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composta por pessoas negras e LGBTQIAPN+. Marcada pelo uso de drogas e pela
questão territorial, assume-se para esse grupo a “discriminação ou ausência de
perspectivas” (AMARAL; ANDREOLLA, 2021), ou ainda, a ideia de que as pessoas
adictas são dependentes químicos e sem autocontrole. (RUI, 2014, p.80)
Deste modo, para além da atuação governamental, destaca-se as ações
religiosas das Comunidades Terapêuticas (CT’s) como uma das iniciativas que objetivam
minimizar ou solucionar este problema, por exemplo, o Programa Cristolândia, que
introduz no tratamento de pessoas adictas a disciplina, a espiritualidade e o auxílio.
As “Cristolândias”, como se verá mais adiante, são tecnologias de prevenção,
recuperação e assistência que têm como principais propósitos: a aproximação do
sujeito (e sua consequente adesão) à crença religiosa cristã, a reconstituição do
convívio familiar e social e a abdicação das drogas.
Ao analisarmos a lógica do acolhimento das pessoas adictas, é fundamental
refletir sobre os processos da normatização dos corpos desses sujeitos, uma vez que os
usuários de drogas são socialmente lidos como socialmente inferiores cuja
corporalidade pode provocar desconforto, como constata Taniele Rui (2014.
O atendimento das CT’s parece se valer desse estigma social, projetado sobre as
pessoas adictas, e passa a utilizar o termo a “adicção” de forma conveniente, isto é, a
classificação, unifica os indivíduos no estado exclusivo de “adictos”, configurando uma
limitação, que possibilita oferecer-lhes um mesmo modelo de tratamento,
independente do tipo de droga utilizado (RUI, 2014, p.81).
Tendo por base esse contexto, este artigo busca analisar como a razão religiosa
é operacionalizada, por meio das ações de agentes evangélicos na região da
“Cracolândia”, em São Paulo, com o objetivo de compreender os processos
pedagógicos desenvolvidos em meio a população adicta. Especificamente, trata-se de
mapear, descrever e analisar como se estabelece uma pedagogia do cuidado, por meio
de ações realizadas por organizações religiosas, tais como o Programa Cristolândia, e
sua relação com as políticas desenvolvidas pelo poder público.
Para tanto, a abordagem nos valemos da análise documental, da coleta de
depoimentos e da pesquisa etnográfica (Magnani, 2008). Realizamos revisão da
bibliografia por meio da consulta a teses, dissertações e artigos científicos que versam
sobre os temas da normatização e das Comunidades Terapêuticas. Também analisamos
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
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