https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 2, jul/dez, 2022
PPGDS/Unimontes-MG
Nessa visão, o brasileiro, de modo especial o que residia no Rio de Janeiro, não
assistia às mudanças políticas de forma desinteressada ou alheio ao que acontecia no
país. Esse cidadão, desprovido de direitos políticos e sociais, acreditava que nada havia
mudado, ou pelo menos, que nada mudaria no país. Portanto, as rebeliões, as revoltas
ou qualquer outro tipo de manifestação ocorrida naqueles tempos eram apenas reações
ou represálias provenientes de algumas tentativas do governo em aplicar as leis. O
bilontra não levava a sério o país, muito menos o surgimento da República. “O povo
sabia que o formal não era sério. Não havia caminhos de participação, a República não
era para valer. Nessa perspectiva, o bestializado era quem levasse a política a sério, era
o que se prestasse à manipulação”. (CARVALHO, 2019, p. 125).
E quanto à elite letrada, que possuía o privilégio de poder gozar dos direitos
políticos e sociais, era também indiferente aos acontecimentos? Basbaum (1957, p. 231)
responde: “Para a nossa intelligentsia, a República era mais um sentimento estético que
propriamente prático ou político. Era belo ser republicano, como era belo ser
abolicionista”.
Corroborando com o exposto e finalizando o seu entendimento, Carvalho (2019,
p. 54) percebe que diante das mudanças de regime, criou-se uma grande expectativa
em relação à população brasileira como um todo, na esperança de encontrar por estas
terras “[...] o cidadão ao estilo europeu, fosse ele o bem-comportado burguês vitoriano,
o jacobino de 1789, o eleitor bem informado ou o militante organizado nas barricadas”.
O segundo elemento, que pode ser atribuído ao povo do Rio de Janeiro como
característica comportamental, ocorrido no período de mudança da Monarquia para a
República, é a “Atitude Blasé”, conceituada por Georg Simmel, e que, em sua essência
[...] consiste no embotamento do poder de discriminar. Isso não significa que
os objetos não sejam percebidos, como é o caso dos débeis mentais, mas
antes que o significado e valores diferenciais das coisas, e daí as próprias
coisas, são experimentadas como destituídos de substância. Elas aparecem
à pessoa blasé num tom uniformemente plano e fosco; objeto algum merece
preferência sobre outro. (SIMMEL, 1973, p. 16).
Na visão de Simmel, a atitude blasé é caracterizada pela indiferença, pela
impessoalidade das pessoas em relação às outras e ao ambiente no qual estão inseridas.
Esse ambiente é o meio urbano, pois esse tipo de atitude é característica dos indivíduos
que vivem em grandes cidades, ocorrendo de forma distinta no ambiente rural.