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como: Ortiz (1975; 1996), Cabrera (1994), Valdés (1985) entre outros; assim como
algumas referências nos trabalhos de conhecidos antropólogos como William Bascom
(1969) e Melville Herskovits (1937). Mas, geralmente, as pesquisas se concentram no
estudo dos rituais, cerimônias, particularidades da religião, além das suas
continuidades e rupturas em relação à África, sendo esses os tópicos mais recorrentes.
O presente artigo é parte de uma pesquisa que se centra no estudo dos
objetos2, tomando-os como eixo fundamental para uma aproximação de análise de
alguns dos processos pelos quais passa a Santería cubana. Não só focado no interior do
grupo religioso, também vendo suas interações com o contexto da realidade cubana,
especificamente aquelas que se estabelecem entre espaços como museus,
casas-templo e mercado. Tomando como ponto de partida este último espaço,
observamos como se estabelece a presença da Santería no cotidiano dos cubanos.
Para nos contextualizar, veremos primeiro como se apresenta o campo religioso
afro-cubano e suas inter-relações. O campo religioso afro-cubano é um espaço de
convivência de várias religiões que compartilham uma origem ou antecedente na
África, reconhecido na atualidade como uma das marcas mais importantes dos negros
escravizados na cultura cubana. Algumas são propriamente cubanas e outras
procedentes de países vizinhos da área do Caribe; no primeiro grupo3se encontram: a
Santería (também conhecida como religião Lucumí, Regla Ocha ou Complexo Ocha-Ifá),
a Regla Conga ou de Palo Monte, a Sociedad Secreta Abakúa, e por último as Reglas
Arará e a Iyesá (praticamente extinguidas) e o Espiritismo Cruzado. No segundo grupo
estão o vodú e o rastafarianismo que chegaram via emigração e proximidade com seus
países de origem, Haiti e Jamaica. A coexistência entre estas religiões é bastante
pacífica, no sentido de que uma mesma pessoa pode estar iniciada em vários desses
sistemas religiosos, uma particularidade chamada de paralelismo religioso (James,
3ASantería cubana, religião Lucumí, Regla de Ocha ou Complexo Ocha-Ifá; é uma religião basicamente
de ascendência iorubá. Rende culto aos orixás, tem uma concepção do mundo baseada na mitologia de
suas deidades e compreende vários sacerdócios: iyalocha /babalochas, obás e babalawos. A Regla Conga
ou Palo Monte que tem como antecedentes os aportes do conglomerado etnolinguístico Congo-Bantú.
Suas crenças estão centradas, principalmente, nos poderes dos mortos e dos antepassados conhecidos
entre eles mpungo emsambi. A Sociedade Secreta Abakuá, é uma organização social e religiosa
exclusivamente masculina. As Reglas Arará e Regla Iyesá se caracterizam por um pouco alcance na ilha,
se praticam a nível local, principalmente nas regiões centro-sul da ilha.
2Objetos sagrados: a Santería cubana através de sua cultura material. Tese de Doutorado apresentada
no programa de Pós-graduação em Antropologia social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, da Universidade de São Paulo.
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
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