https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v28n1p8-29
Vol. 28, n. 1, jan/jun, 2022
ISSN: 2179-6807 (online)
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 1, jan/jun, 2022
PPGDS/Unimontes-MG
A COLIGAY DENTRO DA PEDAGOGIA DO TORCER
Gustavo Andrada Bandeira
1
Luiza Aguiar dos Anjos
2
Aprovado em: 13/08/2022
Resumo: O período pré-Copa do Mundo de futebol masculino da FIFA de 2014, no Brasil, colocou
a ação dos torcedores dos estádios de futebol em questão. Preocupações até então
negligenciadas nesse espaço começaram a aparecer, dentre as quais a homofobia. Nesse
cenário de colocação em cena das discussões sobre homofobia no futebol, constatamos certo
“retorno” na memória coletiva de torcedores do Grêmio da Coligay, torcida gay do clube,
atuante nas décadas de 1970 e 1980 e apagada desde então. Nessa releitura, ao mesmo tempo
em que a torcida foi exaltada por ter transgredido as normas de gênero e de sexualidade, ela
também reforça uma série de representações. Os bons comportamentos, a festa e o
financiamento próprio apareceram para enaltecer a torcida e, também, apresentar os
conteúdos desejáveis para as torcidas ainda em atividade. Neste trabalho, olhamos de que
forma essa memória da Coligay trabalha na pedagogia do torcer. Para tanto, utilizaremos os
materiais produzidos contemporaneamente sobre a Coligay, além de diálogos com ex-
integrantes da torcida e outros torcedores do Grêmio, além de jogadores, dirigentes e jornalistas
que a conheceram, buscando mapear alguns dos significados possíveis na atualidade para essa
experiência rememorada.
Palavras-chave: Coligay. Torcida. Futebol. Homofobia. Estádio.
COLIGAY WITHIN PEDAGOGY OF CHEERING
Abstract: The pre 2014 FIFA Men’s World Cup period in Brazil put football stadium supporters’
actions in question. Worries neglected until then on this place started to appear, including
homophobia. In this context in which discussion about homophobia in football emerge, we can
see a certain “return” in the collective memory of Grêmio’s Coligay, the club’s gay supporters,
active in the 1970s and 1980s and erased since then. In this re-reading, at the same time that
the crowd was praised for having transgressed gender and sexuality norms, it also reinforces a
series of representations. The good behavior, the party and its self funding were referred to
praise this fans and, also, present the desirable contents for the supporters still in activity. In
this work, we look at how this Coligay memory develops in relation to the pedagogy of cheering.
To do so, we will analyse the material produced contemporaneously about Coligay, as well as
dialogues with its former members and other Grêmio fans, players, managers and also
journalists, seeking to map some of the possible meanings today for this remembered
experience.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. https://orcid.org/0000-0002-2460-4082.
gustavoabandeira@yahoo.com.br.
2
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) - Campus Timóteo.
https://orcid.org/0000-0002-4885-0763. luizaaguiardosanjos@gmail.com.
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
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Keywords: Coligay. Supporters. Football. Homophobia. Stadium.
LA COLIGAY DENTRO DE LA PEDAGOGÍA DEL HINCHAR
Resumen: El período previo al Mundial masculino de fútbol de la FIFA, del año 2014, en Brasil,
puso en juicio las acciones de los hinchas en los estadios de fútbol. Empezaron a aparecer
preocupaciones hasta ahora ignoradas en este espacio, entre ellas la homofobia. En este
escenario de poner en escena las discusiones sobre la homofobia en el fútbol, vemos cierto
“retorno” en la memoria colectiva de los hinchas del Grémio de la Coligay, la hinchada gay del
club, activa en las décadas de 1970 y 1980 y borrada desde entonces. En esta relectura, al mismo
tiempo que se elogia a la multitud por haber transgredido las normas de género y sexualidad,
también se refuerzan una serie de representaciones. El buen comportamiento, la fiesta y la
financiación propia aparecieron para elogiar a la hinchada y también presentar el contenido
deseable para las hinchadas aún en actividad. En este trabajo, observamos cómo funciona esta
memoria Coligay en la pedagogía del hinchar. Para ello, utilizaremos los materiales producidos
contemporáneamente sobre la Coligay, así como diálogos con antiguos miembros de la hinchada
y otros hinchas de Grémio, además de jugadores, dirigentes y periodistas que la conocieron,
buscando mapear algunos de los posibles significados de hoy para esta experiencia recordada.
Palabras-clave: Coligay. Hinchada. Fútbol. Homofobia. Cancha.
O QUE CHAMAMOS DE RETORNO DA COLIGAY
Podemos afirmar que o processo de elitização das praças esportivas no Brasil,
acelerado com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, trouxe um novo olhar
para as práticas torcedoras nesses espaços. O termo homofobia passou a adjetivar
práticas históricas entendidas como aceitáveis até então naquele contexto. Em especial
no contexto do Rio Grande do Sul, foi possível constatar certo “retorno” da torcida
Coligay na memória coletiva dos/as gremistas. A Coligay reuniu entre o final da década
de 1970 e o início dos anos 1980 um grupo de torcedores identificados como
homossexuais que apoiava o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
3
, com presença assídua
nas arquibancadas desempenhando performances animadas, originais, ininterruptas e
marcadas pela afeminação. O que chamamos de retorno da Coligay se não apenas
pelos materiais que passaram a ser produzidos sobre ela: um livro e um curta-
metragem, mas, especialmente, por sua presença no Memorial Hermínio Bittencourt,
na Arena do Grêmio, inaugurado em princípios de 2016. Essas produções, em especial
o livro, foram, ainda, amplamente noticiadas pela imprensa, impulsionando seu alcance
e repercussão.
3
De agora em diante, nos referimos ao clube exclusivamente como Grêmio.
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Dissertações de mestrado realizadas nas décadas anteriores ignoravam a
presença dessa torcida. Mesmo se propondo a pensar a constituição de masculinidades
nos estádios de futebol no Rio Grande do Sul, Bandeira (2009) não citou uma única vez
a existência da Coligay. Arlei Damo (1998), em seu trabalho sobre o pertencimento
clubístico dos torcedores do Grêmio, em dissertação realizada na Antropologia Social,
também não fez nenhuma menção a essa torcida. Em alguma medida, seria possível
questionar se a Coligay não fazia parte do currículo de masculinidades dos torcedores
de estádio de futebol (BANDEIRA, 2010)?
Nos parece equivocado entender que a Coligay estivesse ausente do currículo
de masculinidade dos torcedores de estádio, especialmente em Porto Alegre e na
torcida do Grêmio. Dentro do dispositivo pedagógico dos estádios de futebol
(BANDEIRA, 2019), a Coligay acabou ocupando um lugar de destaque. O lugar do
apagamento, do desconhecimento, da ignorância. Talvez, um dos conteúdos mais
significativos para as masculinidades nos estádios de futebol tenha sido, justamente,
esse não conhecimento da sua existência. Os depoimentos das pessoas que
entrevistamos evidenciam que, se na memória oficial do Grêmio, a Coligay viveu
algumas décadas de apagamento, para muitos/as torcedores e torcedoras ela manteve-
se viva por meio de afirmações jocosas de colorados direcionada aos gremistas, que
usam a Coligay como forma de ofender o rival.
Não se deve fazer uma divisão binária entre o que se diz e o que não se diz;
é preciso tentar determinar as diferentes maneiras de não dizer, como são
distribuídos os que podem e os que não podem falar, que tipo de discurso é
autorizado ou que forma de discrição é exigida a uns e outros. Não existe um
só, mas muitos silêncios e são parte integrante das estratégias que apoiam e
atravessam os discursos (FOUCAULT, 2005, p. 30).
Nesse jogo de visibilidade e invisibilidade, a partir dos materiais citados
anteriormente, a Coligay passou a ocupar um novo lugar na primeira metade da década
de 2010. Com essa mudança, nos parece pertinente verificarmos de que forma os
sentidos sobre essa experiência torcedora são significados no presente por aqueles que
produziram as narrativas sobre a torcida, seus integrantes daquele período e os demais
torcedores/as do clube.
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No futebol, a intensificação da violência na década de 1990 e a crescente
elitização acompanham uma disputa pelo comportamento torcedor legítimo, possível e
desejável nos estádios. Mas, para além desse cenário amplo, é preciso considerar,
também, as especificidades do contexto do Grêmio e seus efeitos para a permissividade
do resgate e ressignificação das memórias da Coligay. A torcida é recorrente nas
discussões retóricas entre os rivais gremistas e colorados, tanto podendo a Coligay ser
acionada como um mérito, uma prova de diversidade do Grêmio, ou como uma
vergonha, um símbolo de uma carência de masculinidade (normativa) e virilidade do
clube tricolor.
Para tentar dialogar com essas diferentes perspectivas de leitura sobre a
memória da Coligay, este artigo está dividido em quatro partes. Após essa introdução,
apresentamos o modo como construímos nosso material empírico. A terceira parte do
trabalho pretende mostrar as múltiplas narrativas sobre a Coligay e as diferentes
maneiras como pessoas com diferentes relações com a torcida e com o Grêmio
torcedores/as, dirigentes, jogadores, jornalistas se apropriam da discussão
contemporânea sobre a memória da torcida. Finalizamos desenhando algumas pistas
que apontam que, ao mesmo tempo em que a Coligay pode ser lida como uma torcida
transgressora em relação às normas de gênero, ela também pode ser acionada para
reforçar elementos valorizados nessa cultura e até mesmo marcar formas adequadas ou
inadequadas de torcer.
O QUE E COMO FIZEMOS
Este trabalho é um diálogo entre duas pesquisas de doutorado que investigaram
representações do torcer contemporâneo, incluindo a memória da Coligay.
Semelhantes, mas distintas, as formas de produção do material empírico se
diferenciaram. Nos próximos parágrafos buscamos explicitar de que modo os dados de
nossas investigações foram construídos.
Os significados atribuídos pelos chamados torcedores comuns foram produzidos
através da realização de diálogos em dias de jogos no estádio, ao longo dos anos de 2015
e 2016, com grupos de homens que variavam entre dois e cinco torcedores nos quais
questionávamos seus entendimentos sobre alterações nas possibilidades do torcer,
especificamente dos torcedores do Grêmio que deixavam o antigo estádio gremista,
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Olímpico, e chegavam a nova Arena do Grêmio
4
. Estes diálogos não eram constituídos
por perguntas prévias, mas continham dois temas que pautavam essas interlocuções: a
mudança de estádio e a possível presença de manifestações racistas e homofóbicas nas
expressões verbais dos torcedores dentro das praças esportivas durante a realização das
partidas. Como estratégias de questionamentos, conversávamos sobre o trânsito entre
o estádio Olímpico e a Arena, além de perguntarmos sobre os entendimentos
relacionados ao “caso Aranha
5
” e o conhecimento que tinham relacionado a existência
da Coligay, inicialmente através da publicação do livro do jornalista gremista Léo
Gerchmann
6
e depois pela presença do mural no museu do clube.
Na ampla maioria das ocasiões, os diálogos com esses torcedores aconteceram
antes do início dos jogos. Ao interpelar os torcedores, nos apresentávamos como
pesquisadores e informávamos os temas que seriam abordados. Boa parte dos diálogos
ocorreram quando os torcedores estavam tomando cerveja. Além de nos inserirmos em
um diálogo entre os torcedores, o consumo de cerveja marcava um tempo em que os
torcedores precisariam ficar esperando antes de entrarem no estádio. Tendo em vista a
proibição da comercialização de bebida alcoólica nas praças esportivas do Rio Grande
do Sul, as cervejas precisariam ser consumidas antes do acesso às cadeiras ou às
arquibancadas. Esse tempo da cerveja era o tempo de não fazer nada, tal qual nos disse
um torcedor após agradecermos sua disponibilidade para uma das conversas.
Esses contatos rápidos, com falas curtas, algumas impressões e respostas um
tanto imediatas, apresentaram uma produtividade determinada. Esse diálogo, nesse
espaço específico, foi pensado para provocar que os indivíduos se pensassem dentro de
um sentimento de pertencimento ao coletivo de torcedores. Mais do que pensar nos
indivíduos como pré-existentes às interações dos estádios, esses encontros rápidos nos
4
Ainda em outubro de 2007, o Brasil foi confirmado como o país sede para a Copa do Mundo de futebol
masculino da FIFA, edição de 2014. Uma das necessidades que surgiram para o País, a partir dessa
confirmação, foi a adequação de suas praças esportivas ao chamado “padrão FIFA”. (BANDEIRA; BECK,
2014). Em 2014, o Brasil teve doze novas arenas esportivas para a disputa da Copa do Mundo. Mesmo
sem sediar jogos do torneio internacional, o Grêmio construiu um novo estádio com os mesmos conceitos
arquitetônicos e regulamentares. O Grêmio não apenas reformou seu estádio, mas, edificou um estádio
totalmente novo mudando geograficamente de local na cidade de Porto Alegre.
5
Episódio em que o, então, goleiro do Santos Futebol Clube, Aranha, foi chamado de macaco por
torcedores do Grêmio em partida pela Copa do Brasil de 2014. Em função das ofensas raciais, o Grêmio
acabou sendo eliminado da competição e ampliou os debates sobre o permitido e o proibido de ser
manifestado nos estádios de futebol. Ver BANDEIRA; SEFFNER, 2016.
6
GERCHMANN, Léo. Coligay: tricolor e de todas as cores. Porto Alegre: Libretos, 2014.
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permitiram acessar a forma como esses sujeitos torcedores e masculinos se entendiam
interpelados pelos currículos de masculinidades e do torcer nos estádios de futebol.
Mesmo que as falas fossem individuais, elas não podem ser descontextualizadas dessa
pertença: “A interpelação é que define o relato que se faz de si mesmo, e este se
completa quando é efetivamente extraído e expropriado do domínio daquilo que é meu.
É somente na despossessão que posso fazer e faço qualquer relato de mim mesma”
(BUTLER, 2015, p. 51-52).
A estratégia de realizar essas curtas conversas procurava observar quais as
narrativas seriam produzidas pelos sujeitos torcedores. Queríamos tentar visualizar
como os torcedores explicavam e davam inteligibilidade a suas práticas e,
especificamente, para os objetivos deste trabalho, como rememoravam a experiência
da Coligay ou como localizavam essa prática torcedora dentro da história do torcer para
o Grêmio. Essa fala em pequenos grupos nos dias dos jogos fazia com que a
manifestação dos indivíduos fosse atravessada não apenas por nossa interpelação, mas
também por certo constrangimento dos demais torcedores que participavam desses
diálogos.
Além desses registros feitos a partir dessas conversas com torcedores comuns,
utilizamos entrevistas produzidas no contexto de outra pesquisa, com pessoas
relacionadas ao Grêmio e, mais especificamente, à Coligay: antigos membros da Coligay,
torcedores que integraram outras torcidas organizadas, torcedores/as comuns, ex-
jogadores, dirigentes e funcionários do Grêmio e jornalistas. A partir desse conjunto de
categorias, e dentro de algumas delas, buscava-se obter uma diversidade de relações
com a Coligay, que poderia trazer memórias e visões diferentes, complementares (ou,
por vezes, opostas) sobre a trajetória da torcida e o que ela representava e representa
para o Grêmio e os/as gremistas.
As pessoas entrevistadas foram selecionadas de forma bastante diversa. No caso
de integrantes da Coligay, houve o esforço de encontrar e entrevistar o máximo
deles/as. Outras pessoas foram escolhidas nominalmente por lugares que ocuparam ou
ações que fizeram. Houve também algumas cujo perfil se inseria em certa categoria e
que participaram da pesquisa devido a uma indicação ou por se oferecerem a partir de
uma chamada pública, via redes sociais. Nessa lógica de composição do grupo, os/as
entrevistados/as não são vistos como representantes de sua categoria ou como mais
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capacitados/as do que outros/as para a pesquisa. Contribuem a partir de suas
experiências, trazendo suas subjetividades.
As entrevistas seguiram a perspectiva teórico-metodológica da História Oral,
que consiste na produção de fontes a partir da “realização de entrevistas gravadas com
indivíduos que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos e conjunturas do
passado e do presente” (ALBERTI, 2010, p.155).
Seguindo seus pressupostos, reconhecemos e valorizamos a subjetividade
inerente à construção de uma narrativa por parte do/a entrevistado/a. “Se formos
capazes, a subjetividade se revelará mais do que uma interferência; será a maior
riqueza, a maior contribuição cognitiva que chega a nós das memórias e das fontes
orais” (PORTELLI, 1996, p.63-64).
Por fim, cabe mencionar que, mantendo o que foi feito em cada uma das duas
pesquisas aqui em diálogo, nas entrevistas utilizamos os nomes próprios e apelidos das
pessoas, enquanto nos diálogos curtos são mencionados nomes fictícios, inspirados em
ex-jogadores gremistas.
QUANDO A COLIGAY APARECE COMO UMA TORCIDA DESEJÁVEL
Em 2014, o jornalista gremista Léo Gerchmann lançou, pela Editora Libretos, o
livro “Coligay: tricolor e de todas as cores”. Ainda no prefácio, assinado pelo jornalista
David Coimbra, se afirmava que a Coligay seguia sendo motivo para “gozação” dos
torcedores rivais do Grêmio, como algo de que os gremistas deveriam se envergonhar.
No entendimento do jornalista, a Coligay seria exatamente o contrário: um motivo de
orgulho por representar um episódio de coragem, respeito e tolerância à diversidade
dentro da história do clube. Essa definição pode ser entendida como um dos propósitos
do livro, que seria o deslocamento do significado que as memórias da Coligay
possuiriam. O passado é uma construção social marcada pela necessidade de sentido
e pelos quadros referenciais do presente, que empreende tal tarefa. O passado não
existe em si, é criação da cultura. As lembranças de um grupo e sua identidade são
determinadas mutuamente” (FRANCO JÚNIOR, 2014, p.377-378). Essa releitura do
passado é uma aposta que pode fazer sentido no entendimento da linguagem utilizado
na perspectiva pós-estruturalista. Jacques Derrida desenvolveu o conceito de différance,
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que funciona como diferença e diferimento, defendendo que o “significado é
continuamente diferido, e é nesse sentido que a linguagem é um sistema aberto de
signos, na medida em que o sentido nunca pode estar presente ou ser definitivamente
definido” (SALIH, 2012, p. 47). Por ser um sistema aberto, os sentidos sobre a Coligay
não poderão ser fixados, nem nas representações da “gozação” dos rivais e nem pela
positivação intencional do autor do livro ao longo de seu texto.
No livro, Léo Gerchmann citou as dificuldades dos primeiros tempos da Coligay
que incluíram piadas, xingamentos e até casos de apedrejamento, todas suplantadas
com rapidez. O fim da Coligay esteve associado ao ano de 1983 em função da mudança
de cidade do idealizador da torcida, Volmar Santos. Chamado de “alma da Coligay”, foi
apontado como o grande responsável por reunir aquele grupo de homossexuais para
torcer pelo Grêmio. Volmar lembrava que a ideia de criar a torcida estava associada à
pequena participação e pouco entusiasmada das torcidas oficiais de então, a Eurico Lara
e a Força Azul.
O autor acredita que a Coligay renovou a forma de torcer no estado, afirmando
que o incentivo constante antecipou o conceito da Geral do Grêmio de apoio
incondicional, comparação também defendida pelo jornalista Wianey Carlet que ainda
lembrou da alegria, da festa e do colorido da torcida. Aqui é necessário fazer uma
ressalva, uma vez que Gerchmann ignorou a construção das torcidas uniformizadas que
procuravam aumentar a participação dos torcedores na década de 1940 em São Paulo
e no Rio de Janeiro. Além disso, o autor não utilizou as influências das torcidas uruguaias
e argentinas na forma de torcer nos estádios da Geral do Grêmio, olvidando com isso,
também, o movimento de “barras” que ocupou outros estados brasileiros a partir da
metade da última década e que serviu, de certa forma, como contraponto às torcidas
organizadas que dominavam o cenário brasileiro quando dessa “importação”, no início
deste século. Rosana Teixeira (2013) aponta para a origem dessa importação justamente
na Geral do Grêmio. Olhando para as torcidas do Rio de Janeiro, ela afirma que:
A vocação da torcida é o apoio incondicional ao clube, que se expressa no
estádio através do incentivo agitando bandeiras e entoando cânticos,
permanecendo de pé, durante todo o jogo, independente do placar. Os
cânticos expressam de modo exemplar esta concepção assim como as faixas,
e as barras, enquanto que, para as organizadas, a provocação, a rivalidade
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entre torcidas e a incitação ao confronto são elementos recorrentes.
Aparentemente espontâneos, os cânticos estão submetidos a regras e
técnicas, sendo cuidadosamente criados e obrigatoriamente exigidos.
Expressão obrigatória desse novo modelo de torcedor, cantar o tempo
inteiro exige dedicação e disciplina (TEIXEIRA, 2013, p. 8).
Mesmo que não tenha influenciado a Geral, fato é que esse apoio constante,
animação e alegria são citados como aspectos distintivos e motivos de valorização por
muitas pessoas ao lembrar da Coligay:
[...] aquilo chamava muito a atenção, pela alegria, porque eles cantavam os
noventas minutos, o Grêmio ganhando ou perdendo (Rosa Foresti)
7
[...] na época não tinha muita coisa de vibração de torcida, todo mundo ia no
estádio para assistir ao jogo e pronto, e eles foram os caras começaram, que
passavam o tempo inteiro com uma puta de uma charanga, cantando e
dançando (Cleber Vieira).
Eles ficavam todo o tempo cantando e mexendo as bandeiras assim, que eu
me lembre é isso aí. Eles ficavam... Eles torciam bem mais, gritavam,
incentivavam bastante os jogadores (Ricardo Heine)
O vice-presidente de futebol na época, Nelson Olmedo, além de destacar a
originalidade da Coligay enquanto torcida organizada, afirma que a Coligay não
participava de eventos violentos, salientando que esses eventos eram incomuns nos
estádios daquele período. O autor do livro acrescentou que a banda sadia” da Geral
pode lembrar a Coligay ao contrário dos “atuais boçais” que, presentes em todas as
torcidas, enxergam nos rivais um inimigo a ser exterminado. Torcedores que conviveram
com a Coligay têm lembranças diferentes. Citam o envolvimento do grupo em
confrontos contra rivais como motivo de exaltação e prova de sua coragem.
A Coligay correu com a torcida do Internacional em pleno Beira-Rio.
Correram! Correram! Correram! Correram! (Carlos Wedman)
7
Todas as falas de colaboradores ditas aos pesquisadores estarão grafadas em itálico. Quando o autor da
manifestação for identificado com nome e sobrenome trata-se de nome próprio. Quando aparecer
somente o nome ele é fictício e busca a manutenção do anonimato, conforme explicitado em nossa sessão
metodológica.
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[...] no Beira Rio, quando dava confusão, a Coligay estava sempre na frente.
A briga quem encarava era a Coligay sempre. [...] não era como é hoje, era
uma coisa mais leve, mas claro participei [de brigas]. Teve um Gre-Nal,
no Beira-Rio, que a gente chegou e aí, bah, os colorados estavam na frente,
nos esperando e tal, quem tomou mesmo a linha de frente foi a Coligay.
(Luiz Heitor da Costa)
Isso não chega a ferir a imagem da Coligay de não violenta. Os episódios de
brigas são descritos sempre como uma reação a uma agressão alheia. Como explica
Eduardo Bueno: “não era eles que provocavam, eles só estavam preparados para isso”.
Gerchmann acredita que eles não se envolviam em episódios violentos porque “a índole
deles não era a da força bruta”. Existia ainda um receio de que a existência de um evento
violento pudesse servir como pretexto para afastar a Coligay dos estádios. Essa
associação positiva acerca da falta de manifestações de violência física na Coligay ao
mesmo tempo em que essencializa os sujeitos que participavam da torcida, ignora o
contexto histórico em que episódios como esses aconteciam em menor escala. A
violência das torcidas organizadas começou a aparecer como um problema significativo
na segunda metade da década de 1980, ganhando maior destaque durante a década de
1990.
A postura da torcida era elogiada não apenas por isso. Na obra de Gerchmann e
em entrevista para a pesquisa aqui utilizada, o ex-presidente gremista Hélio Dourado
afirmou que a Coligay pediu licença para assistir aos jogos e que o comportamento da
torcida sempre foi louvável, sendo a conduta de seus integrantes um dos motivos
centrais de sua aceitação. Em seu livro, Léo Gerchmann, afirmou que a Coligay era a
primeira torcida a chegar ao estádio e que a relação entre as diferentes preferências
sexuais na hora de torcer pelo mesmo time era muito civilizado, como tem de ser”.
Tanto os integrantes da Coligay quanto outros/as gremistas que frequentaram o
Olímpico naquele período, endossam uma relação de muito respeito por parte dos
primeiros com os segundos. A necessidade de cumprir certo limite nas transgressões de
suas performances e interações parece um imperativo para o sucesso da torcida. “Havia,
assim, uma certa forma adequada de dançar, pular, fresquear e bichar para que a
fronteira do desrespeito não fosse invadida” (ANJOS, 2018, p.221).
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Os cuidados se estendiam. A Coligay saía da boate Coliseu em direção ao estádio
Olímpico como em um desfile em que o trânsito era respeitado em “um movimento
festivo e ao mesmo tempo comportado”. A ingestão de álcool era moderada e seu líder
permanecia lúcido. Segundo Volmar, sua liderança teve pulso firme, mas não foram
necessárias advertências ou expulsões no grupo. Esses elogios, em alguma medida,
reforçam um conteúdo específico para o currículo do torcedor de estádio, que seria o
do “bom comportamento”.
Outro motivo de enaltecimento à Coligay é de que ela não era “mordedora”, ou
seja, não pedia dinheiro ao clube, como confirmado inclusive por Hélio Dourado. A
torcida era financeiramente independente, pois Volmar defendia que a torcida é que
deve ajudar (inclusive economicamente) o clube, e não o contrário. Outra contribuição,
além do incentivo na arquibancada, destacada no livro foi durante a campanha do
cimento para a construção do anel superior do estádio Olímpico, motivo de muito
orgulho para os membros da Coligay.
Os jogadores da época olhavam com alguma desconfiança para a nova torcida.
O goleiro uruguaio Walter Corbo achava aquilo um tanto estranho. O meio-campista
Iúra afirmava que não tinha cara para opinar sobre a Coligay. O atacante Tarciso
acreditava que o mundo estava mesmo virado e que nada causaria mais surpresa.
Destoando dos atletas, o treinador do Grêmio em 1977, Telê Santana, entendia que era
um direito da Coligay assistir aos jogos como qualquer outro e ainda elogiava o incentivo
que eles davam ao time. Ouvidos para a escrita do livro, em 2013, o posicionamento dos
jogadores contemporaneamente parecia um tanto diferente. O ex-zagueiro uruguaio
Ancheta lembrou que a Coligay era uma das torcidas mais fervorosas, com muito
barulho e incentivo aos jogadores. Ancheta recordou que existia um bom
relacionamento entre o grupo de jogadores e a Coligay. Ele completou afirmando que a
torcida deveria ser um motivo de orgulho para o clube. O ex-zagueiro Cassiá Carpes,
candidato a vice-governador do Rio Grande do Sul em 2014, lembrava a Coligay por seu
bonito visual colorido e pelo não envolvimento de seus integrantes em brigas. O ex-
deputado acreditava que a Coligay não sofreu preconceitos, no máximo, alguma
brincadeira. Quando passou a ser mais bem aceita pelo clube, a relação com os
jogadores também melhorou. O ex-centroavante Baltazar, o religioso “Artilheiro de
Deus”, disse que independentemente do sexo, a torcida do Grêmio possuía um
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envolvimento diferenciado em relação aos seus jogadores. O antigo repórter Joabel
Pereira argumentou que seria impossível não ser simpático à Coligay, que era uma
torcida de apoio incondicional, mas sem os ingredientes violentos das atuais torcidas.
Iúra, em 2013, lembrava com carinho da torcida, adjetivando-a como “espetacular”.
Segundo ele, os jogadores respeitavam a torcida, que os apoiava muito. O ex-zagueiro
Oberdan disse que a sexualidade deles não importava e, sim, a torcida pelo Grêmio. O
então vereador de Porto Alegre, Tarciso, também, lembrava a torcida com carinho. O
ex-jogador acreditava que diferentes torcidas deveriam se espelhar na Coligay pela
vibração. O capitão do primeiro título gremista da Libertadores da América, o ex-
zagueiro Hugo De León, foi conciso ao afirmar que na época existia a torcida, mas que
agora ela não existe mais.
Em 2016, foi ao ar, pela TVE/RS, o curta-metragem “Para o que der e vier”. O
diretor e roteirista Pedro Guindani reuniu uma série de personagens que contaram
histórias sobre a torcida, incluindo o jornalista Léo Gerchmann, o líder da Coligay Volmar
Santos, o ex-presidente do Grêmio, Hélio Dourado, o ex-jogador Tarciso, dentre outros.
O filme apresenta tópicos semelhantes aos do livro com um tom menos festivo, inclusive
de Volmar, que lembrou as dificuldades da torcida com maior ênfase. No site da
produtora Ausgang, na época, constava que o documentário estava sendo expandido,
estando em fase de pós-produção com expectativa de conclusão para junho de 2017.
Enquanto escrevíamos este artigo, na primeira metade de 2022 não encontramos
informações mais atualizadas.
No início de 2016, foi inaugurado, na Arena do Grêmio, o Memorial Hermínio
Bittencourt. Além de bolas, uniformes e troféus, o memorial também conta com painéis
em homenagem à torcida e aos torcedores. Um desses painéis é dedicado à Coligay. O
painel é intitulado “Diversidade da Alegria
8
” e apresentava o seguinte texto:
Na cinzenta década de 1970, o Brasil atravessava um dos períodos mais
obscuros de sua história, com repressão e censura suprimindo e sufocando
as liberdades democráticas. Era preciso ser muito corajoso para expor sua
preferência sexual, ainda mais dentro de um estádio de futebol. Mas a
torcida Coligay encarou a ditadura e tomou para si o desafio de reerguer o
8
Os trechos do painel foram visualizados pelos autores em visita ao Memorial Hermínio Bittencourt, na
Arena do Grêmio, em janeiro de 2016.
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moral do time, que andava para baixo. Vestindo figurino extravagante e
ousado de túnicas esvoaçantes, plumas e paetês tudo em azul, preto e
branco, é claro cerca de 60 rapazes gremistas provaram que o Grêmio é
mesmo um clube plural e inovador do país.
Volmar Santos, então gerente da célebre boate Coliseu, de Porto Alegre, foi
quem organizou a festa: “Eu queria a torcida incentivando mesmo quando o
time não ia bem... Quando parti pra recrutar, pensei em gente como eu!”.
Cantando, pulando e dançando o tempo todo ao som de sua potente
charanga, a Coligay embalava o time e os estádios por onde passava. O que
realmente os distinguia era a animação e o bom humor.
O clube acolheu a torcida e esta, além da alegria, trouxe sorte e foi
quente! Logo, todos os gremistas puderam comemorar o mais festejado
título gaúcho da história (1977) e seguiram comemorando, Brasileiro,
Libertadores, até a conquista do mundo, em 1983.
A torcida chegou ao fim, pois seu líder, Volmar, retornou naquele ano para
sua terra natal, Passo Fundo. Mas a Coligay havia ajudado a colorir os anos
de chumbo.
O painel termina com uma reprodução do jornal Zero Hora de 2 de outubro de
1977, cujo texto diz: “... nunca havia aparecido um grupo como aquele, que berrava o
tempo todo, incentivava a equipe em todas as partidas, viajava para o interior e tinha
confiança absoluta de que o time seria o campeão. no início do decagonal, ninguém
mais era contra a Coligay”.
Uma nova menção à Coligay proporcionada pelo Grêmio apareceu no Guia da
Partida
9
, de 25 de maio de 2017, referente à partida diante do Zamora Fútbol Club, pela
Libertadores da América. nas últimas páginas do guia, existe uma curta matéria sobre
a ação realizada uma semana antes, no dia mundial de combate a homofobia, quando
o clube enfrentou o Fluminense Foot-Ball Club pela Copa do Brasil. Todos os jogadores
entraram com a frase “diversidade nos fortalece” nas costas do uniforme. A pouca
repercussão da ação fez com que tivéssemos ciência do episódio uma semana depois,
através do Guia da Partida. Na matéria, é feito destaque para a presença de trechos dos
jornalistas gremistas Léo Gerchmann e Eduardo Bueno na transmissão da Grêmio Rádio
Umbro, destacando a história da Coligay.
9
Material de divulgação das partidas disputadas pelo Grêmio na Arena que conta com reportagens sobre
o cotidiano do clube, campanhas, estatísticas dentre outros conteúdos oferecidos aos torcedores que
comparecem à Arena.
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Por meio desta ação, o Grêmio demonstrou também seu orgulho de, na década
de 1970, ter contado com o apoio e a coragem de 60 torcedores que fundaram a Coligay
– a primeira torcida organizada gay do Brasil. Abraçando esse grupo à época, o Tricolor
mostrava ao mundo a pluralidade azul, preta e branca
10
.
Nas redes sociais, é possível acompanhar um crescimento de manifestações
criticando alguns comportamentos torcedores, especialmente associados ao machismo
e à homofobia. Nessas reclamações, a experiência da Coligay é lembrada como um
positivo exemplo de experiência transgressora nos estádios de futebol. Ao conversar
com os torcedores procuramos identificar como essa memória ou esquecimento sobre
a torcida homossexual do Grêmio era entendida e narrada por eles.
Existe um conjunto de torcedores que acredita que a presença da Coligay em
posição mais central na historiografia do Grêmio poderia ser positiva para o clube:
A Coligay ajudou a quebrar esse paradigma até de que a torcida do Grêmio
era uma torcida truculenta que não aceitava a diferença e ela aconteceu. E
não aconteceu em outros lugares, aconteceu aqui no Grêmio e eu tenho
orgulho disso (Rafael).
Vai demorar ainda porque eles veem uma coisa como uma piada, a Coligay,
e hoje a gente que cresceu o suficiente, pô, na verdade a gente tinha que ter
orgulho de ter essa liberdade de qualquer um conseguia entrar no Olímpico
naquela época (Rodrigo).
É uma história importante sim, acho que foram pessoas que, de repente,
lutaram por uma coisa num tempo que não tinha tanta divulgação como tem
hoje, tantos defensores como tem hoje, mas é super válido, acho
importantíssimo (Bruno).
É uma grande ideia do Grêmio, é muito ousada a curto prazo, é ousada, mas
no longo prazo eu acho que vai dar um grande resultado porque se tu vês a
educação das crianças agora é diferente. Talvez a longo prazo bom
resultado (Neuton).
Essa posição é compartilhada pelo jornalista Mário Marcos:
10
Disponível em: GRÊMIO realiza ação de conscientização no dia mundial contra a homofobia. Guia da
Partida. Porto Alegre, p. 29, 25 maio 2017, edição 184.
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[...] se eu sou historiador do Grêmio, se eu sou responsável pelo museu do
Grêmio, se eu sou dirigente do Grêmio, eu falo da Coligay com orgulho, não
tenho dúvida nenhuma disso, porque... Como eu disse a pouco, um time, um
clube que aceita uma torcida como a Coligay, que acolhe uma torcida como
a Coligay, que tem um período importante da sua história ligado a Coligay
porque ela participava ativamente das festas na arquibancada mostra
evolução, mostra mentalidade aberta, quarenta anos antes de se falar tanto
em diversidade. Então eu, se eu sou historiador do Grêmio, se eu sou
pesquisador, se eu sou dirigente do Grêmio, eu valorizo essa participação. Eu
valorizo como um capítulo nobre da minha história: “olha como nós éramos
evoluídos, olha como o clube era evoluído, nós tínhamos uma torcida que
tinha uma participação importante na arquibancada, acolhida pelo clube
naquela época”.
O também jornalista David Coimbra acrescenta que o marco que a Coligay
representa para o Grêmio poderia servir de incentivo para que novos/as torcedores/as
homossexuais se aproximassem do clube:
Ah eu acho que talvez o Grêmio até devesse aproveitar mais isso, sabe? O
Grêmio como instituição, essa primazia vamos dizer assim, de ter tido a
primeira torcida gay ou devia de alguma forma incentivar isso, mas é claro
que os clubes têm tantas outras preocupações, de repente fica fora da esfera
de preocupações do clube.
Assim como no livro de Léo Gerchmann, alguns torcedores buscaram positivar a
experiência da Coligay.
[...] em 2005, o Grêmio iria lançar uma revista e o Grêmio fez uma matéria
sobre a Coligay e eu achei super legal na verdade. Eu acho super importante
a politização das torcidas (Germán).
[...] eu era pequeno, mas eu lembro da Coligay e os caras eram muito
corajosos para fazer aquilo naquela época, eram muito corajosos, mas eu
lembro sim (Leonardo).
[...] tinha que ter mais coragem para aparecer com a bandeira da Coligay do
que com uma camisa do Inter na torcida do Grêmio (Anderson).
Sobre a possibilidade da adoção da Coligay como um símbolo positivo no
Grêmio:
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[...] hoje não existiria a possibilidade do surgimento de uma torcida gay no
Grêmio ou em qualquer outro clube, a própria rivalidade impediria.
Individualmente, eu sou favorável e gostaria que uma experiência como essa
acontecesse (Braian).
[...] a positivação da Coligay nunca vai acontecer e como eu tenho filho, eu
acho isso bom porque eu não gostaria que meu filho crescesse vendo esse
‘tipo de coisa’ porque eu sou daqueles que acreditam que homem é homem
e mulher é mulher, o que seria mais natural (Victor).
[...] quando eu falo com algum outro torcedor esse é um assunto que não
gostam como gremista. Se os caras pudessem apagar isso poderia passar
despercebido, não é um título que a gente gostaria de ter como o primeiro
clube a mostrar que não tem preconceito (Edilson).
[...] eu não tenho nada contra. Eu até acho que são torcedores, assim como
nós, que tem que participar, mas eu não sei se o clube usaria isso como
marketing do clube, enfim, como orgulho (Réver).
As memórias que associam o bom comportamento da Coligay no estádio
acabam marcando positivamente essa experiência torcedora.
[...] não havia muita baderna, eles ficavam em um lado isolado do estádio e
nunca fiquei sabendo da existência de alguma notícia sobre bagunça ou
agressão. Se houve registro, eu não sei (Marco Antônio).
[...] eles torciam e a vibração deles foi interessante, mas aquela coisa
machista aquilo foi morrendo, mas quando eles iam para o campo eles
faziam barulho (Alan).
[...] prefiro mil vezes a Coligay torcendo do que às vezes a própria Geral
que essa pauleira, essa ‘brigaiada’, essa coisa ridícula de macho alfa da
turma aí (Leonardo).
Um grupo que tem atuado de forma frequente para a rememoração e exaltação
da Coligay é o coletivo de torcedores Tribuna 77. O grupo frequenta regularmente as
Cadeiras Superiores Norte da Arena do Grêmio e tem constante atividade nas redes
sociais. Ela possui uma fanpage no Facebook, desde março de 2016 que se intitula um
fanzine digital que teria por função divulgar a “cultura de Grêmio”. A torcida possui
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algumas diretrizes, dentre as quais: “reiteramos nossa postura antifascista, ou seja,
somos contra qualquer tipo de discriminação, seja ela racial, étnica, classe social ou de
gênero sexual. Repudiamos a violência e suas manifestações
11
”.
Após o atentado terrorista e homofóbico na boate Pulse, em Orlando, nos
Estados Unidos, em 2016, os integrantes abriram uma bandeira do arco-íris, em
homenagem às vítimas do ataque. Em abril de 2017, o grupo levou um “trapo” em
homenagem aos quarenta anos da Coligay. Tais ações se destacaram entre algumas
outras do grupo relacionadas ao combate à homofobia, e defesa e valorização do
público LGBTQIA+ no futebol (ANJOS, 2021).
O texto no Facebook sobre a Coligay destacava atributos como a transgressão e
o vanguardismo, traços abraçados e valorizados pelos integrantes da Tribuna 77 em seus
posicionamentos e manifestações públicas. É divulgado, também, o link de uma
reportagem que trata da história da torcida gay gremista, possibilitando que os leitores
acessem mais informações sobre o extinto grupo. Além disso, aproveita-se o espaço
para destacar a posição do coletivo de respeito às diferenças e à diversidade, vinculando
essa atitude como uma característica do Grêmio, “um clube plural e inclusivo”.
Sobre a motivação para o gesto, Roger Canal, um dos fundadores da Tribuna 77,
relata que o grupo sempre nutriu uma admiração pela Coligay e que o marco das quatro
décadas do surgimento da torcida foi visto como uma oportunidade para alguma ação.
Cabe, inclusive, destacar que o 77, que consta no nome do coletivo, é uma referência à
1977, ano de surgimento da torcida gay gremista, uma das razões para a escolha do
número. Segundo Roger Canal:
[...] 1977 foi um ano chave dentro do Grêmio, que representa todos esses
ideais que nós levamos adiante. O Grêmio em 1977 era um clube progressista
valendo, né? Não na formação de futebol e na maneira de se pensar
dentro do Grêmio, mas nas arquibancadas, com aceitação da Coligay, com o
Grêmio começando a construir um estádio através da força da sua torcida,
tendo um presidente humanista, um cara progressista. Então esse ano, além
desse título, que quebrou a hegemonia do Inter e começou uma construção
vitoriosa pro Grêmio, de reerguer seu estádio e terminar lá no Campeonato
11
Disponível em:
https://www.facebook.com/tribuna77/photos/a.1716479455294767.1073741828.1702300320046014/
1729153400694039/?type=3&theater. Acesso em 10/05/2017, às 16h41.
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Mundial, ele foi fundamental. Acho que 1977 hoje soaria [como] um ano
atual.
Na fala do torcedor, o vínculo da Coligay com o ano de 1977 se pelo caráter
vanguardista de sua existência e de sua aceitação pelo Grêmio, que se somam a outros
feitos da agremiação, que fazem com o clube seja identificado pelo entrevistado,
naquele ano, como “progressista valendo”. Essa interpretação diferencia-se dos pontos
de vista de outros/as entrevistados/as de nossas pesquisas. Ainda que,
recorrentemente, haja a valorização de aspectos citados por Roger, como a presidência
de Hélio Dourado, a finalização do Estádio Olímpico, a quebra da hegemonia colorada e
a trajetória até o título mundial, eles são mencionados como símbolos de uma boa fase
do Grêmio, e não de seu caráter progressista. A natureza transgressora da Coligay, ainda
que eventualmente afirmada, não é interpretada como parte de um fenômeno mais
amplo. Para esses/as outros/as colaboradores/as, o vínculo da torcida com o ano de
1977 é, fundamentalmente, pela sua contribuição à conquista do campeonato gaúcho,
como “torcida pé-quente”, aspecto esse ignorado em toda a entrevista com o integrante
da Tribuna 77.
As diferentes interpretações da Coligay expressas pelas pessoas que
entrevistamos mostram como uma mesma trajetória pode ser retratada de modos
distintos, dadas as perspectivas particulares dos/as autores/as de cada narrativa. São
“histórias dentro da história”, acontecimentos lembrados e interpretados de forma
diferente entre nossos/nossas interlocutores/as, o que amplia as possibilidades de
interpretação do passado protagonizado por essa torcida (ALBERTI, 2010, p.155).
A recepção à rememoração da Coligay e a visibilidade da pauta de inclusão de
LGBT+ no universo futebolístico e, mais especificamente no Grêmio diverge bastante. A
reação ao trapo homenageando a Coligay exemplifica isso:
Porque nós chegamos, abrimos a faixa no lugar e as pessoas não acredi... Eu
lembro que foi meio incrédulo. Todo mundo ficou meio, tipo assim, ‘o que
que esses caras estão fazendo?’ Teve bastante gente que xingou. Rolou um
questionamento brutal [...] rolou bastante enfrentamento, rolou bastante
questionamento, mas rolou muito apoio, mas muito apoio. Foi muito... [...]
então, tipo assim, as reações foram as mais diversas, mas eu acho que elas
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foram bem mais positivas do que essas reacionárias, que houve bastante.
Houve ameaça, houve tudo que se pode imaginar (Roger Canal).
O gremista menciona que a Tribuna 77 tinha sido ameaçada anteriormente
em função de outra manifestação de cunho anti-homofóbico em 2016, quando a torcida
levou a bandeira do arco-íris em homenagem às vítimas do atentado na boate Pulse.
Além disso, -se pelos relatos de Roger Canal e das ações e postagens da
Tribuna 77 um esforço de dar visibilidade e valorização à Coligay, interpretando-a como
símbolo da “cultura de Grêmio”, da “história da diversidade dentro do clube”, e um
exemplo de que ele é um “clube plural e inclusivo”. Essa perspectiva, então, não apenas
positiva a Coligay, mas, ao tomar as características da torcida como virtudes essenciais
do Grêmio, positiva o próprio clube.
Exemplo de um contraponto comum, o gremista Carlinhos Caloghero reconhece
características positivas na TO ineditismo e coragem – e identifica sua existência como
uma “quebra de paradigma enorme”, mas situa esse feito como algo importante para o
movimento LGBT, e não para o futebol ou para o Grêmio. Esse entendimento é
reforçado quando perguntei ao entrevistado sobre o painel do Museu do Grêmio
dedicado à Coligay:
Pesquisadora Qual sua opinião sobre a Coligay ter um painel no museu do
clube, mas nenhuma outra torcida ter esse privilégio ou destaque?
C.C. Eu não tenho nenhuma opinião, sinceramente falando. A Coligay não
rivaliza com nenhuma outra torcida do Grêmio
Pesquisadora Por estar extinta ou por outro motivo?
C.C. Por estar extinta. E, também, porque está por questões que fogem
da arquibancada no sentido tradicional. Pra falar a verdade nem sabia do tal
painel [riso]. Fosse a Coligay um grupo que, ao invés de lutar pelos direitos
LGBT, fosse um grupo anti-ditadura estaria também, independente de
cantar na arquibancada, viajar pra todos os lados, pelas bandeiras, banda,
repertório.
No trecho, o torcedor volta a reiterar que a diversidade que a Coligay representa
é um aspecto louvável, mas que, em suas palavras, foge da arquibancada.
Aparentemente, ao futebol e ao Grêmio caberia valorizar as “coisas do futebol”: gritar
e cantar na arquibancada, acompanhar o time em viagens, produzir bandeiras etc. Nesse
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sentido, para ele, as exclusões presentes no futebol, ainda hoje, entre elas a de sujeitos
LGBT+ – não seriam uma questão do esporte ou da arquibancada.
O QUE ESSA MEMÓRIA DA COLIGAY PAUTA OS TORCEDORES CONTEMPORÂNEOS
A publicação de um livro sobre a Coligay, ainda em 2013, nos chamou a atenção
por diferentes motivos. Um deles foi nossa ignorância em relação à torcida. Um dos
autores é gremista e investigador de práticas torcedoras no Grêmio e pesquisador dos
estudos de gênero. Outro destaque foi o entendimento de que a publicação somente
poderia aparecer nesse momento em que as ações dos torcedores dos estádios de
futebol estavam sendo colocadas em questão. Nos pareceu, também, que a elitização
de público e certo deslocamento ético, estético e moral dos estádios é o que daria
condição de possibilidades para essa publicação.
Lendo o livro do jornalista gremista, Léo Gerchmann, percebemos uma
positivação muito grande da torcida. Sua forma de apoio constante, autofinanciamento
e o não envolvimento em brigas poderia ser mais uma forma de pedagogia do torcer,
mais uma normativa entre as tantas que apareceram no período pré-Copa do Mundo
no Brasil, que segue sendo levada a cabo. O resgate da torcida também nos causou
surpresa, especialmente pelo esforço histórico do clube e dos demais torcedores em
apagarem a existência da Coligay das memórias vinculadas ao Grêmio.
Alguns torcedores positivaram a presença da Coligay, tal qual o jornalista
gremista Léo Gerchmann. Para alguns, essa experiência era uma grande demonstração
de coragem. Coragem que é um elemento bastante valorado pelas masculinidades
normativas dos estádios de futebol. Um torcedor chegou a sugerir que era necessária
uma maior coragem para aparecer com as fantasias da Coligay do que com uma
camiseta do Internacional no meio da torcida do Grêmio. Para alguns, ainda, a Coligay
poderia melhorar a imagem do clube e da torcida, ao apresentar uma experiência de
pluralidade no estádio. O coletivo Tribuna 77 explicitamente coloca a Coligay como
central dentro do que eles entendem como “cultura de Grêmio”.
É interessante pensar em como essa experiência rememorada e ressignificada
pela distância de trinta anos aparece com grande positivação. “La memoria es un
elemento esencial como constructor identitario” (GARRIGA ZUCAL, 2005, p. 56). Os
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jogadores que anteriormente não tinham “cara” para falar da torcida, hoje lembram a
alegria que ela levava aos estádios. Ao mesmo tempo em que a Coligay foi exaltada por
ter feito uma enorme transgressão relacionada às normas de gênero e de sexualidade,
em alguma medida, ela também reforçou uma série de representações. Os bons
comportamentos, tão em voga nos discursos que envolveram o início da operação das
novas arenas, a festa e o financiamento próprio e mesmo o cumprimento de certo limite
nas transgressões de gênero trazidas em suas performances apareceram para
engrandecer a torcida e, de alguma forma, apresentar os conteúdos desejáveis para as
torcidas ainda em atuação.
Por fim, os diferentes sentimentos e opiniões quanto à existência pregressa da
Coligay, assim como a sua rememoração ampliada pelo livro de Léo Gerchamann, ao
reconhecimento institucional no espaço do Museu do Grêmio e a gestos de homenagem
como o da Tribuna 77 demonstram que não há consenso sobre a Coligay por gremistas,
sejam eles “comuns”, “organizados” ou jornalistas. E nessa disputa por representações
em que tantos diferentes agentes torcedores/as, imprensa, autores de livros,
documentaristas, dirigentes de federações, dirigentes do Grêmio, jogadores e ex-
jogadores etc participam, o posicionamento do Grêmio tem especial força simbólica.
É possível entender que esse retorno da torcida para a memória oficial do clube com as
ações institucionais relacionadas à sua rememoração e (res)significação são parte de um
esforço de atualização da tradição do clube e da própria torcida (ANJOS, 2018).
Atualização realizada respondendo muito mais às demandas contemporâneas do que
ao que se esperava tanto do clube quanto da Coligay enquanto ela frequentava o
cimento do estádio Olímpico.
REFERÊNCIAS
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Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010. p. 155-202.
ANJOS, Luiza Aguiar dos. De “são bichas mas são nossas” à diversidade da
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Movimento Humano) Faculdade de Educação Física, Fisioterapia e Dança,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
ANJOS, Luiza Aguiar dos. Tribuna 77 e a defesa de LGBTQI+ nos estádios. Revista
Estudos Feministas, Florianópolis, v.29, n.2, p.1-14, 2021.
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PPGDS/Unimontes-MG
BANDEIRA, Gustavo Andrada. Uma história do torcer no presente: elitização,
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