https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v28n1p192-220
Vol. 28, n. 1, jan/jun, 2022
ISSN: 2179-6807 (online)
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DEPENDÊNCIA E DESEQUILÍBRIOS ENTRE MONTES CLAROS E AS CIDADES
DE PEQUENO PORTE DO NORTE DE MINAS GERAIS: EMPRESAS E FORÇA
DE TRABALHO
1
Raíssa Cota Pales
2
Eduardo Antônio Salomão Condé
3
Aprovado em: 18/10/2022
Resumo: O processo de desconcentração do desenvolvimento nas grandes cidades, iniciado na
década de 1970, culminou numa reconcentração em direção às cidades médias-polo. Nesse
contexto, várias cidades médias mineiras gozaram de incentivos políticos para sua
consolidação como polos de desenvolvimento regional, destacadamente Montes Claros (Norte
de Minas Gerais). O esforço principal deste trabalho é analisar e compreender os efeitos do
processo de concentração do desenvolvimento em Montes Claros provenientes da
reorganização da produção na década de 1970 e, particularmente, a partir da década de 1990,
com foco no papel do Estado, verificando os desdobramentos, positivos e negativos, da
polarização do desenvolvimento. Nesse sentido, a intenção foi de mapear o quadro referente
ao potencial econômico, mostrando como o processo de reconcentração do desenvolvimento
em cidades médias, se por um lado desconcentrou o desenvolvimento das grandes
metrópoles, por outro, restringiu o desenvolvimento às cidades médias, deixando os
habitantes das cidades de pequeno porte, via de regra, dependentes da infraestrutura da
cidade média.
Palavras-chave: Cidade média-polo. Desenvolvimento regional. Desconcentração. Polarização.
Estado. Montes Claros.
DEPENDENCE AND IMBALANCES BETWEEN MONTES CLAROS AND SMALL CITIES IN THE NORTH
OF MINAS GERAIS: COMPANIES AND THE WORKFORCE
Abstract: The process of decreased development in large cities, which it has been started in
the 1970s, culminated in a reconcentration towards the pole cities. Therefore, several
medium-sized cities from Minas Gerais used political incentives for their regional development
policy, outstandingly Montes Claros (Norte de Minas). The main effort of this work is to
analyze and understand the effects of the process of concentration of development in Montes
Claros arising from the reorganization of production in the 1970s and, particularly, from the
1990s, focusing on the role of the State, verifying the consequences, positive and negative, of
1
Este trabalho é um extrato da tese de doutorado intitulada “Da desconcentração à reconcentração: a
polarização do desenvolvimento nas cidades médias mineiras um estudo de caso do norte de Minas.
Raíssa Cota Pales. UFJF. 2021.
2
Secretaria Estadual de Educação. ORCID: 0000-0001-7602-041X. E-mail:
raissa.pales@educacao.mg.gov.br.
3
Universidade Federal de Juiz de Fora. ORCID: 0000-0002-9770-4631. E-mail:
eduardosconde@gmail.com.
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the polarization of development. The effort was to map the picture referring to the economic
potential, showing how the process of re-concentration of development in medium-sized
cities, on the one hand, decentralized the development of large metropolises, on the other
hand, restricted development to medium-sized cities, leaving the inhabitants of the cities
small, as a rule, dependent on the infrastructure of the medium city.
Keywords: Medium-size city. Regional development. Decreased. Polarization. State. Montes
Claros.
DEPENDENCIA Y DESEQUILIBRIO ENTRE MONTES CLAROS Y PEQUEÑAS CIUDADES DEL NORTE
DE MINAS GERAIS: EMPRESAS Y FUERZA DE TRABAJO
Resumen: El proceso de desconcentración del desarrollo en las grandes ciudades, iniciado en
la década de 1970, culminó en una reconcentración hacia las ciudades de polos medianos. En
este contexto, varias ciudades medianas de Minas gozaron de incentivos políticos para su
consolidación como polos de desarrollo regional, en particular Montes Claros (Norte de
Minas). El principal esfuerzo de este trabajo es analizar y comprender los efectos del proceso
de concentración del desarrollo en Montes Claros a partir de la reorganización de la
producción en la década de 1970 y, particularmente, a partir de la década de 1990,
centrándose en el papel del Estado, verificando la consecuencias, positivas y negativas, de la
polarización del desarrollo. El esfuerzo fue mapear el cuadro referido al potencial económico,
mostrando cómo el proceso de reconcentración del desarrollo en ciudades medianas, por un
lado, descentralizó el desarrollo de las grandes metrópolis, por otro lado, restringió el
desarrollo a medianos ciudades de tamaño mediano, dejando a los habitantes de las ciudades
pequeñas, por regla general, dependientes de la infraestructura de la ciudad mediana.
Palavras-clave: Ciudad de Mid-Polo. Desarrollo regional. desconcentración Polarización.
Estado. Montes Claros.
INTRODUÇÃO
No transcurso do século XX, as ações do Estado para dinamizar a economia de
Minas Gerais foram expressivas. No entanto, embora com iniciativas específicas para
cada região, tais ações culminaram num descompasso entre as macrorregiões do
estado. Dessa forma, as desigualdades regionais em Minas foram (e, em certa medida,
ainda são) o reflexo das estratégias governamentais. Conforme observou Dulci (1999,
p. 239), “o fenômeno do desenvolvimento desigual é inerentemente político e, para
enfrentá-lo com eficácia, são necessários instrumentos políticos”. Para darmos conta
das dinâmicas do desenvolvimento no cenário mineiro como um todo é necessária a
compreensão das partes. As diferenças regionais devem ser compreendidas
separadamente, pois somente assim será possível entender o conjunto e sua dinâmica,
possibilitando a abertura de diferentes trincheiras de enfrentamento para os graves
problemas socioeconômicos do estado.
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No exercício de investigação do desenvolvimento regional de Minas Gerais
observa-se que, comumente, a dinâmica regional está fortemente ligada ao
desempenho socioeconômico das cidades médias, que funcionam como polos de
desenvolvimento atraindo investimentos e influenciando as cidades do seu entorno.
Quando nosso olhar se volta ao interior dessas macrorregiões florescem, como ponto
de análise, as cidades polarizadoras de desenvolvimento. E é justamente por este viés
que o presente artigo pretendeu se enveredar. Este trabalho toma como objeto de
análise os processos de polarização do desenvolvimento nas cidades médias mineiras e
suas implicações para a dinâmica do desenvolvimento regional.
Este trabalho trata da dependência dos habitantes das cidades de pequeno
porte do Norte de Minas em relação à infraestrutura econômica de Montes Claros,
cidade média-polo da região. Aborda também as consequências desses desequilíbrios,
analisando as implicações, negativas e positivas, sociais, econômicas e políticas desse
processo que levou a concentrar o desenvolvimento na cidade de Montes Claros e que
deixou as demais cidades demasiadamente dependentes.
O esforço foi de mapear o quadro referente ao potencial econômico,
mostrando como o processo de reconcentração do desenvolvimento em cidades
médias, se por um lado desconcentrou o desenvolvimento das grandes metrópoles,
por outro, restringiu o desenvolvimento às cidades médias, deixando os habitantes das
cidades de pequeno porte, via de regra, dependentes da infraestrutura da cidade
média.
Vale ressaltar que, pela amplitude de municípios (o Norte de Minas possui 89
municípios), foi necessário selecionar uma amostra. Nossas análises serão restritas às
cidades de Janaúba, Januária, Salinas, Pirapora, Grão Mogol, Bocaiúva e, claro, Montes
Claros. Elas foram abraçadas pelo estudo por serem aquelas que possuem os melhores
indicadores socioeconômicos da região norte e por serem polos microrregionais.
CIDADES MÉDIAS NO DEBATE REGIONAL
A discussão sobre cidades médias-polo é fundamental ao explorar a questão do
desenvolvimento regional. O debate em torno das cidades médias surgiu na década de
1950 e se intensificou na década de 1960 na Europa Ocidental, principalmente na
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França, devido a alguns problemas enfrentados naquele momento. Tais problemas
eram, essencialmente, de ordem geográfica, social e econômica. São eles: (1) o
agravamento dos desequilíbrios regionais em países europeus, (2) a piora na qualidade
de vida nos grandes centros urbanos, bem como a intensificação dos problemas sociais
e (3) a fragilidade do fluxo de informações e das relações socioeconômicas nas cidades
de grande porte na maior parte dos países do mundo, interferindo na política e na
economia. (AMORIM FILHO; RIGOTTI, 2002).
A América Latina também enfrentava tais desafios e, logo, essa nova estratégia
de desconcentrar o desenvolvimento dos grandes centros em direção às cidades
médias foi difundida entre os seus países, inclusive o Brasil. Por aqui, esse movimento
ganhou força na década de 1970 e foi um processo construído por estratégias políticas
visando à desconcentração da atividade econômica e da densidade populacional nas
grandes capitais
4
. Atualmente, apesar de não ser apropriado associar o dinamismo
econômico e populacional das cidades médias unicamente às ações do governo federal
e estadual na década de 1970, é correto afirmar que a maximização do crescimento
dessas cidades atendeu aos objetivos de desconcentração da riqueza almejados
naquele momento. (SERRA, 1999).
Segundo Serra, os objetivos que levaram as cidades médias ao patamar social,
econômico e demográfico em que hoje se encontram foram:
1. O crescimento das cidades médias era visto como positivo e até certo
ponto emergencial para a desaceleração do ritmo de crescimento das
metrópoles nacionais e regionais;
2. Para além das intenções de atenuar o crescimento das regiões
metropolitanas, os investimentos nas cidades médias eram vistos como
fundamentais para a distribuição espacial da riqueza nacional. Uma
distribuição que, calçada em centros urbanos dotados dos fatores
necessários ao desenvolvimento eficiente de atividades dinâmicas,
possibilitaria convergir os interesses de equidade distributiva e manutenção
de um ritmo de crescimento econômico acelerado;
3. O crescimento e multiplicação das cidades médias também podem ser
lidos como respostas aos objetivos de ocupação territorial. As cidades
médias, funcionando como pólos dinamizadores regionais, possibilitariam
também a convergência dos interesses em integrar o território e ocupar as
fronteiras nacionais. (SERRA, 1999, p. 01).
4
O próximo tópico aprofundará nesta discussão.
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Tais objetivos foram influenciados, em parte, pela tese da reversão da
polarização, divulgada amplamente por Richardson (1980) na década de 1970, e que
defendia a ideia de que os países em desenvolvimento tenderiam, naturalmente, a
uma desconcentração da atividade econômica das grandes metrópoles em direção às
cidades médias. Esse seria um processo natural na medida em que fossem percebidos
os altos custos sociais das grandes metrópoles, como o tempo perdido nos
congestionamentos, a poluição e os altos custos do setor imobiliário (SERRA, 1999). Na
esteira deste debate, Hirschman defende que
[...] a necessidade da emergência de pontos de desenvolvimento ou pólos
de desenvolvimento, no curso do processo desenvolvimentista, indica que a
desigualdade internacional e inter-regional do crescimento é condição
concomitante e inevitável do próprio desenvolvimento. (HIRSCHMAN
1961, p. 276).
Nesse contexto, durante a década de 1970, era possível vislumbrar algumas
mudanças no setor industrial. Porém, foi nos anos de 1990 que ocorreram
transformações mais significativas na produção industrial no Brasil via cidades médias,
consequência da estratégia de desconcentração implantada pelo Estado.
(STEINBERGER e BRUNA, 2001).
MONTES CLAROS
Montes Claros
Deus te salve, Montes Claros,
Deus te ajude
no progresso,
no crescimento,
na poesia,
na seresta,
na alegria da hospitalidade,
que é a tua maior virtude.
És humana,
tens beleza,
sabes amar,
sabes sofrer, sabes esperar
por um futuro melhor.
Querida, admirada
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e nunca esquecida,
és um lugar que marca saudade
no mais duro coração.
A tua luz, Montes Claros,
é vigor e é ternura,
como terno é o entardecer.
Na verdade, Montes Claros,
na verdade,
tu não é apenas uma cidade,
és uma declaração de amor!
Wanderlino Arruda
Mapa 01 Montes Claros na região Norte de Minas Gerais
Fonte: PEREIRA, 2008.
Montes Claros, situada no norte de Minas Gerais, teve seu desenvolvimento
inicial marcado pela produção de gado. Até 1857 a futura cidade de Montes Claros
funcionou como Vila e nesse ano se elevou à condição de município. Até meados do
século XX, a principal atividade na região era a produção de gado, não sendo contudo a
primeira, que surgiu por demanda da atividade mineradora e canavieira estabelecida
na própria região e no Vale do Jequitinhonha e Mucuri. A carne de gado abastecia o
contingente de escravos que se aglomeravam no Norte de Minas, por ocasião da
atividade canavieira e mineradora e, no Vale do Jequitinhonha, em decorrência da
atividade mineradora. Resultante dessas atividades econômicas, o comércio nos
séculos XVIII e XIX foi se intensificando paralelamente, pois Montes Claros situava-se
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em um ponto estratégico por onde passavam muitos viajantes: tropeiros, boiadeiros e
negociantes. A carne de gado era o principal gênero alimentício comercializado. Outra
atividade que se destacou logo em seguida à criação de gado foi a do algodão. O
desenvolvimento dessa atividade na região, no final do século XVIII, possibilitou o
surgimento das primeiras indústrias têxteis em Montes Claros no século XIX
(RELATÓRIO DE PESQUISA, 2016, s. p.).
O aumento da população de Minas Gerais nesse período (conforme tabela 5
abaixo) contribuiu para expandir o mercado consumidor de tecidos e,
consequentemente, as indústrias têxteis em Montes Claros.
Tabela 5 População do Brasil e de Minas Gerais 1800-1900
Ano
Brasil
Minas Gerais
% de MG
1800
3.250.000
400.000
12,3
1850
7.234.000
950.000
13,1
1872
9.930.000
2.039.000
20,3
1890
14.334.000
3.184.000
22,3
1900
17.438.000
3.594.000
20,6
Fonte: IBGE, recenseamentos, s. d.
A chegada da ferrovia no município, em 1926, foi decisiva para o
desenvolvimento da cidade, facilitando sua conexão com regiões dinâmicas do
Sudeste, como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Mais tarde, ao concluir a
ligação com Salvador, a cidade se transformou em um dos principais pontos de ligação
entre o Nordeste e o Sudeste, ganhando grande relevância no cenário nacional.
(RELATÓRIO DE PESQUISA, 2016).
A chegada da ferrovia a Montes Claros se deu graças, dentre outros fatores, à
presença de um membro da parentela “Chaves, Prates e Sá”
5
no Ministério da Viação e
Obras Públicas. Esse acontecimento mudou significativamente o cenário arquitetônico,
político e econômico da cidade. O progresso tornou-se mais intenso e o vigor do
coronelismo, ainda presente, foi se tornando cada vez mais frágil frente às
5
Ao analisarmos especificamente o caso da cidade de Montes Claros, nos deparamos com dois grupos
de parentela que, embora ramificados por toda a região, detinham na cidade a residência de seus
principais chefes. Ambos os grupos usufruíram politicamente do relativo isolamento a que a pequena
cidade estava submetida até o ano de 1926, data da chegada da ferrovia. No entanto, também foram
grandes incentivadores do progresso econômico regional. (FIGUEIREDO, 2014, p. 3).
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possibilidades político-administrativas que a chegada da ferrovia proporcionou.
Montes Claros, que até então era essencialmente agrária, convivia, de um lado, com o
domínio de uma elite agrária que muitas vezes se colocava no lugar do Estado, através
da troca de favores com a população mais pobre. Por outro lado, ganhou uma
configuração mais universal devido à sua posição de entreposto entre duas
importantes regiões do país, característica típica das grandes capitais. (FIGUEIREDO,
2014).
A década de 1960 se configurou como uma época de transição, ou seja, período
de preparação dos municípios para se adequarem e, enfim, receberem os incentivos
da Superintendência. Os grandes projetos se instalaram de fato na região somente a
partir da década de 1970. No final da década de 1970, o cenário substancialmente
agrário começou a mudar. Com incentivos da Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste SUDENE, foi instalado em Montes Claros um parque industrial
significativo e diversificado, atraindo profissionais das cidades do entorno para
trabalhos manuais e profissionais especializados das diversas regiões do país, inclusive
do exterior (RELATÓRIO DE PESQUISA, 2016). A criação da SUDENE, na década de 1950,
que também englobou o Norte de Minas, por conta do esforço contundente das
lideranças e políticos locais, contribuiu decisivamente para a modernização da
atividade pecuária e da agricultura, através de grandes projetos de irrigação e também
para a industrialização de alguns municípios.
A SUDENE criou uma abrangência específica para sua atuação. Conforme relata
Oliveira,
[p]ara o IBGE, em 1959, o Nordeste não incluía os Estados da Bahia, de
Sergipe e de Minas Gerais, pois esses estavam inseridos na Região Leste. No
entanto, ao definir sua área de atuação, a SUDENE cria um conceito próprio
de Nordeste, reafirmando a concepção de uma região de planejamento: O
Nordeste seria composto de nove Estados e mais a Região Mineira do
Polígono das Secas. Estavam então, a partir daí, praticamente definidas as
fronteiras do Nordeste Legal (legal para efeito das políticas públicas).
(OLIVEIRA, 2000, p. 01).
Nesse contexto, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
do Parnaíba CODEVASF, outra agência de desenvolvimento criada para auxiliar no
desenvolvimento regional, também atuou com a implantação de grandes projetos de
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irrigação. A SUDENE e a CODEVASF viabilizaram políticas de incentivos fiscais e
financeiros para a promoção da atividade econômica, principalmente nos setores
agroindustrial de reflorestamento e irrigação. (PAULA, et al, 2006).
Tais políticas propiciaram a modernização tecnológica na agricultura, na
indústria e também aumentaram a oferta de serviços públicos. Nesse contexto,
Montes Claros foi a grande beneficiada dos projetos da SUDENE no Norte de Minas,
que,
[...] de 1964, época do primeiro projeto aprovado, até o final de
1979, a maioria dos projetos foram concentrados em Montes Claros
(54,8%), Pirapora (25,8%), Várzea da Palma (13%) e Bocaiuva (3,2%),
restando a todos os outros municípios da região apenas 3,2% dos
projetos. (SINDEAUX; FERREIRA, 2012, p. 08).
Ainda que a proposta inicial da SUDENE fosse desenvolver áreas historicamente
com a economia com menor desenvolvimento, como o Nordeste e o Norte de Minas,
ela replicou a lógica do Estado: investir em áreas mais dinâmicas
6
. Não foi por acaso
que a Superintendência, nas décadas iniciais de sua atuação, privilegiou Montes Claros
(principalmente) e Pirapora. Essas duas cidades possuíam dinâmicas e infraestrutura
superiores frente aos outros municípios do Norte de Minas. Conforme Telles,
[o] processo de crescimento econômico regional nasceu dependente do
financiamento estatal que privilegiava as áreas onde existiam pré-
condições de se consolidar o capitalismo industrial. Tal situação torna então
compreensível o fato de as cidades mais bem-estruturadas do Norte de
Minas, como Pirapora e Montes Claros, receberem um maior nível de
investimento. (TELLES, 2006, p. 23).
Em Montes Claros, assim como nos outros municípios, os projetos implantados
pela SUDENE se concentraram, em maior número, na indústria. Os dados a seguir
destacam a redução da população economicamente ativa em Montes Claros, nos anos
de 1960, 1970 e 1980, no setor primário, em contrapartida ao crescimento nos setores
secundário e terciário, em parte, reflexo dos projetos implementados pela SUDENE.
6
Nesta seção serão apresentadas informações que comprovam a superioridade da dinâmica
socioeconômica de Montes Claros frente aos demais municípios norte-mineiros.
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Tabela 6 População Economicamente Ativa Município de Montes Claros Décadas
de 1960 1970 1980
Década
Setor Primário
Setor
terciário
1960
26.297
10.606
1960 (%)
66,8
26,95
1970
12.123
18.106
1970 (%)
33,74
50,4
1980
8.810
34.045
1980 (%)
14,85
57,4
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1960, 1970 e 1980 Minas Gerais.
In: MOURA; MONOLESCO, 2004.
A população economicamente ativa no setor primário passou de mais de 25
mil, em 1960, para menos de 10 mil em 1980. Em compensação, o setor secundário,
que ocupava 2.462 pessoas em 1960, teve esse número aumentado, em 1980, para
16.465. A população economicamente ativa no setor terciário também aumentou
significativamente, saltando de 10.606 para quase 35 mil.
Apesar de esses números revelarem o crescimento da industrialização no Norte
de Minas, não se pode deixar de chamar atenção para o fato de que não levou em
conta o potencial estabelecido na região. Pereira (2004) salienta que, devido a esse
caráter exógeno, a industrialização via SUDENE teve pouco aproveitamento da
matéria-prima da região, da mão de obra local e uma intensa comercialização dos
produtos confeccionados nas indústrias em outras regiões, em detrimento do Norte de
Minas.
Na segunda metade do século XX, a configuração política também foi se
transformando. O poder concentrado nas mãos da elite agrária foi dando lugar, pouco
a pouco, ao protagonismo de grupos de profissionais liberais engajados na luta contra
a ditadura militar, e mais preocupados em reverter o quadro de pobreza que tinha se
estruturado na cidade devido à massa de população rural, que migrou para a cidade,
expulsa do campo em busca de melhores condições e não encontrou um cenário tão
propício quanto o esperado. Junto a isso, ainda houve o descaso da elite agrária que
dominou a cidade por tanto tempo. (RELATÓRIO DE PESQUISA, 2016).
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Esse novo cenário político contribuiu para que Montes Claros superasse a
agropecuária como força econômica e, paulatinamente, os setores de serviço e
comércio se destacassem como atividade econômica principal:
Sua tradição de entreposto comercial continua em evidência, hoje através
das multinacionais que monopolizam o comércio de alimentos e demais
gêneros de primeira necessidade. De exportador de alimentos até os anos
80 do século passado, o Norte de Minas se transformou em importador de
alimentos. E estes são distribuídos a partir de Montes Claros para toda a
região (RELATÓRIO DE PESQUISA, 2016).
O comércio da cidade é bastante movimentado e diversificado. Em Montes
Claros encontram-se instaladas algumas das principais lojas de amplitude nacional
como Americanas, Magazine Luiza, Havan, Ponto Frio, Casas Bahia, Eletrossom, dentre
outros.
Tabela 7 Número de empresas por setor da economia em Montes Claros, 2018
Setores
Nº de estabelecimentos
Indústria
1013
Construção Civil
1090
Comércio
6323
Serviços
7872
Agropecuária, extração vegetal, caça e
pesca
810
Fonte: MTE CAGEG, 2018.
Montes Claros possuía, em 2018, área equivalente a 3.568,941 km², uma
população de 361.915 habitantes (segundo o censo demográfico de 2010) e densidade
demográfica de 101,41 hab./km².
7
O PIB per capita
8
de Montes Claros é de R$ 21.943,89 se destacando no Norte
de Minas, região onde o valor da maioria dos municípios não ultrapassa a dez mil reais.
Esse município polariza a produção nos diversos setores de atividade que compõem o
cálculo do PIB: serviços, indústria, administração pública e agropecuária. No setor
7
Disponível em: cidades.ibge.gov.br.
8
O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os bens de um país, região ou, neste caso, de um
município. O PIB per capita é o produto interno bruto dividido pela quantidade de habitantes de um
país, município ou região. Para o cálculo do PIB são considerados apenas bens e serviços finais. Apesar
de o PIB, pensado isoladamente, não ser suficiente para medir o desenvolvimento de uma região, ele é
fundamental para avaliar o grau de desenvolvimento econômico e a riqueza gerada em um determinado
território.
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industrial, por exemplo, todos os investimentos feitos por uma empresa contabilizam
no valor final do PIB. As empresas, ao adquirir equipamentos, aumentando o número
de trabalhadores e expandindo suas atividades, movimentam a economia. O município
tem atraído, nos últimos anos, indústrias que deixaram os grandes centros; exemplo
ilustrativo é a “Havaianas”. Outras duas grandes indústrias do município são a Vallée
(produtos agropecuários) e a Novo Nordisk (produtos farmacêuticos).
O PIB de Montes Claros é bastante representativo, quando observado em
relação aos outros municípios, e ainda em relação à representação no Norte de Minas.
Porém, quando analisado no contexto estadual, o PIB do município representa pouco
mais de 1%. Somado a isso, o PIB per capita de Montes Claros é inferior ao das outras
cidades médias-polo do estado: Juiz de Fora é um pouco maior, R$ 25.968,58, e o de
Uberlândia é de R$ 48.585,36.
9
Segue figura que sintetiza a proeminência de Montes
Claros no cenário regional deixando evidentes as desigualdades regionais em Minas
Gerais. Aborda também a discrepância do Norte de Minas no contexto estadual.
Figura 3 PIB per capita dos municípios mineiros, em 2018
Fonte: www.atlasbrasil.org.br.
Diante dessa discussão, o salário médio mensal dos trabalhadores formais, em
2016, chegava a 2,1 salários mínimos, valor baixo se comparado ao conjunto dos
municípios mineiros, mas um dos mais altos do Norte de Minas Gerais; 24% da
população encontrava-se ocupada nesse ano.
9
Valores de 2016. Disponível em: www.cidades.ibge.gov.br.
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Tabela 8 Trabalho e Rendimento em Montes Claros
Salário médio mensal dos trabalhadores formais [2016]
2,1 salários
mínimos
Pessoal ocupado [2016]
95.487 pessoas
População ocupada [2016]
24,0 %
Percentual da população com
rendimento nominal mensal per
capita de até 1/2 salário mínimo
[2010]
36,4 %
Fonte: IBGE cidades, s. d.
Outro indicador importante é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
conforme figura abaixo
10
.
Figura 4 Faixas do IDHM
Fonte: www.pnud.org.br.
Figura 5 IDHM dos municípios mineiros, em 2010
Fonte: www.atlasbrasil.org.br.
10
Leva em consideração três dimensões: educação, renda e longevidade. O IDH vai de 0 (nenhum
desenvolvimento humano) a 1 (pleno desenvolvimento humano) e é segmentado em cinco faixas, que
vão de “muito baixo” desenvolvimento humano a “muito alto” desenvolvimento humano.
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Aqui, chama-nos atenção, mais uma vez, a diferença entre as regiões do
estado. A maioria dos municípios que possuem IDH baixo, ou seja, até 0,599,
encontram-se no Norte de Minas. também uma grande quantidade de municípios
nesta região com IDH médio e são poucos os municípios norte-mineiros que possuem
alto IDH. Montes Claros se destaca no cenário regional. São poucos os municípios da
região que possuíam, em 2010, alto IDH. Dentre eles, o IDH de Montes Claros é o mais
alto, 0,770. É sabido que, para calcular o IDH, são considerados dois indicadores
indiretos de desenvolvimento (longevidade e educação) e um indicador econômico
(renda). O quadro a seguir estabelece os aspectos considerados nesses indicadores:
Quadro 2 Indicadores do IDHM
Fonte: www.pnud.org.br.
Ao desmembrarmos o IDHM de Montes Claros, fica evidente o cenário
favorável do município quando comparado a outros do Norte de Minas. A cidade
possui os melhores números quando observamos, separadamente, os indicadores
ponderados no IDHM. A esperança de vida ao nascer era de 77,07 anos, o IDHM
educação era 0,744 e a renda per capita era, em 2010, R$ 650,62.
A esperança de vida ao nascer reflete as condições de vida de uma população.
Em outras palavras, a alta taxa de esperança de vida de Montes Claros traduz boas
condições de saúde, instrução da população e saneamento básico adequado. O IDHM
educação alto retrata mais escolarização dos cidadãos montesclarenses e a renda per
capita, apesar de ser ainda baixa quando a comparamos com as outras cidades
médias-polo, é a maior do Norte de Minas. Isso se deve à dinâmica econômica da
cidade, devido à existência de várias indústrias e de Universidades.
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O município contava, em 2010, com várias instituições de ensino superior,
incluindo instituições de ensino a distância, privadas, um campus da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Norte de Minas (IFNMG) e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes),
com vários cursos de graduação e pós-graduação lato sensu e stricto sensu em
diversas áreas. O município hoje é considerado polo universitário. Atrai migrantes de
várias cidades do Brasil, notadamente das circunvizinhas e ainda estrangeiros, através
de intercâmbio. Os deslocamentos pendulares
11
também são comuns. Diariamente,
Montes Claros recebe pessoas de várias cidades da região que estudam nas muitas
instituições de ensino superior instaladas na cidade. Corroborando essa ideia, Ricardo,
Aleixo e Oliveira afirmam que este fluxo migratório em direção a Montes Claros está
relacionado a
[...] um número expressivo de Universidades, faculdades, cursos
profissionalizantes, técnicos, cursinhos de pré-vestibular e escolas
significativo em relação às outras cidades norte-mineiras. Dentro do
contexto de centralidade, Montes Claros é a cidade da região que pelo
número e diversidade de serviços prestados no setor educacional, atrai
uma população que se direciona dos seus municípios de origem todos os
dias para estudar em Montes Claros. (RICARDO; ALEIXO; OLIVEIRA, 2010, p.
06).
Montes Claros também se destaca pela oferta na área da saúde. A cidade conta
com uma variedade de especialistas em diferentes áreas, levando os habitantes de
cidades circunvizinhas a se deslocarem em busca de atendimento especializado. na
cidade muitos estabelecimentos de saúde pertencentes à iniciativa privada
12
,
reforçando a tese de que o capital tende a investir em regiões mais dinâmicas. Porque
Montes Claros recebe pessoas de toda a região para consultas, exames e internação, é
compreensível que a iniciativa privada invista nesse município. O Estado segue a
mesma lógica, haja vista a diferença de estabelecimento público de saúde no
11
Enquanto a migração envolve mudança de residência, os deslocamentos pendulares caracterizam-se
por deslocamentos entre o município de residência e outros municípios, com finalidade específica.
(MOURA, et al, 2005).
12
Informações obtidas através da observação direta.
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município de Montes Claros e nos outros municípios. A cidade conta com uma
infraestrutura que a beneficia em novos investimentos públicos dessa natureza.
13
Em síntese, o desenvolvimento de Montes Claros é fortemente superior aos
demais municípios da região. Em um território historicamente pouco desenvolvido, a
cidade concentra boa parte de serviços essenciais, atrai um número considerável de
migrantes e seus indicadores são, via de regra, os melhores da região.
EMPRESAS E FORÇA DE TRABALHO
De acordo com Singer (2004), capitalismo é um sistema produtor de
desigualdades sociais e regionais na medida em que fortalece a concentração de
renda. É da lógica sistêmica que o capitalista tenda a investir onde o fluxo de capital é
mais efervescente. Todas as consequências negativas desse processo são ignoradas,
em favor das vantagens obtidas. Singer argumenta que
[a]s decisões sobre o desenvolvimento capitalista sempre visam à
maximização do retorno sobre o capital investido na atividade econômica.
Como essas decisões afetam os trabalhadores, as outras empresas e os
consumidores das mercadorias não são levados em consideração. (SINGER,
2004, p. 10).
Os investimentos capitalistas estão dirigidos de forma a considerar fatores
como a força de trabalho mais barata (e, ao mesmo tempo, capacitada para muitos
serviços), localização privilegiada, recursos disponíveis, isenção fiscal, dentre outros.
Esses elementos poderão fortalecer a concentração de capital numa região, em
prejuízo de outras. Dessa forma, “a circulação do capital implica também movimento
espacial. O dinheiro é reunido em alguma região e levado para um lugar especial para
utilizar os recursos de trabalho que vêm de outro lugar.” (HARVEY, 2011, p. 43).
Nessa perspectiva, as relações de produção capitalistas geram uma
concentração espacial-geográfica do capital, dos meios de produção e do uso da força
de trabalho; esses elementos são reunidos em um determinado local, onde
mercadorias são produzidas. A facilidade no acesso a meios de produção, seja
13
Essa discussão será aprofundada e embasada com dados no capítulo 4.
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máquinas, recursos naturais, ou qualquer outro, a força de trabalho e mercados de
consumo reduzem custos na produção e aumento do lucro em locais privilegiados.
(HARVEY, 2011).
O fenômeno do rendimento capitalista, a reprodução ampliada de capital, gera
a concentração de renda em determinadas regiões do mundo, agravando o problema
das desigualdades sociais e regionais. A questão que se coloca então é esboçar a
peculiaridade deste sistema, ou seja, o sistema capitalista reproduz inexoravelmente
as desigualdades na sociedade ao ter como meta primeira o lucro. Harvey reforça essa
ideia ao colocar que
[...] o capital altamente móvel presta muita atenção até mesmo nas
pequenas diferenças nos custos locais porque geram lucros mais elevados.
O fato de os capitalistas serem atraídos e sobreviverem melhor em locais
de lucro máximo muitas vezes leva à concentração de muitas atividades em
lugares particulares. (HARVEY, 2011, p. 133).
Apesar da escolha do local ainda ser algo expressivo, ao longo da história do
capitalismo não é mais apenas a escolha de um lugar privilegiado que garantirá o
domínio de um capitalista sobre o outro, em termos lucrativos. Nesse contexto, na
fase atual do capitalismo, três elementos que influenciam diretamente nos rumos
dessa competitividade. O avanço da tecnologia virtual, a modernização da indústria e a
ação do Estado neoliberal são determinantes para o domínio do capital privado. O
Estado neoliberal abre novos leques de expansão para as empresas, reduzindo tarifas
alfandegárias e promovendo incentivos fiscais para instalações de novos complexos de
produção. O modelo de Estado neoliberal não foi capaz de minimizar
consideravelmente as desigualdades nos países em que se fez presente (HARVEY,
2011). Harvey, então, considera que
[p]odemos reconhecer que na América Latina as conquistas econômicas e
políticas foram muito modestas ou, como no caso do México, um
verdadeiro fracasso. O êxito monetarista e reorganizador do neoliberalismo
não resolveu os graves e cada vez mais intensos problemas econômicos e
sociais nesses países. Isto começa a ser reconhecido de maneira
relativamente ampla. Um recente artigo do ex-economista e chefe do
Banco Mundial para a América Latina, Sebastian Edwards, admite que, em
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termos de crescimento e eliminação da pobreza, as reformas neoliberais
não conseguiram quase nada. (HARVEY, 2011, p. 45).
Partindo desse balanço, o processo de globalização da produção favoreceu a
maximização das desigualdades regionais, mesmo passando uma falsa ideia de
homogeneização da produção, o que realmente acontece é o aprofundamento das
desigualdades sociais nos países em desenvolvimento gerando, por exemplo,
precariedade nos empregos
14
.
A elite regional, durante a década de 1950, se esforçou para o Norte de Minas,
destacadamente Montes Claros, inserir-se no contexto de desenvolvimento em que
vivia o país, mas até então a região não gozava de tal desenvolvimento, como assinala
Pereira:
A região Norte do Estado de Minas Gerais esteve à margem do
desenvolvimentismo dos anos 50. Os efeitos práticos da intervenção do
Estado como promotor da industrialização surgiram na segunda metade da
década de 1960, quando foi viabilizada a infraestrutura energética e de
transportes e os incentivos fiscais da SUDENE atraíram à região
investimentos industriais em volume expressivo. Entretanto, a região não
assistiu passivamente ao espetáculo do período (PEREIRA, 2001, p. 02).
As elites regionais destacaram-se nas iniciativas com o objetivo de atrair
recursos para o Norte de Minas e, principalmente, Montes Claros. Dentre tais
iniciativas, Pereira (2001) chama a atenção para a festa de centenário da cidade em 03
de julho de 1957, na qual várias autoridades foram convidadas para testemunhar a
vivacidade da cidade e do povo montesclarense. A presença especial do então
presidente Juscelino Kubitschek foi a grande atração da festividade. O objetivo era
conseguir investimentos para a cidade e região, porém como a agropecuária era o
carro-chefe da economia regional e os projetos desenvolvimentistas do governo
concentravam-se na industrialização, tais esforços não surtiram o efeito desejado. A
14
Este tema é abordado com mais profundidade na dissertação de mestrado defendida pela autora em
2014. PALES, Raíssa Cota. Desenvolvimento regional e desigualdades sociais entre as macrorregiões de
planejamento de minas gerais. Montes Claros - MG Março/2014. Dissertação de mestrado.
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transferência de votos para governantes da situação foi outra tentativa de barganhar
investimentos.
15
A inserção do Norte de Minas na área de atuação da SUDENE foi a última
esperança para alavancar o desenvolvimento da região. Com efeito, durante a década
de 1970, período de consolidação dos projetos de desenvolvimento da SUDENE, a
região recebeu inúmeros projetos voltados para a agropecuária e a industrialização. As
cidades que mais usufruíram da instalação de projetos foram Montes Claros,
primeiramente, e Pirapora, devido a uma infraestrutura mais adequada, em
detrimento das demais cidades norte-mineiras. De acordo com Oliveira (2000), até
1979 Montes Claros havia sido contemplada com 54,8% dos projetos destinados ao
Norte de Minas e Pirapora 25,8%. Ou seja, mais de 80% dos projetos foram destinados
a essas duas cidades.
A partir de então, a migração para Montes Claros aumentou significativamente,
tanto de pessoas vindas da área rural da cidade quanto de pessoas de outras cidades
norte-mineiras e até mesmo de outras regiões entrando, assim na onda de
transformação em andamento no Brasil.
Tabela 18 População de Montes Claros nas décadas de 1950, 1960, 1970, 1980,1990
e 2000
População
1950
%
1960
%
1970
%
1980
%
1990
%
2000
%
População
rural
51.36
5
72
90837
69
29.600
25
22.095
12
30.969
11
17.764
06
População
urbana
20.37
0
28
40.500
31
86.886
75
155.46
3
88
250.573
89
289.18
3
94
Total
71.73
5
10
0
131.33
7
10
0
116.486
10
0
177.55
8
10
0
281.542
10
0
306.94
7
10
0
Fonte: IBGE, s. d.
Os efeitos dos projetos da SUDENE são visíveis quando comparamos os dados
da década de 1960, 1970 e 1980. Em 1960, a população de Montes Claros, ainda que
tenha quase dobrado em relação a 1950, era predominantemente rural. Em 1970,
quando as indústrias começaram a entrar em funcionamento, este cenário inverteu-se;
15
Foram usadas estratégias típicas do coronelismo: “poder econômico, tradição e carisma dos coronéis,
política assistencialista, violência, fraude e propaganda ideológica pela imprensa” (PEREIRA, 2001, p. 2).
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a população montes-clarense que, na década anterior, era predominantemente rural,
agora se concentrava em maior quantidade na área urbana. Após a consolidação dos
projetos da SUDENE, na década de 1980, é visível o aumento da população em geral,
principalmente na área urbana. Pode-se observar um crescimento vertiginoso da
população do município entre as décadas de 1980 e 2000, sempre com o aumento da
população urbana.
Apesar de os projetos da SUDENE contemplarem a indústria e a agropecuária,
foi na indústria que a maioria dos projetos se concentrou. Pessoas da área rural e de
cidades vizinhas migraram para Montes Claros na esperança de conseguir um
emprego. De acordo com a Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação
Geral de Minas Gerais, “o total de empregos criados com que as empresas
trabalharam foram em 1978, 4.476 (41%), em 1979, 5.022 (47%), 1980, 5.647 (52%),
1981, 4.474 (41%) e 1982 = 4.426 (40%)”.
Ainda hoje, Montes Claros se destaca no Norte de Minas por possuir inúmeras
indústrias nos mais variados segmentos. na cidade indústrias de alimentos,
biotecnologia, construção civil, logística, madeira/móveis, metalurgia, têxtil, dentre
outros, sem contar o comércio, com mais de mais de seis mil estabelecimentos
16
. O
setor de serviços emprega profissionais de diversas áreas.
Apesar de algumas cidades da região norte receberem, frequentemente,
grandes empresas, a diferença de estrutura das cidades de pequeno porte em relação
a Montes Claros é gritante. Enquanto em Montes Claros havia, em 2017, 11.497
empresas atuantes, esse número nas cidades mais expressivas da região não chegava a
duas mil. Pirapora e Janaúba são as cidades de pequeno porte do Norte de Minas com
o maior número de empresas atuantes, porém bem menor se compararmos com
Montes Claros. Pirapora possuía, em 2017, 1579 empresas atuantes e Janaúba 1651.
Em seguida, com um número razoável, há Bocaiúva e Salinas com, respectivamente,
1358 e 1287 empresas atuantes.
Seguramente, esse cenário contribui, fortemente, para as frequentes migrações
que ocorrem em direção à cidade de Montes Claros. Pessoas em busca de trabalho no
setor público e privado se deslocam definitivamente, de forma temporária ou pendular
para a cidade.
16
Dados de 2009 do MTE CAGED.
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Figura 10 Número de empresas atuantes em municípios selecionados do Norte de
Minas, em 2017
Fonte: IBGE. Cadastro Central de Empresas 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
Montes Claros não se destaca apenas no Norte de Minas, mas no estado de
Minas Gerais. No ranking das cidades com maiores unidades de empresas atuantes,
ocupa a posição, perdendo apenas para a capital do estado, Belo Horizonte,
Contagem (cidade industrial situada na região metropolitana), Uberlândia e Juiz de
Fora. Nesse ranking, as três cidades médias do estado estão entre as cinco com mais
unidades. Todo o desenho que começou a se delinear na década de 1970 com o II PND
fez com que essas cidades ampliassem ainda mais seu potencial econômico resultando
no perfil que têm hoje. Os investimentos realizados nesse período geraram um ciclo
vicioso em que, cada vez mais, essas cidades conseguem atrair indústrias de grande e
médio porte. O mesmo acontece com o comércio e o setor de serviços, em que a
demanda gera cada vez mais oferta e essa, por sua vez, mais demanda.
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Quadro 5 Ranking das cinco cidades com os maiores números de empresas atuantes
em Minas Gerais, 2017
Belo Horizonte
106239
Uberlândia
26280
Juiz de Fora
19930
Contagem
16568
Montes Claros
11497
Fonte: IBGE. Cadastro Central de Empresas 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
Esse ciclo constante de investimentos que se perpetua, além de ter como
reflexo a atração recorrente de indústrias, gera outro fator positivo e provoca mais
consequências econômicas: a atração de pessoas para ocuparem os postos de trabalho
disponíveis que, por sua vez, irão consumir bens duráveis e não duráveis da cidade,
agregando ainda mais para a economia da cidade.
Em Montes Claros um grande número de indústrias. No quadro 6 estão
apresentadas as principais; dentre elas destacamos aquelas de expressiva amplitude
nacional e internacional, como a Nestlé, a Novo Nordisk, a Vallée e a Skol. A Novo
Nordisk, a título de exemplo, é uma das principais fabricantes de insulina do mundo;
original da Dinamarca, tem em Montes Claros a maior fábrica fora do país de origem e
é maior indústria do ramo na América Latina, empregando mais de 1000 funcionários e
é referência mundial em performance.
Quadro 6 Principais segmentos industriais 2012
Alimentos
Cardoso & Nascimento Café Letícia: café torrado e moído,
capuccinos e cafés com leite.
Cooperativa Grande Sertão: fabricação de produtos
alimentícios polpas de frutas.
• Comercial Comar Ltda: fabricação de biscoitos.
Corby Comércio e Indústria de Bebidas Ltda: produção de
bebidas.
Indústria e Comércio Bibi Ltda: fabricação de produtos
alimentícios (salgadinhos e pipoca doce).
Nestlé: a empresa possui 26 unidades industriais no Brasil
sendo 5 em Minas Gerais (Uberlândia, São Lourenço, Ibiá,
Ituiutaba e Montes Claros). Sua unidade de produção de leite
condensado, instalada em Montes Claros, se constitui na maior
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fábrica do gênero no Mundo.
• Pandy Indústrias Alimentícias Ltda: produtora de batata frita.
• Somai Nordeste S/A: granja avícola com produção de ovos.
Biotecnologia:
• Novo Nordisk: indústria farmacêutica.
Vallée S/A: no ramo farmacêutico, a unidade de Montes
Claros, fundada em 1978, dedica-se à produção de artigos
veterinários (vacinas, antiparasitários, etc.).
Construção Civil
• Antares Premoldados Ltda: fabricação de pré-moldados.
• Construtora Novais Ltda: construção e pavimentos.
Indumetal: fabricante de estruturas metálicas, caixas d’água e
similares para os mais variados segmentos da indústria,
comércio e agronegócio regional.
Lafarge Concreto S/A: indústria líder mundial em materiais de
construção.
• Pavisan: indústria asfáltica.
Logística
• Atende Logística Ltda: comércio atacadista.
• Distrinorte: distribuição de produtos alimentícios.
Distribuidora Xodó: distribuição de produtos alimentícios
(doces).
Lima e Moraes Transportes e Armazenagem Ltda: transportes
diversos.
Mercolub Petróleo Ltda: comércio atacadista de combustíveis
e lubrificantes.
• Rodoviário Líder Ltda: transportes.
Skol Distribuidora de Bebidas: distribuição de bebidas
(cervejas e refrigerantes).
• Tequimar: serviços de armazenagem.
Transmoc Transporte e Turismo Montes Claros Ltda: serviços
de transporte coletivo.
Madeira /
móveis
Minaspuma Indústria de Colchões Ltda: fabricação de
espumas, colchões, estofados e acessórios para o sono.
Expansão Indústria e Comércio Ltda: desdobramento de
madeira (madeira serrada e pré-cortada).
• Florestal Vale do Jequitinhonha Ltda
Florevale: fabricante de portas de madeiras com projeto de
geração de 200 novos postos de trabalho e atendimento ao
mercado do Norte de Minas e Nordeste brasileiro; recebeu
investimentos da ordem de US$ 5 milhões.
Mourões Touro: produção de madeira tratada de eucalipto
para diversos fins.
Refloralje Reflorestamento e Agropecuária Ltda: produção de
madeira tratada de eucalipto e atividades de reflorestamento.
W. C. W. Móveis Decorativos: fabricação de móveis sob
encomenda, industriais, comerciais e residenciais.
Metalurgia
Elster Medição de Água S. A.: empresa líder, fabricante de
produtos avançados e soluções de medição inteligente.
Reboques Triunfo: indústria metalúrgica (carretas agrícolas,
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carrinho-de-mão e carrinho-de-lixo).
• Suporte Engenharia: montagens mecânicas industriais.
Usinagem Santa Luzia: indústria metalúrgica (trefilados em
ferro e aço).
Têxtil
• Cia. de Tecidos Norte de Minas – Coteminas S. A.
• Cia. de Tecidos Santanense.
Outros
Funcional Lavanderia e Higienização de Roupas Ltda: serviços
de lavanderia.
Hartmann Embalagens Montes Claros Ltda: produção de
embalagens de fibra moldada.
• Plásticos Vzp: indústria de embalagens plásticas.
• Reciplast: Reciclagem – granulado recuperado.
T & D Indústria e Comércio Ltda: produção de material de
limpeza.
White Martins Gases Industriais Ltda: comércio de gases
medicinais.
Fonte: Associação Comercial Industrial e de Serviços de Montes Claros (ACI), em parceria com
a Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES).
17
De acordo com notícia do jornal O Tempo, Montes Claros ficou entre os cinco
municípios mineiros que mais abriram empresas no estado. Nos quatro primeiros
meses de 2019 foram 396 novos empreendimentos. O secretário de Desenvolvimento
Econômico da cidade afirmou que, dentre outros fatores, os incentivos fiscais federais
da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene)
18
foram essenciais
para despertar o interesse dos investidores.
19
O resultado de tais incentivos reflete na soma de todos os bens e serviços finais
produzidos em Montes Claros. Vale ressaltar que o valor do PIB abarca, além da
indústria, o setor de serviços, agropecuária e administração, defesa, educação, saúde
pública e seguridade social. O valor do PIB de Montes Claros é o maior dentre todos os
municípios norte-mineiros. Mesmo quando comparado ao valor do PIB de Pirapora,
segunda cidade com maior valor do PIB do Território Norte, ainda é, notadamente,
mais alto. Enquanto o valor do PIB de Montes Claros ultrapassa 8 bilhões, o de
Pirapora não chega a 2 bilhões. O valor do PIB de Janaúba, ocupante da posição,
17
Disponível em: www.acimoc.com.br.
18
Os incentivos fiscais da SUDENE tratam de: redução de 75% do imposto de renda, durante 10 anos,
redução de 37,5% do imposto de renda, após o prazo de 10 anos e reinvestimento de 30% do imposto
de renda.
19
Informações disponíveis em: https://www.otempo.com.br/economia/localizacao-beneficia-montes-
claros-em-numero-de-empresas-abertas-1.2189445.
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era, em 2016, pouco mais de 1 bilhão. E o valor do PIB das demais cidades não chega a
1 bilhão.
Tabela 19: Maiores Produto Interno Bruto a preços correntes (Mil Reais), em 2016
Município
PIB
PIB per capita
Montes Claros
8.739.987
21.943,89
Pirapora
1.685.606
29.847,47
Janaúba
1.025.551
14.387,85
Januária
635.194
9.283,74
Grão Mogol
278.094
17.523,26
Salinas
545.536
13.147,34
Bocaiúva
728.701
14.605,86
Fonte: IBGE, s. d.
Ainda que o valor do PIB leve em consideração no seu cálculo outros ramos de
atividade, o setor da indústria tem grande influência no valor expressivo do PIB de
Montes Claros. O setor de serviços domina a economia de Montes Claros, o que é
comum em praticamente todos os municípios do norte de Minas Gerais. Salvo essa
ressalva, a indústria tem grande participação no PIB, seguida do setor da
administração e, por fim, da agropecuária. A participação da indústria no PIB é de 18%
(2018).
Em face dessa realidade, percebe-se o grande poder econômico da cidade de
Montes Claros. Como temos enfatizado no decorrer do trabalho, é esperada essa
diferença de desempenho entre as cidades médias e as cidades de pequeno porte;
contudo, o que nos importa é a intensidade dessa discrepância, muito bem traduzida
no cenário norte-mineiro. Nessa região, mesmo quando comparamos com as demais
regiões aqui analisadas, o desempenho de Montes Claros se destaca, com grande
expressividade, face às outras cidades que compõem a região.
A questão do trabalho, na nossa sociedade, tem papel extremamente
relevante. O trabalho assalariado, após a revolução industrial, passou a ser condição
sine qua non do sistema capitalista, em que os indivíduos são forçados a trocar sua
força de trabalho para suprir suas necessidades cotidianas. Portanto, essa
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desigualdade de capacidade empregatícia gera uma dependência muito grande e, por
consequência, migrações constantes para a cidade de Montes Claros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em meados do século XX, as cidades médias europeias representaram uma
alternativa para a desconcentração da atividade produtiva e um caminho viável para
solucionar os graves problemas que os grandes centros enfrentavam naquele
momento. Essa concepção chegou na América Latina. Na década de 1970, escolhas
políticas feitas no Brasil enveredaram para o fortalecimento ainda maior das cidades
médias no cenário regional. Todo o arranjo foi reforçado na década de 1990 e algumas
cidades médias brasileiras se tornaram polos regionais e receptoras de investimentos
federais.
Em relação a Montes Claros, a chegada da ferrovia foi um marco em seu
desenvolvimento. Mudou de forma expressiva a infraestrutura da cidade e o cenário
político e econômico. Ainda assim, por muito tempo, Montes Claros conviveu com sua
realidade agrária e com o intenso fluxo de pessoas, devido a sua localização
privilegiada. Esse contexto agrário começou a mudar de forma mais expressiva a partir
da década de 1970, com os incentivos da SUDENE na área industrial. A SUDENE, ainda
que sua proposta seja investir em áreas historicamente menos desenvolvidas, replicou
a lógica capitalista, investiu de forma mais vigorosa, no caso do Norte de Minas, em
cidades que possuíam infraestrutura adequada. Nesse contexto, Montes Claros foi a
grande privilegiada, concentrando mais da metade dos projetos da SUDENE, a maioria
voltados para a indústria.
Os indicadores de Montes Claros são os melhores da região. Não é fútil
reafirmar que o esforço em desconcentrar a atividade produtiva das grandes
metrópoles via cidades médias foi louvável. Contudo, com a reconcentração nas
cidades médias, alguns problemas ainda persistem. O caso do Norte de Minas
evidencia esse fato com mais clareza. A diferença de infraestrutura entre Montes
Claros (cidade média-polo) e as demais cidades de pequeno porte da região é
extremamente acentuada. Enquanto a cidade média-polo da região atraiu para si
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grande parte dos investimentos, nem mesmo as cidades que desempenham o papel de
polo microrregional possuem uma infraestrutura desejável.
Pode-se afirmar que, em razão do cenário vigente hoje ser reflexo de decisões
políticas, o desafio para diminuir o fosso existente entre as cidades dias-polo e as
cidades de pequeno porte depende da atuação do Estado na formulação de políticas
públicas. Nesse sentido, é importante frisar que não se espera a completa igualdade
entre as cidades, mas que, guardadas as devidas proporções, a infraestrutura
econômica fosse mais significativa, garantindo a reprodução material e social dos
habitantes dessas cidades.
É imprescindível colocar na agenda um planejamento integrado regionalmente.
A ausência de uma estratégia como esta, que também atue contra a excessiva
concentração de recursos nas cidades médias-polo, está condenando à permanência
na situação atual de quem já está em posição desfavorável.
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