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Revista Desenvolvimento Social, vol. 28, n. 2, jul/dez, 2022
PPGDS/Unimontes-MG
o ritual de comemoração desta data. Este é o lugar em que nasci, cresci, estudei. Foi
deste lugar que iniciei a primeira graduação em pedagogia em uma faculdade particular,
no ano de 2010. Na faculdade particular tive que conviver com pessoas da elite que não
gostavam de indígenas, então, eu não falava muito neste espaço, não saia muito da sala
de aula e fazia os trabalhos sempre sozinho. Tive alguns professores que entendiam, ou
pelo menos ouviam sobre os povos indígenas, mas outros e outras não queriam nem
saber quem somos nós, não queriam saber quem eu era na sala de um curso de
pedagogia onde seríamos habilitados para sermos docentes na área de educação infantil
e anos iniciais da educação básica. Neste mesmo curso fui desafiado pela professora da
disciplina Psicomotricidade e Ludicidades. Essa professora disse que não existiam
brincadeiras indígenas e jogos indígenas. Eu respondi: “existem sim, professora”. Então,
ela me disse: “Me prova, Antonio, e você não faz a prova da minha disciplina!”. Eu disse
“ok”, mas ela me colocou uma condição: que eu deveria levar as pessoas com os quais
estava em processo de aprendiz, até então a professora não conhecia como eu vivia em
aldeia de retomada, e que talvez acreditasse só por eu estar na faculdade.
Eu não tinha conhecimento sobre os nossos jogos e brincadeiras indígenas,
então levei as sábias e os sábios da comunidade com a qual eu estava aprendendo sobre
os nossos cantos, rezas, musicalização, entonação da voz, os ritmos de cada canto, sobre
a nossa alimentação na fase da juventude, o comportamento, as brincadeiras. O
processo de aprendiz é longo e vamos aprendendo no dia a dia na comunidade. Sempre,
desde criança, me aproximava mais das sábias e dos sábios. E então, sem a escola nós
tínhamos uma vida lúdica no nosso próprio modo de ser e foi assim que eu questionei a
professora sobre a existência das brincadeiras indígenas kaiowá e guarani. Para falar
sobre as brincadeiras e jogos indígenas fui até a minha vó, bisavó e um professor da
comunidade. Levei para eles, meus interlocutores e interlocutoras não “letradas”, o
formato da universidade.
Eles que tinham o conhecimento indígena em sua oralidade. Conversei com
eles e elas como sempre fiz, sempre conversando e dialogando aos poucos, tocando no
assunto da brincadeira indígena. Como sou aprendiz da cosmologia indígena kaiowá e
guarani sempre estava visitando, cantando, perguntado sobre as nossas narrativas
existentes até os dias atuais. Elas, a minha vó e bisavó, me contavam e cantavam as
palavras poéticas narradas por elas e eles que são as sábias e sábios da comunidade. E