Protestantismo e educação no Brasil e na América Latina
DOI:
10.46551/ees.v14n16a19Abstract
O dossiê buscou reunir artigos que discutem as ações educacionais protestantes no Brasil e na América Latina, considerando a relação dessa vertente do cristianismo com a educação escolar desde a Reforma Protestante do Século XVI. O impacto das convicções religiosas protestantes nos diversos aspectos da cultura moderna tem sido destacado por autores das diversas áreas do conhecimento, tendo como referências teóricas abordagens mais amplas tais como a de Weber (2004) e Biéler (2012) e outros. No que diz respeito especificamente à educação escolar, a influência do protestantismo na educação, tem sido reconhecida e discutida por diversos autores dessa área do conhecimento e de outras que com ela dialogam. Cambi (1999) Nunes (2017); Vieira (2008), Burke (1995), Chartier (1989), servem como exemplo. Alguns aspectos das convicções religiosas protestantes e da sua teologia justificam essa relação com a educação escolar: a doutrina da “sola Scriptura”, de que a Bíblia é a fonte do conhecimento do ser de Deus e da sua vontade para a vida do homem. Entendem que “às Escrituras do velho e do Novo Testamento” devem estar sujeitos todas as decisões dos concílios e as elaborações teológicas dos doutores da Igreja. A leitura e interpretação do texto sagrado constitui-se em fundamento para a verdadeira religião. Embora o entendimento espiritual desse conteúdo dependa de uma comunicação especial de Deus, requer também esforço intelectual e um estudo correto desse texto. Enquanto para a Igreja medieval, o estudo da Bíblia era uma função específica do clero, que mediava o relacionamento do indivíduo com Deus, a Reforma Protestante do Século XVI afirmava não ter base bíblica essa mediação. Firmou a doutrina do “sacerdócio universal dos cristãos”. Essa convicção implicaria na necessidade de todos os cristãos, individualmente, conhecerem o conteúdo bíblico para responderem ao seu conteúdo. A alfabetização era para eles uma necessidade por razões de fé. Além da alfabetização para que os objetivos imediatos da proclamação do Evangelho e o discipulado dos conversos, o protestantismo incentivava a educação escolar, a produção do conhecimento como uma forma de “glorificar a Deus”. É o que Weber (2004) chama de “ascetismo intramundano”. Para ele, o protestantismo nega o mundo, enfrentando-o com o objetivo de transformá-lo. Neste caso, o conhecimento da realidade, da natureza, é uma das formas para que o homem cumpra do mandato cultural que lhe forma dado no ato da criação: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gênesis 2:15). Para exercer um domínio responsável sobre o mundo, é necessário conhecê-lo. Além disso, criado “à imagem e semelhança” do seu Criador, o homem tem um potencial a ser desenvolvido e a educação escolar é um instrumento considerado importante para isso. Esta é a razão pela qual o protestantismo, na proposta reformada de “voltar às Escrituras”, nas sociedades onde se instalou, além das escolas elementares, de alfabetização, procurou criar colégios e universidades que pudessem ampliar a busca de conhecimentos nas diversas áreas.
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