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Jaqueline, na Taça de Favelas. Enquanto alguns vêem a favela como sinônimo de
violência ou de algo indesejado, o olhar mais apurado percebe que as vidas que
circulam nesse espaço, onde os campos não são verdes e bem cuidados (mas sim
áridos, arenosos e com irregularidades), trazem vida a ele, com desejos e sonhos que
muitas vezes não imaginamos.
Na fotografia da capa percebe-se a representatividade de mulheres na prática
esportiva. Se pode ver um campo sem grama donde o chão batido serve como terreno
para apresentar a força da bola chutada, enquanto homens que estão ao redor do
campo torcem, admiram ou até mesmo criticam as práticas ali apresentadas. São
corpos de mulheres jovens, de classes trabalhadoras, de pele não branca, que podem
ser magras ou gordas e que podem subverter a sexualidade normativa, causando
reações por ocupar o espaço público.
A visão mais voltada ao financeiro e ao rendimento, por vezes cega o olhar para
os diversos futebóis existentes, para a diversidade que existe naquilo que se costuma
classificar de maneira simplificada como “o futebol”. Dentre os possíveis futebóis,
pode-se citar aquele que é praticado nas várzeas e que não é apenas sinônimo de
sociabilidade e de lazer, mas também oportunidade de ganhos para alguns jogadores
ou jogadoras, seja simbólica ou financeiramente.
O texto de Roberta Pereira da Silva aborda "A importância do futebol de
várzea para a população negra de São Paulo (SP)" com um viés que traz a questão da
racialidade a partir da fundação do Negritude Futebol Clube, equipe varzeana criada
em 1980 por seis jovens negros. Roberta traz à luz um futebol que serve como potência
e como resistência, inclusive como ambiente de luta pelo direito à cidade e seus
campos, como revela o texto produzido por Alberto Luiz dos Santos, Aira Bonfim e
Enrico Spaggiari, intitulado "Mapeamento do futebol de várzea de São Paulo (SP):
reflexões para processos de proteção ao patrimônio". Neste texto, a várzea é trazida
como lugar de reivindicação das camadas populares por um espaço citadino que em
muitos momentos lhes é negado. Espaços onde possam circular, expressar-se e serem
valorizados pela potência dos seus corpos e de suas performances.
A mesma várzea que demanda e aciona diversos mecanismos de preservação
nas grandes cidades, busca também reproduzir alguns preceitos mercadológicos do
circuito espetacularizado. Com o passar do tempo, este futebol hegemônico foi
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 1, jan/jun, 2022
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