre essas partes.

O movimento #EleNão, aqui caracterizado, revelou que os objetos simbólicos e produtos culturais são importantes índices relacionais e, aqui, insurgentes. Passa-se agora à esse debate a partir do cartaz digital popularizado nas redes sociais e fora dela como um artigo significante, significativo e operante.

Há nos sujeitos um impulso de criar mecanismos poéticos para dar sentido aos eventos cotidianos, onde a falta ou a insuficiência de conexões lógicas são aplacadas por meio de conexões metafóricas (CARTER, 1992). A conexão do indivíduo consigo no processo de individuação e do sujeito em sua expressão inclinada à ação é construída sobre a imanência da linguagem, da comunicação e do que é simbólico.

A comunicação é decisiva para a ação, já que catalisa as protuberâncias da realidade que constrangem a existência de sujeitos e grupos, seus modos e projetos de vida. Desse modo, trata-se não apenas de um ferramental de linguagem básica, mas de fluxos interpenetrantes e de roupagens específicas para o levante, a insurreição e a manufatura da trajetória a que a formação de um sujeito supõe.

A insurreição é, de fato, um acontecimento factual e localizado no tempo e no espaço. Contudo, não pode ser definida - mesmo em suas formas mais abrasivas, efervescentes e efêmeras - como uma causalidade ou sucessão simples de fatores que condicionam uma mobilização e acondicionam um afeto insurgente (SILVA; MARTINS, 2018).

Parece uma visão utilitarista e imediatista considerar as mobilizações como localizadas estritamente, uma vez que reverberações anteriores e posteriores lhe são características fundantes (MARTIN-BARBERO, 2001). E, desse modo, a qualidade processual é um destaque dos atos, lutas e mobilizações. O conteúdo insurgente pode ser fugidio, mas revela profundezas dos significados intrincados e transformadores que motivam a mobilização e os sentidos da luta.

E no processo de luta são próprias as flexões e recombinações que a própria luta evoca e provoca. Experiências integradoras, apropriações criativas e elucubrações linguísticas são aspectos participantes do significado significante de mobilizar-se. Tais aspectos derivam em última instância da diversidade e multiplicidade de atores que esses processos abarcam (SILVA; MARTINS, 2018).

Quando o movimento se intitula #EleNão, a percepção da nomenclatura já se torna um sentido de ação. Um contexto e um conteúdo já são enunciados, indicando de maneira acessível que discurso se levanta em oposição e disputa a outros. As funções criativa e linguística do termo se complementam e se tornam um frente educativa, preparatória para a ação.

O caráter das redes torna-se evidente na forma de hashtag. Naturalmente, a indexação nas redes sociais e a difusão por meio de seu amplo compartilhamento; porém, a hashtag nesse aspecto mobilizado, acaba por tornar-se confissão, enunciação e vocabulário de consenso - a partir da organização que se mobiliza - e dissenso - na interseção entre os discursos dos quais se opõe e das estruturas que se denuncia e se parte de querela.

O recurso prático da hashtag tem uma função pontual e localizada. Todavia, ao tornar-se parte de uma mensagem discursiva, furta semioticamente seu significado rizomático para constituir-se uma etiqueta discursiva agregadora de novos sentidos que se constroem em movimento, seja por meio de discursos, imagens, textos ou atividades práticas.

Outro aspecto é o caráter viral do discurso, conteúdo de insurgência e sentido de luta que se articula em #EleNão. Compartilhável e acessível, torna-se apropriação ágil e popular, portanto, comunicante e eficiente em potencializar a ação sujeita às geometrias do poder e do discurso midiático tradicional. Como um dispositivo de senso-dissenso, o termo demonstra agência e potência.

Destarte a termo escrito que gera diálogos e vocábulos diante da esteira da insurgência de que participa, a linguagem visual torna-se uma plataforma igualmente integradora e eloquente. Assumindo sentidos estéticos, o termo se torna visivelmente provocativo e se modula em uma etiqueta comunicacional e, logo, insurgente.

O cartaz digital #EleNão (figura 1) teve origem com a iniciativa particular de um artista digital e estudante cearense, de Limoeiro do Norte, Militão Queiroz. A peça foi criada em 13 de setembro de 2018 na rede social Instagram^[7], sendo absorvida na força articuladora do movimento que detonou atos no fim do mesmo mês.

O cartaz apresenta o termo que nomeia um movimento em um arte do tipo letreiro, flutuando sobre um céu estrelado e tendo por sombreamento um rastro em arco-íris em alusão ao movimento LGBTQ+ e, ao mesmo tempo pelo caráter digital, lembra o viral Nyan Cat^[8], um gato que sobrevoa um céu estrelado espargindo um rastro multicolorido (figura 2).

A estética do produto visual porta as evocações linguísticas que abrigam o conteúdo insurgente do movimento, ao mesmo tempo em que traz em si uma identificação específica da internet. Isso faz com que a peça conjugue e acione os sentidos de luta praticados dentro das redes on-line e off-line.

O letreiro, apropriado pela difusão do compartilhamento digital e material, torna-se um dispositivo extra-linguístico. A interface vocabular e imagética conferem à peça uma força retórica capaz de promover interlocuções entre os sujeitos que se ajuntam em torno da luta e de questionar as estruturas e discursos dos quais a mobilização objeta.

Ora, o espaço e o tempo - midiático ou urbano - são perpassados de estruturas cadenciadas por eixos de controle e políticas hegemônicas que são frequentemente interpeladas pela agência de sujeitos e coletividades. Dada a estrutura geométrica e assimétrica de poder - político, econômico, simbólico ou coercitivo -, atividades alternativas que provoquem erosões nesse quadro se fazem necessárias.

A linguagem torna-se então um projétil capaz de ultrapassar as marcas hegemônicas dos objetos de oposição que caracterizam o caráter dos conflitos sociais promovendo injunções capazes de penetrar discursos, debates e políticas de controle. Já que a ação se desencadeia no aqui e no agora, a linguagem prolonga a atividade por meio de seu caráter interpenetrante (SILVA; MARTINS, 2018) e anamnésico (BRANDÃO, 1998).

Entendendo que a política é uma atividade que torna visível o que antes não era, isto é, metaboliza em discurso em lugar de abertura dialógica aquilo que era ruído na quotidianidade, tal feitio só se torna possível a partir da redescrição da experiência comum por meio das profundezas da linguagem (RANCIÈRE, 2009a; 2009b; 2012).

A linguagem corrente e praticada nos espaços comuns se flexiona a partir de esquemas vocabulares e metáforas. Geram-se narrativas poéticas com as quais a organização complexa da realidade pode ser apreendida e ressignificada no conflito e na luta.

Assim, o fazer político - o que inclui os conflitos, as disputas, o senso-dissenso e as lutas - pode ser visto como uma partilha do sensível que torna visível o invisível e que amplifica vozes anteriormente inaudíveis. Tal prospecto se efetiva por meio de ferramentas linguísticas e interfaces comunicacionais.

Conclames, vocalizações, vocabulários e produtos comunicacionais de luta se tornam vetores político-democráticos, uma vez que tornam pronunciáveis questões da vida comum e uma frente de construção coletiva, socializada e construtiva.

O cartaz #EleNão torna-se ao lado de palavras de efeito e esquemas imagéticos um gestual que promove ritos políticos. Lugares, tempos e posições hierarquizadas são questionados, convertendo espaços triviais em espaços de manifestação. Tais chamadas comunicacionais se tornam vitrines e etiquetas da luta.

Com força poética, a luta garante coesão o suficiente para fazer conhecer sua dimensão por todas as partes, aliadas e opositoras. Ao passo que a análise faz pensar no produto comunicacional como roupagem e, portanto, carente de força política formal, convém ressaltar que a linguagem não se contenta com a própria enunciação.

Isto é, embora dada e praticada, o caráter extra-linguístico faz com que tais peças, como o cartaz de que aqui se referencia, se imiscua da luta e se torne sentido dela. Não se trata, no fim, de um invólucro, mas de uma camada participante e ativa.

Quando publicam, vocalizam e estampam #EleNão, os sujeitos enunciam a luta que se articula de modo operatório e simbólico. A incursão simbólica é determinante para que a operacionalização da performance de agência se desencadeie, como um conteúdo que é meio, indumentária e mensagem de potência.

As palavras de ação e vocabulário insurgente flexionado em imagens, intertextos e injunções criativas se tornam conjugações retóricas que afiam a luta, garantem a coesão do movimento e a sinergia de mobilização. O efeito sintático desse processo linguístico ganha viço midiático com o aporte digital, tornando-se instrumento de contrapoder.

O cartaz #EleNão tornou-se, nesse prospecto, uma etiqueta midiática do movimento, capaz de concentrar no estético e sensível aquilo que antes era ruidoso (os diálogos e queixas sem organização mobilização) em frente de luta (mobilização organizada e mais ou menos coesa). Em última instância, tornou-se um vetor sintático e simbólico do dissenso, do objeto de insurgência e da precariedade nas quais os sujeitos acionados vivem e denunciam.

A peça se desenvolveu como um dispositivo midiático e insurgente por meio de três formas possibilitadas pela ambiência em rede: replicação, remixagem e catalisação. Os três formatos ganham acuidade na internet, dada a característica de interconexão, mas ganham os espaços off-line como indumentária de ação.

A replicação se dá pela possibilidade difusa de compartilhamento de conteúdo e informação nas redes e, consequentemente, de visibilidade massiva e alternativa - já que se descola dos circuitos tradicionais de comunicação midiática hegemônicos. Replicado, o conteúdo informa e partilha poder (ou contrapoder), criando os mecanismos de agência e potência.

A remixagem diz da característica digital de criatividade autoral e de bricolagem narrativa. O cartaz foi apropriado em formatos, espaços e com propósitos distintos. A paródia, a reedição e a utilização com fins opostos ocorre e é potencializada por meio da alta visibilidade gerada pela replicação.

Por fim, a catalisação se dá na operacionalização do estético-simbólico, isto é, no caráter de estímulo que o produto visual retórico adquire e passa a conjugar os sentidos de luta. A menção ao produto torna-se ela mesma sentido de luta e mobilização, encadeando sua agência.

Replicado, remixado e gerando catalisação o selo simbólico se articula à mobilização concatenando a articulação de seus diálogos, promovendo o alinhavo de suas tessituras e sujeitos. O caráter on-line da mobilização permite à luta uma taxa de visibilidade maior, uma vez que escapa aos circuitos de mídia tradicionais pelos sujeitos que formam comunas digitais.

A constituição das redes é operada pelo da comunicação. Comunicação é o processo da comunicação socializada. [...] A contínua transformação da tecnologia da comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social, numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada, num padrão de constante mudança. [...] Existe, contudo, uma característica comum a todos os processos de construção simbólica: eles dependem amplamente das mensagens e estruturas criadas, formatadas e difundidas nas redes de comunicação multimídia. Embora cada mente humana individual construa seu próprio significado interpretando em seus próprios termos as informações comunicados, esse processamento mental é condicionado pelo ambiente da comunicação. Assim, a mudança do ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de significado e, portanto, a produção de relações de poder (CASTELLS, 2013, p. 15).

Na ambiência digital, os sujeitos encontram arenas de processamento da informação e engajamento. Nas redes, o conteúdo da realidade que se constitui conteúdo de luta é aditivado na medida em que afetos e sentidos de comunidade são praticados (CASTELLS, 2013). Comunidades on-line são pulsões do ciberespaço que conjugam o devir dos sujeitos nele imbricado (LÉVY, 2000).

Um grupo, uma hashtag ou outro formato comunitário digital em rede é consolidado na medida em que as relações se estabelecem. Viver a rede implica em uma experiência coletiva em torno do acionamento de identificações solidárias, isto é, as experiências singulares são coletivizadas em torno de um ideal comum, unificado pela dinâmica integradora das redes.

A experiência das redes gera laços por meio das conexões promovidas, seja pelos usuários em redes sociais on-line, seja pela coletividade de movimentos e grupos de sujeitos cujas identidades são acionadas por meio de contextos precários. Tais laços se ligam às identidades em reflexo, aos ideais em contraste:

Esta consonância cognitiva entre os indivíduos é alcançada quando os teores e as causas mais profundas da ação são internalizados por um contingente social por meio da empatia, da autoidentificação e do cruzamento de narrativas, isto é, uma solidariedade partilhada. A própria visão de mundo se enriquece de outras e vice-versa gerando uma relação de proximidade entre os envolvidos. [...] A outra condição para a eclosão de movimentos sociais é a existência e funcionamento de um processo de comunicação que difunda, propague e unifique mensagens e teores. A comunicação gera influxo para a ação (SANTOS; CUNHA, 2018a, p. 43).

O caráter intercomunicante e reticulado da mobilização gera tipologias de agência particulares. A espontaneidade, isto é a articulação independente de formalizações tradicionais; a adesão efervescente promovida pela tríade replicação, remixagem e catalisação; e o declínio da pauta antes efervescente após o cumprimento de sua proposta de ação.

Mobilizações sociais com conjugação on-line e off-line, de natureza espontânea e expressas por pautas de efervescência na agenda e na opinião pública apresentam feições com crescimento acelerado e declínio com o decorrer do tempo. Esse aspecto é parte do caráter de formação dessas mobilizações.

Ao se articularem, os sujeitos dessas mobilizações vivenciam um processo episódico de insurgência. A coletividade tem sua gênese na solidariedade da experiência cotidiana que, por sua vez, advém das identidades acionadas e que se tornam flutuantes diante de territorialidade episódicas, já que os objetos de querela advém de pautas factuais - como as eleições.

O declínio ou a atenuação da força efervescente deriva da resolução natural ou transformadora dos objetos de insurgência, gerando uma queda da atividade visível da mobilização, que não significa a despolitização ou a perda da resistência dos sujeitos envolvidos, mas a reorganização da narrativa de luta em novos sentidos que podem ser acionados de outras formas.

A horizontalidade, a efervescência, a afetividade e a espontaneidade de atos dessa natureza e de seus símbolos - como o cartaz aqui refletido - tornam-se quebras ou instrumentos de dissolução de panoramas hegemônicos, devolvendo o dissenso aos espaços comuns e construindo sistemas de ação que rompem opressões e quadros de invisibilidade.

Em um produto imagético, como o cartaz #EleNão, estão grafados sentidos peculiares de mobilização, consciência crítica e coletiva. O gestual imagético e verbal tornam-se indicadores de ruptura, de transformação e de reflexão (MEDEIROS, 2014). Se novos meios e dispositivos são utilizados, novos modos e formatos passam a recompor a contiguidade da luta e da mobilização do sujeito.

Na contramão do movimento, foram escaladas iniciativas contrárias, em suporte à liderança política e ao conteúdo ideológico por ela representada. Como atos concorrentes, estéticas de disputa forma marcadas, sistematizando uma arena que atribui contrários e polos.

Observa-se que a conjuntura de mobilizações sociais em rede são marcadas pelo influxo factual ou de conteúdo comunicacional que lhe dê um substrato de oportunidade para sua difusão e reprodução. Atingido certo cume discursivo e mobilizador - visivelmente no espaço público ou nas ambiências digitais -, o declínio marca seu desfecho como um selamento estético fugaz.

Os entrincheiramentos de oposição atribuída por grupos antagônicos provoca uma noção vaga de que a disputa de forças é equitativa e se valem de causas legítimas, circunscritas em pautas democráticas ou de modos que estão abertas ao debate. No movimento #EleNão, pautas de direitos das mulheres e outros debates públicos no campo dos direitos humanos estavam em evidência. Demandas, contudo, não negociáveis, uma vez circunscritas no trâmite democrático e constitucional.

As ambiências em rede e a oferta fortuita de engajamento pela característica peculiar de formação das mobilizações sociais em questão originam um lastro de insurgência por consumo. Isto é, os objetos de luta e seus sentidos são feitos produtos consumíveis e, por este gesto, cumprem nos sujeitos certo efeito de satisfação parcial pelo teor da mobilização inicial.

As assimetrias de poder, já notadamente presentes nos múltiplos circuitos sociopolíticos do país e do mundo, tornam-se mais fragmentadas, multiplicando-se vértices e arestas, fazendo com que o fenômeno se insufle como uma abrasão estética. Como a estética faz partilhar os sentidos do cotidiano e a mobilização quando erigida faz plasmar no sujeito uma performance sociopolítica, noções porosas de cidadania, citadinidade e participação política são observadas.

Por certo que a dinâmica das redes é pervasiva e a precisão de seu papel ou efeito no contexto democrático é desafiador. Indaga-se desde a produção de informações paralelas por meio de jogos de desinformação e controle do afeto à efeitos maliciosos de erosão institucional e descrédito dos pilares democráticos e cidadãos.

A considerar aqui o cartaz como roupagem estético-retórica e comunicacional, nota-se a condição sistemática de que mobilizações ou gestuais políticos - oficiais e oficiosos - tenham subterfúgios poéticos a fomentar o exercício mobilizado. Se na estética se partilham sentidos de si, do outro e do mundo, nela e dela se constroem os eixos utópicos e da práxis de formação dos sistemas do cotidiano contemporâneo, sígnico, volátil e virtual.

O cartaz #EleNão derivou de um movimento em rede, radicado no momento público e político das eleições presidenciais brasileiras de 2018. Em sua constituição imagética e verbal estavam contidos os sentidos de luta e mobilização dos quais os sujeitos que se opunham à agenda política de Jair Bolsonaro denunciavam e se queixavam.

No estético e sensível, os sujeitos encontram o mecanismo para transformar a vocalização insurgente de ruído à dissenso e diálogo capaz de penetrar o debate público. A retórica dos vocábulos e das imagens torna eloquente a querela e, na dinâmica das redes, ganha acuidade on-line e off-line.

Processos estéticos remontam performances. E, se em sua sintaxe está presente o elemento político, performances políticas emergem esteticamente. Desse modo, práticas, procedimentos, cenografias, coreografias e ambiências se posicionam para produzir gradações de mensagens e fragor final da recepção da performance, feito espetáculo retórico.

Peças estéticas e suas derivações se apresentam como objetos de observação da realidade. Há na estética que é difusa, plástica e partilhada um dispositivo de tela do devir. O cartaz e a miríade de evocações nele/dele provocadas possibilitam a linguagem da mobilização atravessar os sentidos constituídos e se tornar um índice engajador e mobilizador, cuja pujança é popular e comunitária.

No percurso estético não está em jogo apenas uma elegia sintática e significante, mas nela está uma poética dos elementos discursivos que conferem sentido à realidade e ao sistema que a abarca. Portanto, na partilha estética está a plasticidade confessional da existência e da mobilização que se compraz em projetos, utopias, afetos e insurgências.

A peça, nesse contexto, tornou-se um índice de articulação simbólica capaz de deflagrar e detonar a luta como uma confissão vocalizada de sujeitos dispersos espacialmente, congregando seus esforços em multiescalas, como foi percebido no movimento acompanhado no território nacional.

A dimensão reticulada e comunicacional da luta obtém no produto uma indumentária capaz de acionar sujeitos, lutas, identidades, espaços e tempos. O sujeito que se origina na consciência de agência e potência tem, na acuidade das redes e das tessituras comunicacionais, novos modus vivendi e operandi para se constituir, verter sua luta e operacionalizar seus projetos de vida e país.

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Revista Desenvolvimento Social, vol. 26, n. 2, jul/dez, 2020

PPGDS/Unimontes-MG

[1] Professor do Centro Universitário FIPMoc (UNIFIPMoc). Doutorando em Desenvolvimento Social e mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9712-2690. E-mail: gustavo.ccpv@gmail.com.

[2]Segundo apuração do portal G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/09/29/manifestantes-fazem-atos-a-tarde-contra-e-favor-de-bolsonaro.ghtml>. Acesso em: 15 jan. 2019.

[4]Conforme informações no perfil do grupo. Disponível em: https://www.facebook.com/groups/499414607198716/. Acesso em: 16 jan. 2019.