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Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 2, jul/dez, 2022
PPGDS/Unimontes-MG
conquistados tanto na educação quanto na saúde e demais outros direitos garantidos
para os povos indígenas brasileiros. Compreendendo que cada povo tem os seus
próprios modos de aprendizagem de acordo com seus conhecimentos, da língua
materna, das práticas alimentares. Inclusive os não indígenas têm seus modos próprios
de ensinar, de instruir suas crianças para que aprendam as suas culturas, para que
tenham uma boa formação, para serem uma pessoa sábia e terem uma vida digna. Do
mesmo modo, o Wauja tem o seu próprio modo de ensino e aprendizagem na vida,
cuidam da formação da pessoa Wauja o que não acontece em um prédio, como na
escola, na universidade, mas em casa, no pátio da aldeia e nos passeios, nas florestas,
nos rios, nas danças culturais. Tendo isto em vista, neste ensaio, ao descrever minha
trajetória, trato de modos próprios de ensino e aprendizagem, da educação Wauja que
está relacionada a reclusão pubertária, que também foi tema de minha pesquisa de
mestrado.
Este trabalho surge como forma de compreender o processo de entrada de
estudantes indígenas na universidade, a importância destes e as finalidades de sua
participação em uma instituição de ensino superior. Eu tinha o sonho de ingressar na
universidade para conhecer a minha própria cultura, a produção da pessoa que está
relacionada a reclusão pubertária. Como contarei neste texto, tinha interesse em
entender o processo desta prática, a educação, o aprendizado obtido na reclusão
pubertária em que os meninos aprendem sobre cestaria e as meninas aprendem a
produção de fio de algodão.
A reclusão pubertária é uma tradição do Wauja e dos povos no Alto Xingu4. Dez
povos realizam esta prática como: Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu,
Mehinaku, Nafukuwá, Trumai, Wauja e Yawalapiti. Esses povos são praticantes de rito
de passagem da reclusão pubertária do Alto Xingu. Nesse espaço os jovens recebem
4 O território conhecido como Terra Indígena do Xingu tem 16 povos indígenas diferentes, divididos entre
quatro regiões que se chamam Alto Xingu, Médio, Baixo e Leste Xingu. Em cada umas dessas regiões
residem diversas etnias, por exemplo, como destaquei: no Alto Xingu tem onze etnias, Aweti, Kamaiurá
que são falantes da língua Tupi, Kalapalo, Kuikuro, Matipu, Nafukuá, Naruvotu que são falantes de língua
Karib e Trumai falante da língua isolada ou língua Trumai. Também o povo Ikpeng (Txicão) é falante de
família do tronco linguístico Karib e se localiza no Médio Xingu. Além disso, tem outros povos que são:
Kawaiweté (Kaiabi), falante de família do tronco linguístico Tupi-Guarani e Yudjá (Juruna) que é falante
da família linguística juruna ou Tupi que ficam no Baixo Xingu. Kisedje (Suiá) e Tapayuna que são falantes
de língua Jê ou Macro- Jê que situam no Leste Xingu. Esses povos indígenas fazem parte do Xingu, tem
suas respectivas culturas e cada povo tem seu modo de viver nas comunidades ou nas suas aldeias.