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frequentarem espaços de compra, onde a classe alta reforça sua hegemonia e a classe
mais baixa luta para não ficar tão humilhada.
No fragmento 22 da narrativa de Ruffato, uma garota de 16 anos passa por uma
rua de comércio e se sente tentada a comprar: “Ah!, o de pedra vermelha no anular,
Hum..., o que lembra? Um esse, Lindo, princesa!, devolve, Ah!, não vai levar?, o tênis
cirurgicamente branco sorri, intimidada, Vai... leva... faço um desconto... o coração, Ui!,
desvencilha-se a tentação pespegante [...]" (RUFFATO, 2007, p.5 51-52).
Observa-se ainda no fragmento 22, um trecho em que mostra uma das
inúmeras formas de transformação do indivíduo em mercadoria: “Princesa... quer
fazer um book? Bonita... Aqui, meu cartão... Truque mais besta! Fernanda, boba,
visgou na lábia, até foto pelada, Pra Playboy, Pra Globo, eta!” (RUFFATO, 2007, p.52)
Aparecer em revista, na TV é sinônimo de ser comentado, desejado, sair da
invisibilidade e captar o olhar do consumidor.
Bauman (2008) traz alguns estudos sobre a transformação do homem em
mercadoria. Para ele as pessoas se vendem como sapatos, roupas e relógios, no intuito
de serem aceitas, de saírem do anonimato, da imaterialidade cinza e monótona da
sociedade contemporânea. Muitos trechos do romance Eles eram muitos cavalos
revelam indivíduos mercadoria. No episódio 42, intitulado "Na ponta do dedo (2"), o
autor lista um amontoado de nomes de pessoas, com suas características físicas e
psicológicas, como se estivessem em uma vitrine, se oferecendo ao consumo. Na
realidade, a sociedade pós-moderna não promove apenas o consumo de produtos,
pessoas, mas também o consumo de informações exacerbadas pela mídia.
As grandes cidades são uma síntese da sociedade, é onde o indivíduo por
excelência se aloja. A sociabilidade, a privacidade, os grupos sociais, a população, as
revoluções, democracia, a autocracia se desenvolvem e se embaralham nas grandes
cidades, pois elas são o esteio da pós-modernidade. Ianni (2003) aponta que nas
cidades se pode observar como a máquina do mundo fabrica não só problemas e
soluções de todos os tipos, mas também doutrinas e teorias as mais diversas, como
pragmáticas e críticas, utópicas e nostálgicas. São reflexos da realidade social de um
tempo, compreendendo as diversidades e desigualdades políticas, econômicas,
culturais, linguísticas e outras.
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 29, n. 2, jul/dez, 2023
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