https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v27n2p4-7
Vol. 27, n. 2, jul/dez, 2021
ISSN: 2179-6807 (online)
Revista Desenvolvimento Social, vol. 27, n. 2, jul/dez, 2021
PPGDS/Unimontes-MG
4
APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ
PAULO FREIRE E O ESPERANÇAR DE UM MUNDO DIFERENTE
Mônica Maria Teixeira Amorim
1
Carlos Rodrigues Brandão
2
Andrea Maria Narciso Rocha de Paula
3
É preciso ficar claro que a desesperança não é maneira de estar sendo natural do ser
humano, mas distorção da esperança. Eu não sou primeiro um ser da desesperança
a ser convertido ou não pela esperança. Eu sou, pelo contrário, um ser da esperança
que, por "n" razões, se tornou desesperançado. Daí que uma das nossas brigas como
1
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (2013) e Mestre em Educação
pela mesma Instituição (2002). Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do
Norte de Minas (1989). É professora titular da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Tem
experiência como Pedagoga na Escola Pública Básica e como Docente na Educação Básica e Superior,
atuando especialmente na formação de profissionais professores. É coordenadora associada do Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social/Unimontes desde dezembro de 2019. É, também, docente
permanente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social/Unimontes e do Programa de
Pós-Graduação em Educação/Unimontes. E-mail: monica.amorim@unimontes.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-3537-2686.
2
Licenciado em psicologia e Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1965);
mestre em antropologia pela Universidade de Brasília (1974). doutor em ciências sociais pela
Universidade de São Paulo (1980); livre docente em antropologia do simbolismo pela Universidade
Estadual de Campinas. Realizou pós-doutorado na Universidade de Perugia e na Universidade de Santiago
de Compostela. É "fellow" do St. Edmund's College da Universidade de Cambridge. Atualmente é
professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), professor colaborador do POSGEO da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e
professor visitante da Universidade Estadual de Goiás. Possui experiência na área de antropologia, com
ênfase em antropologia camponesa, antropologia da religião, cultura popular, etnia e educação, com foco
na educação popular. É Comendador do Mérito Científico pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, doutor
honoris causa pela Universidade Federal de Goiás, doutor honoris causa pela Universidad Nacional de
Lujan (Argentina), professor emérito da Universidade Federal de Uberlândia, e professor emérito da
Universidade Estadual de Campinas. Escreveu artigos e livros nas áreas de antropologia, educação e
literatura. E-mail: carlosdecaldas@gmail.com.
3
Professora doutora em Geografia Humana. Professora efetiva, lotada no Departamento de Política e
Ciências Sociais (DPCS) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES- MG). Professora no
curso de Ciências Sociais. Docente do quadro permanente no Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Social/PPGDS-UNIMONTES. Professora permanente no Programa de Pós Graduação
associado UFMG/UNIMONTES em Sociedade, Ambiente e Território. Bolsista de produtividade BIPDT-
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais/FAPEMIG. Líder do grupo de pesquisa OPARA-
MUTUM- Estudos e pesquisas sobre migrações e comunidades tradicionais no Rio São
Francisco/Unimontes- CNPq. Pesquisadora do NIISA/Núcleo Interdisciplinar em Investigação
Socioambiental/CNPq-UNIMONTES. E-mail: andreapirapora@yahoo.com.br. ORCID:
http://orcid.org/0000-0003-2586-4043.
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Revista Desenvolvimento Social, vol. 27, n. 2, jul/dez, 2021
PPGDS/Unimontes-MG
5
seres humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para a
desesperança que nos imobiliza. (FREIRE,1996, p.38).
Paulo Reglus Neves Freire, um dos mais importantes educadores do século XX e
o Patrono da Educação Brasileira, nasceu na cidade de Recife, no nordeste do país, em
setembro de 1921. Portanto, nesse ano de 2021, celebramos o centenário do seu
nascimento. E nos mais diversos lugares mundo afora, educadoras(res), estudantes,
movimentos sociais, pesquisadores e pesquisadoras festejaram os cem anos da vida
desse homem, que através de uma teoria própria do conhecimento, pensou a educação
como instrumento de transformação social.
Celebrar Freire é se opor a um projeto desumanizante, é celebrar uma causa, um
projeto de mundo mais humano. Celebrar o Centenário do Patrono da Educação
Brasileira é “esperançar um mundo diferente”. Esperança, que para ele não é simples
espera, é verbo, é ação, é fazer cotidianamente para construir um mundo de mais
justiça, solidariedade, amor. Esperançar tem a ver com nossas opções e horizontes, com
a escolha de nosso projeto de mundo, e com nossa atuação perspicaz e coerentemente
dirigida por esse projeto.
Celebrar Freire não é “copiá-lo”, é reinventá-lo, como ele mesmo propunha. E é
com o sentimento de afeto, ousadia, coragem e a certeza de que o conhecimento pode
e deve ser libertador, que organizamos esse dossiê junto à Revista de Desenvolvimento
Social (RDS), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social
(PPGDS), da Universidade Estadual de Montes Claros.
O dossiê intitulado “Paulo Freire e o esperançar de um mundo diferente” rne
escritos de naturezas distintas, de autoras e autores de diversos lugares e instituições,
todos interligados na perspectiva de suscitar reflexões e debates que permitam o
esperançar de um mundo diferente.
De início, o dossiê traz uma fecunda entrevista com Ângela Bizz Antunes, Diretora
Pedagógica do Instituto Paulo Freire (IPF), e que nos fala, entre outros temas, do
processo de constituição do IPF, das principais ações e dos desafios centrais vividos pelo
Instituto agora. As memórias trazidas por Ângela, sua sensibilidade e coragem, sua
aposta nesse espaço tão importante que é o IPF, nos fortalece na certeza de que o
mundo pode ser melhor amanhã.
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Revista Desenvolvimento Social, vol. 27, n. 2, jul/dez, 2021
PPGDS/Unimontes-MG
6
Na sequência o dossiê conta com um texto do grande educador Carlos Rodrigues
Brandão, especial amigo de Freire, além de companheiro de muitos projetos e de tantas
lutas. O texto
Manter a Esperança! Um pequeno almanaque de mensagens de
coragem e esperança, para tempos de pandemia” nos convida a
trocar o verbo
“esperar”, que é passivo, pelo verbo ativo
“esperançar”. Assim, nos chama à
luta cotidiana e nos faz certos de que não estamos sós. Nos faz apostar no
"inédito viável".
O dossiê conta com mais quatro artigos. Um instigante artigo do Prof. Dr.
Heiberle H. Horácio, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), cujo título é
“A Campanha de Alfabetização em Cuba, Paulo Freire, Educação Popular, e a Campanha
De no Chão Também se Aprender a Ler”. O texto aborda e compara a Campanha de
Alfabetização de Cuba (1961) com a Campanha de Alfabetização “De no Chão
também se aprende a ler” (1961-1964) ocorrida no Brasil, e apresenta reflexões que se
mostram atuais e profundamente necessárias para o debate sobre educação popular.
Em seguida localizamos o artigo Quando Paulo Freire vier: Pedagogia do
Oprimido, Santa Cruz e Religião”, do Dr. Emerson Sena da Silveira, Professor da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Um texto igualmente instigante, que
estabelece um paralelo entre a obra Pedagogia do Oprimido (1968), de Paulo Freire, e
o filme-documentário Santa Cruz (2000), do cineasta João Moreira Salles e do jornalista
Marcos Corrêa. Os escritos nos convidam à releitura das obras freirianas como
caminho para a nossa compreensão do mundo contemporâneo e são uma aposta no
esperançar.
Na sequência o artigo da Dra. Cristina Borges, Professora da Universidade
Estadual de Montes Claros (Unimontes), traz a questão da raça e da educação como
objeto de análise. Por meio do texto intitulado Raça e Educação - de Manoel Bomfim à
Paulo Freire: uma leitura decolonial”, a autora se propõe a refletir sobre colonialismo,
educação e raça no Brasil e tenciona demonstrar que uma educação libertadora nos
moldes defendidos por Freire (1987), e desejados por Manoel Bomfim, passa pela crítica
ao colonialismo e à colonialidade.
Posteriormente temos um envolvente texto de autoria dos professores Hellen
Vivian Moreira dos Anjos e Fernando Barreto Rodrigues do Instituto Federal do Norte
de Minas Gerais (IFNMG), e da professora da Unimontes, Mônica Maria Teixeira
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Revista Desenvolvimento Social, vol. 27, n. 2, jul/dez, 2021
PPGDS/Unimontes-MG
7
Amorim. Em um trabalho que combina estudo bibliográfico e documental, os autores
nos convidam a refletir sobre as “Contribuições da pedagogia freiriana para a formação
de professores”.
O conjunto de textos aqui reunidos certamente nos fazem convictos de que
Paulo Freire vive em nós e nos inspira a esperançar, a plantar futuros, a criar mundos de
mais amor e solidariedade. As tantas lições que aqui são trazidas nos convidam a seguir,
esperançando um mundo diferente, menos feio e malvado (como dizia Freire).
Agradecemos a cada autora, a cada autor, que contribuiu com essa produção coletiva e,
deste modo, ajudam-nos a fazer circular conhecimentos, promover encontros, suscitar
leituras, provocar diálogos. Certos estamos de que esses escritos são parte da luta-
resistência por uma educação transformadora, porque ela é urgente e profundamente
necessária à construção de um mundo mais justo e humano. Agradecemos, igualmente,
a imagem-tela da capa desse dossiê, gentilmente cedida pelo brilhante artista Gildásio
Jardim. Sua arte carregada de sensibilidade e força são inspiração para a nossa luta-
resistência.
Paulo Freire nos orienta nessa luta! Sigamos buscando e reinventando esse
grande educador.
Paulo Freire Vive! Paulo Freire Presente! Paulo Freire Sim! Paulo Freire Sempre!
Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira!
Saudações!
Carlos Rodrigues Brandão,
Mônica Maria Teixeira Amorim
Andrea Maria Narciso Rocha de Paula
(Organizadores)
Verão, 2021