Sou um homem de Causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um
cruzado, por causas que me comovem. São muitas, demasiadas: a salvação
dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em
liberdade, a universidade necessária... Na verdade, somei mais fracassos que
vitórias nas minhas lutas. Mas isso não importa. Seria horrível ter estado ao
lado dos que se venderam nessas batalhas.
Outra mensagem é mais recente. Ela é de um sociólogo, um militante europeu
de causas sociais, e um homem de grande presença aqui na América Latina. Um alguém
que, “vindo do Norte”, pensa o mundo a partir das “Cartografias do Sul”, ou seja, as
nossas.
Na Nona carta às Esquerdas, de seu livro: Trece cartas a las izquierdas,
Boaventura de Souza Santos escreveu isto no último parágrafo, na página 80 do livro:
“Esperar sem esperança é a maior maldição que pode cair sobre um povo. E a esperança
não se inventa: ela se constrói com inconformismo, rebeldia competente e alternativas
reais frente á situação presente”.
Eis agora um breve e sábio pensamento do líder sul-africano, Nelson Mandela:
“Tudo é impossível. Até começar a acontecer”.
Quero lembrar também Jean-Paul Sartre, um pensador de quem li poucas coisas,
mas aprendi do que li. Sartre morreu em abril de 1980 e, quarenta anos depois eu quero
recordá-lo agora, em 2020. Em uma última entrevista, publicada em Português pelo
jornal O Estado de São Paulo, ele disse isto que eu transcrevo aqui. Uma breve e sábia
lembrança de Emily Dickson, a poeta norte-americana: “A esperança tem asas. Faz a
alma voar... E nunca desiste. Nunca."
Jean-Paul Sartre, filósofo e militante, escreveu isto pouco antes de partir:
O mundo parece feio, mau e sem esperança. Esse seria o desespero de um
velho que já morreu dentro de nós. Mas eu resisto, e sei que morrerei de
esperança, dentro da esperança. Mas essa esperança, teremos que fundá-la.
É preciso tentar explicar por que é que o mundo de agora, que é horrível, não
passa de um momento no longo desenvolvimento histórico; e que a
esperança foi sempre uma das forças dominantes das revoluções e das
insurreições, e como sinto ainda, a esperança, como a minha concepção do
futuro. (Está em: O Estado de São Paulo, 18 de abril de 1980, página 21).