https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v29n2p3-6
Vol. 29, n. 2, jul/dez, 2023
ISSN: 2179-6807 (online)
APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ
DESENVOLVIMENTO SOCIAL: INTERSECCIONALIDADES,
DECOLONIALIDADES E ESPOS INSURGENTES
Greiciele Soares da Silva1
Guélmer Júnior Almeida de Faria2
Gustavo Souza Santos3
A interdisciplinaridade é, desde longa data, uma oportunidade salutar para o
conhecimento, um trajeto instigante de possibilidades e um desafio a ser celebrado no
bravo ofício do pesquisador. Tramas e percursos interdisciplinares no ensino e na
pesquisa tem exigido novos aparatos de mobilização entre teorias, consensos e
dissenso e, simultaneamente, produzido ricos repertórios de constructos
3Doutor em Desenvolvimento Social com estágio pós-doutoral pelo Programa de
Pós-graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes). Mestre em Geografia pela Unimontes. Graduado em Comunicação Social -
Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário FIPMoc (UNIFIPMoc), em Geografia pela
UNIFRAN e em Ciências Sociais pela FUNP. Atua como docente das faculdades de Comunicação
Social e Arquitetura e Urbanismo do UNIFIPMoc. É pesquisador associado do Núcleo Citadino
(Núcleo Interdisciplinar de Temáticas Urbanas). E-mail: gustavo.ccpv@gmail.com. ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0002-9712-2690.
2Doutor e mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes) com estágio pós-doutoral pelo Programa de Pós-graduação em Economia
Doméstica da Universidade Federal de Viçosa (UFV). É graduado em Economia Doméstica pela
UFV e em Sociologia pela FAEP. Atua como Pesquisador Doutor do Instituto de Políticas
Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV). Membro do Grupo de Pesquisa OPARÁ-
MUTUM: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Migrações e Comunidades Tradicionais do rio
São Francisco (UNIMONTES) e do Grupo GERAR: Grupo de Estudos Rurais - Agriculturas e
Ruralidades (UFV). E-mail: guelmerjrf@gmail.com. ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0003-2089-3064.
1Doutora em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes), mestre em Sociedade, Ambiente e Território pela Universidade Federal de Minas
Gerais em associação com a Unimontes Graduada em Ciências Sociais pela Unimontes e em
Pedagogia e História pela Faveni. Professora de Educação Básica da Secretaria Estadual de
Educação de Minas Gerais. Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Investigação
Socioambiental (NIISA). E-mail: greiciele.silva@educacao.mg.gov.br. ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0002-0841-3593.
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teórico-empíricos que se aproxima de realidades e fenômenos fluidos, movediços e
caleidoscópicos.
Quando o que se aventa apurar na interdisciplinaridade são os estudos do
desenvolvimento, a odisseia se ainda mais assinalada de conjunturas e
protuberâncias. Asperezas e assimetrias estas que são o aporte para construir diálogos
emancipatórios e genuinamente pertinentes para a construção de alternativas
projetuais, políticas e práticas de desenvolvimento social - amplo, humanizado e
libertador. Da polissemia conceitual e da variabilidade contextual, os estudos do
desenvolvimento se consolidam como projéteis para se pensar e intervir sobre a
realidade em pleno curso.
A proposta deste dossiê foi cobrir uma parcela potencial de estudos
contemporâneos do desenvolvimento social, cobrindo sobretudo, as articulações entre
interseccionalidades, decolonialidades e espacialidades insurgentes. Às vésperas da
celebração de duas décadas do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
Social (PPGDS), o primeiro no âmbito da Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes) e da região Norte de Minas Gerais, reúnem-se textos e produções que
articulam múltiplos olhares sobre as vertentes que fazem do desenvolvimento social
uma poética do tempo e um aceno esperançoso para a construção de novos modelos
societais.
Uma gama variada de texto fornece viço à temática, celebrando a
interdisciplinaridade e diversidade de arcabouços. Andréa Nogueira do Amaral Ferreira
busca na literatura os contornos narrativos para a produção de sentidos e referências
sobre a produção de cidades e sociedades desiguais, sobretudo quando o olhar se
dirige às microescalas e narrativas. O trabalho intitulado "Utopia e distopia nas letras
pós-modernas: uma análise de Eles eram muito cavalos, de Luiz Ruffato" articula
utopismos e literatura para se pensar a realidade social de forma insurgente e
propositiva.
Cenários de desigualdade social, racial e étnica são aventados em dois outros
trabalhos. Em "A desigualdade ainda es entre nós? Notas insurgentes sobre as raízes
da discriminação racial", Douglas Manoel Antônio de Abreu Pestana dos Santos
examina tessituras desiguais em uma arqueologia insurgente sobre sua produção,
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domínio e residual. Fábio Antunes Vieira, Leandro Mendes e Leila Souza versam
sobre povos indígenas no arcabouço identitário e de interesse de diferentes projetos
de país, explorando sobretudo a relação com a natureza. O texto "Povos indígenas e
meio ambiente: uma relação entre preconceitos e o interesse nacional" explora
diferentes premissas para se pensar povos originários no contexto nacional.
Os estudos decoloniais são debatidos em dois diferentes trabalhos e premissas.
Ana Clara de Oliveira Peixoto, na produção "Quem vai querer saber da minha história?
Refletindo decolonialidade com adolescentes em socioeducação e internação",
desenvolve um trabalho de experimentação educativa entre adolescentes sobre a
construção de referenciais decoloniais e narrativas pessoais. A autora Ele Nas debate
premissas e pressupostos para descolonizar o conhecimento na perspectiva do filósofo
Lewis Gordon.
Arcabouços jurídicos são acionados nas propostas de João Lucas Gomes de
Oliveira e Patrícia Morais Lima em "A eficácia dos direitos sociais frente ao
neoliberalismo no Brasil", de Taise Daiana Lopes Lessa Vieira e Marcelo Palma de Brito
em "Direitos sociais, mínimo existencial e garantismo constitucional", e de Gabriel
Pedro Moreira Dassoler em "Contornos de um cosmopolitismo intercultural". Direitos
sociais são postos em perspectiva a partir de repertórios normativos e influências da
economia política, bem como debatidos a partir de premissas interculturais e
cosmopolitas.
A interseccionalidade aqui ajusta lentes para examinar a produção de
conhecimento e do saber legitimado das escritoras assegurando a luta em torno
das representações, afiançando voz e denunciando silenciamentos, principalmente
em relação às mulheres negras. O artigo “Interseccionalidade e sua pluralidade
conceitual: um quadro comparativo entre autoras” de Maylla Monnik Rodrigues de
Sousa Chaveiro, debate o conceito de interseccionalidade proposto por teóricas
comprometidas com o desenrolar epistemológico e político visto como uma prática
voltada à superação de desigualdades, por meio da luta antirracista, antipatriarcal e
anticapitalista.
No campo da superação das desigualdades e das refrações das assimetrias
entre os marcadores sociais da diferença de gênero e deficiência, Werley Pereira de
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Oliveira e Maria da Luz Alves Ferreira em “Por um desenvolvimento social analisado
pelos eixos da opressão e da exclusão por motivo de gênero e de capacidade”,
consideram até que ponto a teoria do reconhecimento social pode apoiar artifícios que
justifiquem e valorizem políticas de redistribuição, de reconhecimento mútuo e
representação de pessoas com deficiência e mulheres.
Do século XX ao início do século XXI, o desenvolvimento social tornou-se o
tema principal das políticas públicas nacionais, permitindo encontrar uma saída para a
maioria dos problemas sociais, como a pobreza, o desemprego, a violência e sobre a
produção da vida contemporânea entre direitos e cotidianos. Desse modo, as
propostas que compõem este dossiê interpelam múltiplos cenários de uma realidade
fraturada. À guisa da leitura e do estudo diligente feito práxis, espera-se que estes
trabalhos produzam efeitos de uma feitura insurgente, decolonial, interseccional e
esperançosa do presente e do futuro.
Saudações e votos de uma leitura inspiradora e transformadora,
Greiciele Soares da Silva
Guélmer Júnior Almeida de Faria
Gustavo Souza Santos
Organizadores
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