Vol. 30, n. 2, jul/dez, 2024
ISSN: 2179-6807 (online)
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Revista Desenvolvimento Social, vol. 30, n. 2, jul/dez, 2024
PPGDS/Unimontes-MG
PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO E DAS TERRITORIALIDADES: INSURGÊNCIAS
E RESISTÊNCIA NO QUILOMBO CAFUNDÁ ASTROGILDA
1
Amaro Sérgio Marques
2
Tatiana Martinz Gil de Alcantara
3
Resumo: Este artigo investiga as dinâmicas de resistência territorial do Quilombo Cafundá
Astrogilda, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, destacando a luta da comunidade contra as
pressões da expansão urbana, a especulação imobiliária e as políticas ambientais que afetam
suas práticas culturais e agrícolas. Fundamentado nas teorias de Rogério Haesbaert e Marcelo
Lopes de Souza, que concebem o território como uma construção social moldada por relações
de poder, o estudo explora as práticas de afirmação cultural e territorial desenvolvidas pela
comunidade quilombola, compreendendo-as como formas insurgentes de resistência e
reafirmação identitária. A análise também incorpora o Quilombismo, de Abdias Nascimento, e
a crítica à colonialidade do poder, de Aníbal Quijano, ressaltando a centralidade da identidade
quilombola e da valorização dos saberes ancestrais como formas de enfrentamento. A
metodologia combina visitas técnicas, observação participante e mapeamento social para
compreender as práticas comunitárias e reconfiguração do espaço vivido. O Quilombo Cafundá
Astrogilda emerge como um símbolo de luta e preservação cultural, reafirmando identidades
coletivas e fortalecendo a autonomia de seus moradores diante das adversidades impostas pelo
contexto urbano e socioeconômico.
Palavras-chave: Quilombo, Territorialidade, Resistência, Insurgência, Produção do Território.
PRODUCTION OF TERRITORY AND TERRITORIALITIES: INSURGENCIES AND RESISTANCE IN THE
CAFUNDÁ ASTROGILDA QUILOMBO
Abstract: This article investigates the dynamics of territorial resistance in the Cafundá Astrogilda
Quilombo, located in the West Zone of Rio de Janeiro, highlighting the community’s struggle
against the pressures of urban expansion, real estate speculation, and environmental policies
that affect their cultural and agricultural practices. Based on the theories of Rogério Haesbaert
and Marcelo Lopes de Souza, who conceive of territory as a social construction shaped by power
relations, the study explores the practices of cultural and territorial affirmation developed by
1
Trabalho realizado com o apoio da disciplina Território e Territorialidades Negras” do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PPGARQ/PUC-Rio) e do
Grupo de Pesquisa BAOBÁ.
2
Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). ORCID: 0000-0003-4697-3572. E-mail: amaro@puc-rio.br
3
Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). ORCID: 0000-0002-1220-8744. E-mail:
talcantara@aluno.puc-rio.br
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the quilombola community, understanding them as insurgent forms of resistance and identity
reaffirmation. The analysis also incorporates Abdias Nascimento’s Quilombismo and Aníbal
Quijano’s critiques of the coloniality of power, highlighting the centrality of quilombola identity
and the valorization of ancestral knowledge as forms of confrontation. The methodology
combines technical visits, participant observation, and social mapping to understand community
practices and the reconfiguration of lived space. The Cafundá Astrogilda Quilombo emerges as
a symbol of struggle and cultural preservation, reaffirming collective identities and
strengthening the autonomy of its residents in the face of adversities imposed by the urban and
socioeconomic context.
Keywords: Quilombo, Territoriality, Resistance, Insurgency, Production of Territory.
PRODUCCIÓN DE TERRITORIO Y TERRITORIALIDADES: INSURGENCIAS Y RESISTENCIA EM
QUILOMBO CAFUNDÁ ASTROGILDA
Resumen: Este artículo investiga las dinámicas de resistencia territorial del Quilombo Cafundá
Astrogilda, en la Zona Oeste de Río de Janeiro, destacando su lucha de la comunidad contra las
presiones de la expansión urbana, la especulación inmobiliaria y las políticas ambientales que
afectan sus prácticas culturales y agrícolas. A partir de las teorías de Rogério Haesbaert y
Marcelo Lopes de Souza, que conciben el territorio como una construcción social moldeada por
relaciones de poder, el estudio explora las prácticas de afirmación cultural y territorial
desarrolladas por la comunidad quilombola, entendiéndose como formas insurgentes de
resistencia y reafirmación de la identidad. El análisis incorpora también el Quilombismo, de
Abdias Nascimento, y la crítica a la colonialidad del poder, de Aníbal Quijano, destacando la
centralidad de la identidad quilombola y la valorización de los conocimientos ancestrales como
forma de confrontación. La metodología combina visitas técnicas, observación participante y
mapeo social para comprender las prácticas comunitarias y la reconfiguración del espacio vivido.
El Quilombo surge como un símbolo de lucha y preservación cultural, reafirmando las
identidades colectivas y fortaleciendo la autonomía de sus habitantes frente a las adversidades
impuestas por el contexto urbano y socioeconómico.
Palabras-clave: Quilombo, Territorialidad, Resistencia, Insurgencia, Producción Territorial.
INTRODUÇÃO
O debate sobre o futuro das cidades tem ganhado nova perspectiva ao integrar
visões que transcendem o urbano imediato, envolvendo uma compreensão mais ampla
das interconexões entre as comunidades, os territórios e o planeta. Nesse contexto, o
Quilombo Cafundá Astrogilda, localizado na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro,
emerge como um espaço significativo de resistência e insurgência territorial. Este artigo
propõe uma investigação das dinâmicas que caracterizam a luta pela preservação
cultural e pela autonomia dentro dessa comunidade quilombola, que se destaca em
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meio a um cenário de intensas transformações urbanas e pressões do mercado
imobiliário.
O foco principal desse estudo é a resistência e insurgência territorial do
Quilombo, onde os moradores utilizam práticas culturais e sociais para afirmar sua
identidade e independência. Essas práticas reafirmam aspectos ligados à ancestralidade
e promovem resiliência comunitária, criando alternativas ao modelo urbano dominante
e fortalecendo uma cidadania inclusiva.
Para compreender as interações sociais, culturais e políticas que moldam a
realidade do Quilombo, o artigo adota uma abordagem teórica fundamentada no
conceito de quilombismo, desenvolvido por Abdias Nascimento, e nas críticas à
colonialidade do poder, conforme discutido por Aníbal Quijano. Essas perspectivas
destacam a luta quilombola como uma contestação às estruturas coloniais ainda
presentes e um movimento pela justiça social. O território é visto como uma construção
social, além de um espaço físico, continuamente negociado pelos seus habitantes. O
estudo destaca a resiliência ecológica e cultural do quilombo, evidenciando a
importância das práticas coletivas na afirmação de identidades e na manutenção do
território como espaço de resistência.
Além disso, a pesquisa explora as contribuições de Marcelo Lopes de Souza e
Rogério Haesbaert para compreender o território e as territorialidades como dimensões
simbólicas e materiais marcadas por relações de poder. A multiplicidade dos territórios,
como argumenta Haesbaert (2021), revela camadas de significados que variam
conforme as experiências e práticas dos grupos. Marcelo Lopes de Souza (2010)
contribui ao destacar as “práticas espaciais insurgentes” como movimento de luta pela
autonomia e pela retomada do espaço público. Esses conceitos ajudam a interpretar
como o Quilombo ressignifica seus espaços diante das pressões externas.
O Quilombo Cafundá Astrogilda emerge como um símbolo de resistência cultural
e territorial, evidenciando a luta pela afirmação de identidades e pela preservação de
práticas ancestrais em um contexto marcado por desigualdade e opressão. Ele nos
convoca a refletir criticamente sobre a produção do território e das territorialidades,
questionando narrativas hegemônicas e reforçando a importância da autonomia na
construção de futuros mais justos e inclusivos. Este estudo vai além de uma simples
descrição das práticas de resistência, propondo alternativas viáveis e sustentáveis para
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o futuro das cidades, baseadas na riqueza dos saberes ancestrais e na urgência de uma
justiça social que valorize as vozes historicamente silenciadas.
A produção do território e das territorialidades negras no Quilombo Cafundá
Astrogilda constitui um campo de estudo essencial para compreender as dinâmicas de
resistência e preservação cultural em territórios quilombolas. Sobreposto à região do
Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), localizado no bairro de Vargem Grande, no
município do Rio de Janeiro RJ, este quilombo exemplifica como a ocupação e o uso
do espaço são moldados por práticas culturais ancestrais, além de estratégias de
manutenção e afirmação identitária.
Investigar os processos de ocupação e luta pela posse do território do Quilombo
Cafundá Astrogilda permite analisar como a comunidade quilombola produz e
ressignifica seus espaços, enfrentando desafios contemporâneos, mas mantendo vivas
suas tradições culturais. A relevância desta pesquisa esna valorização e compreensão
das estratégias de resistência territorial dessa comunidade, essencial para a preservação
de sua cultura e para a promoção da justiça social e espacial. O reconhecimento e análise
dessas práticas insurgentes entendidas como um novo aquilombamento reforçam a
autonomia e identidade quilombola, evidenciando sua capacidade de resistir e afirmar
sua presença no contexto da opressão e da marginalização, enquanto apontam
alternativas de convivência e organização social que desafiam as estruturas dominantes.
A metodologia adotada inclui revisão de literatura, levantamento fotográfico,
produção de cartografias sociais e mapas, além de trabalho etnográfico e observação
participante. Durante o primeiro semestre de 2024, foram realizadas incursões ao
território do Cafundá Astrogilda, com levantamento fotográfico e produção de
cartografias sociais. As visitas técnicas e a observação participante possibilitaram uma
análise detalhada das práticas culturais e das relações cotidianas que moldam o
território, permitindo captar as dinâmicas sociais em sua complexidade. A observação
direta dos moradores e a análise das práticas culturais permitiram uma compreensão
aprofundada das dinâmicas de resistência territorial. Essa abordagem metodológica
buscou articular os aportes teóricos de Rogério Haesbaert, Marcelo Lopes de Souza,
Abdias Nascimento e Aníbal Quijano às práticas comunitárias identificadas no
Quilombo, evidenciando a relação entre território, identidade e resistência. Essas etapas
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metodológicas contribuem para articular teoria e prática, evidenciando o papel das
territorialidades insurgentes na reafirmação da autonomia quilombola.
Este estudo esestruturado em seis seções principais, que exploram desde os
conceitos de território, territorialidade e práticas insurgentes até o contexto específico
do Quilombo Cafundá Astrogilda e suas estratégias de resistência. A análise destaca a
valorização dos saberes ancestrais e tradicionais como ferramentas fundamentais para
enfrentar as desigualdades históricas e sociais. Busca-se compreender assim, a
resistência quilombola como um campo dinâmico onde práticas culturais, espirituais e
agrícolas se entrelaçam na construção de um território autônomo e resiliente.
A primeira seção, intitulada “Territorialidades e Insurgências: Fundamentos
Conceituais e Práticas Emergentes”, discute os conceitos de território e territorialidade,
tendo como base os geógrafos Marcelo Lopes de Souza e Rogério Haesbaert,
destacando como essas construções sociais são fundamentais para compreender as
dinâmicas de poder e resistência no quilombo. A segunda seção, “Quilombismo como
Forma de Resistência: História e Práticas no Contexto Contemporâneo”, explora o
conceito de Quilombismo, formulado por Abdias do Nascimento, como um projeto
político e cultural que transcende a mera ocupação de território, propondo um modelo
societal alternativo baseado na justiça e na dignidade humana.
A terceira seção, “A Colonialidade e Seus Desdobramentos: Impactos no
Quilombo Cafundá Astrogilda”, analisa os impactos da colonialidade, com base nas
formulações de Aníbal Quijano, além de Leo Name e Tereza Spyer, discutindo como as
políticas públicas e as perspectivas eurocêntricas afetam a comunidade quilombola. Em
seguida, a seção “Territórios Insurgentes: A Prática de Resistência no Quilombo Cafundá
Astrogilda” se aprofunda na história da resistência territorial da comunidade,
abordando as tensões entre proteção ambiental e o direito à terra, enquanto também
dialoga com reflexões de Maria Lúcia, neta da matriarca Astrogilda e moradora do
quilombo, sobre a construção de identidade e memória quilombola.
A quinta seção, “Percurso Exploratório: Desafios e Descobertas no Caminho da
Resistência Quilombola”, descreve a metodologia de pesquisa e a incursão ao Quilombo
Cafundá Astrogilda em 2024, integrando depoimentos e experiências vivenciadas no
campo pelos pesquisadores. A seção “Memória, Luta e Território: A Resistência
Quilombola no Quilombo Cafundá Astrogilda” reflete sobre como a resistência
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quilombola especialmente por meio da valorização da ancestralidade e da memória
coletiva, contribui para a construção de um futuro mais justo e plural, dialogando ainda
com a psicóloga quilombola Gizele Martins, que evidencia a força das práticas
comunitárias como resposta às estruturas de opressão e exclusão historicamente
impostas.
Assim, este estudo visa ressaltar o Quilombo Cafundá Astrogilda como um
espaço de resistência ativa, onde as práticas insurgentes e a afirmação de identidade
continuam a fortalecer laços culturais e sociais, constituindo uma expressão poderosa
de luta pela autonomia e pelo pertencimento.
TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADES E INSURGÊNCIAS: FUNDAMENTOS E PRÁTICAS NO
CONTEXTO QUILOMBOLA
No contexto da produção do território e das territorialidades, compreender
esses conceitos é essencial para analisar as dinâmicas de poder e resistência presente
em comunidades como o Quilombo Cafundá Astrogilda. A noção de território, quando
configurada como espaço social, é profundamente influenciada pelas relações de poder,
o que levanta a questão fundamental: "quem domina ou influencia quem nesse espaço,
e como?" (SOUZA, 2024, p.79). Esta indagação revela as complexas interações entre
poder e espaço, destacando a importância de analisar como diferentes grupos
contestam e reivindicam seus territórios. Para Souza, o território não é apenas um
espaço físico, mas uma construção social que reflete e reproduz as relações de poder
que atravessam a sociedade. A territorialidade, nesse sentido, é uma prática social que
envolve processos contínuos de negociação, disputas e reconfigurações.
Haesbaert (2021, p.26) amplia essa visão ao afirmar que o espaço em sua
multidimensionalidade, e o território como expressão do poder sobre o ambiente,
revelam a importância da geografia ou da espacialidade nas relações sociais. Ele aponta
que as territorialidades são múltiplas e dinâmicas, e se configuram como práticas de
resistência e afirmação identitária, especialmente em contextos de marginalização e
luta por reconhecimento. O território é, portanto, não apenas um espaço físico, mas um
campo de batalha onde as comunidades reivindicam o direito de ser e existir, e onde
suas identidades são constantemente reconfiguradas.
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A territorialidade, como uma prática dinâmica, o é estática, mas está em
constante disputa, tanto entre os próprios membros da comunidade quanto com as
forças externas que buscam impor seus interesses e normas. Esse processo de
negociação e resistência é visível no Quilombo Cafundá Astrogilda, onde a comunidade
busca afirmar sua autonomia diante das pressões externas, como as políticas de
preservação ambiental e o avanço da expansão urbana. Essas práticas insurgentes
podem ser vistas como uma forma de resistência ao deslocamento, à expropriação e à
marginalização dos povos quilombolas, reafirmando seus direitos ao uso e posse da
terra, e às práticas culturais que os definem.
No Quilombo Cafundá Astrogilda, a territorialidade vai além da simples
ocupação do solo, abrangendo uma luta contínua pela afirmação da identidade,
preservação da história e valorização de saberes ancestrais que são essenciais para a
constituição dessa comunidade. Souza e Haesbaert destacam que as territorialidades
são práticas sociais profundamente conectadas aos processos históricos de resistência
e que a identidade de um grupo se constrói e se reafirma na interação com o território.
Dessa forma, o território quilombola se revela como um espaço de interação dinâmica,
onde as práticas culturais e sociais o apenas se perpetuam, mas também se
transformam, consolidando o território como alicerce central de resistência e de
continuidade das tradições comunitárias.
A pluralidade de territorialidades, conforme discutido por Haesbaert (2021), é
uma característica essencial para compreender as complexas relações que se
estabelecem em torno dos territórios quilombolas. As diferentes formas de uso e
controle do espaço, tanto internas quanto externas à comunidade, geram tensões que
refletem disputas por poder e por reconhecimento. O Quilombo Cafundá Astrogilda,
como outros territórios quilombolas, vivem essas tensões entre a preservação de suas
tradições e a pressão de forças externas que buscam apropriar-se de seus espaços, seja
para fins econômicos, políticos ou ambientais.
A luta por justiça e igualdade é intrínseca às territorialidades quilombolas,
refletindo os esforços das comunidades em resistir às imposições externas e preservar
suas tradições culturais. Esse movimento articula práticas de resistência que
transcendem a mera ocupação do espaço físico, consolidando-se como expressão de
valores coletivos e de um compromisso com a construção de relações mais equitativas
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e respeitosas. Assim, as territorialidades quilombolas configuram-se como campos de
afirmação de direitos e de preservação cultural, elementos que serão discutidos mais
detalhadamente na análise do quilombo como fundamento para a resistência e
identidade coletiva.
A análise das territorialidades no Quilombo Cafundá Astrogilda evidencia uma
prática dinâmica, marcada pela contestação e pelo entrelaçamento entre poder,
identidade e resistência. Longe de ser um espaço fixo ou estático, a territorialidade
quilombola configura-se como um campo de luta constante, onde a comunidade
enfrenta as tentativas de homogeneização e expropriação, reafirmando suas
identidades culturais e sociais. Essas práticas insurgentes são essenciais para a
preservação da autonomia comunitária, garantido a continuidade de suas tradições e
saberes ancestrais (SOUZA, 2010). Assim, o território transcende sua dimensão física,
transformando-se em um lugar de resistência ativa e de afirmação da vida quilombola.
QUILOMBISMO COMO FORMA DE RESISTÊNCIA: PRÁTICAS E DESAFIOS
O Quilombismo, conceito formulado por Abdias do Nascimento, constitui um
projeto político e cultural que transcende a ocupação física dos territórios quilombolas,
consolidando-se como uma resposta à opressão racial, ao colonialismo e às suas
heranças contemporâneas. Mais do que a memória de lutas passadas, o Quilombismo
projeta-se como um modelo de sociedade baseado na justiça, igualdade e respeito à
dignidade humana. Nesse sentido, ele ressignifica a resistência histórica das
comunidades quilombolas, destacando seu protagonismo na construção de alternativas
sociais e políticas.
Ao propor o Quilombismo, Nascimento apresenta um caminho para a
reconstrução da autonomia e para a afirmação da identidade negra, fundamentado na
valorização dos saberes ancestrais e das práticas culturais. Essas dimensões não se
restringem à resistência, mas configuram-se como elementos centrais de um modelo
coletivo que desafia as estruturas coloniais persistentes e reivindica novas formas de
organização social. Sendo assim, para Nascimento (2019), o Quilombismo não se limita
à memória de lutas passadas, mas projeta-se como um modelo coletivo de sociedade
pautada pela justiça, igualdade e respeito à dignidade humana. Como ele observa, “os
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negros têm como projeto coletivo a ereção de uma sociedade fundada na justiça, na
igualdade e no respeito a todos os seres humanos.”
No contexto do Quilombo Cafundá Astrogilda, o Quilombismo encontra uma
expressão concreta nas múltiplas formas de resistência cultural e territorial
empreendidas pela comunidade. Tais práticas incluem a manutenção de tradições de
cura, a transmissão oral de conhecimentos intergeracionais e a organização
comunitária, as quais se mostram fundamentais para a preservação da memória coletiva
e da identidade quilombola. Ao mesmo tempo, essas práticas enfrentam desafios
significativos, como as restrições impostas pelas políticas ambientais do Parque Estadual
da Pedra Branca, que muitas vezes desconsideram as especificidades históricas,
culturais e territoriais da comunidade.
Ademais, o Quilombismo configura-se como uma resposta insurgente às
estruturas coloniais que continuam a moldar a sociedade contemporânea, operando
como uma prática contínua de descolonização e posicionando os quilombos como
espaços de resistência ativa e construção de alternativas sociais frente aos modelos
excludentes impostos pelas dinâmicas hegemônicas. Nesse sentido, o Quilombismo
transcende a defesa do território físico, consolidando-se como uma reafirmação dos
valores sociais e culturais quilombolas, indispensáveis para o fortalecimento da
autonomia e da justiça social.
Emergindo como um eixo central para compreender as práticas de resistência e
afirmação identitária das comunidades quilombolas, o Quilombismo se insere em um
contexto mais amplo, marcado pela permanência da colonialidade. Essas heranças das
relações coloniais ainda estruturam dinâmicas sociais, culturais e econômicas
contemporâneas, perpetuando desigualdades e formas de exclusão.
Ao se contrapor a essas estruturas, o Quilombismo não apenas denuncia os
impactos persistentes da colonialidade, mas também propõe alternativas que rompem
com as lógicas hegemônicas historicamente impostas. Nessa perspectiva, torna-se
imprescindível aprofundar a discussão sobre os desdobramentos da colonialidade e os
caminhos insurgentes para sua superação.
A COLONIALIDADE E SEUS DESDOBRAMENTOS: IMPACTOS NA COMUNIDADE
QUILOMBOLA
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A colonialidade, conforme definida por Aníbal Quijano, é uma estrutura de poder
que transcende o colonialismo histórico, persistindo como um padrão de dominação
que organiza relações sociais, econômicas, culturais e epistêmicas. Tal estrutura não
apenas moldou o desenvolvimento das sociedades latino-americanas, como também
impacta diretamente as comunidades quilombolas, ao impor hierarquias baseadas em
raça, trabalho e saberes (QUIJANO, 2005).
De acordo com Quijano, a articulação entre raça e divisão global do trabalho foi
central para a formação do capitalismo colonial/moderno, consolidando a Europa como
núcleo do sistema-mundo. Este padrão de poder atribui identidades raciais aos
colonizados, legitimando formas de exploração que permanecem no imaginário social
contemporâneo. Essa lógica encontra reflexo no Brasil, onde as políticas públicas,
muitas vezes baseadas em perspectivas eurocêntricas, desconsideram as práticas e os
saberes de comunidades tradicionais, reforçando processos de exclusão territorial e
cultural.
O eurocentrismo, como perspectiva hegemônica de produção de conhecimento,
reforça a colonialidade ao posicionar a racionalidade europeia como universal e relegar
outras formas de saber ao status de primitivas ou atrasadas. No Quilombo Cafundá
Astrogilda, essa lógica é desafiada pela preservação de saberes ancestrais transmitidos
oralmente e pela valorização de práticas culturais e espirituais. Essas ações representam
uma insurgência epistêmica que visa subverter as narrativas dominantes, criando
alternativas pós coloniais que integram conhecimento tradicional e científico.
Os desdobramentos da colonialidade também são evidentes na relação entre
modernidade e desenvolvimento. A narrativa eurocêntrica apresenta a modernidade
como um projeto civilizatório linear, ignorando os impactos de tal visão sobre
populações subalternizadas. Essa perspectiva reforça dicotomias como
moderno/tradicional e civilizado/primitivo, utilizadas para justificar a exclusão de
comunidades tradicionais em políticas ambientais e urbanas. No contexto do Quilombo
Cafundá Astrogilda, essas dinâmicas são evidenciadas na criação do Parque Estadual da
Pedra Branca (PEPB), que impõe restrições ao uso da terra sem considerar a
sustentabilidade intrínseca das práticas quilombolas.
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Contudo, as práticas de manejo sustentável das comunidades quilombolas do
Maciço da Pedra Branca, incluindo o Quilombo Cafundá Astrogilda, demonstram que a
relação histórica e cultural desses grupos com o território é essencial para a preservação
ambiental. Com a análise dos estudos exemplificados na Cartilha de Acordo Comunitário
Contribuições das comunidades agrícolas e quilombolas para a conservação do Parque
Estadual da Pedra Branca, destacam que os sistemas agroflorestais manejados por essas
comunidades não apenas preservam, mas também potencializam os estoques de
carbono no solo, superando, em alguns casos, os resultados obtidos pela floresta nativa.
Essas práticas refletem uma integração profunda entre biodiversidade e cultura,
evidenciando a relevância de políticas de conservação ambiental que incorporem e
respeitem os saberes tradicionais das comunidades quilombolas.
Esse exemplo ilustra como a colonialidade das práticas políticas públicas não
reconhece a contribuição de comunidades tradicionais para a sustentabilidade,
perpetuando uma lógica de exclusão. No entanto, a resistência quilombola, por meio da
valorização de saberes ancestrais e da promoção de uma educação decolonial, como é
o caso do Laboratório Vivo Floresta/Museu Quilombo, desafia essa narrativa ao integrar
conhecimento local e científico. Essa articulação aponta para a necessidade de
transformar o paradigma dominante de conservação ambiental, promovendo a justiça
socioambiental por meio de uma abordagem que valorize práticas tradicionais e saberes
plurais como elementos centrais na preservação do território e na promoção do bem-
estar coletivo.
Léo Name e Tereza Spyer apontam as contradições das abordagens decoloniais
contemporâneas, ressaltando o risco de uma possível estetização das lutas sociais.
Segundo os autores, ao transformar práticas de resistência em modismos culturais,
corre-se o risco de esvaziar o impacto político das críticas à colonialidade. No contexto
do Quilombo Cafundá Astrogilda, a resistência transcende a mera reivindicação
territorial, configurando-se uma articulação coletiva que integra educação, memória e
práticas agrícolas tradicionais. Essas ações reafirmam a radicalidade das críticas à
colonialidade e evitam que as lutas quilombolas sejam diluídas por narrativas
hegemônicas.
A memória coletiva desempenha um papel crucial no enfrentamento dos
desdobramentos da colonialidade. Rituais religiosos, celebrações comunitárias e
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práticas de curas são elementos que conectam o Quilombo Cafundá Astrogilda à sua
ancestralidade, reafirmando a territorialidade quilombola em oposição à lógica de
apagamento promovida pela modernidade colonial. Essa memória insurgente preserva
a identidade cultural da comunidade enquanto configura o território como espaço de
resistência simbólica e material.
Nesse contexto, o território quilombola emerge como um espaço de produção
autônoma, onde práticas de manejo tradicional coexistem com ações insurgentes
contra a colonialidade ambiental e epistêmica. A educação decolonial, promovida por
iniciativas como o Laboratório Vivo Floresta/Museu Quilombo, exemplifica essa
articulação ao integrar saberes locais e científicos, capacitando as novas gerações a
defenderem o território e sua cultura de maneira crítica e sustentável.
A resistência no Quilombo Cafundá Astrogilda, portanto, não se limita apenas à
defesa da terra e luta pela posse de seu território, mas abrange a valorização de
epistemologias alternativas e construção de uma autonomia cultural e econômica. Essa
luta reafirma a necessidade de repensar as políticas públicas e os paradigmas de
desenvolvimento, reconhecendo a pluralidade de saberes e práticas como elementos
fundamentais para a promoção da justiça social e a preservação das identidades
comunitárias.
Conforme apontado por Quijano (2005), a colonialidade é um sistema que
organiza múltiplos âmbitos do poder, integrando exploração econômica, dominação
cultural e epistêmica. A luta contra esse sistema, como demonstrado pela experiência
do Quilombo Cafundá Astrogilda, exige uma abordagem interdisciplinar que conecte os
campos do desenvolvimento social, da sustentabilidade e dos direitos territoriais. Tal
abordagem permite questionar e desconstruir as hierarquias coloniais que ainda
moldam nossas sociedades, abrindo caminhos para a construção de um futuro mais
equitativo e plural.
A RESISTÊNCIA HISTÓRICA DO QUILOMBO CAFUNDÁ ASTROGILDA
A história do Quilombo Cafundó Astrogilda destaca-se pela importância dessa
comunidade na luta e resistência pelo direito à terra dos remanescentes quilombolas.
Apesar do reconhecimento do direito à posse da terra pelos descendentes de pessoas
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que foram escravizadas nominadas pela Constituição Federal de 1988 como
remanescentes de quilombos pouco tem sido o avanço na titulação dos territórios
quilombolas no Brasil. Segundo o Censo Demográfico de 2022, existiriam cerca de 494
territórios quilombolas delimitados e reconhecidos pelo Governo Brasileiro, todavia o
mesmo Censo aponta a presença de 8.441 localidades remanescentes de quilombos que
estariam ainda aguardando pela titularidade de seus territórios (IBGE, 2022; MARQUES,
2018).
Localizado em Vargem Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, o quilombo tem
suas terras sobrepostas ao Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) desde 1974. Essa
sobreposição exemplifica as histórias frequentemente omitidas sobre a formação de
algumas áreas da cidade. Com destaque para a figura de sua matriarca, Astrogilda, suas
memórias são relatadas por seus descendentes, que continuam a praticar ações
insurgentes em busca do reconhecimento dos direitos territoriais e preservação da sua
cultura e modos de vida mediante as pressões externas.
Figura 1. Mapa da Cidade do Rio de Janeiro com a localização do Parque Estadual da
Pedra Branca e o Quilombo Cafundá Astrogilda
Fonte: Vanessa Galvão, 2024
O Quilombo é formado por núcleos familiares: Dona Nazinha, Dinda Laura e
Astrogilda, e têm suas origens nos engenhos coloniais da Baixada de Jacarepaguá, parte
da sesmaria de Gonçalo Correia de Sá, doada à sua filha Vitória de Sá em 1625. Após a
morte de Vitória, o Engenho de Camorim foi dividido pelos monges Beneditino em três
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fazendas: Camorim, Vargem Pequena e Vargem Grande, exploradas com mão de obra
escravizada. Com a antecipada alforria em 1871, muitos escravizados permaneceram na
fazenda, cultivando subsistência. Após a abolição da escravatura, alguns negociaram
trabalho por moradia. Em 1891, as terras foram vendidas ao Banco de Crédito Móvel,
que não reconheceu os direitos dos alforriados, mas outorgou créditos para compra das
terras.
Os moradores atuais têm recibos de pagamentos, e o sentido é que pagaram
duas vezes pelas terras. A comunidade reforça o pertencimento ao território, através de
seus percursos a pé, identificando ruínas coloniais mesmo sem estudos arqueológicos,
deixando muitas informações ainda desconhecidas. A agricultura no quilombo Cafundá
Astrogilda é um ato de resistência, especialmente após a criação do PEPB, que
inicialmente baniu a agricultura para preservação ambiental. Apesar disso, a
comunidade continua cultivando banana e caqui - contrariando as diretrizes do PEPB.
Os territórios de parentescos são formados por núcleos familiares,
homenageando ancestrais e servindo como uma rede de memória coletiva e prática de
ocupação espacial. A geografia é caracterizada por morros e vales, com cultivos
intercalados na Mata Atlântica e abastecidos por diversos rios e riachos. Os caminhos
conectam as casas, roças e os núcleos residenciais, sendo marcadores de memória e
narrativas locais que refletem uma epistemologia espacial nativa.
O turismo emergente e os restaurantes administrados por mulheres quilombolas
valorizam a gastronomia local, mas enfrenta o desafio de um turismo predatório e sem
regulamentação. Um dos principais projetos, é o Ação Griô, que promove visitas
imersivas na história do maciço, compartilhando saberes culturais e práticas
agroecológicas da comunidade. O Museu Quilombo/Laboratório Vivo Floresta, preserva
as memórias materiais e espirituais do antigo terreiro de Dona Astrogilda, incluindo
práticas botânicas e homeopáticas tradicionais.
As fossas de evapotranspiração são sistemas sustentáveis de decomposição
anaeróbia de matéria orgânica, utilizados nos cleos Astrogilda e Dinda-Laura para
preservar o lençol freático. Os quintais são importantes espaços de vida e socialização
onde as mulheres quilombolas cultivam uma diversidade de plantas medicinais e
utilitárias, preservando conhecimentos botânicos tradicionais, fruto da descendência
Banto, originária do território africano do Congo e Angola. Esses guardiões dos mistérios
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das florestas são conhecedores da agricultura e das rezas. Conhecimento este que é
transmitido de geração em geração, destaca-se principalmente o benzimento, prática
que hoje é continuada por Maria Lúcia, neta da matriarca Astrogilda, benzedeira e
conhecedora das ervas, assim como foi sua avó.
O texto sobre a história do quilombo foi fundamentado na cartografia
participativa, uma abordagem conforme Luz Stella Rodríguez Cáceres, antropóloga,
descreve em Caminhos de Memórias e Resistência, o qual permite à comunidade
documentar e revelar suas próprias narrativas espaciais e históricas. Além disso, muitas
informações sobre a história do quilombo foram obtidas por meio do percurso
exploratório conduzido por Sandro Santos, do projeto Ação Griô, que proporcionou uma
imersão nas memórias locais e saberes ancestrais.
Utilizando essa metodologia, foi possível explorar e compreender não apenas a
evolução histórica do quilombo, mas também as práticas espaciais insurgentes e
territorialidades contemporâneas que refletem a resistência e memória da comunidade
quilombola ao longo do tempo.
O depoimento da Maria cia, compartilhado durante o percurso exploratório,
oferece um testemunho profundo sobre a continuidade e a resistência da comunidade
quilombola. Ao afirmar "minha ancestralidade, eu nasci nessa comunidade, eu nasci
aqui dentro do quilombo, minha bisavó nasceu aqui, minha avó nasceu, o bisavô da
minha avó Astrogilda, ele era um escravo, eu venho de lá". Maria Lúcia traça uma linha
direta de descendência e conexão com o território, ressaltando a importância da
memória e da identidade na experiência quilombola. Sua declaração enfatiza a
transmissão intergeracional da memória, preservada pela narrativa oral e experiência
vivida. Ao mencionar o bisavô de sua avó Astrogilda como escravo, ela sublinha a
resiliência histórica da comunidade e a conexão intrínseca entre resistência, história
familiar e território. Esse depoimento confirma a relevância da cartografia participativa
na compreensão das dinâmicas do quilombo e ressalta a importância de valorizar as
narrativas pessoais e coletivas na formação da identidade e preservação cultural da
comunidade quilombola.
PERCURSO EXPLORATÓRIO: DESAFIOS E DESCOBERTAS NO CAMINHO DA RESISTÊNCIA
QUILOMBOLA
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Figura 2. Mapa da localização do Quilombo Cafundá Astrogilda
Fonte: Vanessa Galvão, 2024
O percurso exploratório no Quilombo Cafundá Astrogilda aconteceu no dia 08
de junho de 2024, onde tivemos a oportunidade de mergulhar na cultura e na resistência
de uma comunidade que carrega consigo séculos de história e sabedoria. Em outras
palavras, essa incursão no território consistiu em uma visita técnica desenvolvida na
disciplina de Territórios e Territorialidades Negras do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio, na qual um grupo de alunos e professores
visitaram esse quilombo em questão. O quilombo, que abriga uma rica herança afro-
brasileira, enfrenta uma relação complexa com o PEPB, que se sobrepõe parcialmente
ao seu território. Essa sobreposição cria desafios na conciliação entre a preservação
ambiental e a manutenção das práticas e tradições quilombola.
O encontro inicial foi no restaurante “Tô na Boa” - localizado na via principal de
acesso ao quilombo, com um café da manhã, sendo possível conhecer de perto a
culinária tradicional do quilombo, todas preparadas por funcionários/moradores. Os
pratos servidos, elaborados com ingredientes locais e receitas transmitidas ao longo de
gerações, são preparados sob a direção de Gizele, bisneta da matriarca Astrogilda e
proprietária do restaurante. Eles refletem a profunda conexão entre a comunidade e a
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terra, destacando a alimentação como um elemento crucial de resistência cultural. Por
meio de práticas de subsistência e autossuficiência, esses alimentos fortalecem a
autonomia das comunidades tradicionais, preservando e valorizando seus
conhecimentos ancestrais. Essas práticas garantem a resiliência diante de crises
externas e protegem a identidade das comunidades contra opressões e
homogeneização. Após o café da manhã, foi realizada uma roda de conversa com os
instrutores e moradores do quilombo. Nesse encontro, os participantes tiveram a
oportunidade de escutar relatos sobre os desafios enfrentados pela comunidade na
preservação de suas tradições e na luta pela garantia de seu território. A oralidade,
elemento central na cultura quilombola, foi o meio pelo qual os saberes ancestrais
foram compartilhados, reforçando a importância da memória coletiva na manutenção
da identidade da comunidade.
Figura 3. Início da trilha, roda de conversa no Restaurante "Tô na Boa"
Fonte: Tatiana Alcantara, 2024.
Durante o percurso, o grupo percorreu uma trilha que passou pelos principais
núcleos familiares do quilombo: Dona Nazinha, Dinda Laura e Astrogilda, a matriarca
que permanece viva na memória da comunidade. Esses núcleos familiares, distribuídos
ao longo do território, são organizados de forma a respeitar a topografia local e a
vegetação circundante, integrando-se de maneira harmoniosa ao meio ambiente. A
infraestrutura do quilombo demonstra um planejamento voltado para a
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sustentabilidade. Os sistemas de captação de água, essenciais para a autossuficiência da
comunidade, utilizam as fontes naturais e poços do PEPB. A energia é obtida tanto por
meio de redes das concessionárias oficiais quanto através de soluções alternativas
adaptadas à realidade. A telefonia, embora limitada, desempenha um papel crucial ao
garantir a comunicação essencial entre os moradores e com o mundo exterior, sem
comprometer a tranquilidade do território.
Figura 4. Práticas agrícolas, plantação de banana
Fonte: Tatiana Alcantara, 2024.
A relação com o PEPB é de grande relevância para a comunidade, pois a
sobreposição do parque ao território quilombola cria uma situação em que as práticas
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tradicionais de manejo do território estão em constante diálogo com as políticas de
preservação ambiental. Inicialmente, a imposição de restrições para a preservação
ambiental gerou desafios significativos para a comunidade, especialmente na
agricultura. O banimento de práticas agrícolas em determinadas áreas afetou a
subsistência dos moradores, que tiveram que adaptar suas atividades e buscar
alternativas para garantir sua sobrevivência. Apesar dessas dificuldades, o contexto
também fortaleceu a educação ambiental dentro da comunidade, evidenciadas pelas
atividades realizadas no Laboratório Vivo Floresta/Museu Quilombo, que hoje
promovem a integração entre as tradições locais e as exigências de conservação
ambiental.
Figura 5. Museu Quilombo
Fonte: Tatiana Alcantara, 2024.
A cultura quilombola é intrinsecamente ligada à espiritualidade e a preservação
das tradições religiosas. Durante o percurso, foi possível conhecer a Capela Nossa
Senhora da Conceição, um espaço que transcende seu papel religioso para se tornar um
símbolo de resistência cultural da comunidade. Onde muitas vezes é o centro das
celebrações religiosas do quilombo, que mesclam elementos do catolicismo com as
tradições afro-brasileiras, fortalecendo os laços comunitários e a identidade coletiva.
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Figura 6. Igreja Nossa Senhora da Conceição
Fonte: Tatiana Alcantara, 2024.
Além das práticas religiosas, a figura da benzedeira, herdada da matriarca
Astrogilda, ainda é uma presença forte no quilombo, representada pela sua neta Maria
Lúcia. Como parte da trilha, tivemos a oportunidade de visitar sua casa, onde nos contou
histórias de sua vida e relatou como aconteceu o seu despertar pela espiritualidade. A
arte da benzedura, praticada por ela, é um testemunho vivo da preservação dos saberes
ancestrais, além de preservar os conhecimentos botânicos continuam a ser um recurso
importante para o bem-estar espiritual e físico da comunidade.
O percurso foi concluído no poço Licanor, um local de grande valor simbólico
para a comunidade e região. Com suas águas cristalinas e entorno exuberante, o poço
marca o início de uma trilha que leva a diversas outras cachoeiras, tornando-se um
destino popular entre famílias e jovens. Além de sua importância cultural, o poço Licanor
oferece um espaço de lazer e conexão com a natureza, desempenhando um papel
importante na preservação ambiental. Para comunidade e seus visitantes, o poço
Linacor é um espaço de integração e fortalecimento da identidade quilombola, além de
ser um ponto de encontro para celebrações e rituais locais.
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Figura 7. Poço Licanor, Cachoeira de Vargem Grande.
Fonte: Tatiana Alcantara, 2024.
Ainda merece destaque o avanço da expansão urbana na região, que vem
gerando impacto nas zonas de amortecimento do PEPB e consequentemente no
território do quilombo. O que fica claro na área é a construção de novos imóveis como
por exemplo casas de veraneio, sítios, haras, restaurantes e bares, aumentando o fluxo
de pessoas e de veículos na região. Por tratar-se de área de proteção ambiental, o
aumento do adensamento bem como a falta de planejamento da infraestrutura no
entorno do PEPB, poderá ocasionar a contaminação do lençol freático e das inúmeras
fontes e nascentes no território do quilombo. Outra questão também que merece
destaque diz respeito à especulação imobiliária, o aumento da violência e a pressão que
os moradores do quilombo poderão sofrer face à expansão urbana presente na zona
oeste do Rio de Janeiro.
O percurso exploratório ao Quilombo Cafundá Astrogilda destacou ainda a
urgência de garantir os direitos territoriais das comunidades quilombolas, reafirmando
seu papel crucial na manutenção e valorização da diversidade cultural e ambiental do
país. Ficando claro que a integração das práticas tradicionais de gestão do território com
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estratégias de conservação ambiental é crucial para a preservação tanto da diversidade
cultural quanto ecológica no Brasil.
A RESISTÊNCIA QUILOMBOLA: LUTA, TERRITÓRIO E MEMÓRIA
A interação com a comunidade do Quilombo Cafundá Astrogilda revelou desafios
complexos que se estendem além das dinâmicas internas do território. Em primeiro
lugar, o território, entendido aqui como uma construção simbólica e material, emerge
como um elemento central na construção da identidade coletiva quilombola. A relação
dos moradores com o espaço transcende o aspecto físico, incorporando práticas
culturais, religiosas e sociais que afirmam sua territorialidade e resistência. Essa ligação
profunda é constantemente tensionada por políticas públicas de preservação
ambiental, que frequentemente desconsideram os saberes tradicionais acumulados
pela comunidade ao longo de gerações.
Essas tensões evidenciam o choque entre os conhecimentos tradicionais e as
regras externas impostas por legislações ambientais, que muitas vezes não dialogam
com as práticas locais. Um exemplo claro é o impacto das normas de preservação sobre
o uso e manejo do território para atividades agrícolas. Apesar das restrições, os
quilombolas têm demonstrado uma impressionante capacidade de ressignificar essas
imposições, adaptando-se de forma criativa e mantendo vivas suas práticas culturais.
Essa resistência reafirma a relevância de uma abordagem decolonial, fundamental para
compreender e valorizar as formas de saberes locais, ao mesmo tempo em que
questiona as hierarquias epistêmicas que colocam os conhecimentos científicos e
institucionais como superiores.
Nesse contexto, é essencial destacar que, “apesar de toda a lógica imposta pelo
sistema colonial, as resistências negras lutam pela identidade, pelo seu território e pela
sua ancestralidade e memórias” (MARTINS, 2024, p.75) Essa reflexão de Gizele Martins,
moradora do Quilombo e proprietária do restaurante na Boa, reflete a luta
continua pela manutenção de práticas e valores que sustentam a coletividade
quilombola. Para Martins, o Quilombo se apresenta como um símbolo expressivo de
resistência, especialmente pelo protagonismo feminino, que se configura como a força
e o lugar de fala de toda a comunidade.
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Outro aspecto a ser destacado é a continuidade histórica das territorialidades no
Quilombo Cafundá Astrogilda. A luta pela manutenção do território vai além de uma
resposta às pressões contemporâneas, sendo também um eco do passado colonial que
molda as práticas de resistência atuais. A ancestralidade, representada principalmente
por lideranças femininas como Astrogilda, se configura como um alicerce importante
nessa continuidade. Nesse sentido, Martins enfatiza que o empoderamento feminino
está presente especialmente na figura de mulheres quilombolas, que atuam como
guardiãs da memória coletiva e da transmissão de saberes. Segundo ela, “as estratégias
encontradas por Maria Lúcia, mãe de Gizele Martins, constituem-se exemplos que
podem fortalecer práticas associativas dentro da comunidade, promovendo valores
como fortalecimento e autoestima, frequentemente negados a todo momento pela
sociedade e pelo processo de exclusão” (MARTINS, 2024, p.76). Esses valores, muitas
vezes invisibilizados pelo discurso dominante, são revalorizados no movimento das
comunidades tradicionais.
Além disso, as políticas neoliberais e a expansão urbana ao redor do Parque
Estadual da Pedra Branca agravam os desafios enfrentados pela comunidade. O avanço
da urbanização cria novos mecanismos de exclusão territorial, como o encarecimento
da terra e a pressão para transformar áreas de uso tradicional em espaços voltados ao
turismo ou ao lazer urbano. Essas dinâmicas evidenciam a importância de fortalecer as
redes de resistência e a conexão com outras comunidades quilombolas e movimentos
sociais, promovendo articulações coletivas que desafiem os padrões de exclusão e
marginalização.
Por fim, ao refletir sobre as potencialidades do engajamento com a comunidade,
percebe-se que a própria existência do Quilombo Cafundá Astrogilda é um ato político
e uma afirmação de autonomia frente às adversidades impostas pelo sistema colonial e
suas reverberações contemporâneas. Nesse sentido, as práticas espaciais insurgentes e
as estratégias de resistência territorial demonstram como os saberes locais podem não
apenas dialogar com as estruturas de poder, mas também as transformar. Para que isso
seja possível, é fundamental que pesquisas e iniciativas externas se posicionem como
mediadoras críticas, respeitando as especificidades locais e contribuindo para a
ampliação da autonomia comunitária.
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Essas reflexões reforçam a necessidade de articular mais profundamente as
dimensões teóricas com as práticas vividas pela comunidade, integrando-as em análises
que valorizem a complexidade do território quilombola. Como enfatizado por Martins,
o fortalecimento da autoestima, das práticas culturais e das associações internas surge
uma estratégia de resistência que, ao mesmo tempo, reconfigura as relações sociais,
econômicas e políticas, tanto dentro quanto fora da comunidade. Com isso, espera-se
contribuir para a formulação de estratégias mais inclusivas e colaborativas, capazes de
fortalecer as vozes quilombolas em sua luta por reconhecimento, justiça e dignidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Quilombo Cafundá Astrogilda destaca-se como um exemplo emblemático de
resistência e preservação cultural em meio às intensas transformações urbanas e às
pressões ambientais que ameaçam a sua continuidade territorial. Este estudo revelou
como a comunidade se mantém como um espaço vivido de resistência e reafirmação
identitária por meio de práticas culturais e estratégias de defesa territorial.
A análise das práticas cotidianas e da organização espacial do quilombo
evidenciou a ressignificação e adaptação das tradições pelos moradores, fortalecendo o
vínculo com o território e desafiando processos de exclusão territorial. Desse modo, o
Quilombo Cafundá Astrogilda consolida-se como um modelo resiliente, no qual a luta
pela autonomia territorial es intrinsecamente ligada à preservação de saberes
ancestrais e modos de vida que resistem às políticas públicas ambientais restritivas e
aos interesses econômicos que buscam invisibilizar sua cultura.
Diante de pressões externas, como as restrições ambientais do Parque Estadual
da Pedra Branca (PEPB) e o avanço imobiliário, a comunidade tem desenvolvido formas
de resistência territorial que unem práticas tradicionais e adaptações contemporâneas.
A continuidade das práticas agrícolas, como a produção de banana e caqui em pequenas
áreas familiares, vai além de sustentar a economia local; ela fortalece os laços
comunitários e reafirma a relação simbólica com o território. O Museu
Quilombo/Laboratório Vivo Floresta desempenha um papel crucial ao transmitir
conhecimentos botânicos e práticas de manejo sustentável, valorizando a sabedoria
quilombola e propondo um modelo alternativo de integração com o meio ambiente.
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Tais práticas reafirmam o quilombo como um território insurgente, onde cultura,
trabalho e relações sociais resistem às imposições externas.
As práticas documentadas encontram ressonância nos conceitos teóricos de
território e territorialidade, conforme explorado por Rogério Haesbaert e Marcelo Lopes
de Souza, que entendem o território como uma construção social permeada por
relações de poder. Nesse contexto, a inclusão das abordagens conceituais de
quilombismo, como proposto por Abdias do Nascimento, amplia a análise ao evidenciar
o papel da insurgência quilombola como uma forma de contestação ativa às narrativas
coloniais ainda presentes na sociedade contemporânea. Dessa forma, a comunidade
pratica o quilombismo ao manter sua autonomia cultural, suas tradições e seu
relacionamento profundo com a terra, apresentando-se como um contraponto à visão
desenvolvimentista e mercantilizada do espaço urbano.
O Quilombo Cafundá Astrogilda, portanto, se destaca como um modelo de
resiliência cultural e territorial, cuja relevância vai além da sua própria sobrevivência:
ele propõe um exemplo de convivência equilibrada com o meio ambiente, enraizado no
respeito ao conhecimento ancestral e nas práticas de resistência coletiva. Reconhecer e
integrar essas tradições e modos de vida na formulação de políticas públicas constitui
um passo essencial para a promoção da justiça social e da sustentabilidade.
Sendo assim, a análise deste território demonstra que a preservação de culturas
ancestrais e de práticas sustentáveis é viável e desejável em contextos urbanos. Em uma
era marcada por intensas desigualdades socioespaciais e degradação ambiental, o
fortalecimento das comunidades tradicionais quilombolas emerge como uma
necessidade para a construção de cidades mais justas e inclusivas, capazes de valorizar
e proteger a diversidade cultural e ambiental.
REFERÊNCIAS
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memórias de um quilombo carioca. Rio de Janeiro. Papéis Selvagens, 2019.
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SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa socioespacial.
8ª ed. Rio de Janeiro: Difel, 2024
NOTA DE AGRADECIMENTOS
Este trabalho contou com a bolsa de fomento do CNPq dentro do Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo do PPGARQ/PUC-Rio e bolsa do Programa de Incentivo à
Produtividade em Ensino e Pesquisa para o biênio 08/2023-07/2025 da Vice-Reitoria
para Assuntos Acadêmicos (Ensino e Pesquisa) PUC-Rio.