Sertão e a revelia do mundo

Expropriação, enlouquecimento, migração forçada e concentração de terra durante a modernização conservadora no Brasil

Autores

DOI:

10.46551/issn2179-6807v27n1p245-268

Palavras-chave:

Expropriação, Anomia, Enlouquecimento, Migrações Forçadas

Resumo

No escopo da modernização conservadora brasileira, no norte de Minas Gerais, ocorreu uma intensa concentração fundiária a partir de usurpação das terras de famílias de comunidades negras, principalmente, mas também de comunidades brancas de agricultores familiares que foram forçados à migração com maior número de casos entre os anos 1965 e 1980, após a anexação da região norte mineira à área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. A autarquia de desenvolvimento nordestino financiava a transformação de fazendas em empresas rurais modernas e na região norte mineira, profissionais liberais das principais cidades, buscando se afazendar para usufruir dos recursos fiscais e financeiros disponibilizados para modernizar a economia regional, e fazendeiros tradicionais, em busca das melhores terras da região, expropriaram com violência desmedida às famílias negras que ocupavam, desde o século XVII, as terras férteis do vale do rio Verde Grande e as famílias brancas de agricultores em outros espaços regionais. Um número significativo de pessoas enlouqueceu com a destruição do mundus social em que cada uma vivia. Utilizando um relato etnográfico, minhas rememorações, estudo acadêmico, crônicas e relatos de jornais do período que informam o despejo de pessoas enlouquecidas pelos prefeitos dos municípios norte mineiros nas ruas de Montes Claros e daí, enviadas pelo poder público local, para o Hospital Colônia de Barbacena e, também, para o Hospital Galba Veloso em Belo Horizonte. A interpretação construída, em uma leitura antropológica da teoria econômica dos fatores de migração - expulsão e atração -, é feita a partir do conceito de anomia de Durkheim (1982) e utilizado em seus estudos por Merton (1970) e Oliven (2000) que permitem entender, em minha leitura, o enlouquecimento das pessoas em consequência à desestruturação do mundus social em que viviam.

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Biografia do Autor

João Batista de Almeida Costa, Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (1983), mestrado em Antropologia pela Universidade de Brasília (1999) e doutorado em Antropologia pela Universidade de Brasília (2003). Atua como professor-pesquisador com estudo e pesquisas sobre temáticas culturais vinculadas às populações tradicionais, Sertão, Identidade Regional e diversas temáticas necessárias à formação dos estudantes na área disciplinar da Antropologia Social na graduação da Universidade Estadual de Montes Claros. No Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social estou vinculado à linha de pesquisa Movimentos sociais, identidade e territorialidade, desenvolvendo estudos e orientando pesquisas sobre povos e comunidades tradicionais no Norte de Minas, bem como realizando perícias para elaboração de relatórios antropológicos para organismos estatais ou para entidades de povos e comunidades tradicionais que assessora em seus processos sociais. Também tenho atendido à demanda de Terreiros de Candomblé e de Umbanda para elaboração de pareceres dos bens patrimoniais e imateriais, em que buscam registrar nos Conselhos de Patrimônio Cultural dos municípios suas condições singulares.

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Publicado

2021-08-16

Como Citar

DE ALMEIDA COSTA, J. B. Sertão e a revelia do mundo: Expropriação, enlouquecimento, migração forçada e concentração de terra durante a modernização conservadora no Brasil. Revista Desenvolvimento Social, [S. l.], v. 27, n. 1, p. 245–268, 2021. DOI: 10.46551/issn2179-6807v27n1p245-268. Disponível em: https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/article/view/4438. Acesso em: 25 nov. 2024.