https://doi.org/10.46551/issn2179-6807v30n1p113-143
Vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
ISSN: 2179-6807 (online)
CRISTOLÂNDIA: PEDAGOGIA DO CUIDADO E ATUAÇÃO RELIGIOSA NA
REGIÃO CENTRAL DE SÃO PAULO1
Rosenilton Silva de Oliveira2
Rodrigo dos Santos Silva3
Recebido em: 04/09/2024
Aprovado em: 18/09/2024
Resumo: Neste artigo busca-se analisar como a razão religiosa é operacionalizada, por meio
das ações de agentes evangélicos na região da “Cracolândia”, em São Paulo, com o objetivo de
compreender os processos pedagógicos desenvolvidos em meio a população adicta.
Especificamente, trata-se de mapear, descrever e analisar como se estabelece uma pedagogia
do cuidado, por meio de ações realizadas por organizações religiosas, tais como o Programa
Cristolândia, e sua relação com as políticas desenvolvidas pelo poder público. A partir da
revisão bibliográfica, análise de fontes primárias e da etnografia realizada no centro da cidade
de São Paulo, conclui-se indicando que as ões de cuidado desenvolvidos por agentes
religiosos inscreve-se numa pedagogia que visa disciplinar os sujeitos, por meio da conversão
e, assim, afastá-lo do vício em crack ou outros entorpecentes. Observa-se que o modelo
adotado por esse projeto se distanciando tanto das abordagens clássicas das Comunidades
Terapêuticas, evitando-se as internações compulsórias, e ressignificando as orientações do
Conselho Federal de Psicologia, sobretudo no que tange a noção de “práticas de redução de
danos”.
Palavras-chave: Cracolândia. Cristolândia. Comunidades Terapêuticas. Poder Público.
Pedagogia do cuidado.
CRISTOLÂNDIA: PEDAGOGY OF CARE AND RELIGIOUS ACTION IN THE CENTRAL REGION OF O
PAULO
Abstract: This article seeks to analyze how religious reason is operationalized, through the
actions of evangelical agents in the region of "Cracolândia", in São Paulo, with the objective of
understanding the pedagogical processes developed among the addicted population.
Specifically, it is about mapping, describing and analyzing how a pedagogy of care is
established, through actions carried out by religious organizations, such as the Cristolândia
Program, and its relationship with the policies developed by the government. From the
3Universidade de São Paulo (USP). ORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-5412-2650. E-mail:
rodrigo.santos.silva@usp.br
2Antropólogo. Docente na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Pós-doutor pela
Universidade de Lisboa. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-2952-4329. E-mail:
rosenilton.oliveira@usp.br
1Este artigo se desdobra da pesquisa realizada por Rodrigo dos Santos Silva sob orientação de Rosenilton
Silva de Oliveira.
113
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
bibliographic review, analysis of primary sources and ethnography carried out in the center of
the city of São Paulo, it is concluded by indicating that the care actions developed by religious
agents are part of a pedagogy that aims to discipline the subjects, through conversion and,
thus, move them away from addiction to crack or other narcotics. It is observed that the model
adopted by this project distances itself from the classic approaches of Therapeutic
Communities, avoiding compulsory hospitalizations, and resignifying the guidelines of the
Federal Council of Psychology, especially regarding the notion of "harm reduction practices".
Keywords: Cracolândia. Cristolândia. Therapeutic Communities. Public Power. Pedagogy of
care.
CRISTOLÂNDIA: PEDAGOGÍA DEL CUIDADO Y DE LA ACCIÓN RELIGIOSA EN LA REGIÓN CENTRAL
DE O PAULO
Resumen: Este artículo busca analizar cómo se operacionaliza la razón religiosa, a través de las
acciones de los agentes evangélicos en la región de "Cracolândia", en São Paulo, con el objetivo
de comprender los procesos pedagógicos desarrollados entre la población adicta. En concreto,
se trata de mapear, describir y analizar cómo se establece una pedagogía del cuidado, a través
de acciones llevadas a cabo por organizaciones religiosas, como el Programa Cristolândia, y su
relación con las políticas desarrolladas por el gobierno. A partir de la revisión bibliográfica,
análisis de fuentes primarias y etnografía realizada en el centro de la ciudad de São Paulo, se
concluye indicando que las acciones de cuidado desarrolladas por los agentes religiosos forman
parte de una pedagogía que tiene como objetivo disciplinar a los sujetos, a través de la
conversión y, así, alejarlos de la adicción al crack u otros estupefacientes. Se observa que el
modelo adoptado por este proyecto se aleja de los abordajes clásicos de las Comunidad
Terapéuticas, evitando las hospitalizaciones obligatorias y resignificando los lineamientos de la
Consejo Federal de Psicología, especialmente en lo que se refiere a la noción de "prácticas de
reducción de daños".
Palabras clave: Cracolândia. Cristolândia. Comunidades Terapéuticas. Poder Público. Pedagogía
del cuidado.
INTRODUÇÃO
A prática de um viver religioso com metodologias de abstinência para
dependentes químicos em casas isoladas é uma política em visível expansão no país e,
apesar da crítica de especialistas do Conselho Federal de Psicologia (CFP) sobre a falta
de dados relativos à eficiência do uso desta conduta na reabilitação das pessoas
adictas, observa-se certa priorização por parte de governos municipais e estaduais
brasileiros na adoção de pedagogias religiosas desenvolvidas pelas Comunidades
Terapêuticas (CT’s).
Os conselhos federais de saúde e de psicologia defendem que a prática de
redução de danos em detrimento da abstinência radical e internação compulsória são
mais eficazes no enfrentamento à dependência química.
Para o CFP, por exemplo, as comunidades terapêuticas não são efetivas, uma
vez que impõe ao sujeito uma separação do convívio social, quando o ideal é priorizar a
114
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
inserção da pessoa na família, no mercado de trabalho e na vida comunitária. Assim,
tendo por base a Lei 10.216/2001, que instituiu a reforma psiquiátrica no Brasil,
entende que esse modelo viola o amplo conjunto de diretrizes que tratam dos direitos
da pessoa com transtorno mental, incluindo os advindos do uso de álcool e outras
drogas” (CFP, 2017, p.12).
Dessa maneira, embora possa-se afirmar que haja a realização de ações
coordenadas pelo poder público, no enfrentamento desta problemática, se observa
que parte da sua inefetividade deriva justamente da falta de consenso sobre os
pressupostos terapêuticos a serem adotados.
Na cidade de São Paulo, como apresentam Ygor Diego e Pedro Paulo (2020), ao
longo das décadas de 1990 e 2000 na região central conhecida como “Cracolândia”, as
inúmeras intervenções políticas sem planejamento, sobre as pessoas que fazem o uso
do crack, somadas às iniciativas de valorização imobiliária, produziram um problema
público, que desloca e concentra um grande contingente de pessoas na região da Luz.
Nesse sentido, tal como observa Tais Rodrigues (2015), o foco da atuação
pública não se somente por conta do uso das drogas, mas especialmente, porque
este consumo acontece em espaços públicos centrais da metrópole. Acrescenta-se a
isto, o fato de que a mídia explora este contexto, disseminando sucessivas notícias que
desumanizam os usuários” e que colocam questões equivocadas sobre o crack,
tencionando o governo a realizar ações com vistas à "instauração da ordem” (AMARAL;
ANDREOLLA, 2021, p.7).
O conjunto desse movimento, provoca por parte do Estado, a realização de
inúmeras atividades que visam a dispersão dessa população, respaldadas pela lógica da
segurança pública conforme destaca Heitor Frúgoli Jr. e Mariana Cavalcanti (2013).
Dessa maneira, as recentes ações repressivas, como o fechamento de serviços de
assistência social, a compra de armas para a guarda civil e o intenso uso da força
policial para desmembrar a população, inserem a polícia como agente disciplinador
destinado para essas pessoas. Em consonância a isso, desconsidera-se a
individualidade das pessoas, negligenciando a complexidade da situação vivenciada
por quem frequenta esses espaços.
Procede, na atuação do poder público, um processo de simplificação e
segregação da população que ocupa o território da “Cracolândia”, majoritariamente
115
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
composta por pessoas negras e LGBTQIAPN+. Marcada pelo uso de drogas e pela
questão territorial, assume-se para esse grupo a discriminação ou ausência de
perspectivas” (AMARAL; ANDREOLLA, 2021), ou ainda, a ideia de que as pessoas
adictas são dependentes químicos e sem autocontrole. (RUI, 2014, p.80)
Deste modo, para além da atuação governamental, destaca-se as ações
religiosas das Comunidades Terapêuticas (CTs) como uma das iniciativas que objetivam
minimizar ou solucionar este problema, por exemplo, o Programa Cristolândia, que
introduz no tratamento de pessoas adictas a disciplina, a espiritualidade e o auxílio.
As “Cristolândias”, como se verá mais adiante, são tecnologias de prevenção,
recuperação e assistência que têm como principais propósitos: a aproximação do
sujeito (e sua consequente adesão) à crença religiosa cristã, a reconstituição do
convívio familiar e social e a abdicação das drogas.
Ao analisarmos a lógica do acolhimento das pessoas adictas, é fundamental
refletir sobre os processos da normatização dos corpos desses sujeitos, uma vez que os
usuários de drogas são socialmente lidos como socialmente inferiores cuja
corporalidade pode provocar desconforto, como constata Taniele Rui (2014.
O atendimento das CTs parece se valer desse estigma social, projetado sobre as
pessoas adictas, e passa a utilizar o termo a adicção” de forma conveniente, isto é, a
classificação, unifica os indivíduos no estado exclusivo de adictos”, configurando uma
limitação, que possibilita oferecer-lhes um mesmo modelo de tratamento,
independente do tipo de droga utilizado (RUI, 2014, p.81).
Tendo por base esse contexto, este artigo busca analisar como a razão religiosa
é operacionalizada, por meio das ações de agentes evangélicos na região da
“Cracolândia”, em São Paulo, com o objetivo de compreender os processos
pedagógicos desenvolvidos em meio a população adicta. Especificamente, trata-se de
mapear, descrever e analisar como se estabelece uma pedagogia do cuidado, por meio
de ações realizadas por organizações religiosas, tais como o Programa Cristolândia, e
sua relação com as políticas desenvolvidas pelo poder público.
Para tanto, a abordagem nos valemos da análise documental, da coleta de
depoimentos e da pesquisa etnográfica (Magnani, 2008). Realizamos revisão da
bibliografia por meio da consulta a teses, dissertações e artigos científicos que versam
sobre os temas da normatização e das Comunidades Terapêuticas. Também analisamos
116
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
os materiais institucionais, podcasts, sites oficiais (de órgãos públicos e instituições
religiosas) e outras publicações produzidas por organismos que atuam no atendimento
às pessoas que frequentam a região da Cristolândia.
No que tange ao campo empírico de observação4, privilegiamos o
acompanhamento das atividades realizadas na sede do Programa Cristolândia5,
localizada no centro de São Paulo. Foram realizadas seis visitas, em dias distintos,
sendo: terça, quinta e sábado, no período da manhã. As visitas possibilitaram
acompanhar os agentes e refletir sobre as suas práticas cotidianas, suas vivências e os
processos de socialização junto às pessoas adictas. Nestas ocasiões foram observadas
as atividades devocionais (dentre elas os cultos), refeições e banho, além das saídas
pela região central, em busca das pessoas para serem atendidas. Paralelamente
manteve-se contato com algumas lideranças e integrantes do Projeto Cristolândia por
meio de mensagens via redes sociais.
Durante a pesquisa de campo, foram colhidos depoimentos das pessoas que
atuam no Projeto e etnografadas as suas interações com as pessoas assistidas e
acompanhados os desdobramentos e impactos da atuação de agentes governamentais
(sobretudo a Assistência Social da Prefeitura de São Paulo, a Guarda Civil Municipal e a
Política Militar). É importante destacar que as pessoas assistidas não constituíram o
conjunto de interlocutores da pesquisa, uma vez que o objetivo principal foi
compreender como a razão religiosa é acionada por agentes específicos em ações de
cuidado para com pessoas adictas.
De forma simultânea, acompanhou-se notícias midiáticas e declarações do
governo relacionadas à "Cracolândia", e, efetuou-se a participação no evento
“Seminário da Cracolândia em Emergência” para conhecer a percepção dos coletivos
que atuam na região em defesa da redução de danos.
O texto está dividido em duas grandes partes, na primeira delas, apresenta-se o
contexto empírico da pesquisa, acionando as categorias de Magnani (2018) a fim de
compreender a ocupação da região conhecida como “Cracolândia”. Na segunda,
apresenta-se alguns dados etnográficos sobre a atuação de um grupo religioso, por
5Também nomeado como Missão Batista Cristolândia, conforme divulgado em seu site oficial
https://cristolandia.org.br/
4Os dados empíricos desta pesquisa foram coletados por Silva, no âmbito de sua pesquisa realizada
entre agosto/2022 e julho/2023, com financiamento do CNPq.
117
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
meio do Projeto Cristolândia. Conclui-se indicando que as ações de cuidado
desenvolvidas por agentes religiosos se inscrevem numa pedagogia que visa disciplinar
os sujeitos, por meio da conversão e, assim, afastá-lo do vício em crack ou de outros
entorpecentes. Observa-se que o modelo adotado por esse projeto se distanciando
tanto das abordagens clássicas das CTs, evitando-se as internações compulsórias, e
ressignificando as orientações do Conselho Federal de Psicologia (CFP), sobretudo no
que tange a noção de “práticas de redução de danos”.
A REPRESSÃO COMO DISPOSITIVO DE GESTÃO DA “CRACOLÂNDIA
um conjunto de pesquisas (Ygor Diego e Pedro Paulo 2020; Rui, 2013; Frúgoli
Jr, 2000) que têm analisado como a região central da capital de São Paulo tem se
tornado o epicentro e paradigma do consumo de crack e outras drogas ilícitas, e
laboratório para ações do poder público (por meio das forças de segurança, da
assistência social e da saúde), de instituições religiosas e organizações laicas (familiares
de adictos, comerciantes, moradores, atendimento social etc.).
De fato, a “Cracolândia” tornou-se caso exemplar da complexidade do exercício
biopoder sobre um conjunto de sujeitos cuja agência é atravessada por discursos que
os localizam tanto como vítimas quanto como algozes de si e da sociedade envolvente.
Longe de ser um local fixo, convencionou-se nomear como “fluxo” (Costa, 2018)
o perímetro em que milhares de pessoas se movem (no duplo sentido do termo) em
torno do consumo do crack e de outras substâncias entorpecentes.
Inicialmente utilizada pelas pessoas que frequentam o local, foi aprofundada
pela pesquisa de Roberta Costa intitulada “Mil Fitas na Cracolândia: Amanhã é
Domingo e a Craco Resiste” (2018). Atualmente está disseminada mais popularmente,
sendo utilizado inclusive por agente públicos e demais agentes que atuam na região,
como os membros da Cristolândia e por organizações da mídia. A categoria é boa para
pensar os deslocamentos das pessoas, cuja territorialidade inscreve-se nos corpos dos
indivíduos e nas dinâmicas de apropriação do espaço urbano.
No contexto dessa pesquisa, que visa analisar a atuação de um grupo
específico, e considerando o modo como o poder público (por meio dos equipamentos
de saúde, assistência social e uso da força policial) e da iniciativa privada (na
especulação imobiliária) atuam neste espaço, optamos por classificar a “Cracolândia”
118
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
como uma mancha, isto é, “uma área contígua do espaço urbano dotada de
equipamentos que marcam seus limites e viabilizam - cada qual com sua
especificidade, competindo ou complementando- uma atividade ou prática
predominante” (MAGNANI, 1992, p.196).
É no interior dessa mancha, os sujeitos que estão no “fluxo” percorrem um
circuito (Magnani, 1992) delimitado por alguns equipamentos presentes na mancha
que forma a “Cracolândia”, como as unidades de assistência de saúde e social, os
postos policiais, os espaços de distribuição de alimentos e os equipamentos religiosos.
Neste sentido, o circuito engloba um território mais abrangente com área
pertencente aos bairros da Luz e do Campos Elíseos, nos locais onde a "Cracolândia"
esteve. Nessa delimitação inclui-se também a Praça da Luz, os serviços públicos, os
equipamentos culturais do Complexo da Luz e a estação Júlio Prestes, como podem ser
mostrados na Figura 1.
Figura 1 - Equipamentos públicos na "Cracolândia". Fonte Google Mapas. Elaboração dos autores.
Perfazendo ocupando áreas em cinco bairros (Luz, Santa Efigênia, Campos
Elíseos, Bom Retiro) além de ruas localizadas na Sé, Santa Cecília e Barra Funda, a
Cracolândia marca a paisagem do centro paulista. Visível em fragmentos pela
população, a partir das concentrações (ou nas manchetes dos jornais), figura-se como
um espaço complexo, em que cada logradouro tem a sua ocupação tensionada pelos
vários sujeitos que por ali circulam.
119
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Os equipamentos públicos, como o Centro de Acolhida Especial para Idosos,
escolas de educação básica, demonstram essa ocupação diversa. De igual modo, como
se na Figura 1, os serviços de saúde, assistência social e segurança marcam o espaço
e se inscrevem como pedaços (MAGNANI, 2018) importantes da mancha, pois
possibilitam sociabilidades específicas no seu entorno.
A “Cracolândia”, move-se em bloco, por um perímetro demarcado, embora não
o ocupe em tempo integral. Dito de outro modo, o “fluxo” desloca-se em pequenos
grupos, ocupando pedaços específicos por um período de tempo. Essa movimentação
se por vários motivos, sobretudo, a partir da intervenção do poder público, seja por
meio da ação da polícia ou dos serviços sociais e médicos.
Quando não operações policiais, é possível perceber a movimentação dos
sujeitos, em pequenos grupos, entre os vários equipamentos (Figura 2). É possível
notar que os pedaços são demarcados por certos elementos físicos (um posto de
distribuição de alimento, por exemplo) sobre o qual se estende uma determinada
rede de relações” (MAGNANI, 2018,193) que permite a interação entre os indivíduos
que conhecem e compartilham os códigos de sociabilidade.
Figura 2 Trajeto da Praça Princesa Isabel à sede da Cristolândia" - Fonte: Google Mapas. Elaboração do autor
Os trajetos (MAGNANI, 2018) que permitem a passagem entre um pedaço e
outro, são caminhos demarcados no espaço que conectam espaços e sujeitos. No
contexto desta pesquisa, vemos na Figura 3, os caminhos que as pessoas que vivem na
120
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
"Cracolândia" realizam para transitar de um pedaço para o outro, como por exemplo
do pedaço onde fica a Cristolândia a o pedaço da praça Princesa Isabel, ambos no
Bairro Campos Elíseos, num trajeto de 450m.
Em síntese, descrever a “Cracolândia” como uma mancha, nos permite
visualizar as formas legítimas do espaço público pelos diversos atores que conformam
a cena urbana paulista.
Para além dos agentes do poder público, religiosos e adictos, convivem na
mancha, pessoas que não estão diretamente relacionadas ao consumo do crack e
outros entorpecentes, mas que sofrem os impactos do “fluxo”. São residentes,
comerciantes, turistas, pessoas em situação de rua, pesquisadores dentre outros, os
quais, por suas atuações também impactam na lógica de ocupação dessa mancha.
Cada um desses grupos, produzem também seus pedaços e demarcam seus trajetos a
fim de circularem de forma segura”,
Sobrepõe-se às estratégias de cada grupo, as ões governamentais, sejam
municipais ou estadual, que impõe restrições ou produzem deslocamentos dos
sujeitos. Para além das ações policiais, decisões sobre o local onde se instalará um
novo equipamento público (uma unidade básica de saúde ou um centro comercial) são
alvo de intensas disputas.
Projetos urbanísticos de revitalização da região central da cidade, foram
desenvolvidos por sucessivas gestões municipais e estaduais, tais como Luz Cultural
(1985-1986), Polo Luz (1995-2002), Nova Luz (2005-2012) e o Plano de Intervenção
Urbana (PIU) Setor Central (2006-2021). É preciso destacar que importantes
monumentos históricos e instituições de cultura estão localizados nessa região, como a
Sala São Paulo, a Pinacoteca do Estado (e seu anexo com o Memorial da Resistência), O
Museu da Língua Portuguesa, a Praça da Luz (que foi um espaço privilegiado para
circulação da classe média paulistana, na primeira metade do século XX) além de
centros de compras e lazer como a Rua José Paulino, Theatro São Pedro e a unidade
Bom Retiro do SESC.
Há, neste contexto, interesses distintos que estão sobrepostos. Do ponto de
vista da especulação imobiliária, por exemplo, houve encarecimento da habitação na
região, segundo Relato do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Labcidade, 2022). Aliado a
121
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
este fato, observou-se o aumento do desemprego e a adoção de uma política de
despejos e de remoções, resultando na elevação disparada do número de pessoas em
situação de rua na cidade de São Paulo. Isso se torna ainda mais grave ao considerar
que no plano de habitação das PPPs (Parceria Público Privada) da prefeitura de São
Paulo não definição sobre o perfil do público beneficiado que será atendido, de
acordo com Relatório do Labcidade.
Definidos com estudos técnico necessários a promover o ordenamento e a
reestruturação urbana em área subutilizada e com potencial de transformação na
cidade de São Paulo6, os Plano de Intervenção Urbana (PIU) são tecnologias de gestão
adotadas pela administração municipal para intervir na organização espacial e na
dinâmica de ocupação de determinado espaço urbano. No contexto dessa pesquisa, é
interessante perceber que, embora os bairros localizados na região central sejam mais
bem servidos de opções de emprego, transporte, lazer e serviços, algumas regiões
possui baixa densidade populacional motivada por inúmeros fatores: especulação
imobiliária, que encarece os preços dos imóveis, sensação de insegurança, e poluição.
Ao propor a intervenção na região onde se encontra a mancha da Cracolândia, o
poder público evoca o discurso de que a degradação dos bairros é motivada pela baixa
densidade populacional e propõe, por exemplo o projeto Casa Paulistana, uma Parceria
Público Privada (PPP) que visa construir habitações em locais estratégicos, substituindo
antigos prédios deteriorados.
A Figura 3, demonstra em roxo a área dimensionada pelo projeto PIU que
atravessa a "Cracolândia". No interior dessa marcação é possível observar em diversos
pontos as famílias removidas e as ameaças de remoção, bem como a demarcação da
PPP Casa Paulista.
6PIU Prefeitura de São Paulo. Disponível em:
https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/piu/. Acesso em: 01 de set. 2024.
122
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Figura 3 - Localização das PPP Casa Paulista. Fonte: Labcidade, 2022.
Ao contrário do que se poderia imaginar, essas parcerias não visam requalificar
os espaços incluindo os atuais moradores e solucionando o atual problema de déficit
imobiliário, mas justamente produzindo a expulsão dos antigos moradores, e uma
espécie de “higienização urbana”, ao expulsar as pessoas em situação de rua sem
apresentar formas de acolhimento para esse grupo.
Esses projetos de requalificação da área e habitação citados, estiveram
acompanhados por operações governamentais na mesma região central que tinham
como objetivo a realocação ou a dispersão das pessoas que ocupavam a região. Nesse
sentido, destacam-se as operações Dignidade, da Prefeitura de SP e Tolerância Zero, do
governo estadual (1997). Essas duas ações mobilizaram grande aparato policial e foram
ineficientes em seu objetivo de dispersão dos camelôs e dos moradores de rua (Ygor
Diego e Pedro Paulo 2020).
Tais acontecimentos ficaram conhecidos como guerra ao centro”, e mesmo não
tendo tido sucesso, inauguraram um todo repressivo de gerir a relação entre o
poder público e a população local. Esta tecnologia foi repetidamente acionada em
gestões posteriores, tanto municipais quanto estaduais, tais como, como na Operação
Limpa (2005) e na Operação Sufoco (2012), que não cumpriram seus objetivos
primários segundo estudos de Frúgoli Jr. (2000) e Taniele Rui (2013).
123
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Sobre a Operação Sufoco, cabe um detalhamento maior. Essa foi uma
megaoperação do governador Geraldo Alckmin realizada pela polícia militar com um
contingente próximo a mil policiais para justamente sufocar a "Cracolândia". Durante
a ação repressiva ocorreu um alto nível de violência com as pessoas em situação de
rua, os serviços de assistência social foram interrompidos e houve a demolição de um
quarteirão inteiro.
As cenas de violência desse processo foram muito registradas e televisionadas,
a tal ponto de a opinião pública contestar a operação e de se ter uma ação pública civil
do Ministério Público investigando e denunciando a ineficiência da Operação. Isso
representou um certo momento de virada em relação a atuação de políticas públicas,
uma vez que da gestão do prefeito Fernando Haddad (2013-2016), ocorreu o programa
Braços Abertos que focava na redução de danos, isto é, ões que visavam reestruturar
a vida das pessoas pela oferta de serviços básicos, a partir de uma lógica de cuidado
que buscava oferecer moradia e trabalho para os que vivem em situação de
vulnerabilidade social na "Cracolândia".
Contudo, infelizmente essa iniciativa foi desmontada logo após a troca de
gestão com o seu sucessor João Dória Jr, em 2017. Nesse cenário, novamente
retomou-se estratégia de violência que se estende sobre sujeitos do território, com o
fortalecimento de uma GCM mais repressiva e megaoperações que propunham o fim
da "Cracolândia".
Cabe destacar que em todas as operações que foram realizadas pelo poder
público com esse propósito, além de não haver êxito historicamente, perpetuou-se o
constante fluxo de deslocamento de pessoas. Assim, novamente, houve alterações no
local ocupado na região da Luz, porém, o grande contingente de pessoas com
características próprias de corporalidade, formas de sociabilidade e condição de
vulnerabilidade social se manteve.
Completa o quadro de política de reordenamento da área central o anúncio
feito pelo governo estadual de transferir o gabinete do governador e todas as
secretarias para a sua antiga sede e seu entorno. De acordo com a Secretaria Estadual
de Parcerias7e Investimento, o projeto do novo Centro Administrativo Campos Elíseos,
7Disponível em:
https://www.parceriaseminvestimentos.sp.gov.br/projeto-qualificado/centro-administrativo-dos-campos
-eliseos/ Acesso em: 01 de set. 2024.
124
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
ficará localizado no bairro homônimo, onde se encontrava o casarão que serviu
como sede do governo no início do século XX e hoje abriga o Museu das Favelas, o qual
será realocado para um espaço ainda não definido.
A PPP prevê um investimento de 4 milhões de reais, com a desapropriação de
uma área de 60 mil m2, para a construção de 12 prédios e uma esplanada, para receber
o gabinete do governador e as 28 secretarias. Como se vê na Figura 4, a mesmo um
terminal de ônibus e um parque serão deslocados, se sobrepondo onde hoje se
encontra a “Cracolândia”.
Figura 4 Centro Administrativo Campos Elíseos. São Paulo. Fonte: Divulgação.
Embora o Secretaria Estadual afirme que a obra é necessária, Raquel Rolnik
(Kazuo; Gonçalves, 2024) destaca que se trata de uma falácia, pois 21 das 28
secretarias estão localizadas em prédios históricos no centro da cidade, que ficarão
subutilizados, produzindo a degradação de outros bairros. As outras estão alocadas na
atual sede, na zona sul da cidade.
Frente a esse momento de diferentes possibilidades de política estatal para a
"Cracolândia", a prefeitura desse o governo de João Dória (2016-2017) em conjunto
com o programa Redenção do governador Geraldo Alckmin (2016-2017) retomou a
política de internações involuntárias através das comunidades terapêuticas,
125
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
ponderando a problemática como uma questão de saúde, ainda que não seja a saída
defendida pelos conselhos de medicina e psicologia como mencionados inicialmente.
Essa dualidade de pôr um lado manifestar rejeição através das operações
policiais repressivas de dispersão, e por outro, oferecer cuidado através das
internações e do assistencialismo religioso das Comunidades Terapêuticas para os
ocupantes de rua na "Cracolândia" tem sido reproduzida nas gestões subsequentes
tanto da prefeitura com Bruno Covas (2018-2021) e Ricardo Nunes (2021- atual)8, como
do governo do Estado com Dória (2019-2022), Rodrigo Garcia (2022) e Tarcísio de
Freitas (2022-atual). Sendo assim, é nesse quadro adverso, de fortalecimento das
Comunidades Terapêuticas9, que se circunscreve a esta pesquisa, tendo como
especificidade a Cristolândia, um grupo não governamental que atua por meio das CTs
e que possui uma unidade que realiza um atendimento social na "Cracolândia".
O PROJETO “CRISTOLÂNDIA”: SALVAR E CUIDAR
A Lei de Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001), estabeleceu a preferência a
serviços comunitários e ao tratamento de recuperação pela inserção na sociedade
como política de promoção à saúde mental. Além disso, as internações haviam sido
despriorizadas e entendidas como medidas extremas somente sob a exigência de laudo
médico. Nos anos seguintes à sua aprovação, a política de drogas ganhou atenção pela
intensificação do uso do crack e pela ampla cobertura midiática. Assim, novas
iniciativas foram tomadas, para gerir os usuários dessas substâncias psicoativas.
Neste contexto, surgem as Comunidades Terapêuticas (CT’s) atreladas às
políticas públicas de enfrentamento ao abuso de álcool e outras drogas.
Contrapondo-se ao modelo antimanicomial, desenvolvido a partir de 1980, e
que visa garantir a atenção em liberdade e a produção de cidadania dos sujeitos
adictos para obtenção da saúde, as CTs atuam isolando as pessoas do convívio social
por meio das internações compulsórias ou não.
9Sob Bolsonaro, comunidades religiosas viram a principal terapia de dependentes químicos mesmo sem
controle e resultados atestados. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61184132
8Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/10/plano-da-prefeitura-de-sp-para-cracolandia-gera-trat
amentos-de-curto-prazo.shtml
126
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
O modelo das CT’s tem sido amplamente aplicado no Brasil e no mundo10, tanto
no enfrentamento à adicção quanto no tratamento de pessoas usuárias do serviço de
saúde mental. Segundo o Relatório da Inspeção Nacional em Comunidades
Terapêuticas, elaborado pelos órgãos do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2017), o
Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e a Procuradoria Federal dos
Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal, após a realização de visitas a 28
instituições nas cinco regiões do Brasil, constatou-se inúmeros flagrantes de
desrespeito aos direitos humanos das pessoas internas. Entretanto, o número de
comunidades vem crescendo exponencialmente e passa a disputar com os serviços
médicos as estratégias de cuidado de pessoas com transtornos mentais e adictas.
Entrelaçando certos discursos sobre o “terror das drogas” difundido por
operadores do direito e forças de segurança, setores médicos e políticos com a
moralidade e a ascese cristã, as CT’s têm reverberado na cena pública a ideia de que o
modelo de cuidado difundido pela OMS Organização de Mundial da Saúde) e pelos
conselhos de psicologia são ineficazes, pois estariam apenas “mantendo o sujeito no
vício” ao invés de “libertá-lo” ou salvá-lo das drogas”.
Nesse movimento, tem influenciado o desenho de políticas públicas de
enfrentamento ao consumo de entorpecentes e as estratégias de cuidado, produzindo
uma mudança significativa: o que antes era visto como um problema social passou a
ser considerado questão de saúde (Frúgoli; Spaggiari, 2010, p.13).
Com relação ao Projeto Cristolândia, a primeira aproximação se deu por meio
das redes sociais. Acionando a rede em comum, um dos pesquisadores entrou em
contato via WhatsApp com uma ex-voluntária do projeto, informando-a sobre o
interesse em realizar pesquisa. Por meio dela, foi convidado para integrar a equipe de
voluntários e foi apresentado ao coordenador do grupo.
Antes de iniciar as interações no campo, e ainda acompanhando as redes sociais
do Projeto, e ainda em contato com Betânia11, fomos apresentados ao grupo Radical,
um curso preparatório para jovens batistas que atuam de modo contínuo do Projeto
Cristolândia.
11 Os nomes das interlocutoras foram alterados para preservar a intimidade das pessoas.
10 Relatório da Open Society Foundations, de 2016. Disponível em:
https://www.opensocietyfoundations.org/sites/default/ files/no-health-no-help-es-21060403.pdf
127
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
É importante destacar que o Projeto Cristolândia é uma iniciativa que integra as
Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira (CBB). De acordo com as
informações disponível na página web do projeto, está disponível em nove estados12,
atendendo cerca de 100 mil pessoas por ano, com mil vagas para acolhimento. Convém
destacar, como se verá mais adiante, que nem todos os atendimentos resultam em
internação em uma CT’s, mas engloba também serviços de saúde, higiene, alimentação
e atendimento espiritual.
Segundo seus organizadores, a Cristolândia é um programa de ressocialização
que está pautado no elevado índice de drogadição do Brasil. Sua proposta é prestar
assistência a dependentes químicos visando a ressocialização, buscando a
transformação das suas vidas, para que se tornem livres da dependência química e
aptos à reinserção social.13. Engloba ainda alguns subprojetos como o Sons da
Missão”, “Sonho de mãe” e “Casa do Estudante”. O primeiro, oferece atividades
terapêuticas por meio da música; o segundo, localizado na capital do Rio de Janeiro,
atente as mulheres que estão em situação de rua e têm filhos; enquanto o terceiro,
compõe a segunda fase do Programa de Ressocialização da Cristolândia e é ofertado
tanto para as pessoas internas, que são consideradas aptas, quanto para outras que
são atendidas nas unidades (mas não estão sob custódia), e visa possibilitar o ingresso
num curso superior na Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica).
Com sede na cidade de Anápolis- GO, e com um corpo discente de mais de 10
mil alunos, em mais de 40 cursos, a UniEvangélica14 é uma instituição de ensino
superior de origem presbiteriana, reconhecida pelo Ministério da Educação em 2012.
Sua história remonta a 1947, quando, por meio da Associação Educativa Evangélica,
mantinha escolas rurais e urbanas.
Em síntese, tem-se as Missões Nacionais, dentro desse grupo existe uma divisão
chamada Radical Brasil, um grupo de missionários que atuam nos campos das
chamadas missões nacionais ou as Comunidades Terapêuticas. Seguindo por esse
escopo, a Cristolândia é um segmento que atua tanto com a Radical Brasil quanto às
14 Para saber mais sobre a UniEvangélica acesse:
https://www4.unievangelica.edu.br/pagina/quem-somos
13 Disponível em: https://cristolandia.org.br/projetos/
12 Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Bahia, Alagoas e Pernambuco.
128
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Missões Nacionais, sendo um programa de ressocialização que presta assistência a
dependentes químicos nas cidades.
Embora página web do Projeto não estivesse disponível durante o período da
pesquisa de campo, dois perfis na rede social Instagram, por meio do qual foi
realizado contatos primários com as lideranças paulistas, tanto do Cristolândia
(@cristolândiasp) quanto do Radical (@radicalcristolândiasp). Após outras tentativas,
um dos pastores responsáveis pelo Projeto respondeu às solicitações para conhecer as
atividades do campo e realizar a pesquisa.
A primeira visita presencial ocorreu no início de janeiro, quando os
atendimentos estavam suspensos, e seriam retomados depois no dia 17 do mesmo
mês. Pois os períodos estavam reservados para as atividades internas do grupo.
Inicialmente, o pastor me perguntou se eu gostaria de ficar um dia ou alguns
dias junto com o grupo de voluntários, e acrescentou que, possuíam uma casa
missionária em que eu poderia dormir com os missionários, e ainda que, a alimentação
ficaria pela responsabilidade deles. Ao final dessa mensagem terminou dizendo “se
sentir o chamado de Deus para o trabalho missionário na Cristolândia, conversamos”.
A rapidez com que se deu essa intenção de evangelização em poucas trocas de
mensagens via aplicativo surpreendeu-me, e por considerar uma imersão demasiada
para um primeiro contato, declinei da proposta, assim acordamos que eu os
conhecesse mais a frente nos dias de atendimento social, que ocorrem três vezes por
semana, as terças, as quintas e aos sábados. O pastor Marcos me informou que eu
poderia chegar às oito da manhã, mencionando que iniciam por um devocional às oito
horas, e depois disso, às nove começa o atendimento social.
A partir disso, conforme indicado acima, foram realizadas seis idas a campo
para o acompanhamento do atendimento social da Cristolândia. Essa etapa se
configura como as três primeiras de um tratamento progressivo composto por oito
fases, que pode durar aproximadamente dois anos. Transpondo a exemplificação de
Deborah Fromm (2014), a primeira fase inicia-se pela ida ao local da “Cracolândia” para
conhecimento do perfil e do cenário do grupo. A segunda e a terceira fase compõem a
busca ativa e o atendimento social em si, em que os missionários realizam a
aproximação para as necessidades mais imediatas e oferecem café da manhã e banho.
Em seguida, na chamada de “base do projeto”, é onde acontecem as atividades
129
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
terapêuticas como o culto religioso, a prática do cuidado e o encaminhamento à sede
local do Programa
A unidade da Cristolândia localiza-se na Alameda Barão de Piracicaba, o seu
interior lembra uma igreja, pois uma recepção no início e depois um espaço aberto
com diversas cadeiras enfileiradas e um palco, que é onde ocorre o culto e as refeições.
Nesse local dois banheiros, um destinado aos homens e outro às mulheres. Ambos
estão equipados com chuveiros e, mais ao fundo, tem-se alguns reservados para
atividades administrativas. também uma escada que leva a a cozinha, local em
que são preparadas as refeições.
Em linhas gerais, no local circulam três grupos de pessoas: a equipe de
atendimento (composta por voluntários e integrantes das Missões, o quais usam
camisetas amarelas com o emblema da Cristolândia); os acolhidos, isto é, aquelas
pessoas que vieram da "Cracolândia" e que agora estão em tratamento (usam camiseta
branca), e os atendidos, aqueles que vivem processos de sofrimento e de exclusão
sobretudo devido ao uso de crack e de outras substâncias entorpecentes.
No atendimento social, participam os agentes da Cristolândia, aqueles que
oferecem o cuidado. Eles são responsáveis por direcionar e coordenar as tarefas gerais,
tais como preparação do café da manhã, banho, cozimento do almoço, organização do
espaço, corte de cabelo, buscas de atendimento etc. Aos acolhidos, na sua maioria,
executam todas as tarefas gerais, sendo responsáveis pela organização do espaço, por
carregar mantimentos e por servir as refeições. Os atendidos são o objeto de cuidado,
ou seja, as pessoas que o atendimento social da Cristolândia deseja alcançar.
O atendimento social ocorre por etapas, sendo oferecido aos atendidos:
momentos de culto, café da manhã, corte de cabelo, banho com troca de roupa
fornecida pelos agentes, almoço, atendimento religioso e também, mais
esporadicamente, psicológico. Ou seja, as ações da Cristolândia concentram-se no
período da manhã.
As pessoas buscam os atendimentos da Cristolândia, uma vez que o local possui
um endereço fixo e está aberto para todas as pessoas, ou são convidados pelos
próprios agentes. A busca ativa possui o papel de captação de potenciais atendidos, ela
se modifica de acordo com o movimento do “fluxo”. Os agentes percorrem um pedaço
da “Cracolândia” abordando as pessoas e convidando-as para ir até a sede do Projeto.
130
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Nessa ocasião, acrescentou-se a música, como dito por um dos agentes, para assim
chamar a atenção para o diálogo, diferentemente do que ocorre durante os momentos
de louvor de culto, em que o objetivo da música é produzir reflexões e transmitir a
mensagem religiosa.
A rotina de atendimento segue uma estrutura fixa: primeiramente ocorre o
devocional, isto é, o momento reservado aos agentes e os acolhidos. Sentados em
cadeiras dispostas num círculo, pegam as suas Bíblias e participam de uma cerimônia,
em que é lido o trecho de algum dos evangelhos, seguido de uma reflexão sobre o
tema. Por vezes, substitui-se o texto bíblico pelo depoimento de um "ex-usuário de
drogas" participante do projeto. Esta narrativa pessoal é nomeada como testemunho, e
é apresentada como uma versão particular dos efeitos da ão divina na vida das
pessoas. Após o devocional, os agentes e os acolhidos organizam o espaço para dar
início a recepção dos atendidos. A “busca ativa”, ocorre após o devocional, ou seja,
enquanto alguns agentes e os internos ficam na sede, grupos menores circulam pela
“Cracolândia” para convidar as pessoas.
Abrindo-se as portas, as pessoas em atendimento são direcionadas para o culto.
O qual é marcado por discurso, músicas e orações. A organização espacial não é
aleatória: de frente para o palco estão os atendidos, separados entre homens de um
lado e mulheres do outro. os acolhidos, ficam ao lado direito do palco sentados
acompanhando o culto e um deles é responsável por servir água aos atendidos. Os
agentes não parecem ter uma posição fixa de acompanhamento, dividem-se entre
recepcionar os demais atendidos que chegam, assistir ao culto e auxiliar na preparação
das refeições.
Terminado o culto, serve-se o café da manhã, e depois, inicia-se a organização
para o corte de cabelo e o banho. No caso das mulheres, que são em número muito
menor, logo na saída do banho, os agentes realizam algum tipo de oração, que pela
ocasião, remete a um ato de limpeza ou purificação. Após todos se sentarem,
novamente um momento de declamação da palavra e canto, e finaliza-se o
atendimento com o almoço. Conforme dito acima, nos intervalos que antecedem o
café da manhã e o almoço, também um processo chamado de busca ativa, em que
os agentes fazem um trajeto, em um pedaço pré-estabelecido, convidando as
131
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
pessoas da "Cracolândia" para as refeições e o banho. A oração é citada em um
segundo momento, após uma primeira aceitação dos atendidos.
Tratando-se dos arredores da “Cracolândia”, algumas praças e parques, que
no período de observação, estavam todas gradeadas e vazias. Em específico, tem-se
praça Largo Coração de Jesus que fica na esquina da Cristolândia em que junto ao
espaço das quadras uma base da Polícia Militar em seu interior. Embora sejam
espaços públicos, portanto, acessíveis a qualquer pessoa, a presença ostensiva da
política produz o efeito contrário ao desejado: gera uma sensação de que é um espaço
perigoso e deve ser evitado, fazendo com que moradores deixem de frequentar o local.
Por outro lado, também são afastados dos espaços as pessoas em situação de rua.
Durante a sua pesquisa de campo, Tais Magalhães (2015) notou fato
semelhante, pois com o aumento da presença policial nos arredores da Sala São Paulo,
um senhor, que pedia esmolas e que ela tinha contato cotidianamente, deixou de
frequentar o local. Assim a autora reflete sobre os possíveis distanciamentos e efeitos
que são produzidos com o ostensivo policiamento em vias públicas.
A PEDAGOGIA DO CUIDADO NA “CRACOLÂNDIA
As conversas individualizadas dos agentes com os atendidos mostraram ser o
principal dispositivo para que uma pessoa seja acolhida e passe a ser uma assistida
pelo Projeto Cristolândia, pois oferece um instante de escuta e de oração. Ocorridas
nos momentos que antecedem as refeições e enquanto as pessoas aguardam para
serem atendidas.
Os agentes sentam-se ao lado dos atendidos (para estar no “mesmo nível”,
segundo as orientações dos dirigentes) e passam a ouvir os relatos sobre os
sofrimentos dos assistidos. uma ênfase na narrativa sobre os problemas e angústias
que lhes afligem, para que os agentes possam compreender quanto tempo a pessoa
vive aquela situação, a assiduidade na frequência nos atendimentos na Cristolândia,
culminando com a oferta de uma oração para auxiliá-lo.
Nas orações, pede-se a Deus para olhar pela pessoa, para interceder no que
está passando e mostrar o caminho que os tire da drogadição’. Após isso, geralmente,
o atendido agradece a oração ou se sente à vontade, e expressa mais algumas palavras
132
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
que são atentamente ouvidas e respondidas com esperança e acolhimento. Por fim,
cumprimenta-se o atendido e segue para o próximo. É possível que, após essa
abordagem pessoal, a pessoa manifeste o desejo de se tornar um acolhido”, isto é, ser
direcionado para uma CT.
Em uma das ocasiões, durante o seu testemunho, um dos acolhido chamou a
atenção para a frase “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará15, que es
escrita em uma das paredes do espaço da Cristolândia. Disse que na época não
entendeu o seu significado, mas que o texto ficou reverberando na sua mente e o
incomodou. Buscou a ajuda de um dos agentes que lhe explicou que a verdade é
Jesus”. A partir daquele momento, disse que decidiu buscar a verdade e encontrar
Jesus. Acrescentando que “não queria mais continuar na rua com a chance de morrer
ou de ser preso.
O testemunho, como dispositivo de convencimento, não é uma novidade nem
exclusividade do contexto cristão, como bem se sabe. Ela opera produzindo
identificação entre a narrativa exposta e a própria trajetória do sujeito que ouve,
levando-o a crer que se os malefícios vivenciados por ele são semelhantes ao de seu
interlocutor, ao tomar a mesma atitude que ele, também receberá a mesma
recompensa.
Esse procedimento ocorre, inclusive, no processo de seleção dos voluntários e
agentes que atuarão no Projeto. Neste sentido, é interessante destacar como se deu a
aceitação de um dos autores deste artigo, no momento de iniciar a pesquisa de campo,
e atuou no atendimento social como voluntário, em que as atribuições se
assemelhavam mais a dos agentes.
Na sua primeira ida à Cristolândia, eu estava apreensivo, pois queria causar uma
boa impressão, de forma que se criasse um horizonte para poder retornar mais vezes.
Desse modo, ao entrar no espaço, lhe perguntaram de que igreja eu era, respondeu
que não pertencia a nenhuma igreja e que tinha uma amiga que foi voluntária,
colocando isso como o motivo inicial para conhecer o projeto. Participou do momento
devocional e ao final, o pastor responsável levantou-se e pediu para que o pesquisador
se apresentasse. Apesar da surpresa inicial, pois não esperava por esse pedido na
frente de todos, entretanto, havia pensado algo. Começou falando da ex-voluntária e
15 Citação do livro bíblico de João, capítulo 8, versículo 32.
133
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
do meu interesse em conhecer o projeto, depois compartilhou sobre alguns problemas
envolvendo o uso abusivo de álcool por um de seus familiares e sobre o desejo em
poder fazer algo pelas pessoas que são usuárias de álcool e drogas. Ao final da minha
fala, recebi alguns acenos de cumprimentos, mas tive a impressão de que não
precisava ter compartilhado tanto. Após um segundo encontro, teve a oportunidade de
conversar melhor com um agente e mencionar mais detalhadamente seus interesses e
a pesquisa, os quais foram prontamente atendidos.
É interessante perceber como os pesquisadores são recepcionados no campo, à
medida em que a pesquisa vai se desenvolvendo. Como bem destacou Vagner
Gonçalves da Silva (1998), etnografias em contextos religiosos exige que o antropólogo
seja alocado, pelos interlocutores, em espaços específicos cuja justificativa da presença
se por certo reconhecimento de pertencimento ao grupo. Tal aceitação pode ser
motivada pela adesão ao regime de crença, pela potencial conversão ou ainda, por
algum elemento que demonstre que a presença em campo não constitui uma ameaça,
mas uma continuidade das ões que estão sendo desenvolvidas.
Neste sentido, ao narrar sua dupla entrada (conhecer uma ex-voluntária e ter
um familiar adicto) o pesquisador foi acolhido pelo grupo, mesmo não compartilhando
o mesmo regime de crença. Talvez a sensação de que “não precisa ter falado tanto”, se
deu pelo fato de que, naquele momento, bastava uma das justificativas. Fato é, que ao
“testemunhar sua relação com o tema do Projeto, o pesquisador foi recepcionado
como um integrante do grupo, e passou a auxiliar nas diversas tarefas, tais como a
organização dos atendidos para o banho, em que chamava os nomes de uma lista pelo
microfone, servir os pratos de refeição, limpar todo o espaço e organizar as mesas e
cadeiras junto dos agentes e acolhidos para que assim pudéssemos almoçar, bem como
participar das “buscas ativas”.
Retomando a divisão de tarefas indicadas anteriormente, percebe-se que o
pesquisador foi alocado entre” os agentes (participando da organização das tarefas e
da busca ativa) e os atendidos (manutenção física do espaço e auxílio na distribuição
das refeições). A aparente ambiguidade, parece reverberar a sua própria narrativa de
aproximação com o projeto Cristolândia: enquanto conhecedor de uma ex-voluntária e
pesquisador, aproxima-se dos agentes; entretanto, uma vez que vivenciou
indiretamente (por meio de um familiar) a adicção, está próximo dos acolhidos.
134
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
Essa posição se distancia do testemunho de um dos assistindo que, por lado,
ignorava o sentido do texto bíblico (portanto desconhecia a “verdade” que move o
Projeto Cristolândia) e por outro, por se ele mesmo um ex-viciado”, inicialmente
poderia ocupar o lugar de acolhido.
Nota-se que de forma recorrente o engajamento individual religioso e
apontamentos sob o júdice da moralidade são apresentados como elementos cruciais
para o tratamento. Dessa maneira, as dificuldades enfrentadas em relação à condição
de adicto e da falta de acessibilidade aos direitos são trazidas nas falas
recorrentemente. Seja por exemplo, enfatizando que certas ‘provações’ e ‘privações’
seriam necessárias para se obter a recuperação e o livramento das drogas (FROMM,
2014) ou seja evidenciando que quem está na "Cracolândia" corre risco de morte ou
de ser preso”.
Sobre essa temática, Carly Machado (2021) faz um profundo debate em relação
às circunstâncias expulsivas” vivenciadas por parte da população localizada nos
grandes centros urbanos. A autora analisa que processos de rejeição severas geram
uma extrema necessidade pelo acolhimento. Nesse sentido, a "Cracolândia", está
cotidianamente envolvida por ações de repressão e de suspensão de direitos, assim as
pessoas que vivem nesse território, muitas das vezes, podem optar por se submeter a
situações indesejáveis em busca de um refúgio.
Os termos acolhido” e atendidos”, utilizado para identificar as pessoas que
são sujeitos das ações da Cristolândia, nos permite pensar sobre o grau de adesão aos
princípios religiosos que regem o projeto. Isto significa, que qualquer pessoa sem
situação de adicção pode ser atendida, mas somente aquelas que desejam conhecer a
verdade” é que são acolhidas. Este aspecto reforça o caráter de conversão do Projeto,
mais do que outorgar cidadania, como se prevê nas ões do poder público, busca-se
instituir uma nova forma moral de vida.
No que diz respeito à “Cracolândia”, o Programa, recorrentemente, durante as
instruções para a busca ativa aconselhava a não levar o celular e alertava a todos sobre
furtos, atitudes agressivas e para não se separarem, pois poderia haver alguma pessoa
endemoniada” no fluxo. Portanto, a Cristolândia caracteriza o local como amaldiçoado
seja pelo território, pelo consumo de drogas ou pela substância em si (FROMM, 2016,
135
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
p.12). Por isso, a intervenção dos missionários, enquanto agentes religiosos, se com
o objetivo de afastar o suposto mal e de promover a cura das pessoas adictas.
Para as pessoas atendidas, entretanto o Projeto, nem sempre é lido como um
local onde se pratica atos religiosos, mas sim como um equipamento que oferece
alguns serviços, tais como outros mantidos pelo poder público. Neste sentido, para
alguns, os cultos e orações e testemunhos, são ações que não produzem incômodo ou
constrangimento, por isso voltam. Para outros, entretanto, o problema es na rigidez
das regras: obrigatoriedade em assistir o culto, divisão entre homens e mulheres,
organização nos atendimentos.
A disciplina perpassa os discursos dos agentes (individuais e em grupo) e se
mostra relevante no tratamento com os atendidos. Nesse sentido, uma solicitação
de entrega e de uma rotina disciplinada como o modelo e, possivelmente, moldagem,
da conduta para a recuperação, que se faz presente: no momento de louvor, nos cortes
especificamente curtos de cabelo e comportamento de silêncio durante a realização
das refeições e do banho. Entretanto, isso não é de todo aceito, sendo possível a
verificação, dessa postura, ensejar alguns atritos notados durante as observações. Por
exemplo: nos ritos de louvor, a divisão de lugares entre os acolhidos e os atendidos
precisa ser respeitada, quando alguém desloca-se para conversar com o outro grupo
(mesmo que para uma conversa curta entre amigos) são severamente chamados a
atenção; após o banho, quando alguém deseja escolher algum modelo de roupa
diferente do recebido (mesmo que para ajuste melhor ao seu corpo) também é
duramente repreendido; e a quando um antigo acolhido, perguntou se havia vagas
para uma nova internação, lhe foi respondido que quando este teve a chance, ele havia
desistido.
Há, nesse contexto, um processo disciplinar dos corpos dos atendidos e
acolhidos. Embora se acesse para uma noção de “liberdade”, parte-se do princípio de
que a pessoa não é capaz de decidir por si mesma. De modo que ela não possui
autonomia nem mesmo para escolher a roupa que gostaria de usar ou se comunicar
com quaisquer pessoas. O poder disciplinar é exercido de modo a garantir que os
indivíduos reproduzam um ethos que o permita visualizar, pela ascese corporal, a
distinção entre missionário, acolhido e atendido.
136
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
O julgamento moral, é constantemente acionado para justificar as decisões: um
ex-acolhido” que volta à situação de adicção não é visto como um indício de falha nas
ações do Programa, mas à fraqueza do indivíduo que desperdiçou a sua chance”.
Para além de questões práticas, como a existência de vagas nas Comunidades
Terapêuticas, a passagem da condição de atendido” para a acolhido” se a partir do
reconhecimento de que a pessoa demonstrou ser digna do benefício que receberá,
como a participação assídua nos atendimentos e o respeito às regras.
Diferentes de outras CT que fazem internações compulsórias o Projeto
Cristolândia, de algum modo, seleciona seus potenciais internos a partir de um
conjunto de critérios e regras inerentes ao próprio programa. Os atendimentos,
ofertados de modo universal, cumpre aquilo que o Projeto nomeia de “redução de
danos”, embora, ao contrário da política pública, não haja ali a administração de
nenhuma substância entorpecente. Esta “redução”, estaria associada, por um lado, aos
danos materiais (banho, corte de cabelo, novas roupas e alimentação) e, por outro,
espirituais (culto, orações e escuta). Desse modo, materializa o que foi reverberado
pelos dirigentes do Projeto: Cristolândia não cura a drogadição, mas sim o pecado que
é o “principal problema dos que estão na Cracolândia"’.
No que tange à formação dos agentes, um conjunto de estratégias adotadas:
curso para voluntários, devocionais (conforme descrito acima) e ações juntos às
instituições religiosas e de ensino superior ligadas à Igreja Batista.
Um desses movimentos são os acampamentos, organizado em parceria com a
Faculdade de Teológica Batista de São Paulo e o “Deep Roots - agente em missão -
Profundidade na Obediência” organizado pela Cristolândia e as Missões Nacionais que
concerne numa imersão focada em atrair um grupo jovens para o programa.
Em síntese, trata-se de um conjunto de ões formativas, que envolvem
instruções religiosas e participação nos de atendimento na sede da Cristolândia. Em
algumas situações os participantes dessas ões (na sua maioria jovens batistas) ficam
hospedados em São Paulo, para participarem ativamente das ões. Nesses momentos,
atividades especiais, como a extensão no horário de atendimento, a manutenção
física do espaço (como grandes mutirões de limpeza e organização), cerimônia de
recepção dos novos acolhidos (que saíram da condição de atendidos e passarão a viver
137
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
em uma das CTs) e o evento “Sopão na Cracolândia", em que o atendimento extrapola
a rotina dos serviços prestados na Cristolândia.
A divulgação de novos voluntários se dá, também por meio das redes sociais
dos projetos, mas a adesão de fato, como se destacou no início desse texto, ocorre por
meio de contatos mais próximos por meio de mensagens via WhatsApp.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em 2012, o Sistema Único de Saúde, as CTs são inseridas como no rol de
instituições que participam dos mecanismos de atenção à saúde, podendo receber
incentivo financeiro nos âmbitos municipais, estaduais e federais, como ocorre com
organizações da sociedade civil que promoviam ações de redução e riscos e danos,
sociais e à saúde, associados à política de drogas, como a ONG Centro de Convivência é
de Lei16.
Diante disso, houve uma série ações que contestavam o caráter controverso
dessas instituições que apesar de integrar normativas que afirmam zelar pelo cuidado
em liberdade, a atenção psicossocial e a redução de danos, paradoxalmente, detém
suas ações no modelo asilar, em isolamento social, e uma parte significativa, não
apresenta atendimento médico e psiquiátrico especializado.
Essa posição ambígua, do poder público, frente a atuação das CT's não é algo
presente apenas no debate legislativo, isso compõe uma característica singular dessas
instituições que as permitem ofertar cuidados sem se configurar como equipamentos
de assistência social, oferecer assistência religiosa sem se definir como igrejas e
praticar o isolamento sem equipara-se aos hospitais psiquiátricos. Dessa forma, a “zona
de ambiguidade” presente nas CT’s consolida-se como um traço vantajoso, que lhe
permite transitar por diferentes legislações nos âmbitos da saúde e assistência social e
receber financiamento público como um modelo de cuidado e tratamento para quem
faz o uso problemático de drogas (RUI; FIORE, 2014, p. 7).
Embora possuam núcleos de recepção e atendimento em espaços estratégicos
e de fácil localização, as unidades das Comunidades Terapêuticas que recebem as
pessoas para tratamento encontram-se, em geral, em locais que estão distantes de
16 Para saber mais sobre o centro, acesse: https://edelei.org/home/sobre-nos/
138
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
metrópoles, dos centros dos municípios, dos serviços públicos e que não possuem
acesso via transporte público.
Assim, o difícil acesso é utilizado como dispositivo para restringirem a relação
das pessoas institucionalizadas com o mundo exterior e, muitas das vezes, até com sua
família, pois muitos parentes possuem baixo poder aquisitivo e não conseguem se
deslocar até o local, aprofundando assim o rompimento dos laços sociais. Dessa forma
o isolamento geográfico e social colabora demarcar o caráter asilar e segregacionista
como uma das principais características relacionadas às CTs.
Para além de cortar os laços com a sociedade abrangente, a rotina nas CT’s é
marcada por uma rotina rígida, intercalada entre atividades devocionais cristãs e
trabalho manual. Em alguns casos, a medicalização e a laborterapia são associadas às
estratégias de cura, de acordo com o Relatório do CFP.
A religião aparece como um traço para o cuidado nessas instituições, de modo
que, os momentos nomeados de devocionais” (em que se escolhe uma parte da Bíblia
para ser lida), os cultos e as missas compõem parte do tratamento para a cura’ das
substâncias psicoativas. Em alguns casos, uma obrigatoriedade nas atividades
religiosas, posto que no caso de ausências os internos estão sujeitos a punições como
aumento da laborterapia, segundo relatos recolhidos e descritos no Relatório do CFP.
A estratégia disciplinar de associar trabalho manual e oração, não é novidade
no contexto cristão. Entre os católicos, a constituição das ordens religiosas monásticas,
dentre elas aquela fundada por São Bento, emergem sobre esse princípio. A diferença
fundamental reside no fato que religiosos optam por esse regime de vida, enquanto
entre as pessoas adictas esse sistema é, muitas vezes, imposto sob o argumento que a
condição de “viciado” retira dessas pessoas a capacidade de auto governabilidade.
Neste contexto, a narrativa de vida do sujeito é recontada a partir de uma
estrutura que destaca certo processo de fracasso e perda da autonomia ao tornar-se
um “viciado” o que enseja a intervenção externa, para “resgatá-lo”. A narrativa cris
que relaciona queda devido ao pecado e a redenção por meio da intervenção divina, é
reelaborada a partir da experiência de cada sujeito.
Com base nisso, ao levar em consideração o protagonismo que as Comunidades
Terapêuticas ganharam nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro para a promoção
139
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
do tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de drogas17. Desde 2018 observa-se
um aumento de 182% nas emendas parlamentares que beneficiam financeiramente
essas instituições, chegando a um montante de R$ 53,5 milhões em 2023.18
Neste sentido, novamente as fronteiras da laicidade estatal são borradas.
Mesmo reconhecendo que se trata de instituições confessionais, os recursos são
repassados visto que sua utilidade pública fora validada pelo próprio poder público, ao
reconhecer as CTs como equipamentos que compõem o rol de instituições que
prestam serviço complementar de saúde, como fora dito acima. É preciso destacar,
sobre esse aspecto, que nas três esferas do legislativo (federal, estadual e municipal)
uma presença massiva de parlamentares associados às instituições religiosas cristãs,
haja vista a existência de “bancadas evangélicas”, embora os religiosos não se
restrinjam a ela.
Por essa ótica, observa-se que o modelo apresentado pelas Comunidades
Terapêuticas descrito representa uma ruptura e um retrocesso na compreensão das
práticas de cuidado, uma vez que promove o isolamento e a violação de direitos em
vários âmbitos da sua lógica. Desse modo, nota-se que apesar da presença da base
normativa contrárias e das irregularidades dessa prática, essas instituições seguem em
funcionamento, não se apresentando como uma das possibilidades relevantes para
o atendimento das pessoas com transtorno de drogas, mas como também seguem
sendo incentivadas pelo poder público de São Paulo no período recente da
"Cracolândia".19
Para o Conselho Federal de Psicologia, às comunidades terapêuticas não são
efetivas, uma vez que impõe ao sujeito uma separação do convívio social, quando o
ideal é priorizar a inserção da pessoa na família, no mercado de trabalho e na vida
comunitária. Assim, tendo por base a Lei 10.216/2001, que instituiu a reforma
psiquiátrica no Brasil, entende que o modelo das CTs “viola o amplo conjunto de
19
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/01/prefeitura-e-governo-de-sp-querem-aumentar-inter
nacoes-de-usuarios-da-cracolandia.shtml
18 Levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome:
https://www.camara.leg.br/noticias/963381-especialistas-em-saude-defendem-fim-do-financiamento-p
ublico-as-comunidades-terapeuticas
17 Dossiê Revista Cult: Comunidades Terapêuticas e seus artifícios.
140
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
diretrizes que tratam dos direitos da pessoa com transtorno mental, incluindo os
advindos do uso de álcool e outras drogas”. (CFP, 2017, p.12)
Neste contexto, o Programa Cristolândia, apresenta-se como uma etapa
anterior ao ingresso a uma Comunidades Terapêuticas mantidas pela Missões
Nacionais. É preciso destacar, como se afirmou acima, que neste contexto, os
acolhimentos ocorrem de forma distintas, pois não é possível a internação compulsória
de indivíduos. Visto que, ao menos no contexto observado, o objetivo principal é
oferecer às pessoas adictas um programa de reforma moral e de evangelização’. Assim,
a mudança radical de comportamento se estabelece como meio para a reformulação
dos valores e a proteção do uso de drogas.
Desse modo, os achados desta etnografia, dialogam em boa medida com as
conclusões de Carly Machado (2021) ao caracterizar esses equipamentos sociais como
espaço de refúgio. Nesse sentido, os dispositivos pedagógicos do cuidado utilizado pelo
na Cristolândia, para pôr uma gestão dos sujeitos por meio da oração direcionada,
sistematização dos ritos de atendimentos, das disposições pessoas e dos afazeres, que
pode ocasionar também no estabelecimento da ordem e gerar conflitos. Sendo uma
das fases iniciais do processo, a normatização e controle do indivíduo, por meio do
Projeto Cristolândia, visam produzir no sujeito a disposição necessária para a recepção
da cura do vício e do pecado das drogas”.
No que diz respeito à articulação entre os agentes religiosos e o poder público
na oferta de atendimento às pessoas adictas destacou-se a criação de equipamentos
geridos por instituições religiosas tais como as Comunidades Terapêuticas. Esses
grupos foram recepcionados pelo Estado como uma das principais alternativas de
tratamento; e assim, realizou-se a abertura de um centro de atendimento na
“Cracolândia”, nomeado Hub de Cuidados Crack e outras Drogas. Este equipamento
oferta um conjunto de serviços à população, por meio da administração direta do
poder público e do convênio com ONG’s. O Programa Cristolândia também desenvolve
as suas atividades e oferece opções de tratamento neste local.
Somado a isso, ao longo do período da pesquisa, notou-se que as Comunidades
Terapêuticas estavam cada vez mais atreladas à burocracia estatal, e que
consequentemente, alcançaram maior financiamento e maior ocupação do espaço
público. Desse modo, as reconfigurações entre estado, religião, pobreza, cuidado e
141
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
repressão e a disputa dos modelos de cuidado e o papel do estado seguem sendo uma
relevante temática a ser investigada, ou ainda, de forma mais ampla, reflita-se sobre o
modelo de cuidado neoliberal, como sugerido no parecer anterior.
REFERÊNCIAS
AMARANTE, Paulo; PINHO, Leonardo. Comunidades Terapêuticas e seus
artifícios. O pesadelo da Normalidade. Revista Cult. São Paulo, edição 292, p. 15-41.
mar.2023
COSTA, Roberta Marcondes. Mil Fitas na Cracolândia: Amanhã é Domingo e a
Craco Resiste. São Paulo, 286 f. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-graduação
Culturas e Identidades Brasileiras, Instituto de Estudos Brasileiros) Universidade de São
Paulo, 2017.
FROMM, Deborah. Deus e o Diabo na terra do crack - uma etnografia da
cosmopolítica” Batista, 2014
FRÚGOLI, Heitor Jr e Spaggiari, Enrico. Da cracolândia aos nóias: percursos
etnográficos no bairro da Luz. Ponto Urbe | 2010.
HART, Carl. Um preço muito alto: a jornada de um neurocientista que desafia
nossa visão sobre drogas. Tradução Clóvis Marques. - 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
MACHADO, Carly. Presos do Lado de Fora - Working Paper Series: comunidades
terapêuticas no Brasil. Brooklyn: Social Science Research Council, junho de 2021
MAGALHÃES, Taís Rodrigues Pereira. Campos de disputa e gestão do espaço
urbano: o caso da cracolândia” paulistana. Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2015.
https://doi.org/10.4000/pontourbe.3615.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. (1992). Da periferia ao centro: pedaços &
trajetos. Revista De Antropologia, 35, 191-203.
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1992.111360
MAGNANI, José Guilherme Cantor. Quando o campo é a cidade: fazendo
antropologia na metrópole. Na metrópole: textos de antropologia urbana. Tradução.
São Paulo: Edusp, 2008
NAKANO, Anderson Kazuo; GONÇALVES, Thiago Andrade. As disputas do
planejamento urbano atual. Brasil de Fato. On line. 28 de março de 2024. Disponível
em:
https://www.brasildefato.com.br/2024/03/28/as-disputas-do-planejamento-urbano-at
ual Acesso em 01 de setembro de 2024.
O que o aumento da população em situação de rua tem a ver com despejos e
remoções?. Labcidade. Disponível em:
http://www.labcidade.fau.usp.br/o-que-o-aumento-da-populacao-em-situacao-de-rua-
tem-a-ver-com-despejos-e-remocoes/. Acesso em: 11/03/2023.
Pesquisadores de iniciação científica analisam relação entre produção
imobiliária e regulação em São Paulo. Labcidade. Disponível em:
http://www.labcidade.fau.usp.br/pesquisadores-de-iniciacao-cientifica-dissertam-sobr
142
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/
e-relacao-entre-producao-imobiliaria-e-regulacao-em-sao-paulo/ Acesso em:
11/03/2023.
PPP como solução” única: ilusão habitacional para a PopRua na cidade de São
Paulo. Labcidade. Disponível em:
http://www.labcidade.fau.usp.br/ppp-como-solucao-unica-ilusao-habitacional-para-a-
poprua-na-cidade-de-sao-paulo/. Acesso em: 11/03/2023.
Projeto de Dória para dependentes químicos exige abstinência. Exame.
Disponível em:
https://exame.com/brasil/projeto-de-doria-para-dependentes-quimicos-exige-abstinen
cia/. Acesso em: 12/03/2023
Relatório da Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas - 2017 /
Conselho Federal de Psicologia; Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura; Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão / Ministério Público Federal;
Brasília DF: CFP, 2018.
RUI, Taniele; FIORE, Maurício (editores). Working Paper Series: comunidades
terapêuticas no Brasil. Brooklyn: Social Science Research Council, junho de 2021.
RUI, Taniele. Depois da “Operação Sufoco”: sobre espetáculo policial, cobertura
midiática e direitos na cracolândia” paulistana. Contemporânea Revista de
Sociologia da UFSCar. São Carlos, v. 3, n. 2, 2013, pp. 287-310.
SILVA, Vagner Gonçalves da. O antropólogo e sua magia: trabalho de campo e
texto etnográfico nas pesquisas antropológicas sobre as religiões afro-brasileiras. 1998.
Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.. Acesso em: 12 mar.
2023.
143
Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 1, jan/jun, 2024
PPGDS/Unimontes-MG