imoral, mas não seria inconseqüente, se eles não competissem também
entre si, e se, lá mesmo na Europa, não pretendessem dominar uns aos
outros. É aqui que aparecem principalmente as extravagâncias e absurdos da
teoria. Diz ela que os superiores devem governar os inferiores – porque estes
são incapazes, absolutamente incapazes, de atingir uma civilização
adiantada; ao mesmo tempo, proclama que os anglo-saxões são os
“superiores” porque dominam hoje dois terços da Terra. Destarte, a
superioridade da raça, (...), deixa de ser definitiva. Estes, que são superiores
hoje, eram inferiores há dois séculos. (BOMFIM, 2008, 193)
Quatro décadas antes de Frantz Fanon e Aimé Césaire, Manoel Bomfim chamava
a atenção para o fato de teorias deterministas de cunho racial, presentes no debate
sobre o nacionalismo brasileiro na passagem do século XIX para o século XX, serem
convenientes para justificar a dominação. Teorias raciológicas estão de acordo com a
lógica do imperialismo presente “no eterno conflito dos oprimidos e espoliados com a
exploração dominante – dos parasitados e parasitas”. (BOMFIM, 2008, p. 231)
Este pensador brasileiro, no início do século XX, já sinalizava para o fato da
hierarquia racial ser o sustentáculo das relações de poder amparadas no capitalismo.
Ele nos alerta: “Quando nos consideram como países atrasadíssimos, têm certamente
razão, não é tal juízo que nos deve doer, e sim a interpretação que dão a esse atraso, e
principalmente as conclusões que daí tiram, e com que nos ferem” (BOMFIM, 2008, p.
49).
Em perspectiva marginal de(s)colonial não causa surpresa a razão encontrada
pelas potências europeias para o que entendiam como atraso político, social e moral
dos países latino-americanos: a questão a racial. O fato de sermos um povo que se
distingue pela mestiçagem e, no caso brasileiro, marcado fortemente pelas raças que
foram parasitadas, o indígena e o africano. A auto narrativa europeia constrói o que as
epistemologias do sul denominam de Modernidade europeia, isto é, o relato europeu
sobre sua superioridade cultural, técnica, racial, epistémica e religiosa.
No entanto, de acordo com o nosso pensador, o parasitismo leva à degeneração:
“Sempre que há uma classe ou uma agremiação parasitando sobre o trabalho de outra,
aquela -o parasita – se enfraquece, decai, degenera, extingue-se. É fato reconhecido –
e geralmente mal interpretado, mas em todo caso incontestável.” (BOMFIM, p. 56).
A degeneração não pode ser interpretada a partir de binômios simples como se