https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v29n1p11-38
Vol. 29, n. 1, jan/jun, 2023
ISSN: 2179-6807 (online)
TERRAS DA UNIÃO: A COMUNIDADE QUILOMBOLA BOM JARDIM DA
PRATA E AS DISPUTAS TERRITORIAIS NO VALE MÉDIO DO O
FRANCISCO/MG1
Amaro Sérgio Marques2
Alessandro Borsagli3
Brenda Melo Bernardes4
Resumo: Desde o processo de colonização do Brasil, o Rio São Francisco tem atraído povos
tradicionais, que habitam, sobretudo suas margens, devido às facilidades associadas ao
transporte fluvial, à possibilidade de uso de suas águas para atividades cotidianas e à
fertilidade dos solos situados próximos ao curso d’água para cultivo. Apesar dessa dependência
direta das comunidades tradicionais do Rio São Francisco como fonte de subsistência,
verifica-se, ao longo da história, conflitos entre esses povos e outros grupos sociais que
também têm mostrado interesse em usufruir dos benefícios do rio e da fertilidade de suas
terras, por meio da exploração predatória dos recursos naturais para fins econômicos.
Contudo, tais terras são legalmente pertencentes à União, o que torna ainda mais
problemático os conflitos territoriais existentes. Desse modo, é proposto como objetivo deste
artigo compreender a problemática existente vinculada ao processo de ocupação de terras da
União por grupos sociais distintos e os interesses econômicos existentes. A análise apresentada
tem como recorte de estudo a região do Vale Médio do São Francisco, com ênfase para os
conflitos territoriais vinculados à comunidade quilombola de Bom Jardim da Prata, situada em
região rural do município de São Francisco.
Palavras-chave: Rio São Francisco. Terras da União. Comunidades tradicionais. Conflitos
territoriais. Quilombolas.
FEDERAL LANDS: THE QUILOMBOLA COMMUNITY BOM JARDIM DA PRATA AND TERRITORIAL
DISPUTES IN THE MIDDLE VALLEY OF O FRANCISCO/MG
Abstract: Since the process of colonization of Brazil, the São Francisco River has attracted
traditional peoples, who mainly inhabit its banks, due to the facilities associated with river
transport, the possibility of using its waters for daily activities and the fertility of the soils
located near the watercourse for cultivation. Despite this direct dependence of the traditional
communities on the São Francisco River as a source of subsistence, throughout history there
4Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-5603-3202.
E-mail: brenda.mbernardes@gmail.com.
3Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0001-8789-012X. E-mail: borsagli@gmail.com.
2Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0003-4697-3572. E-mail: amarosergiomarques@gmail.com.
1Trabalho realizado com o apoio do grupo de pesquisa em Produção do território e territorialidades, do
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PPGArq/PUC-Rio).
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have been conflicts between these peoples and other social groups that have also shown
interest in enjoying the benefits of the river and the fertility of its lands, through the predatory
exploitation of natural resources for economic purposes. However, these lands legally belong to
the Federal Government, which makes the existing territorial conflicts even more problematic.
Thus, the objective of this article is to understand the existing problems linked to the process of
occupation of federal lands by different social groups and the existing economic interests. The
analysis presented presents the Middle Valley of São Francisco region as a study setting, with
emphasis on the territorial conflicts linked to the quilombola community of Bom Jardim da
Prata, located in the rural region of the municipality of São Francisco, with emphasis on the
territorial conflicts linked to the quilombola community of Bom Jardim da Prata, located in the
rural region of the municipality of São Francisco.
Keywords: São Francisco River. Federal lands. Traditional communities. Territorial conflicts.
Quilombolas.
TIERRAS DE LA UNIÓN: LA COMUNIDAD QUILOMBOLA BOM JARDIM DA PRATA Y DISPUTAS
TERRITORIALES EN EL MEDIO VALLE DE O FRANCISCO/MG
Resumen: Desde el proceso de colonización de Brasil, el río São Francisco ha atraído a los
pueblos tradicionales, que habitan principalmente en sus orillas, debido a las facilidades
asociadas al transporte fluvial, la posibilidad de utilizar sus aguas para las actividades
cotidianas y la fertilidad de los suelos situados cerca del curso de agua para el cultivo. A pesar
de esta dependencia directa de las comunidades tradicionales del río São Francisco como
fuente de subsistencia, a lo largo de la historia se han producido conflictos entre estos pueblos
y otros grupos sociales que también han mostrado interés en disfrutar de los beneficios del río
y de la fertilidad de sus tierras, a través de la explotación depredadora de los recursos naturales
con fines económicos. Sin embargo, estas tierras pertenecen legalmente a la Unión, lo que
hace aún más problemáticos los conflictos territoriales existentes. Así, el objetivo de este
artículo es comprender los problemas existentes vinculados al proceso de ocupación de las
tierras federales por diferentes grupos sociales y a los intereses económicos existentes. El
análisis presenta como recorte de estudio la región del Medio Valle de São Francisco, con
énfasis en los conflictos territoriales vinculados a la comunidad quilombola de Bom Jardim da
Prata, situada en la región rural del municipio de São Francisco.
Palabras-clave: Río São Francisco. Tierras de la Unión. Comunidades tradicionales. Conflictos
territoriales. Quilombolas.
INTRODUÇÃO
O Rio São Francisco, ao longo da história, desempenhou um importante papel
no processo de ocupação das regiões fisiográficas do Alto São Francisco, Médio São
Francisco, Submédio e Baixo São Francisco.
Dentre os grupos sociais que habitavam essas regiões, ganham destaque os
povos tradicionais, como os indígenas, que estavam na região antes mesmo da
chegada dos portugueses ao Brasil, e os povos quilombolas, ribeirinhos, vazanteiros,
entre outros, que utilizavam o rio São Francisco enquanto fonte de sustento para
irrigação, alimentação e como meio de transporte. Também, durante o processo de
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colonização, esses territórios foram habitados por bandeirantes e fazendeiros, que
durante o período das incursões sertanistas, no processo de colonização do Brasil,
adentraram essas regiões em busca de metais preciosos, mão-de-obra e terras férteis
para cultivo e criação de animais (FONSECA, 2011; MARQUES, 2018; PEIXOTO, 2006).
Fato é que as margens do Rio São Francisco sempre foram cobiçadas em função
da sua riqueza natural e em razão de articular porções significativas do território
brasileiro. Apesar da importância desempenhada por esse eixo natural, presencia-se,
ao longo da história e no contexto atual, diversos conflitos territoriais 5entre grupos
sociais como comunidades tradicionais6, fazendeiros, sitiantes, empresas ligadas ao
agronegócio, em razão de configurar uma fonte de subsistência, no caso dos povos
tradicionais, e por interesses econômicos vinculados à exploração de seus recursos
naturais.
No entanto, essas terras, que têm sido reivindicadas por diversos grupos
sociais, são pertencentes à União. Caracterizam-se como áreas que conformam faixas
de proteção ambiental, quando trata-se das suas margens, e também conformam ilhas,
lagoas, veredas que são Áreas de Preservação Permanente (APP), de acordo com o
Código Florestal (Lei 12.651, de 25 de Maio de 2012). Desse modo, além da questão
relativa ao direito de uso e posse dessas terras, que são de interesse coletivo, existe
também a problemática associada ao uso indiscriminado de seus recursos naturais
caça e pesca predatória, extração de matéria-prima, queimadas, etc.
Ressalta-se que, no caso específico das comunidades tradicionais, esses
recursos naturais são utilizados de forma racional, voltados para a subsistência, além
de contribuírem para conservação ecológica dessas áreas por meio das suas práticas
tradicionais. Desse modo, a permanência das comunidades tradicionais em áreas de
interesse de proteção ambiental pode ser benéfica, ao contrário do uso indiscriminado
desses recursos naturais por outros grupos sociais que visam essencialmente a
lucratividade.
6As comunidades ou povos tradicionais são grupos que apresentam cultura distinta da predominante na
sociedade e que se reconhecem como portadores desses modos singulares de viver, possuindo formas
específicas de organização social (BRASIL, 2007).
5Os conflitos territoriais caracterizam-se como disputas que ocorrem em campo por indivíduos ou
grupos sociais que manifestam interesses divergentes sobre o uso e apropriação do território. Desse
modo, os conflitos resultam das tentativas de poder e dominação do território em diferentes contextos
sociais e conforme particularidades da formação territorial de cada período da história (BALTAZAR, 2007;
DANTAS, 2021).
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Dentre as comunidades tradicionais que ocupam as margens do Rio São
Francisco destaca-se a Comunidade Quilombola Bom Jardim da Prata, que se encontra
na região do Médio São Francisco, em área rural da cidade de São Francisco, sendo
foco de estudo deste artigo. Essa comunidade tradicional, assim como outras
comunidades que habitam o Norte de Minas, tem lidado com tentativas de remoção e
conflitos, inclusive armados, diante dos interesses existentes de posse territorial por
grupos dominantes (MEDEIROS, 2021; SILVEIRA, 2014; ZANGELMI, 2022).
Assim, define-se como objetivo geral deste artigo compreender a problemática
vinculada ao processo de ocupação de terras da União por grupos sociais distintos e os
interesses econômicos existentes no vale médio do Rio São Francisco.
Sobre os métodos de pesquisa, as reflexões apresentadas derivam de estudos
conduzidos pelos pesquisadores em várias frentes. Inicialmente, destacam-se as
contribuições oriundas de participação em Grupo de Pesquisa sobre Espaços Rurais e
Povos Tradicionais, da Faculdade Santo Agostinho - Montes Claros/MG, entre os anos
de 2015 e 2018. Além disso, as análises apresentadas se fundamentam nos resultados
da tese de doutoramento desenvolvida por Amaro Sérgio Marques pela Escola de
Arquitetura da UFMG, defendida em 2018 e de discussões promovidas no grupo de
pesquisa sobre Território e Territorialidades, na PUC Rio.
Importante ressaltar que a pesquisa de campo apoia-se na metodologia
etnográfica, por meio da imersão do pesquisador Amaro Sérgio Marques no Quilombo
Bom Jardim da Prata, situado na zona rural do município de São Francisco, durante os
anos de 2015 a 2018. Desse modo, durante esse período foram realizadas diversas
visitas de campo nos finais de semana, bem como, estadia do pesquisador na
comunidade quilombola durante o período de aproximadamente 2 meses. Além disso,
a análise apresentada no artigo é apoiada em pesquisas bibliográficas realizadas, de
modo geral, sobre comunidades tradicionais no Norte de Minas e sobre uso e gestão
dos bens da União.
Na estrutura do artigo é definido além da introdução e considerações finais,
outras duas seções que tratam, respectivamente, sobre o histórico do Rio São
Francisco, suas margens e o conceito de terras de marinha e da União e sobre a
comunidade quilombola de Bom Jardim da Prata e o uso das ilhas do São Francisco.
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O RIO SÃO FRANCISCO, SUAS MARGENS E O CONCEITO DE TERRAS DE MARINHA E DA
UNIÃO
A bacia hidrográfica do rio São Francisco, de acordo com Hermuche (2002) tem
como área total cerca de 636.099,73 km², onde se distribuem 508 municípios nos
estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e o Distrito
Federal, inseridos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.
O curso principal do rio São Francisco tem extensão de 2.814 km, situando-se
entre as cabeceiras, no município de São Roque de Minas - MG (Nascente Histórica), e
se encontra dividido em quatro regiões fisiográficas (HERMUCHE, 2002): Alto São
Francisco, Médio São Francisco, Submédio e Baixo São Francisco.
O Médio São Francisco, região na qual se insere o objeto de análise do artigo,
inicia-se no município de Pirapora-MG e termina no município de Remanso-BA, trecho
correspondente a cerca de 1.250 km do curso total do rio, navegável em toda sua
extensão.
Nesse contexto, a porção da bacia correspondente ao médio rio São Francisco
possui grande importância para a ocupação do território mineiro, uma vez que as
primeiras incursões com finalidades de povoamento do território ocorrem no seu eixo
no sentido sul, a partir das bandeiras que partiram do Recôncavo Baiano, na segunda
metade do século XVII, e da expansão pastoril realizada pelos baianos, que adentraram
o território do médio São Francisco após as incursões bandeirantes (MOREIRA, 2010).
As margens do curso d’água, ao longo da história, foram ocupadas por
inúmeros povos nativos, que ali encontraram condicionantes positivas para o
estabelecimento de assentamentos, provisórios e permanentes. Ressalta-se ainda que
as expedições bandeirantes contribuíram para a formação dos núcleos urbanos atuais e
que, juntamente com os povos tradicionais, em maior ou menor intensidade,
influenciaram nos impactos na estrutura do curso d’água e na sua relação com a
paisagem circundante (IEPHA, 2015).
Com a ocupação e o povoamento das margens do rio São Francisco, iniciados
na segunda metade do século XVII, originaram-se inúmeros povoados às margens do
São Francisco como os povoados de Morrinhos (Matias Cardoso), Brejo do Salgado
(Januária), São Romão e Pedras dos Angicos (São Francisco), fundados entre o último
quartel do século XVII e o primeiro quartel do século XVIII, além dos núcleos
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populacionais ligados à pesca, agricultura e pecuária, atividades praticadas pelo
menos três séculos pelas populações que habitam as terras próximas ao rio São
Francisco em sua porção média.
Nesse sentido, observa-se que foi a partir das margens do São Francisco que os
povos tradicionais se estabeleceram, caracterizando formas específicas de organização
social e modos de vida que utilizam do ambiente biofísico para “[...] reprodução
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica” (BRASIL, 2007). Destacam-se, nesse
contexto, os povos vazanteiros7e os quilombolas8(Figura 1), este último objeto de
análise do presente artigo. Tais condições são parte de uma realidade ecossistêmica
dinâmica e, ao mesmo tempo, complexa, uma vez que o curso d’água atravessa uma
vasta extensão semiárida e historicamente ocupada através da expansão pastoril
realizada pelos baianos, que adentraram o território do médio São Francisco.
8As comunidades quilombolas são aquelas constituídas por descendentes de quilombos, que
compartilham da identidade étnica negra e se inserem em processos de reivindicação de terras, em
contextos diversos que se relacionam com o legado cultural que carregam (SCHMITT; TURATTI;
CARVALHO, 2002).
7As comunidades vazanteiras apresentam formação cultural rica que tem raízes vinculadas aos
indígenas, negros e ribeirinhos que se estabeleceram em áreas adjacentes a rios, onde exercem a prática
da agricultura de vazantes, conforme as dinâmicas de cheias fluviais (PEREIRA et al.,2016).
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Figura 1 Localização do município de São Francisco-MG e o território do Quilombo Bom
Jardim da Prata
Fonte: Adaptado por Marques a partir de [Costa et al, 2015], 2018.
Essa expansão pastoril tinha ainda como objetivo cessar as invasões dos nativos
e dos negros aquilombados no sertão (COSTA, 2000). Pode-se dizer que essa situação
foi impulsionada pelo interesse de ocupação da área do vale, que apresenta
topografia favorável. Nessa situação, a falta do recurso hídrico não foi considerada um
empecilho para as criações de gado, pela área estar localizada a poucos quilômetros do
eixo do curso d’água.
Ainda sobre esse processo de ocupação da área do vale, esse vínculo cultural
dos povos tradicionais com o território sanfranciscano é de notável pluralidade,
caracterizando lugares de encontro de culturas e territorialidades de grupos negros e
dos povos indígenas, que historicamente habitaram as margens e ilhas (ANAYA et al,
2020). Em relação às ilhas, ressalta-se que essa ocupação ocorreu de maneira
periódica, devido à dependência de cheias e das vazantes do São Francisco.
As ilhas (Figuras 2 e 3) são territórios mutáveis que acompanham as cheias e as
secas do rio, que de tempos em tempos realiza a dispersão e a aglomeração de
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sedimentos, ora conformando novas ilhas, ora desfazendo as existentes. Nessas
condições, o rio contribui para estimular a ocupação e ao mesmo tempo proporciona
aos povos tradicionais saberes e hábitos distintos. O rio São Francisco condicionou o
uso da terra, a pesca, o transporte, a construção de casas, vilas e a criação dos animais,
enfim, a vida dos moradores dessa região.
Figura 2 Parte do canal do Rio São Francisco e suas ilhas na porção correspondente ao
território do Quilombo Bom Jardim da Prata e o núcleo urbano da Cidade de São Francisco/MG
em 2009
Fonte: Google Earth, 2009.
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Figura 3 - Parte do canal do Rio São Francisco e suas ilhas na porção correspondente ao
território do Quilombo Bom Jardim da Prata e o núcleo urbano da Cidade de São Francisco/MG
em 2022
Fonte: Google Earth, 2022.
Como característica específica da territorialidade vazanteira verifica-se que os
habitantes residem às margens do rio São Francisco, em áreas alagáveis ou em lagoas
marginais, caracterizando uma ocupação temporária dessas áreas, e migram para
porções mais altas do território, conforme as dinâmicas de cheias fluviais (ANAYA et al.,
2014). Por possuírem terras mais férteis, as ilhas são consideradas áreas de grande
importância para o cultivo do feijão, mandioca, arroz, milho e abóbora, e para a criação
de pequenos animais. Ou seja, as ilhas, como observado por Souza e Brandão (2012),
podem ser consideradas como uma das principais formas de identificação da
identidade cultural dos povos quilombolas, ribeirinhos e vazanteiros que habitam o
médio São Francisco.
Tratando-se das condições de deslocamento nesses territórios alagáveis, os
quilombolas utilizam canoas rústicas para realizar a travessia para as ilhas e apenas
algumas famílias mais tradicionais fazem uso efetivo dessas terras, uma vez que
habitam tanto as margens quanto as ilhas do rio São Francisco (ARAÚJO e BARBOSA,
2008). Nesse contexto, assim como ocorre em terra firme, as ilhas são na atualidade
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alvo de debates e discussões a respeito da propriedade das terras fluviais de natureza
mutável, ocupadas séculos pelos povos tradicionais do médio São Francisco.
A paisagem desta porção da bacia vem sendo transformada nas últimas
décadas devido ao estabelecimento e expansão das propriedades rurais, muitas vezes
pertencentes a grandes grupos capitalistas, que não intensificaram os conflitos
fundiários, mas também avançam sobre as terras dos povos tradicionais e as ilhas do
São Francisco, estas últimas pertencentes à União (ANAYA et al 2020).
Nesse contexto, faz-se necessário compreender que as ilhas são historicamente
território dos povos tradicionais que também habitam as planícies de inundação, e
apesar de pertencerem oficialmente à União, sob jurisdição da Marinha do Brasil, as
ilhas são motivos de disputas desde o período colonial, onde um dos casos mais
notáveis são as disputas sobre as ilhas do baixo São Francisco entre as Capitanias da
Bahia e Pernambuco, em particular entre as Câmaras de Penedo e de Sergipe
(CURVELO, 2022).
Apesar do território das ilhas e mesmo às várzeas do médio São Francisco
terem sido compartilhado por séculos entre os proprietários de terras, posseiros e
povos tradicionais, o avanço das grandes propriedades rurais incentivadas pelos
programas federais para o desenvolvimento do vale do rio São Francisco teve como
consequência a intensificação dos conflitos pela terra, ao mesmo tempo em que parte
das populações tradicionais foram confinadas nas ilhas e nas planícies de inundação do
rio, boa parte delas transformadas em Unidades de Conservação (ANAYA et al, 2020).
Ou seja, terras onde as populações não podem praticar o seu modo de vida secular
devido às restrições impostas para o manejo do solo e supressão da vegetação nativa.
Fica evidente, nessa situação, os conflitos entre os povos tradicionais e os
fazendeiros em relação ao direito de uso das planícies de inundação e das ilhas no
período das secas, sendo uma condição histórica. Esse fato foi analisado por Oliveira
(2005) quando apresentadas informações sobre o debate dos direitos territoriais dos
moradores das ilhas.
O Estado, de forma estratégica, opta por não reconhecer os limites geográficos
das terras que pertencem à União (MOREIRA, 2018). Isso ocorre devido não às
políticas de invisibilização dos povos tradicionais, como também para validar processos
de expropriação da terra, que dialogam com os interesses econômicos de grileiros. Ou
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seja, apesar das conquistas/embates que vêm ocorrendo no campo político nos
últimos vinte anos, ainda é de extrema fragilidade os processos legais que possibilitam
o reconhecimento das terras ocupadas pelos povos tradicionais.
Nesse contexto, caberia à Secretaria de Coordenação e Governança do
Patrimônio da União (SPU), a definição, bem como a gestão e controle sobre o uso e
detenção das chamadas terras devolutas, terras da União ou terras de marinha (como
são chamadas de forma coloquial).
Vale salientar, conforme analisado por Saule Júnior (2006), que durante o
processo de regularização fundiária de propriedade pertencente à União, ela poderá
ser utilizada em benefício da coletividade, garantindo o cumprimento da sua função
social:
Seguindo tal princípio, a Secretaria do Patrimônio da União, em seu Manual
de Regularização Fundiária, estabelece que: o cumprimento da função social
de uma propriedade pública deve estar associado às responsabilidades e
obrigações do Estado brasileiro para com a sociedade. Assim, a destinação e
o uso dos bens públicos tem como objetivo contribuir para a redução das
desigualdades sociais e territoriais e a promoção da justiça social,
garantindo o direito à moradia, bem como a geração de postos de trabalho
e o incremento ao desenvolvimento local. Somando-se ao princípio
constitucional a missão desenvolvida pela SPU, todos os bens da União,
quer se localizem em área rural ou urbana, qualquer que seja sua
destinação, devem ser utilizados de forma a priorizar o uso socioambiental
do bem em benefício da coletividade, levando em consideração as grandes
diferenças regionais, sociais, econômicas e culturais entre os diversos
segmentos da sociedade brasileira (SAULE JÚNIOR et al., 2006, p. 41).
Contudo, apesar dessa importância de utilização das terras da União em
benefício da coletividade, o que se presencia no Vale do Médio São Francisco é a
morosidade dos processos por parte da SPU e das autoridades institucionais. Desse
modo, é frequente que os interesses de grupos econômicos prevaleçam sobre os
direitos dos povos tradicionais, como consequência, esses povos lidam com conflitos
agrários e enfrentam condições de negação de acesso aos seus direitos territoriais.
No caso de Bom Jardim da Prata e das demais comunidades do vale, a posse do
território configura a primeira oportunidade para acessarem recursos como linhas de
financiamento, necessárias, por exemplo, para a aquisição de implementos agrícolas ou
para solicitar a instalação padrão de energia elétrica. Sem o título definitivo de seus
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territórios, os moradores permanecem em constante processo de incerteza com
relação ao seu futuro, e mesmo de sua permanência em suas terras. Nessas condições,
lidam com o receio de ameaça de ordem judicial obrigando-os a abandonar suas
benfeitorias, plantações e animais, sem mencionar possíveis perdas associadas ao rico
patrimônio imaterial que perpassa o imaginário desses povos.
Assim, no Vale do Médio São Francisco, bem como em outras partes do país,
ocorrem conflitos territoriais por diferentes atores sociais que lidam com a violação de
direitos, principalmente quando se trata das comunidades tradicionais,
frequentemente invisibilizadas e negligenciadas em relação às suas especificidades
culturais.
A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE BOM JARDIM DA PRATA E O USO COMPLEXO DAS
ILHAS DO O FRANCISCO
A comunidade quilombola de Bom Jardim da Prata es localizada no norte do
estado de Minas Gerais, às margens do Rio São Francisco, na zona rural do município
homônimo. Seu acesso ocorre pela rodovia estadual MG-402, não pavimentada,
sentido Pintópolis. Trata-se de uma comunidade formada por uma diversidade étnica e
cultural, constituída de quilombolas, ciganos e ribeirinhos. Vale ressaltar que nesse
território híbrido habitam não essas diversas etnias, mas também outros grupos
sociais como sitiantes, fazendeiros (de pequeno, médio e grande porte), produtores de
leite, moradores de pequenas vilas entremeadas por grandes fazendas de produção de
gado de corte, soja, banana e outros produtos vinculados ao agronegócio9. Outros
tipos de uso e ocupação verificada nesse território consiste na presença de ranchos e
sítios de veraneio, além de portos para a atracação de barcos e balsas para o
transporte fluvial.
Sobre o histórico de ocupação dessa região, o final do século XIX marca a
chegada dos primeiros moradores dessa comunidade, em um período em que não
existia o cercamento das propriedades e era comum o uso das terras de forma
9Em conformidade com Barros (2013), utilizou-se o termo “agronegócio” como o conjunto de atividades
econômicas ligadas à agricultura, dentro do contexto ampliado da geração de valor por meio do trabalho
e do capital. Nessa medida, se encontram englobadas a agropecuária e outras áreas correlatas, em
diferentes escalas, abarcando ainda as atividades de plantio, colheita, armazenagem, transporte,
diferentes métodos de processamento, de beneficiamento e de comercialização.
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compartilhada por fazendeiros, trabalhadores rurais e posseiros (MARQUES, 2018;
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 2020).
Vale ressaltar que o processo de ocupação informal do território por diversos
grupos sociais e etnias tem motivado, no contexto atual, conflitos territoriais. Em
alguns relatos dos moradores da comunidade Bom Jardim da Prata é colocado que seus
antepassados teriam trabalhado para outros fazendeiros, que teriam cedido pequenas
frações de terras para que os quilombolas pudessem morar, cultivar roças e criar
pequenos animais para subsistência (Figura 4). Outros moradores relataram terem
adquirido suas propriedades através de contratos informais de compra e venda com os
antigos habitantes da região, mas sem a formalização nos cartórios do município.
Figura 4 - Uso do território e das margens do São Francisco para plantio de milho na
comunidade quilombola Bom Jardim da Prata
Fonte: Imagem cedida por Zé dos Passos, 2023.
Também é importante citar que muitos fazendeiros também foram posseiros no
passado, desse modo, uma parcela significativa dos moradores não possuem
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documentos formais de posse de suas terras. Nesse contexto, vale enfatizar também
que, essas terras em disputa, atualmente ocupadas e reivindicadas por quilombolas e
fazendeiros na zona rural de São Francisco, são pertencentes à União, sendo regiões
delimitadas por ilhas, lagoas e veredas, que são de interesse de proteção ambiental, ou
áreas que constituem margens de rios, onde predomina o bioma do cerrado e da mata
seca (CHAGAS, 2014).
Relevante frisar que parte dos moradores dessa comunidade residem às
margens do Rio São Francisco, usufruindo desse recurso natural de diversas formas
como para consumo próprio e dos animais que criam, para lazer, rega de hortas e
plantações, para a pesca e transporte, enfim, o uso das margens do rio e de suas águas,
é parte fundamental no cotidiano desses quilombolas. Nesse contexto podemos
também classificar essa comunidade rural como ribeirinha, a partir da autodefinição
pelos moradores da comunidade (COSTA, DAYRELL & OLIVEIRA, 2015). Para além dessa
classificação, tradicionalmente os quilombolas utilizam as margens do rio e as ilhas de
afluentes temporários para a criação de gado e de pequenos animais, bem como, para
a plantação de roças como mandioca, milho, arroz, feijão, fava, quiabo, abóbora, entre
outros produtos que são comercializados no quilombo ou nas feiras na sede do
Município de São Francisco (Figura 5).
Figura 5- Colheita de milho com semente cabocla e abóbora na comunidade quilombola Bom
Jardim da Prata
Fonte: Imagem cedida por Zé dos Passos, 2023.
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O uso desse território segue uma dinâmica conhecida como transumância
(MICHAELIS, 2023), que consiste na migração de pessoas e de rebanhos, bem como de
suas plantações e da moradia, das partes inundáveis das margens do rio, para as partes
mais altas do território, durante o período das chuvas (ou das águas, na linguagem
usada pelos quilombolas). Assim, parte dos moradores mudam temporariamente para
a casa de parentes ou vizinhos, em outras vilas ou povoados situados nas partes com
cota altimétrica mais elevada e distantes do rio, ou mesmo passam a residir na sede do
município em função das cheias. Essa condição cíclica é observada nas ilhas
temporárias do São Francisco, que são abandonadas no período de cheias do rio.
Verifica-se, nas proximidades do quilombo, algumas ilhas que são utilizadas pelos
moradores mais antigos através dessa dinâmica.
A partir dessa abordagem sobre o território ocupado pela comunidade
quilombola Bom Jardim da Prata, verifica-se que existem complexidades em relação
aos usos, ocupação e reconhecimento de posses. Nessa medida, ressalta-se que o
território foi ocupado por diferentes sujeitos sociais e de diversas formas ao longo do
tempo, principalmente vinculado à criação de gado e ao cultivo da agricultura de
subsistência. Sua ocupação foi estimulada também pela criação de portos e sítios, que
davam suporte para a pesca artesanal, e no período áureo da navegação, com a
presença de embarcações à vapor. Sendo assim, esse território configurava um
importante ponto de parada de viajantes que faziam a rota da região Nordeste para o
sudeste de nosso país.
Ademais, vale salientar que o processo de produção do território quilombola
sofreu uma profunda transformação a partir da segunda metade do século XX, com a
chegada de novos moradores à região, principalmente fazendeiros e empresas
vinculadas ao agronegócio, que contavam com o incentivo governamental e o
financiamento de bancos públicos para o desenvolvimento do norte do estado.
Nesse contexto, é importante citar como pontos relevantes que impulsionaram
o desenvolvimento da região em questão: a construção da nova capital do Brasil
Brasília DF (entre 1957 e 1960) e, consequentemente, a consolidação da ligação do
estado de Minas à capital Federal, que corta o território da comunidade de Bom Jardim
da Prata; a abertura de agências do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste do Brasil
em diversas cidades da região, com a criação do crédito rural, atraindo, assim,
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fazendeiros de diversas parte do país; a implantação da Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1959 na cidade de Montes Claros, atraindo
investimentos e incentivos fiscais e alavancando o processo de industrialização
regional. Essas e outras ações desempenhadas por diversos atores sociais públicos e
privados, introduziram uma nova dinâmica nas relações de trabalho e de apropriação
do território nas margens do médio São Francisco (MARQUES, 2018).
Os impactos dessas intervenções e do interesse de exploração econômica da
região foram sentidos, dentre outros aspectos, no maior cercamento de áreas, onde a
disputa por terras resultou na expulsão de antigos posseiros quilombolas ou não - e
na chegada de novos posseiros e de fazendeiros à essa região; na implantação de
empresas rurais, com o uso de novas tecnologias e de novas culturas, destacando-se o
uso de sementes melhoradas geneticamente. Houve, ainda, o incentivo do uso da
irrigação mecanizada, com a presença de grandes pivôs centrais (apenas para os
grandes fazendeiros), bem como o plantio de soja e de banana para exportação nas
últimas décadas. Contudo, apesar das transformações presenciadas, a estrutura
fundiária, que veio das grandes sesmarias de terras do Brasil colônia, que é
caracterizada pela conformação do território em grandes latifúndios, permaneceu a
os dias atuais. Assim, os territórios nas margens do São Francisco conformam um
mosaico territorial, onde existem chácaras e sítios de pequeno porte, fazendas de
médio e de grande porte, além de vilas e povoados dispersos por toda a região.
Outro fator que causou impacto no uso do Rio São Francisco e de suas margens
foi a construção da barragem de Três Marias, no ano de 1962 (OLIVEIRA, 2018). A
implantação dessa barragem tem influenciado no controle do nível do rio, que
depende da abertura ou não das comportas desse barramento. Assim, a formação das
ilhas temporárias deixam de depender apenas da intensidade das chuvas, que ocorre
sobretudo entre o período de novembro a janeiro, onde verifica-se as cheias nessa
região, passando a ser influenciada também por esse controle exercido pela barragem.
O fato é que os ribeirinhos e quilombolas, que tradicionalmente utilizavam as margens
do rio para atividades de subsistência, com a diminuição das cheias, têm lidado com
problemas na agricultura, pelo fato dos terrenos ficaram menos férteis e úmidos,
interferindo, assim, negativamente no resultado das colheitas, colocando os moradores
da comunidade e da região em um processo de empobrecimento e de risco social.
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O uso das ilhas pelos moradores do quilombo, que legalmente são áreas
pertencentes à União, ocorre no período de seca do rio, principalmente no período de
junho a outubro, quando as águas baixam. Nessas condições, mesmo as ilhas que ficam
submersas, com as cheias voltam a aparecer. Por conseguinte, esses terrenos férteis e
úmidos são disputados pelos moradores para o plantio de roças de abóbora e de milho.
Os terrenos não possuem cercas e os antigos moradores detém o direito de uso por
meio de um acordo informal feito entre eles, que é respeitado por todos. Assim, o
direito de uso da ilha é subdividido em frações de terreno entre famílias, sendo as
áreas demarcadas com estacas de madeira cravadas no solo (COSTA, DAYRELL &
OLIVEIRA, 2015).
O acesso às ilhas ocorre por meio do transporte realizado a partir de pequenas
canoas à remo, que são construídas pelos moradores da comunidade. Vale destacar
que os moradores frequentam as ilhas principalmente durante os períodos do plantio e
da colheita, ou para o preparo da terra, como a capina e o combate às ervas daninhas.
O território da comunidade não fica circunscrito apenas ao uso das áreas
cercadas, mas amplia-se para as matas onde os quilombolas caçam, retiram madeira
e palha de buriti para construções de suas casas, colhem frutos do cerrado (como o
pequi, baru, umbu, entre outros); e também se estende para o uso das margens dos
rios da região, onde pescam e montam barracas em suas faixas de areia conhecida
como a praia. Nesse aspecto, os moradores cortam caminho por dentro dos pastos e
passam por baixo das cercas de seus vizinhos sejam de fazendeiros ou não quando
precisam se deslocar para outras partes do território. Também, alguns percursos
podem ser feitos utilizando a balsa, usada principalmente quando precisam ir à sede
do município, ou pequenas embarcações.
Para além das questões territoriais, percebe-se na comunidade quilombola um
modo de viver coletivo manifestado nos laços de solidariedade e nas tradições culturais
expressas, principalmente, nas celebrações e organizações de festas pagãs ou de santos
católicos, como exemplos a Folia de Reis, festas de São Gonçalo, São João e Santo
Antônio (IEPHA, 2015). Outras tradições culturais em comunidade são as celebrações
que envolvem a dança do carneiro, do tamanduá, bem como as narrativas do lugar
(rumãozinho, caboclo d´água, mãe d´água, mulher da trouxa, além de conhecidos
feiticeiros que ainda atuam pelo território). Apesar de boa parte do plantio ocorrer de
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forma isolada, presencia-se ainda a formação de mutirões de moradores em situações
de demanda de ajuda de membros da comunidade nos momentos de roçar algum
pasto, bem como, na partilha ou troca de parte da colheita, que ocorre por meio do
escambo.
Além dessas manifestações, as tradições culturais também estão presentes na
produção de artesanato em palha de buriti, que origina produtos como bolsas, balaios
e cestaria. Também, em todo médio São Francisco verifica-se a produção de cerâmicas
e potes de barro, utilizados para a conservação de alimentos e de água. É comum a
presença de moringa e outros reservatórios para manter a água fresca que ficam
disponíveis, geralmente, na sala de visita de cada morador.
Nessa perspectiva, a Associação Quilombola de Bom Jardim da Prata tem
desempenhado papel fundamental nas iniciativas de preservação e difusão do
patrimônio cultural, apesar da falta de recursos financeiros e incentivos
governamentais, e na condução de ações voltadas ao processo de reconhecimento
legal do direito ao uso do território pela comunidade (MARQUES, 2018).
A LUTA PELO TERRITÓRIO, VELHOS E NOVOS CONFLITOS
A disputa pelo território do vale do médio São Francisco remonta ao processo
de colonização e ocupação de terras no período do Brasil colônia, marcado pela criação
de grandes sesmarias pelos colonizadores em contraponto à resistência e luta indígena
para permanência nos territórios colonizados, destacando nessa região a presença das
tribos Xakriabá e Kayapó (FONSECA, 2011). Essa planície do vale médio do São
Francisco era antigamente habitada pelos povos indígenas, destacando-se nesse
período a ocupação de uma das curvas mais sinuosas do rio São Francisco, que é
conhecida atualmente como Barreira dos Índios (também incluída em terras da União),
mas que são reivindicadas pela Associação Quilombola de Bom Jardim da Prata.
Durante os séculos XVII e XVIII, no período que compreende o ciclo da
mineração, esse vale foi ocupado por fazendeiros que utilizavam da criação de gado
para abastecer a região das minas. No fim do século XIX, diversos moradores
habitavam a região do vale médio do São Francisco, com destaque para a presença de
fazendeiros e ribeirinhos, todavia, a dinâmica da ocupação foi alterada com a chegada
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de pessoas negras que teriam subido o rio Verde e chegado à região, fugindo da seca
no Nordeste e outros teriam vindo do vale do Gorutuba (região do atual município de
Janaúba - MG), conforme apontado por João Batista de Almeida Costa e Aderval Costa
Filho (2008) (COSTA, 2012, 2013; COSTA FILHO, 2008).
Assim, o vale do médio São Francisco sempre se mostrou atrativo para
ocupação por possuir recursos naturais propícios para consumo, navegação, cultivo e
para estimular o desenvolvimento da economia, principalmente sob a perspectiva do
agronegócio. Tais condições têm intensificado as disputas e conflitos na região,
sobretudo vinculado aos interesses de posse de terras e domínio dos recursos hídricos
entre fazendeiros e grandes empresas. Dentre os fatores que impulsionam sua
ocupação, pode-se mencionar a grande disponibilidade de terras cultiváveis com relevo
favorável à realização das atividades de agricultura e pecuária; a presença de rios,
lagoas, veredas, ilhas, matas, que contribuem para a realização das atividades
cotidianas e para consumo e extração de recursos naturais; as condições climáticas
adequadas para a produção rural (Figura 6).
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Figura 6 - Área de vazante do Rio São Francisco com avanço sobre áreas de pastagem, formação
de ilha e vereda na comunidade quilombola Bom Jardim da Prata
Fonte: Amaro Sérgio Marques, 2018; dos Passos, 2023.
Segundo moradores da comunidade, existiram no passado grandes fazendas de
criação de gado, antes do cercamento das terras - Fazenda Barreira dos Índios, Fazenda
Bom Jardim da Prata e Fazenda Bom Jardim do Rio Pardo. Essas fazendas situavam-se
nas margens do rio São Francisco, sendo consideradas terras de marinha, terras
devolutas ou simplesmente terras da União. Como descrito, essas terras foram
ocupadas, ao longo da história, através de doações ou processo de compra e venda,
geralmente informal; por meio do uso da violência, que resultou, inclusive, nas
tentativas de extermínio de povos nativos e nos conflitos de ocupação e posse de
terras; por meio da compra de parte de antigas posses, mas com o cercamento ilegal
realizado no ato da medição pelo agrimensor ou com o apoio de cartórios e do poder
público local. Enfim, verifica-se que os processos de ocupação e posse dessas terras da
marinha ocorreram, de modo geral, fora do ordenamento legal estabelecido pelo
Governo Brasileiro.
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Nessa perspectiva, o território da Comunidade Quilombola Bom Jardim da
Prata e, de um modo geral, o vale médio do São Francisco, constituíram-se a partir de
um mosaico, tendo seus limites territoriais constantemente alterados conforme os
interesses coletivos envolvidos de comunidades tradicionais e interesses particulares
de outros grupos sociais. Desse modo, quilombolas, pescadores, veredeiros,
ribeirinhos, sitieiros, fazendeiros, empresários do agronegócio, comerciantes, ciganos,
barranqueiros, moradores das vilas e povoados, agricultores familiares, posseiros e
descendentes dos povos originários têm ocupado esse território de forma dinâmica e
fragmentada (MARQUES; MARQUES, 2020).
Nos tempos atuais, na zona rural do município de São Francisco margem
esquerda do rio verifica-se a presença de grupos econômicos locais ou regionais, que
são proprietários de grandes fazendas voltadas para a criação de gado, plantação de
soja, semente de capim, banana e frutas tropicais para a exportação. Vale citar alguns
representantes do agronegócio da região: Cros Agroindustrial, Laticínio Caroba, Grupo
Plantar, Fazenda da Igreja Universal do Reino de Deus, Fazenda do Grupo Araújo,
Fazenda do Grupo INCIVI, Fazenda do Supermercado BH, entre outras. Outrossim, é
importante destacar que essas empresas têm absorvido mão-de-obra das comunidades
ribeirinhas e quilombolas situadas às margens do Rio São Francisco, ao mesmo tempo
em que disputam o direito de uso e posse dos territórios (MARQUES, 2018).
Vale mencionar a natureza frágil, até mesmo questionável, quanto a lisura dos
processos, que envolve a documentação e registro de parte das terras do vale.
Segundo membros da comunidade de Bom Jardim da Prata, a informalidade e as
formas pouco ortodoxas sempre estiveram presentes na produção desse território.
Nessa medida, existem relatos de conluio de fazendeiros e donos de cartório, além do
uso de violência para a expulsão dos antigos moradores que tiveram que abandonar
suas antigas propriedades, em um processo de conflito ainda presente na região
(MARQUES, 2018).
Um marco na intensificação dos conflitos armados no vale ocorreu com o
assassinato de Eloy Ferreira da Silva. Eloy, que foi Presidente do Sindicato de
Trabalhadores Rurais do Município de São Francisco e lutava pela defesa dos
trabalhadores rurais (posseiros, quilombolas, ribeirinhos, indígenas). O presidente do
sindicato lutava pela ocupações de terras devolutas e pela reforma agrária no vale, o
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que motivou violentos conflitos com grandes fazendeiros da região, sendo assassinado
em 16 de dezembro de 1984. Sob essa perspectiva, dado a aparente impunidade que
esse caso emblemático causou, a escalada de violência na região tem se mantido
constante, atingindo os povos tradicionais em todo o médio São Francisco (AMADO,
1985).
Ainda nesse contexto de violência, um outro evento que acirrou os conflitos no
vale foi uma campanha realizada pelo Sindicato de Produtores Rurais de Montes
Claros, que contou com os fazendeiros do município de São Francisco e de diversos
outras cidades do norte de Minas Gerais, que contribuiu para desqualificar a luta da
comunidade quilombola através de acusações falsas e da atribuição de
responsabilidade à esses povos por crimes ambientais, sendo uma tentativa para
conseguir apoio da opinião pública da região. Para tanto, foram feitas matérias na Rede
de Televisão Grande Minas (do conglomerado da Rede Globo de Televisão) onde a
pauta denunciava os quilombolas como responsáveis pelo desmatamento ilegal,
incêndio e a invasão de terras pertencentes a fazendeiros situadas nas margens dos
rios da região e em ilhas do São Francisco. Essas matérias alertavam sobre o grande
perigo de aquilombamento do Norte de Minas, bem como a ameaça de que os
quilombolas estariam se organizando para ocupar fazendas em toda região. Essas
notícias também circularam pelos aplicativos de mensagens e foram pautas de diversas
reuniões organizadas pelos representantes do agronegócio (SOCIEDADE RURAL, 2023).
Como desdobramento dessa campanha midiática, patrocinada pelo Sindicato
Rural, foi criado o Movimento Paz no Campo, que, em princípio, teria como intuito
desarmar os fazendeiros, os movimentos sociais representados principalmente pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e os quilombolas. Na prática, o
que se viu foi o acirramento dos conflitos, com a organização de grupos de fazendeiros
armados que hegemonicamente são formados por famílias tradicionais de ruralistas,
com poder político, aquisitivo; e que dominam os territórios rurais nessa região desde
a colonização. Todavia contribuiu para que a classe ruralista organizasse um
movimento de resistência como tentativa de retomada de áreas ocupadas por
quilombolas e pelos movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST). Essa situação é evidenciada, conforme nota assinada pela Comissão
Pastoral da Terra (CPT) e (MST), por meio do movimento dos ruralistas, que resultou no
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cercamento e ameaça armada contra 100 famílias de Sem Terra do MST, ocorrido no
dia 18 de abril de 2018, na fazenda Bom Jesus, localizada na Estrada da Produção, no
norte de Minas Gerais. A área em disputa pertence à Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), ligada ao Governo de Minas, mas que está
como posse de fazendeiros. As ões dos ruralistas com o uso de armas e de ameaças
foram replicadas em outras partes da região, em um processo de acirramento de
tensões, esses conflitos acionaram a Polícia Federal, incumbida de dar proteção à
comunidade quilombola de brejo dos Crioulos nos municípios de São João da Ponte e
Varzelândia, além de diligências promovidas pela Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (FEITOSA, 2008; FUNDAÇÃO PERSEU
ABRAMO, 2023).
Outro conflito relacionado ao uso indevido de parte do território quilombola
nas margens do São Francisco ocorre pela presença de areeiras na região. Nesse
processo de extração de areia pelas empresas, as margens são desmatadas e são
instalados dragas e dutos com sucção para a retirada de areia para construção civil no
leito do rio. Essa atividade econômica é muito importante para o município, todavia é
questionada pelos moradores do quilombo, por causa da degradação ambiental, do
excesso de retirada de água do rio, da poluição sonora e da falta de transparência em
todo o processo de licitação, além do fluxo constante de carretas e caminhões na
estrada que leva ao porto. Soma-se a isso o avanço das áreas de pasto, a ampliação das
áreas de irrigação promovidas pelas empresas do agronegócio e o desmatamento na
área do quilombo.
Um novo conflito no território em disputa começa a tomar forma nas
proximidades do Porto Velho e Porto do Meio, com o início da construção da ponte que
fará a ligação da sede do município à comunidade quilombola pela rodovia MG-402,
sentido Pintópolis. Segundo informações amplamente veiculadas pelo Governo de
Minas, essa será uma das maiores pontes do estado, sendo estimada com cerca de
1.120 metros de comprimento e 13,8 metros de largura e custo previsto de R$113
milhões, recurso financeiro obtido através do Termo de Reparação (no contexto do
crime ambiental do rompimento da barragem de Brumadinho, ocorrido em 25 de
janeiro de 2019) assinado com a Vale mineradora (MINAS GERAIS, 2021).
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Como aponta Marques (2018), a ponte representa um novo processo externo
que atravessará de forma hegemônica e contundente o território da comunidade, com
desdobramentos ainda não mensuráveis. Como possíveis consequências pode-se
mencionar a especulação imobiliária, com o aumento do preço de lotes, sítios e
fazendas na região, atraindo mais posseiros para as cobiçadas áreas da União; o
crescimento desordenado das vilas e o surgimento de novos bairros, possivelmente
com infraestrutura precária, nas comunidades ribeirinhas e quilombolas; o abandono
ou alteração da dinâmica econômica dos pequenos comércios nas margens do rio nos
quais os moradores faziam compras ou se divertiam enquanto aguardavam a travessia
pelas balsas; o aumento do desmatamento e dos crimes ambientais, a possibilidade de
ampliação da presença de areeiras, do fluxo de veículos e da emissão de poluentes,
como geralmente acontece em obras de mesmo porte promovidas pelo Governo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação à disputa das terras da União, percebe-se que na porção
correspondente ao Vale do Médio São Francisco existem ainda conflitos relacionados à
posse das ilhas e das planícies de inundação, apesar das mesmas terem sido
compartilhadas por séculos entre os fazendeiros e os povos tradicionais. Nesse sentido,
o estabelecimento dos grandes proprietários rurais (na ocupação do território baseado
na concentração de terras em uma espécie de latifúndio), incentivados por uma
política de Estado levaram aos conflitos que se verificam na atualidade.
Pelo fato das ilhas e as margens dos rios se encontrarem sob jurisdição da
União acaba inviabilizando a posse e titulação definitiva de boa parte do vale em
questão, quando considerada a óptica da legislação e ordenamento jurídico em
vigência. Assim, apesar do Artigo 68 ADCT da Constituição Federal de 1988 apontar
que “[...] Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando
suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir lhes os
títulos respectivos [...]., tal fato não tem sido ainda empregado em relação a
comunidade de Bom Jardim da Prata e tantas outras espalhadas pelo país, por estarem
efetivamente disputando a posse de um território que, por princípio, deveria estar sob
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o domínio da União e serem consideradas de interesse ambiental - fato esse
historicamente constituído e com ampla jurisprudência consolidada.
Nesse sentido, fica claro não apenas a negligência em relação à questão da
propriedade das terras, nas quais deve se incluir as planícies de inundação e as ilhas do
rio São Francisco, mas também uma possível anuência em relação aos conflitos que
vêm ocorrendo nas últimas décadas. Nessa medida, é fundamental uma revisão acerca
dos processos impetrados pela União no tratamento ao uso e posse de suas terras
(terras da união, terras de marinha e terras devolutas), no sentido de garantir os
direitos territoriais a permanência dos povos tradicionais e dos outros moradores do
vale, para quem sabe assim, diminuir a escalada de violência que têm assolado esse
território.
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