https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v28n2p183-203
Vol. 28, n. 2, jul/dez, 2022
ISSN: 2179-6807 (online)
Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 2, jul/dez, 2022
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QUANTO CUSTA SER FELIZ? SOBRE MECANISMOS E PROGRAMAS
IMPERATIVOS DE CONSUMO DO SER NA SOCIEDADE NEOLIBERAL
Carla Caetano1
Leonardo Brandão2
Recebido em: 07/09/2022
Aprovado em: 19/12/2022
Resumo: Neste artigo resenhamos e analisamos o livro “Felicidade Autêntica Use a Psicologia
Positiva para alcançar todo seu potencial” de Martin E. P. Seligman. A intenção da análise é
problematizar o discurso hegemônico da psicologia positiva que se funda como dominante na
atualidade. Como método usamos a análise de discurso de Michael Foucault, na busca de
averiguar o que emerge como dominante no que tange a problemática em questão. Percebemos
que o discurso sobre felicidade é construído de modo pontual, pragmático e com caráter
indutivo. Sempre se parte de um lugar do sujeito individual, de experiências individuais para
construir um padrão de ser, que visa individualizar condutas em função dos resultados
demonstrados pelo autor e por sua teoria psicológica. A partir de nossa análise entendemos que
a psicologia fundada em prol desse discurso de positividade funciona dentro de uma ética
utilitarista, e por vezes atua como uma reprodutora de padrões hegemônicos da sociedade
neoliberal.
Palavras-chave: Discurso; Felicidade; Psicologia Positiva; Neoliberalismo; Subjetividade.
HOW MUCH DOES IT COST TO BE HAPPY? ON IMPERATIVE MECHANISMS AND PROGRAMS OF
CONSUMPTION OF BEING IN NEOLIBERAL SOCIETY
Abstract: In this article we review and analyze the book “Authentic Happiness Use Positive
Psychology to Reach Your Full Potential” by Martin E. P. Seligman. The intention of the analysis
is to problematize the hegemonic discourse of positive psychology that is currently dominant.
As a method, we use Michael Foucault's discourse analysis, in the search to find out what
emerges as dominant in relation to the problem in question. We realize that the discourse on
happiness is constructed in a punctual, pragmatic and inductive manner. It always starts from a
place of the individual subject, from individual experiences, to build a pattern of being, which
aims to individualize behaviors according to the results demonstrated by the author and his
psychological theory. From our analysis, we understand that the psychology founded in favor of
this discourse of positivity works within a utilitarian ethics, and sometimes acts as a reproducer
of hegemonic patterns of neoliberal society.
Keywords: Speech; Happiness; Positive Psychology; Neoliberalism; Subjectivity.
¿CUÁNTO CUESTA SER FELIZ? SOBRE LOS MECANISMOS Y PROGRAMAS DE CONSUMO
IMPERATIVOS DEL SER EN LA SOCIEDAD NEOLIBERAL
1 FURB Universidade Regional de Blumenau. ORCID:0000-0001-8013-0937. E-mail: clccaetano@furb.br
2FURB Universidade Regional de Blumenau. ORCID:0000-0001-8306-1092. E-mail: leobrandão@furb.br
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Resumen: En este artículo revisamos y analizamos el libro “Felicidad Auténtica Use la
Psicología Positiva para Alcanzar su Máximo Potencial” de Martin E. P. Seligman. La intención
del análisis es problematizar el discurso hegemónico de la psicología positiva actualmente
dominante. Como método, utilizamos el análisis del discurso de Michael Foucault, en la
búsqueda de descubrir qué emerge como dominante en relación con el problema en cuestión.
Nos damos cuenta de que el discurso sobre la felicidad se construye de manera puntual,
pragmática e inductiva. Siempre se parte de un lugar del sujeto individual, de las experiencias
individuales, para construir un patrón de ser, que pretende individualizar conductas de acuerdo
a los resultados demostrados por el autor y su teoría psicológica. De nuestro análisis,
entendemos que la psicología fundada a favor de este discurso de positividad funciona dentro
de una ética utilitarista, y en ocasiones actúa como reproductora de patrones hegemónicos de
la sociedad neoliberal.
Palabras llave: Discurso; Felicidad; Psicologia POSITIVA; neoliberalismo; Subjetividad.
INTRODUÇÃO
De que modo um ideal hegemônico de felicidade nos capturou na sociedade
neoliberal em que vivemos? Como esse discurso foi e vem sendo construído? São essas
as duas questões que nos norteiam neste artigo, o qual construiu sua problemática a
partir da análise documental com a seguinte bibliografia: “Felicidade Autêntica Use a
Psicologia Positiva para alcançar todo seu potencial” de Martin E. P. Seligman. O autor
é bacharel em filosofia pela universidade de Princeton e Ph. D em psicologia na
Universidade da Pensilvânia. Diretor do Centro de Psicologia Positiva da Universidade
da Pensilvânia, nos EUA. Já foi presidente da Associação Americana de Psicologia (APA)
e é considerado o pai da Psicologia Positiva. Seus estudos são voltados para o
desenvolvimento de emoções positivas, focada no otimismo da felicidade e do bem-
estar.
Nosso objetivo é analisar os discursos apresentados por esse autor nessa obra
supracitada e evidenciar os dispositivos ligados à governança da vida que colocam a
felicidade como um imperativo de ser. Trabalhamos como um arquivista, na busca de
escavar os discursos que se apresentam no cenário atual. Para o desenvolvimento e
análise desse artigo será utilizado como método, análise de discurso, seguindo as
proposições de Michael Foucault (1997); (2014) em arqueologia do saber e a ordem do
discurso.
Nessa perspectiva metodológica nossa busca é, demonstrar alguns mecanismos
que fazem da felicidade um objeto de desejo e também uma obrigação ao sujeito da
atualidade. Trabalhamos na investigação desse campo, o ser feliz, e averiguamos como
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ele se apresenta em nosso tempo, buscamos evidenciar outros meios possíveis, as linhas
de fuga. Demostrar outras possiblidades que escapem da massificação, do igual e
permitem a construção de um modo de vida que se constitua na diferença. Percebemos
com Binkley (2010) que a felicidade se tornou alvo de um programa da
governamentalidade neoliberal e assim se direciona a certa população, passível de
investimento. O imperativo da felicidade é o ponto de partida desta escrita, assim como
a investigação dos meios que levam ao ser feliz serão problematizados, com intuído de
averiguar os discursos que permeiam este cenário. Questionamos meios, sentimentos
ou razões de ser que tornaram a felicidade um fetiche de mercadoria, ou seja, um bem
que deve ser obtido como mais um objeto de acúmulo.
Partimos do pressuposto que o desejo da felicidade se tornou mais um objeto de
consumo diante de um repertório de produtos que se deve adquirir. Birman (2010)
evidencia o mandato da felicidade no contemporâneo como um projeto voltado para
uma determinada parcela da população: as elites e a classe média, os novos
consumidores do ser feliz. Diante disso, o artigo se desdobra para averiguar alguns dos
discursos positivos que se apresentam no presente - por meio da psicologia e de outros
dispositivos de governo da vida e das coisas. Discursos esses que funcionam em prol de
uma razão de mercado, transformam a felicidade em mais um bem de consumo a ser
colocado na estante. Nessa lógica a felicidade torna-se algo a ser adquirido como bem
de consumo e as estratégias para o ser feliz acontecem por meio de dispositivos de
governo da vida. Desse modo se constroem saberes e métodos que exaltam o mais
fazer, coloca-se estrategicamente a felicidade como exercício comum a todos,
conquistada por meio da produção de positividades.
A FELICIDADE COMO UM PROGRAMA NEOLIBERAL
O discurso aqui anda para a construção do mais fazer e para modos de vida que
trabalham a positividade e o desenvolvimento de potenciais, em função de um modo
de governamento da vida, o qual caminha para o mais fazer. Birman (2010) afirma a
felicidade tratada de modo imperativo passou a ser uma obrigação moral imposta a
todos e pode levar a tristeza, tornar-se um diagnóstico de depressão, ou outras
patologias. Então perguntamos: A busca desenfreada por felicidade, pode levar a
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tristeza? É possível construir uma leitura diferencial sobre felicidade? Han (2015) afirma
que o tempo presente é caracterizado pelo excesso de positividade, por uma violência
neural que produz uma sociedade, a qual tem o positivo como forma única e dentro
desta lógica se coloca em uma busca desenfreada para alcançar este bem supremo.
Segundo dados da organização Pan-Americana de Saúde3, no ano de 2020,
quatro em cada dez brasileiros tiveram problemas de ansiedade, os sintomas de
depressão aumentaram cinco vezes no Peru; e a proporção de canadenses que
relataram altos níveis de ansiedade foi quatro vezes maior em relação a pesquisas
anteriores. Em 2021, segundo notícias do Estadão4, a Síndrome de Burnout foi
considerada a doença ocupacional com maior prevalência e o Brasil, ocupa o segundo
lugar mundial nesse ranking. Esses diagnósticos e prevalências, podem estar fundados
nessa massificação do positivo, com uma negação de outros fatores emocionais e
excesso de trabalho e autoexigência. À medida que construímos imperativos e partimos
do discurso que “tudo é possível, “basta você querer”, criamos sujeitos frustrados,
acelerados e cansados que se culpam por não alcançar a felicidade, ou se auto exploram
em nome da realização.
A construção de outros olhares sobre o ser feliz, é a busca deum outro caminho
e busca colocar elementos que, não sejam os mesmos. Modos de vida que permitam a
introdução do negativo, para a construção de atitude crítica, frente a massificação.
Seligman (2019) constrói seu discurso sobre felicidade de modo pragmático, separando
e elencando emoções para alcançá-la, como se fosse um artigo de apropriação. O seu
método caminha sempre no sentido de que é necessário reconhecer as emoções, usá-
las sempre para extrair todo o potencial do sujeito, um autoconhecimento mecânico e
sempre direcional. Não estamos negando que a busca de sentimentos de bem-estar e
felicidade sejam um desejo de todo o ser humano, questionamos a massificação do
positivo e de uma dogmática em nome do ser feliz. Buscamos ainda, problematizar e
evidenciar um discurso que se constrói com a ideia de extração da positividade, de uma
razão de explorar todo o potencial do sujeito e constrói uma capitalização de felicidade.
O que para Han (2020) é o êxito da razão neoliberal se incorporando na vida psíquica
3 Organização Pan American de Saúde: https://www.paho.org/pt/noticias/8-10-2021-relatorio-da-oms-
destaca-deficit-global-investimentos-em-saude-mental. Acesso em 25/02/2022
4 https://patrocinados.estadao.com.br/medialab/releaseonline/releasegeral-releasegeral/segundo-
pesquisa-brasil-ocupa-2o-lugar-no-ranking-de-trabalhadores-com-burnout/ acesso em 28/02/2022
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dos sujeitos, ou seja, há uma auto exploração em nome da liberdade e da felicidade. Os
sujeitos se pensam livres, mas são capturados por discursos que lhes colocam em função
de auto exploração, da extração de seu potencial e da positividade excessiva, pensam
estar seguindo seus caminhos, mas estão seguindo guias externos de uma caminhada,
que deveria ser própria. Discursos esses que podem levar ao adoecimento, visto que são
colocados como necessidade e por uma exterioridade constituídos como regra pelos
escritores que ensinam programas de positividades e metas para a felicidade.
“FELICIDADE AUTÊNTICA: USE A PSICOLOGIA PARA ALCANÇAR TODO O SEU
POTENCIAL”
Figura 1: capa do livro de Martin E. P. Seligman
Traremos aqui a descrição resumida do livro acima, como podemos ver trata-se
de um Best-Seller e tem em seu título a afirmação “Use a psicologia positiva para
alcançar todo seu potencial”. Nesse primeiro momento resenhamos a ideia do autor,
para demonstrar os pontos centrais do seu pensamento, assim como seu método para
desenvolver: A Felicidade Autêntica. Seligman (2019) demostra uma série de
ensinamentos para alcançar a felicidade e retirar todo o potencial individual para
alcançar tal bem. Para isso, afirma que seus caminhos e métodos levaram a felicidade
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autêntica, utiliza ainda uma série de testes métricos para definir estados mentais
perfeitos para desenvolver e alcançar o potencial máximo de cada indivíduo.
Resenhamos o livro tal como apresentado pelo autor em três partes: Emoção
Positiva; Força e Virtude e Nas Moradas da Vida. Dentro dessa subdivisão trabalhamos
os capítulos, conforme a estrutura sumária, para que seja possível apontar suas
principais ideias.
PARTE I: EMOÇÃO POSITIVA
Seligman trata das emoções como agentes importantes para construção da
felicidade autêntica, ele afirma: é possível uma boa gestão das emoções, para o
desenvolvimento da vida feliz. Nessa perspectiva segue sua visão sobre a psicologia
positiva, com a afirmação de que a ciência psicológica, até então atua com o intuito de
trabalhar as psicopatologias e não as potencialidades individuais. os seus métodos
trabalham para desenvolver as emoções positivas potenciais e positividades, para ele, a
felicidade é a extração de todo o potencial humano, pode ser atingida por métodos e
técnicas. Na sua visão, a psicologia positiva é uma nova forma de desenvolvimento da
própria ciência psicológica, a qual, ao longo da história ficou presa ao campo das
patologias, tratam as coisas a posteriori, a psicologia positiva pode evitar o negativo
e trabalhar somente a positividade, a potencialidade. A teoria, a nova abordagem da
psicologia, desenvolvida por ele mesmo é uma revolução, um novo paradigma que pode
revolucionar a própria ciência. O pai da psicologia positiva, como é considerado cria
métodos e escalas para alcançar e medir quantitativamente a felicidade de cada
indivíduo.
É possível se tornar permanentemente mais feliz? Capítulo quarto, parte um
Seligman traz a fórmula da felicidade, como podemos ver a seguir:
Embora boa parte das pesquisas apresentadas neste livro estejam baseadas
em estatísticas, acredito que um livro de psicologia para leigos não deve
trazer mais de uma equação. Então, aqui está a única equação que lhe posso
considerar:
F=L+C+V
em que F (felicidade) é seu nível constante de felicidade, L (limites
estabelecidos), C (circunstâncias) são circunstâncias da vida e V (voluntário)
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representa os fatores que obedecem ao controle voluntário. (SELIGMAN,
2019 p.60).
Na sequência afirma: devemos distinguir a felicidade momentânea de níveis
constantes de felicidade, continua desdobrando, elencando parâmetros métricos para
alcançá-la. Segundo ele, a felicidade momentânea pode ser aumentada por uma série
de artifícios, como chocolate, bons filmes, flores, roupas, ou seja, bens de consumo.
Afirma que o desafio é elevar o nível constante de felicidade e promete que isso é
possível através da resolução uma fórmula, para isso, segundo ele, é primeiramente
necessária medir o nível geral de felicidade, a partir da escala de felicidade geral de Sonja
Lyubomirsky, professora assistente da Universidade da Califórnia.
Escala geral da felicidade
Para cada uma das seguintes afirmações e/ou perguntas, circule o número
de pontos de cada escala que considerar mais apropriado.
1. Em geral me considero:
1 2 3 4 5 6 7
Uma pessoa Uma pessoa
não muito feliz muito feliz
2. Comparado a maioria dos meus amigos, eu me considero:
1 2 3 4 5 6 7
Menos feliz Mais feliz
3. Algumas pessoas são geralmente muito felizes. Elas aproveitam a vida,
aconteça o que acontecer, procurando tirar o máximo de cada situação.
Em que grau essa descrição se aplica a você?
1 2 3 4 5 6 7
De modo algum Muito
4. Algumas pessoas geralmente não são muito felizes. Embora não estejam
muito deprimidas, nunca parecem tão felizes quanto poderiam ser. Em que
grau essa descrição se aplica a você?
1 2 3 4 5 6 7
Muito De modo algum
Fonte: Felicidade Autêntica (SELIGMAN, 2019 p.61)
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A respeito da escala é necessário que os resultados sejam somados e divididos
por quatro. Assim é possível identificar seu nível geral de felicidade. E como desenrolar
essa fórmula da tão desejada felicidade? Uma vez que felicidade é igual a limites
estabelecidos + circunstâncias + voluntariado, basta saber aplicá-la, para obter uma vida
feliz é somente necessário resolver esse cálculo lógico,
Sobre o primeiro elemento da fórmula L (limites estabelecidos): barreiras que
impedem uma felicidade maior, apresenta uma análise comparativa sobre o resultado
da escala e afirma que a predisposição a felicidade é algo hereditário. Afirma ainda que,
a afetividade positiva é um fator dentro do L, da fórmula para alcançar a felicidade e que
pessoas mais sociáveis, são mais felizes. Segue sobre o termostato da felicidade,
avaliando o grau de felicidade de pessoas que ganharam na loteria, considerando esse
um evento feliz. Também analisa eventos tristes, como um acidente, com isso constrói
um parâmetro para o grau de felicidade e a relação com emoções positivas, ou
negativas. Por afim, afirma que esses eventos e análise dessas informações permite
avaliar os limites estabelecidos para cada tipo de emoção e faz a comparação
novamente sobre o grau de felicidade herdado, uma genética da felicidade. Ainda
dentro do L de sua fórmula afirma sobre a rotina hedonista e afirma esse ser um
obstáculo para o aumento do nível de felicidade (lembrando aqui, sempre deve-se
desenvolver todo o potencial). Segundo o autor, acúmulo de bens materiais e
realizações levam ao aumento das expectativas e os feitos conquistados arduamente
não trazem felicidade, deve-se buscar outros prazeres e os limites estabelecidos buscam
um patamar maior. A felicidade aqui é atrelada ao bem material. Mesmo que afirme em
seu livro, coisas boas e realizações importantes aumentam a felicidade
temporariamente, busca um medidor e um parâmetro para alcançar mais um bem, que
nesse caso é a felicidade, tudo aqui é quantificável. Para Seligman as variáveis L
(timoneiro genético, rotina hedonista e limites estabelecidos) conduzem a um
diminutivo da felicidade, mas outras duas forças poderosas podem ser ativadas para
elevar o grau de felicidade que são o C e o V da fórmula da felicidade.
Seguimos então, para o C (circunstâncias) que é apresentada como um fator que
pode aumentar os níveis de felicidade, porém, afirma que mudar tais fatores externos
podem ser muito caros. Para o psicólogo norte americano existem fatores que se
relacionam diretamente com a vida feliz e são: dinheiro, casamento, vida social, emoção
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negativa, idade, saúde e religião, as circunstâncias ligadas ao desenvolvimento da
felicidade. Sobre dinheiro relaciona poder de compra a felicidade, também afirma sobre
ter a garantia das necessidades básicas para uma vida feliz e claro compara o nível de
felicidade de outros países ao EUA.
No que se refere a casamento diz pessoas casadas são mais felizes, em um dos
fatores dentro da categoria casamento afirma que está diretamente relaciona ao fator
envelhecimento e também à parte financeira, mas também afirma que pessoas que
vivem casamentos infelizes, são mais tristes que as divorciadas e ainda continua a
relacionar outras variáveis na sua equação para a felicidade dentro ou fora do
casamento. Sobre vida social relata que fez uma pesquisa com indivíduos muito felizes
e afirma que sua grande maioria estavam em relacionamentos estáveis, as pessoas
muito felizes têm uma vida social rica e plena, elas têm muito convívio social e tem a
avalição mais positiva possível em relação a qualidade dos relacionamentos. Sobre
emoção negativa traz uma série de estudos comparativos e diz que ainda não uma
conclusão sobre essa variável, mas afirma que não há uma total oposição entre emoção
positiva e emoção negativa e que o esclarecimento desse enigma é um grande desafio
para a psicologia positiva. A respeito da idade afirma que a juventude já foi símbolo de
felicidade e que atualmente essa crença desapareceu, assim como a imagem de velhos
razinzas não é mais uma verdade, por fim afirma um estudo contundente onde afirma
entre as suas especificações para a definição do ser feliz que a satisfação com a vida,
componente da felicidade, aumenta com a idade. A boa saúde é para ele o aspecto mais
importante da vida, mas segundo comprovações cientificas ter boa saúde não está
relacionado a felicidade. Enfim, o último fator por ele apresentado no se refere as
circunstâncias é a religião, e afirma que os indivíduos ligados a religiões são mais felizes
e satisfeitos que os não religiosos.
Finaliza o capítulo ditando regras para o aumento constante do nível da
felicidade por meio de circunstâncias externas da vida, então para alcançar esse bem
deve-se. Viver em uma democracia rica; casar-se, evitar eventos e emoções negativas;
estabelecer uma extensa rede social e ter uma religião.
Segue a desenvolver a equação para a felicidade autêntica e coloca as variáveis
voluntárias (V) de sua fórmula, na busca de demostrar uma mudança sustentável para
atingir a felicidade. Deve-se então desenvolver emoções positivas que são as variáveis
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voluntária, satisfação com o passado, otimismo em relação ao futuro e felicidade no
presente. Sobre as emoções positivas afirma que a mais importante estar em flow, que
é a experiência de fluir, a caminho da felicidade e que embora as emoções não sejam
sempre ligadas a busca é conquistar a satisfação, entre passado, presente e futuro. Mas
se aprender sobre esses três tipos de felicidade a pessoa pode direcionar as suas
emoções de maneira mais positiva e ser efetiva em sua plenitude da ser feliz.
Dentro da variável circunstância (C) e da categoria satisfação com o passado, ele
nos traz evidências sobre a constituição das emoções na ciência cognitiva e desdém
algumas construções da psicanálise e aqui não negamos o avanço de uma ciência
psicológica, mas enfatizamos sobre uma psicologia que atua em função de uma
normativa, e se constitui como uma pragmática. Apresenta aqui uma matemática, entre
cognição emoção e uma luta para provar como a cognição pode dominar a emoção,
busca provar que ser positivo é, um grande motivador para a felicidade. Gratidão para
com a vida, também é importante, outro fator é perdoar e esquecer, para isso, se deve
buscar as lembranças positivas, é claro. A positividade sempre produz uma maior
extração do potencial humano, então, sempre devemos buscar desenvolver-se para
retirar o máximo de nós mesmos, desenvolver o potencial inclusive do perdão, pois
assim nos reconciliamos com o passado. Outro fator de (V) que está contido dentro de
perdão e esquecimento é, motivação para a transgressão, que podem levar a motivação
para o afastamento, ou motivação para a vingança. Esse teste determina se você tem
pré-disposição a vingança ou afastamento e após o resultado trás exercícios práticos
para resolver esse problema e desenvolver o exercício de perdoar. Finaliza o capítulo
reiterando sobre a importância das emoções positivas e enfatiza três maneiras para ter
satisfação permanente com o passado que são, abandonar a ideia de que o passado
determina o futuro, a gratidão pelas coisas boas do passado e o perdão para com as
coisas negativas vividas.
Para o caminho da felicidade, afirma outro fator importante, otimismo em
relação ao futuro, aqui as emoções positivas são fé, confiança, esperança e otimismo.
Segundo ele são fáceis de detectar e explicar, pois há milhares de estudo e testes sobre
o tema, afirma que otimismo e esperança aumentam a resistência à depressão diante
de situações ruins e aumentam o desempenho profissional, finaliza com mais um teste,
agora de otimismo e ainda indica a possibilidade de realização de outros testes na
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internet. Esses comparativos, onde você pode se comparar com os outros sobre o nível
de otimismo de acordo com idade, gênero, linha de trabalho, ou seja, com um padrão.
E sim, quando mais otimista você for mais coisas boas vão acontecer, se não for otimista,
Seligman te ensina técnicas para desenvolver habilidades de otimismo com relação ao
futuro e claro, alcançar todo o seu potencial.
Por fim, com isso, você alcançara a felicidade no presente que são estados muito
diferentes da satisfação o passado e o otimismo com o futuro e compreende dois
aspectos distintos que são prazeres e gratificações, como componentes sensoriais e
fortemente emocionais. “A gratificação dura mais que o prazer, envolve raciocínio e
interpretação, não cria hábito facilmente e está apoiada em nossas forças e virtudes”
(SELIGMAN,2019 p.121). Para definir prazeres, ele os divide em prazeres físicos e
prazeres superiores e os classifica de modo pragmático e propõe que se aumente a
intensificação e uso dos prazeres. Traz estudos científicos sobre emoções positivas e a
formação de conceitos que podem atuar para o aumento da felicidade momentânea
que são: Habituação, apreciação e mindfulness. “Libertar o poder desses conceitos
psicológicos pode oferecer lições sobre como intensificar o sentimento positivo ao longo
da vida” (SELIGMAN,2019 p.124). Segue então, com dados e modos para desenvolver,
intensificar e satisfazer as necessidades e preenchimento de tais emoções, por fim,
finaliza a primeira parte afirmando que construí e adquiriu dados suficientes sobre
gratificações e se propõe como alcançá-las para a conquista da felicidade autêntica.
PARTE II: FORÇA E VIRTUDE
Renovando força e virtude é, capítulo que inicia a segunda parte do livro,
Seligman se refere a Abraham Lincoln em seu primeiro discurso como presidente do
EUA, as palavras de Lincoln, segundo o psicólogo, demonstram diversas suposições
básicas e valiosas de uma das mentes mais instruídas da América do Norte do século
XIX, segue as considerações:
- Existe uma natureza humana.
- A ação é resultado do caráter do indivíduo.
-O caráter vem em duas formas, ambas igualmente fundamentais mau
caráter e caráter bom ou virtuoso (“angelical”) (SELIGMAN, 2019 p.145).
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De acordo com Seligman ideais como esses caíram das suposições do discurso da
psicologia do século XX, já a psicologia positiva realça a ascensão, busca a renovação da
própria ciência, enfatiza o desenvolvimento do bom caráter e das forças virtuosas do
indivíduo. O bom caráter como doutrina foi base de várias instituições do sec. XIX, a
insanidade era vista como um feito moral e os tratamentos para as condutas não morais
versavam em transformar o mau caráter em virtude. Movimentos que foram perdidos
ao longo de tempo para Seligman com ascensão de acontecimentos e desenvolvimento
de movimentos histórico e sociais. Coloca que no ano seguindo a pose de Lincoln, em
1886 o EUA sofrerem um grande trauma “a agitação da classe operária”, uma
calamidade, guerra cível incitada principalmente por trabalhadores imigrante, maus
comportamentos do indivíduo contra a nação.
Mas o que aconteceu ao bom caráter e à ideia de que a nossa natureza tinha
“anjos melhores”? ...O que a nação pensava dos grevistas e manifestantes
que atiravam bombas? Como aquelas pessoas podiam cometer atos tão
bárbaros? As explicações “óbvias” para o mau comportamento estavam
ligadas ao caráter: deficiência moral, maldade, depravação, falsidade,
estupidez, cobiça, crueldade, impulsividade, falta de consciência um desfile
dos piores anjos da natureza humana. O mau caráter era responsável pelas
más ações, e todos tinham que responder por suas más ações. Mas uma
grande mudança estava a caminho e, com ela, uma transformação
equivalente na política e na ciência da condição humana (SELIGMAN, 2019
p.146).
Após essa afirmação enfatiza que, o fato desses homens violentos serem
oriundos de classe média e classes operarias, não passou despercebido. Em seu discurso
uma pequena ênfase a fato de suas condições de trabalho serem precárias, coloca
que suas más ações de enfretamento as condições precárias de trabalho não são frutos
do mau-caratismo, mas sim das condições ambientais. O que nos parece apenas um
movimento de luta, diante a precariedade das condições de vida e do trabalho
explorado dos maus comportados. Movimentos e estudos que para o psicólogo positivo
acarretaram o nascimento das ciências sociais, ou seja, o estudo dos maus
comportamentos diante a opressões de trabalho frente a lutas por direitos de trabalho
e condições de vida opressoras, são para o autor, mau comportamento do sujeito
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individual. Para ele a ciência social, chega ao triunfo no ambientalismo positivo que visa
demostrar as condições de vida subalternas, sem condições dignas e “arranjar” um
ambiente com boas condições para o desenvolvimento de um sujeito individual bem-
comportado.
Ainda traz as concepções de Marx, Freud e Darwin sobre a construção do sujeito
no tempo dentro do período pós-vitoriano, assim como da própria ciência social
ambientalista sobre a formação do indivíduo dentro das instituições sociais e considera,
mesmo que haja um bom caráter, o meio pode corromper o homem. Mas, afirma a
ausência de estudos na emergente psicologia da época, o behaviorismo, sobre o bom e
mau caráter. Para ele somente um setor da psicologia científica se manteve atento,
durante todo século XX a ideia de caráter e da natureza humana, o campo de estudo da
personalidade. Afirma que, o modelo político o qual afirma a ideia de uma herança
genética, faz o espólio de padrões de mau comportamento traz consigo poucas
evidências e pouca veracidade em seus padrões. Diante dessas afirmações de erro e
contestação das ciências políticas e sociais mostra a teoria de Gordon Allport, o pai da
teoria da personalidade e afirma que suas afirmações são mais alinhadas a ciência
moderna, livre de juízo moral e carregadas de perfeita neutralidade, como deve ser a
ciência. A personalidade é, para ele, uma palavra descritiva neutra, a qual, deixa para
trás o juízo de valor e moral, que a palavra caráter traz consigo. Já a formação da teoria
e do conceito de personalidade, formam-se em um campo de estudo incorporando
conceitos da psicologia científica carregados de moralidade como caráter e virtude.
Nessa perspectiva de recuperação dos conceitos de moral, caráter e virtude e
afirma que, a virtude se adequou à um relativismo ético e a meras convenções sociais.
Segue na descrição de algumas virtudes, atesta que existem apenas seis virtudes que
endossadas por importantes culturas, como a grega e pela tradição religiosa. E busca
desenvolver uma pragmática teórica fundada nos ideais da psicologia positiva para ser
assertivo sobre o que a qualidade e desenvolvimento das virtudes e assim encaixar o
sujeito dentro de sua teoria. Assim defende, a partir de uma análise categórica seis
virtudes que são: Saber e conhecimento; coragem; amor e justiça; temperança e
espiritualidade e transcendência. A compilação dessas virtudes acontece endossada
principalmente endossada por tradições religiosas e filosóficas, pelas quais segundo
Seligman são fundamentos de aprendizagem para um bom caráter. Porém esses
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conceitos de virtude e caráter são abstratos de mais para a métrica de sua psicologia,
então resolve apresentar os caminhos as forças do caráter, para então assim ser
virtuoso.
Segue no capítulo nove – Suas forças pessoais-, afirma nesse momento permitirá
que o indivíduo as identifique, desenvolvo-as e mais à frente apreenda a usá-las, como
força de máquina no futuro. Forças e talentos são coisas diferentes e é preciso
demonstrar e identificar essas diferenças e os dois são tópicos importantes para a
psicologia positiva, as forças são traços morais, os talentos não. Apesar de uma linha
muito tênue entre as duas, os talentos são mais difíceis de desenvolver, as forças
envolvem escolhas conscientes, os talentos são naturais.
A força envolve escolhas acerca do que vai ser utilizada, como vai ser
aperfeiçoada e também se vai ser adquirida, ou não. Com tempo, esforço e
determinação suficientes, as forças que vamos discutir adiante podem ser
adquiridas praticamente por qualquer um. No entanto não existe força de
vontade capaz de garantir a aquisição de um talento (SELIGMAN, 2019
p.155).
Então, já que as forças são passiveis de desenvolvimento, funcionam em prol do
utilitarismo e da utilidade para determinados fins, a psicologia pode por meio da técnica
construir uma intervenção positiva, a partir da resposta avaliativa de um questionário
que busca investigar e fortalecer tais forças. Para identificar as forças pessoais
desenvolve uma bateria de questões, onde elenca critérios para definir se a pessoa faz
o bom uso de suas forças e virtudes e, após isso, afirma, se o saldo for negativo a pessoa
pode desenvolver suas forças. Na sua visão são vinte e quatro forças, que existem dentro
de seis grandes virtudes, forças mensuráveis e passiveis de ser adquiridas e
desenvolvidas, a partir de práticas e boa vontade. Reforçamos aqui que acreditamos na
mudança do sujeito de um estado de ser a outro, mas compreendemos que essa busca
de desenvolvimento de si não acontece, por meio, somente da prática e do pensamento
e intervenção positivos, mas é necessário a construção de certa atitude crítica, a qual,
por vezes, vem da negação do fator positivo. Para assim, construir o novo!
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PARTE III: NAS MORADAS DA VIDA
Nas moradas da vida: inicia com o tópico trabalho e satisfação pessoal com a
constatação que a vida profissional vem passando por grandes transformações nas
nações mais ricas de dinheiro e esse vem perdendo o seu poder. Pois, as pessoas
começam a tomar consciência da importância de ter satisfação com a vida e que o
dinheiro além de segurança apresenta pouco ou nada ao bem-estar subjetivo e afirma
que realmente dinheiro não compra felicidade.
Nossa economia realmente está mudando rapidamente de uma economia
do dinheiro para um de satisfação. Essas tendências sobem e descem
(quando falta trabalho, a satisfação pessoal perde um pouco do peso;
quando a oferta de emprego é abundante, a satisfação pessoal conta mais),
mas duas décadas elas vêm apontando no sentido da satisfação pessoal
(SELIGMAN, 2019 p.187).
Se refere a profissões que são supervalorizadas como advocacia nos EUA, mas
tem rotatividade nos grandes escritórios de Nova York, que muitas pessoas deixam a
nobre profissão à procura de outras coisas além da garantia de uma vida estável dada
por um trabalho estafante. A moeda corrente é a satisfação” (SELIGMAN, 2019, p.188).
assim propõe que o objetivo desse capítulo é maximizar a satisfação profissional, por
meio do uso das forças pessoais identificadas no capítulo anterior. A modo de
aperfeiçoar diariamente as forças e virtudes e transformar em vocação uma carreira
estagnada e fazer. A vocação se torna a forma mais satisfatória de trabalho, gera
gratificação e é exercida pela atividade em si, não pelos benefícios materiais que ela
acarreta. Afirma crer, a satisfação pelo estado de plenitude resultante do exercício da
atividade de trabalho, logo superará as recompensas materiais. Tendo a vida e a
liberdade minimamente cobertas visa um campo de existência que busca além de uma
rede de segurança e leva muito a sério a felicidade.
Segue questionando como o dinheiro pode perder poder na economia
capitalista. Traz como paradigma mudanças no campo da educação, onde havia uma
educação para a punição e isso se modificou com tempo, para uma educação de
recompensas e gratificações, uma educação positiva e afirma que também existe um
caminho melhor que o dinheiro para atingir a boa produtividade, e disso tratará esse
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capítulo. Pergunta ao leitor: Como uma pessoa estrutura o trabalho em relação aos
outros aspectos da vida? E afirma que os estudiosos distinguem três tipos de orientação
do trabalho que são: tarefa, carreira e vocação. E logo traz um novo teste para identificar
como cada um seu trabalho, com o título: pesquisa, trabalho e vida. O qual visa
identificar a relação do indivíduo com o trabalho.
Sobre amor: “Somos membros de uma espécie fanática, que se compromete fácil
e profundamente com uma variedade de empreitadas duvidosas” (Seligman, 2019
p.208). Para desdobrar a citação acima utiliza o exemplo uma situação em que um
professor de uma escola de administração os seus estudantes um objeto de presente,
e a partir de determinada situação, esse objeto possui um valor sentimental e não
somente de troca. Após o exemplo deste caso específico infere que o homem não é
somente motivado pelas trocas racionais, mas por um outro valor, que seria o afeto.
“Essa descoberta nos diz que o Homo sapiens não é o homo economicus, uma criatura
obediente a leis da economia e motivada somente pela troca racional” (SELIGMAN, 2019
p.208). Então afirma, assim como trabalho onde o nível geral de gratificação não é
somente mera relação de troca de mão de obra por salário, transformando-se em
gratificação. O amor é muito mais do que dar afeto na espera de receber algo, o amor é
o que nos torna melhores, assim busca colocar em questão uma demonstração do que
é amor, a partir de um pequeno estudo sobre canecas.
A tediosa lei do Homo economicus sustenta que os seres humanos são
fundamentalmente egoístas. A vida social é vista como governada pelos
mesmos princípios que governam o mercado. Assim como no caso de
adquirir um objeto ou decidir sobre a compra de ações, deveríamos
perguntar a nós mesmos em relação ao outro ser humano: “Que utilidade
ele?”. Quanto mais esperamos ganhar, mais investimos no outro. O amor,
porém, é a maneira mais espetacular de evolução encontrou se desafiar essa
lei (SELIGMAN, 2019 p. 209).
Para afirmar que a teoria do homo economicus não é validada faz referência a
momentos da vida que somos capazes de transcender, que supera o egoísmo em prol
de um altruísmo, o amor supera a teoria do egoísmo universal. Para ele, o casamento e
o processo de ter um par romântico é um fator para a felicidade e mais uma vez traz
estudos quantitativos para demonstrar sua afirmação. Assim o casamento é um fator
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determinante para o amor e para a felicidade. Afirma que estudiosos e pesquisadores
da psicologia social que estudam sobre conseguiram respostas coerentes para
demonstrar como o casamento é um agente de felicidade. Para os psicólogos sociais,
citados por ele existem três tipos de amor que seria basicamente: o amor dos filhos
pelos pais, o amor dos pais pelos filhos e amor romântico. E finaliza, esses três amores
são encontrados no casamento.
O que percebemos aqui é uma visão conservadora para o ideal de casamento,
um enquadramento a normas e de certa forma uma padronização de um modo de vida
pautados em ideais por ele propostos. Segue ainda a com afirmações conservadoras
sobre desempenho de pessoas casadas e dos filhos de casamentos tradicionais, sempre
ligados a desempenho. Descreve ainda sobre a capacidade de amar e ser amado, sobre
estilos de amar e ser amado na infância e afirma que diante do modo como formamos
nossos apegos na infância determina o modo como amamos. Questão já demonstradas
pela psicanálise nos anos de 1900, mas o que nos faz questionar aqui é o fato de como
o autor sempre busca fatores determinantes para suas afirmações e categoriza os
sujeitos em padrões de vida e regras de conduta.
Seguindo no capítulo doze traz a receita para criar filhos, para o psicólogo o
modo como criamos nossos filhos está ligado a vários princípios da psicologia positiva e
divide o capítulo em duas partes, a primeira onde afirma ser fundamental desenvolver
emoções positivas em crianças e na segunda sobre forças e virtudes para desenvolver a
abundância da emoção positiva. Na primeira metade do último capítulo demostra como
elevar as emoções positivas nas crianças por meio de diversos exemplos e técnicas.
na segunda parte demonstra como desenvolver e aumentar essas emoções.
UMA BREVE ANÁLISE ACERCA DA FELICIDADE AUTÊNTICA E DA EXTRAÇÃO DE TODO O
POTENCIAL DOS SUJEITOS
As emoções passam a ser capitalizadas, se constrói uma economia da felicidade,
a busca é acumular sentimentos positivos desse programa de felicidade é fazer bons
investimentos, para que se tenha resultados positivos e bons juros, na capitalização do
ser feliz. O que se percebe em Seligman (2019) são sempre ensinamentos e exemplos
de pessoas felizes sobre os caminhos que as levaram ao alcance desse bem, para isso,
sempre novos sentimentos dever ser colocados na caixinha da felicidade. Filho (2010),
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afirma que segundo os preceitos da psicologia positiva para ser feliz basta a dedicação
ao programa proposto, trabalhoso por vezes, mas, jamais doloroso. Percebemos que
são práticas de condicionamento, gestão do mental e do emocional. É a lógica neoliberal
nas práticas de vida, o capital humano que fomenta e constrói o homo oeconomicus, faz
deles a sua empresa, seu lugar de investimento e mais ainda constrói a nível da psique
uma captura a fim de um exercício que atua em função destas práticas (FOUCAULT,
2008; HAN, 2020). Então aqui parece haver uma forma de investimento em si necessária
da construção da felicidade, onde a singularidade escapa, o humano esvazia, tais
práticas individualizam condutas. Compreendemos que as experiências individuais são
o caminho para a construção de uma conduta feliz, porém regras base a todos para
potencializar as suas positividades e capitalizar a felicidade.
São várias as práticas para manter o estado de felicidade, sempre há uma forma
para potencializar, por exemplo, pratique gratidão e o bem vira, mentalize coisas boas
e elas aconteceram, assim tudo é investimento e rendimento. O bem-estar subjetivo é
voltado para uma lógica calculista, é um projeto individual que acontece no aqui e
agora, desde que haja a dedicação individual de cada um para o desenvolvimento desta
atividade (FILHO,2010). Existe aqui uma consideração da vontade que necessita
planejamento e investimento, ao sujeito empresa, uma boa gestão de si e das emoções,
leva a felicidade e ela pode ser acumulada desde bem racionalizada. Tem-se a lógica de
capital e acúmulo de boas emoções, o sujeito acumula boas ações e bons valores, vai
coletar e receber no presente e no futuro, seus lucros, como em um investimento
bancário. A prerrogativa é, invista na emoção positiva e tudo fluíra, como os
investimentos em capital financeiro terá bons lucros, conseguirá acumular e manter a
fluidez de estados positivos que levam a felicidade.
A economia oferece uma analogia conveniente. O capital pode ser definido
como recurso que é retirado da despesa e do investimento no futuro, para
um maior retorno a longo prazo. A ideia do acúmulo de capital foi aplicada a
questões não financeiras: o capital social: o são os recursos que adquirimos
ao interagir com outras pessoas (amigos, parceiros românticos e contatos),
e o capital cultural são as informações e recursos (como museus e livros) que
herdamos e utilizamos para enriquecer nossa vida individual. Existe capital
psicológico? Se existe, como consegui-lo? (SELIGMAN, 2019 p.136).
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Seligman (2019) responde a sua própria pergunta e afirma que através de
investimento em atividades no que denomina flow5, possiblidade da construção de
um capital psicológico para o futuro. É como se construíssemos um título de
capitalização psicológico, onde o investimento são os sentimentos positivos, a gratidão,
etc., positividades que nos darão a possibilidade de rendimentos felizes, desde que
seguimos o fluxo do mercado das emoções boas. São fluxos de emoções positivas que
se dão pela ascese e pelo acúmulo de bons flows e chegam ao resultado da felicidade, é
o espírito capitalista que impera. Stimilli (2011) remete a Weber (2014) ao indicar a
introdução das práticas capitalísticas ao modo de vida, uma ética ascética e a introdução
de práticas de formas religiosas e mentalidade econômica à racionalidade de vida. Como
se refere Seligman (2019) um capital psicológico, um funcionamento de um modo de
vida econômico que se desloca as formas de executar a própria busca da constituição e
acúmulo de emoções.
Com ascese e bons investimentos se terá uma boa colheita, para isso devemos
seguir as regras de uma psicologia utilitarista que se funda em um pragmatismo, se
funde ao modelo econômico secularizado e recaí sobre o sujeito. Segundo Seligman
(2019) precisamos identificar e utilizar nossos mecanismos de gratificação e forças
pessoais para chegar à boa vida, através do desenvolvimento moral. Extração de força
pessoal para obter um resultado, disciplina positiva e um fluxo de capital psicológico,
aplicado a vida do sujeito, é a psicologia positiva atuando como o capitalismo. Exercícios
de força e desenvolvimento da virtude são prerrogativas para a construção de uma vida
feliz e firmeza de caráter. E o que é o desenvolvimento das virtudes na perspectiva de
Seligman? O pai da psicologia positiva, a partir de um estudo categórico elencou seis
virtudes, as quais segundo ele, juntas levam apreendem a noção de bom caráter são
elas: Saber e conhecimento; coragem; amor e humanidade; justiça; temperança e
espiritualidade e transcendência. O que queremos afirmar aqui, não é a negação do
exercício da virtude para uma vida feliz, mas sim a pretensão categórica de Seligman em
valorar virtudes e colocá-las como condição primordial de caráter.
Existem estratégias de governamento da felicidade, guiadas por discursos de
positividade, os quais funcionam para o desenvolvimento de uma indústria do bem-
5 Flow é para Seligman (2019) um estado/lugar que acumula capital psicológico e serve como reserva para
ser retirado no futuro.
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estar. Reiteramos que não estamos negando a felicidade, tão pouco o desejo de ser feliz,
ou bem-sucedido dentro dos parâmetros de cada indivíduo, o que colocamos em
discussão são programas e teorias que “fazem a cabeça”, colocam um ideal e vendem
formas ascéticas, como verdades absolutas sobre positividades. Na atualidade e na
visão da psicologia positiva, existem cálculos e a partir de fórmulas construídas é
possível alcançar a felicidade. Como podemos ver em Birman (2010) ao afirmar que a
que ciência se constitui em um discurso que permite condições de possibilidades para
construir estratégias olhando para os feitos de cada indivíduo e colocando exemplos
concretos de felicidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À medida que se constrói o discurso positivo, ele funciona em prol de um modo
de produção do ser, que se volta para a constituição de uma negação de outros
elementos da realidade, ou em função de uma gica de generalidade. Deleuze (2021)
nos afirma que a repetição é o contrário da generalidade, então compreendemos que o
caminho para alcançar os próprios meios, está justamente na construção de hábitos que
acontecem por meio de repetições e de compreensão de si. O imperativo e a
generalidade construído pela defesa de regras máximas, desse modo constitui uma
negação de si e busca de objetos que se encontram no mundo exterior, a exemplo o
consumo do ser feliz. Consumo esse que se aprova pela instância de atividades e práticas
que pretensamente levariam a vida feliz.
Como já apontamos, a felicidade tal como é proferida em seu campo discursivo,
tem como alvo de investimento uma população específica, as elites e essa nova classe
média emergente. Programas de investimento voltados para formas de produtividade,
positividade, de autorresponsabilidade, ou ainda de práticas permeadas pelo consumo,
são as receitas para ser feliz. Com esse olhar, compreendemos a felicidade tomada como
uma forma de governamentalidade e averiguamos o discurso da psicologia positiva, de
coachings, etc., os quais, trabalham com imperativos e regras gerais. Cabe ressaltar que,
ao falar de governamentalidade a entendemos, a partir de Foucault (2015), de maneira
sucinta é entendida como, formas de direcionar estratégias de governo da vida, em
função de algo. Desse modo entendemos que a psicologia positiva e o discurso sobre
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felicidade nesse livro, funcionam como um dispositivo de governamento da vida e atua
para o desenvolvimento máximo da potência, em prol de uma lógica capitalista e
neoliberal, que visa construir sujeitos produtivos e consumidores do ser feliz.
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24ª edição. São Paulo: Edições Loila, 2014
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Flávio Pierucci. São Paulo: Companhia das Letras, 1920-2014.