ARTIGO CONVIDADO
ANTONIO LUNARDI: O PRESIDENTE DA CONSTRUÇÃO DO GIGANTE DO HORTO
ANTONIO LUNARDI: THE PRESIDENT OF THE CONSTRUCTION OF THE GIANT OF THE HORTO
ANTONIO LUNARDI: EL PRESIDENTE DE LA CONSTRUCCIÓN
DEL GIGANTE DEL HORTO
Georgino Jorge de Souza Neto[1]
Data de Submissão: 17/06/2020 Data de Publicação:27/0/2021
SOUZA NETO, G.. Antonio Lunardi: o presidente da construção do gigante do horto. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 11, n. 16, p. 85 - 101, 27 jan. 2020. Disponível em:
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/renef/article/view/2068. Acesso em:
https://doi.org/10.46551/rn2019091400045
RESUMO
Este trabalho tenciona ilustrar o papel exercido pelo presidente do clube Sete de Setembro, o vereador Antonio Lunardi, no planejamento e execução do projeto de construção do Estádio Independência, que se tornaria à época a mais importante praça esportiva do estado de Minas Gerais. Através de uma revisão periódica, buscamos referências da atuação de Lunardi, elucidando e comprovando o quão fundamental foi a sua participação como principal dirigente do clube setembrino. Fica evidente o jogo político, bem como a relação competente que Lunardi estabeleceu com os principais atores no processo, a saber: prefeitura municipal, CBD e FIFA. Ressaltamos como principal conclusão o fato de o Estádio Independência não ter sido construído para a Copa do Mundo de 1950, embora tenha se tornado moeda de troca para a efetivação do sediamento da capital mineira no mais importante evento esportivo mundial.
Palavras-Chave: Estádio; Política; Cidade.
ABSTRACT
This work intends to illustrate the role played by the president of the Sete de Setembro club, councilman Antonio Lunardi, in the planning and execution of the construction project of the Independência Stadium, which would become at the time the most important sports square in the state of Minas Gerais. Through a periodic review, we look for references of Lunardi's performance, elucidating and proving how fundamental his participation as the main manager of the club was. The political game is evident, as well as the competent relationship that Lunardi established with the main actors in the process, namely: city hall, CBD and FIFA. We emphasize as main conclusion the fact that the Independência Stadium was not built for the 1950 World Cup, although it has become a bargaining chip for the establishment of the capital of Minas Gerais in the most important sporting event in the world.
Key words: Stadium; Policy; City.
RESUMEN
Este trabajo pretende ilustrar el papel desempeñado por el presidente del club Sete de Setembro, el concejal Antonio Lunardi, en la planificación y ejecución del proyecto de construcción del Estadio Independência, que en ese momento se convertiría en la plaza deportiva más importante del estado de Minas Gerais. A través de una revisión periódica, buscamos referencias de la actuación de Lunardi, dilucidando y comprobando lo fundamental que fue su participación como principal técnico del club. El juego político es evidente, así como la competente relación que Lunardi estableció con los principales actores del proceso, a saber: ayuntamiento, CBD y FIFA. Destacamos como principal conclusión el hecho de que el Estadio Independência no fue construido para el Mundial de 1950, aunque se ha convertido en moneda de cambio para el establecimiento de la capital de Minas Gerais en el evento deportivo más importante del mundo.
Palabras clave: Estadio; Política; Ciudad.
INTRODUÇÃO
Neste artigo expomos a participação fundamental do presidente do clube Sete de Setembro para a construção do Estádio Independência, espaço erguido como uma outra possibilidade arquitetônica (mais antenada com uma nova ordenação de estádios que começam a ser inaugurados a partir dos anos 1940), articulado com um discurso que trazia a reboque a necessidade de uma lógica que propunha grandiosidade, concretude (literalmente algo construído com base no concreto armado) e monumentalidade moderna (uma outra modernidade, mais potente e ampliada). De acordo com estudo empreendido por Schetino, é possível entender que “as construções grandiosas ultrapassam o seu tamanho físico. Transformam o espaço da cidade, mas representam também projetos políticos, com implicações nos costumes e modos de vida dos seus habitantes. Especialmente no caso dos estádios, instauram um conjunto de novas práticas em torno da cultura esportiva da cidade” (SCHETINO, 2014, p. 143).
Desta forma, o estádio do clube Sete de Setembro começa a se inscrever no cotidiano da cidade, primeiramente como desejo e vontade de um grupo de pessoas, destacadamente o seu presidente, Antônio Lunardi. Na edição de 20 de agosto de 1948, o jornal Estado de Minas anunciava nota da diretoria do grêmio setembrino, informando sobre o evento de início das obras do estádio:
A diretoria do Sete de Setembro fará realizar, amanhã, com expressivas solenidades, o início da terraplanagem do terreno onde será erguido o seu estádio, que receberá o nome do presidente da República, Gal. Eurico Gaspar Dutra. A primeira máquina para o aludido serviço chegou ontem à Capital, devendo vir outras até o princípio da próxima semana. Deliberaram os responsáveis pelo grêmio da Floresta[2] homenagear a imprensa falada e escrita da cidade, oferecendo aos jornalistas especializados um “drink” no local do seu estádio, esquina da Av. Silviano Brandão com a rua Pitangui, no Horto Florestal. A solenidade será efectuada às 15 horas. Além da crônica esportiva, deverão prestigiar o acontecimento altas figuras dos desportos da cidade, bem como da política mineira.[3]
Outro importante periódico local, o “Folha de Minas”, também narrava jornalisticamente os desdobramentos das festividades de lançamento das obras do estádio setembrino. Com texto intitulado “Lançado o marco de uma grande realização”, o jornal destacava:
Em brilhante solenidade, que contou com a presença de figuras de destaque nos meios sociais e esportivos da Capital, notando-se entre elas inúmeros vereadores, representantes da crônica falada e escrita da Cidade, representantes dos diversos clubes e autoridades, foram inauguradas ontem, às 14:30 horas, as obras e construção do novo estádio do Sete de Setembro de Futebol e Regatas, que será localizado em amplo e excelente terreno no Horto Florestal, com uma área aproximada de 32 mil metros. De acordo com a planta apresentada aos presentes, trata-se sem dúvida alguma de um notável empreendimento e que custará ao Sete mais ou menos cinco milhões de cruzeiros. O estádio, que será um dos mais belos e confortáveis do Brasil, terá capacidade para cerca de 45 a 50 mil pessoas, sendo dotado de pista de atletismo, quadras de basquete, volibol, piscina, etc. A construção e o projeto são de responsabilidades da Construtora Meca Ltda., sendo os desenhos de autoria de Walter Paulo Carvalho, Luiz Noronha Braga, Silvio Costa. Durante a solenidade, fizeram uso da palavra o presidente Antonio Lunardi, o pe. Cir Assis Assunção, presidente da Câmara Estadual, e representante do prefeito Otacílio Negrão de Lima, vereador Antonio Vilela Teixeira Azevedo, em nome dos vereadores, David Cabernite, em nome da A.M.C.E, representando os cronistas e locutores esportivos da Capital, dr. Alvaro Afonso de Morais e Sebastião Rodrigues da Costa. Oportunamente forneceremos mais amplos informes sobre o que será o grandioso estádio do Sete de Setembro Futebol e Regatas[4].
O fato da construção de um novo estádio na capital não pertencer a nenhum dos principais clubes da cidade chamava a atenção, principalmente pelo vultoso projeto. Uma série de fatores convergem para a iniciativa do Sete de Setembro, mas o coeficiente político (especialmente a atuação do seu presidente Antônio Lunardi, que era vereador de Belo Horizonte e fortemente articulado ao meio político da capital) acaba sendo decisivo para o desenvolvimento de tamanha empreitada. A associação com o mundo político é recorrente em todo o processo de construção do estádio, como no final da nota supracitada, que anunciava, na solenidade de terraplanagem do terreno, o prestígio da presença de “altas figuras da política mineira”.
LUNARDI E O “NOVO SETE”
Se em 1948 o início das obras alcança a realidade, o sonho do estádio setembrino começava a ser desenhado anos antes, como parte de uma estratégia de crescimento do clube, que pretendia rivalizar com os três grandes da capital. Na publicação do Diário Esportivo, datado de 16 de agosto de 1945, essa tentativa de projeção no cenário futebolístico é destacada, com a nota intitulada “O Novo Sete”:
Enquanto isso opera-se num outro clube da capital, verdadeira revolução: é o Sete de Setembro de Futebol e Regatas, a caminho de obter seu próprio campo, quadra de basket e vôlei, etc., antigas e legítimas aspirações dos florestinos. A administração de Ivo Melo remodelou o clube, tornou potente o onze principal, criou o Departamento de Remo, obteve subsídio oficial, etc. E, se conseguir realizar tudo que se acha encaminhado, tornará o grêmio rubro uma das maiores agremiações mineiras. Ao seu lado está uma mocidade dedicada, disposta e de valor. Recapitulando-se sumariamente a vida do Sete, desde o seu ressurgimento há alguns anos, é justo salientarmos os nomes do ex-presidente, cel. João Garzon; de Antônio Lunardi[5], antigo jogador e diretor; de Michel Bedran, ex-vice-presidente, além de outros trabalhadores do clube.[6]
Personagem chave no desdobramento dos interesses do Sete, Antonio Lunardi[7] assumiria a presidência do clube em 10 de outubro de 1947, conforme anunciava o Folha de Minas, dando o seguinte destaque na sua seção esportiva:
Figura 01 – Manchete da seção esportiva anunciando novo presidente do Sete de Setembro
Fonte: Jornal Folha de Minas, 04.10.1947, p. 8.
No texto da nota, o jornal explicava o procedimento de eleição do clube setembrino, informando, dentre outras deliberações, que “[...] o presidente da mesa deu início à eleição do sucessor do presidente demissionário”. Em seguida, explicava que “[...] processou-se a votação, que teve o seguinte resultado: Sr. Antonio Lunardi, 10 votos; sr. Ivo Melo, 1 voto, e sr. Sebastião Rodrigues, 1 voto. Por conseguinte, o sr. Antonio Lunardi é o novo dirigente setembrino” (FOLHA DE MINAS, 1947, p. 8).
O papel de Lunardi foi fundamental para a realização das pretensões do grêmio florestino, atuando fortemente nos bastidores políticos em benefício do futebol belo-horizontino, especialmente da associação que presidia. O periódico Estado de Minas acentuava a presença de Antônio Lunardi na sociedade local, dando ênfase à passagem de seu aniversário, realçando:
Transcorre hoje o aniversário do sr. Antônio Lunardi, presidente do Sete de Setembro. Elemento de projeção nos meios sociais, industriais, políticos e esportivos da capital, o supremo presidente do prestigioso grêmio da Floresta tem sido um batalhador da causa do esporte belorizontino e do progresso da capital mineira, o que lhe valeu ter sido eleito vereador à Câmara Municipal de Belo Horizonte. Esportista sincero e devotado, alia a estas qualidades atributos morais de dignidade pessoal, que lhe proporcionam o ambiente de estima em que se vê cercado. Na presidência do Sete de Setembro, vem desenvolvendo uma atuação brilhante e dinâmica no sentido de intensificar as atividades do clube que preside e colocá-lo na posição de relevo a que faz jus. Na Câmara Municipal, o sr. Antônio Lunardi tem sido um digno representante do povo, atento às suas necessidades e aos seus reclamos. A data de hoje surge, assim, como uma oportunidade para que sejam tributadas ao sr. Lunardi manifestações de apreço.[8]
O Sete e Lunardi estavam profundamente imbricados. Em outra edição, o Estado de Minas fazia alusão à vitória do time da Floresta em um interestadual comemorativo do aniversário do clube, contra o Ipiranga, de São Paulo, destacando a atuação de Antônio Lunardi como central na nova fase da equipe setembrina. Parte destacada da reportagem, intitulada “A vitória deve ter compensado tudo”, segue transcrita abaixo:
Está o Sete de Setembro vivendo verdadeiramente dias jubilosos em sua longa história de clube lutador. Realmente os florestinos jamais andaram tão cheios de vida. [...] Outro detalhe curioso – a diretoria do Sete manteve-se em sessão permanente durante toda a semana que precedeu o choque contra o Ipiranga. Não deixa de constituir fato digno de nota, de vez que os nossos “grandes”, quando vejam um cotejo interestadual, o fazem apenas pelo telefone e deixam o barco correr... O Sete não, suou e trabalhou a valer. A Floresta andou em polvorosa nas últimas noites. Aliás, em menos de quinze dias, o populoso bairro foi promovido a centro urbano, tudo por causa do Sete. A avenida do Contorno e a rua Itajubá até pareciam a av. Afonso Pena. Nunca vimos tanto movimento. Cerveja vem jorrando por ali desde o empate com o Cruzeiro. Na terça-feira, contudo, a coisa ganhou novo colorido. Discurseiras, foguetes, tudo utilizável em ocasiões semelhantes esteve presente na Floresta naquela noite. Afinal de contas, está o Sete iniciando a longa caminhada rumo ao estrelato, ou melhor, tornando-se “grande” ...[9]
A seguir, a nota faz menção à construção do estádio, e de como o mesmo teria fundamental importância no processo de desenvolvimento, não só do clube, mas do futebol e do esporte mineiro como um todo. Com o subtítulo em caixa alta “O ESTÁDIO VEM AÍ”, situado no corpo do texto da reportagem, o periódico enfatizava este aspecto, ressaltando o papel de Lunardi:
Ao presidente Lunardi, efetivamente, cabe boa parcela do novo ciclo de vida dos vermelhos. Está elevando o seu quadro a um posto que os céticos jamais acreditavam. Vejam só – já se pagam “bichos” polpudos no Sete de Setembro. E olhem que “bichos” ultimamente na Floresta é “mato” (desculpem o trocadilho). [...] Todo este progresso é devido graças ao apoio moral e material do presidente Lunardi e seus companheiros de diretoria. Barata, antigo jogador do clube, veio dar mais força ao Sete, sucedendo a Ivo Melo que também muito trabalhou. O estádio, que será inaugurado em 49 no Horto Florestal, cujas obras estão em pleno andamento, é uma prova de disposição, força de vontade e realização. Lunardi tem até prejudicado os seus afazeres de industrial e vereador municipal, a fim de dedicar ao Sete todo o seu tempo e esforço. [...] Enfim, o futebol montanhês sente-se jubiloso com essa agitação do Sete. É deixar o Sete “pintar o sete”.[10]
O discurso recorrente era o de que, tendo um grande estádio, um grande time também passaria a ser realidade. Embora antigo e tradicional (o Sete de Setembro é fundado em 1913, e refundado no início da década de 1940), o Sete não passava de um clube acanhado, tratando-se de pretensões de conquistas e grandes vitórias. A perspectiva com a construção do estádio era de uma completa mudança neste estado de coisas.
O chargista do jornal “Estado de Minas” conhecido como Mangabeira (que se notabilizou por criar as mascotes dos principais clubes mineiros), demonstrava numa charge publicada na edição de 29 de agosto de 1948 esta possibilidade (do estádio tornar o Sete um grande clube também nos resultados e conquistas). Na legenda da charge lê-se: “TIGRE[11] – Ah! Vou realizar o meu sonho... o estádio. RAPOSA[12] – Estará também sonhando em ganhar hoje?”
Figura 02 – Charge de Mangabeira
Fonte: Jornal “Estado de Minas”, 29 de agosto de 1948, p. 13
Outro periódico que também repercutia a nova fase do Sete, associando a construção do seu estádio à uma concreta possibilidade de ascensão esportiva era a revista Vida Esportiva, cuja reportagem em sua edição de dezembro de 1948 reforçava esta ideia, não economizando páginas para dizer deste novo momento do clube da Floresta. O texto da reportagem, transcrito abaixo na íntegra, tem a intenção de explicitar o cenário que por ora pretendo ilustrar:
Parece realmente impossível que um clube como o Sete de Setembro, grêmio simples e pequeno de reservas materiais, consiga realizar em Minas o que todos almejam e só os grandes tentam. O trabalho, a abnegação, o tirocínio, todavia, suprem muitas vezes o empecilho da carência de recursos financeiros. O material humano superpõe-se ao número das cifras na defesa de um ideal. Não conhece a fraqueza, nasce com o sol e não se põe com as estrelas. Eterniza-se, acompanha o anseio comum e só se extingue com a consumação da causa proposta. É a luta magnífica do espírito forte. É a batalha memorável do pequeno David igualando-se em terreno de luta aos “Golias” defensores das obras progressistas, consumadoras das imagens e aspirações dos artistas estetas humildes. A vida é a eterna luta do progresso. Nela, adentra poderosos, magnatas, gênios, idealizadores e contribuintes. Da contribuição de muitos resulta a obra comum. Na obra comum nem sempre se identificam os méritos da realização. O Sete sonhou como todos. Vem sonhando há muitos anos. Como “pequeno”, só lhe cabia sonhar. Desempenhava na sua estupenda folha de serviços e contribuições aos nossos esportes o papel do gênio humilde sem meios materiais de concretizar a riqueza de suas ideias, a grandeza de seus planos. Bastou-lhe o sôpro, uma brisa “cifrada”, para que se lançasse com valentia e segurança nos novos caminhos do seu horizonte. O Sete encontrou no auxílio dos nossos poderes administrativos municipais o que lhe faltava para dar corpo à obra idealizada. Foi rápida a manobra. Com apenas uma clarinada, com o toque de reunir e trabalhar dado pela diretoria do querido clube da Floresta, alinhavam-se nos terrenos do Horto Florestal aqueles que lá iam fincar os novos marcos decisivos do futuro do Sete, um amanhã que se anuncia festivo e cheio de luzes[13].
Este primeiro trecho da reportagem ressalta o esforço de um clube que, mesmo sendo considerado pequeno, se lança ao desafio da construção de um grande estádio (o maior de Minas Gerais e o terceiro maior do país, para dimensionar de acordo com a percepção do jornalista). Em seguida, o texto estabelece a relação de que o estádio poderia alçar o Sete à condição de um clube capaz de fazer frente aos principais times da cidade (América, Atlético e Cruzeiro, o triunvirato do futebol de Belo Horizonte). Em seu desdobramento, o registro jornalístico faz o seguinte destaque:
O mal do Sete foi o mal dos pequenos clubes. Não possui campo. Sem este, via-se a todo instante forçado a utilizar-se dos de seus co-irmãos, ou então, da praça de esportes do V Batalhão, de Santa Teresa. Estes fatos serviram para atrapalhar a arrancada do clube. Estava constantemente preso a questões de campo, o que vale dizer que estava impelido a aceitar a situação pouco lisonjeira de acomodar-se às contingências da hora, aproveitando-se deste ou daquele gramado para a realização de seus jogos. O Sete de Setembro foi um grande herói. Na sua longa estirada nos certames oficias da nossa Federação, mais como concorrente que como pretendente às primeiras colocações, deu inequívocas demonstrações de boa vontade e elogiável espírito de cooperação. Vivendo num regime amadorista em meio ao ambiente profissional, nada mais poderia almejar senão igualar-se pelo coração à maior capacidade de seus mais categorizados adversários. Na sua modéstia, no seu regime de poucas despesas e muito esforço, revelou-se extraordinário, esplêndido mesmo. Forneceu em dosagem contínua ao futebol mineiro e nacional uma apreciável quantidade de valores de marca na prática do popular esporte. O Sete é um eterno trampolim de valores: é mais ainda, é uma magnífica escola onde se professa a doutrina clássica do amadorismo, moldada com amor e sacrifícios aos aperfeiçoamentos impostos pelas novas crenças e métodos. O Sete soube conservar na sua pequenez a nobreza da prática do esporte pelo esporte. Aí está sua maior grandeza. Estão abertos os horizontes para o Sete de Setembro Futebol Clube. Uma ampla e bela área, localizada no Horto Florestal, servirá de abrigo às novas e radiantes perspectivas de engrandecimento dos “florestinos”. A obra idealizada dentro das exigências da engenharia moderna e das reais necessidades do nosso numeroso público desportivo, está fadada a suplantar todas as expectativas. Com o maior estádio de Minas, o Sete deixará de ser considerado um clube “pequeno”. Não será mais um mero participante de campeonatos. Terá um grande patrimônio a zelar. O ano de 1949, para ele, será, antes de tudo, o ano da ascensão, da subida até o lugar reservado aos “grandes”. Como um dos “grandes”, com a sua magnífica reserva moral e capacidade administrativa dos seus atuais dirigentes, o eterno lanterninha dos nossos certames resplandecerá em luzes vivas, irradiando com pujança as suas novas glórias que virão, honrando e prestigiando com denodo e merecimento as próprias grandezas do esporte mineiro[14].
LUNARDI E O JOGO POLÍTICO
Lunardi faria alardeado anúncio aos incrédulos jornalistas cariocas, em viagem que fez à Capital do país. Esta viagem acaba sendo registrada e tendo cobertura da imprensa belo-horizontina, como mostra a reportagem do periódico “Folha de Minas”, ao estampar em destaque a manchete: “Seguirá hoje para o Rio o Presidente Antonio Lunardi”:
Segundo apuramos ontem nos círculos esportivos ligados ao Sete de Setembro F. C., o presidente Antonio Lunardi deverá seguir na manhã de hoje, de automóvel, para a capital do país. Sabe-se que o dinâmico procer florestino irá ao Rio em missão esportiva. Todavia duas hipóteses[15] se fazem sôbre os verdadeiros motivos da repentina viagem do vereador Antonio Lunardi à Capital do país. Acreditam uns que a missão se alia à próxima disputa, no Brasil, da “Copa do Mundo”. Como é de conhecimento do público, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos, sr. Rivadavia Correia Meyer, comprometeu-se a fazer realizar alguns jogos do certame em Belo Horizonte, desde que ficassem concluídas as obras do estádio do Sete de Setembro Futebol Clube, com capacidade para numeroso público. Pois bem, divulga-se que o sr. Antonio Lunardi irá pedir o pronunciamento oficial e definitivo da C.B.D, e, caso seja afirmativa a promessa, serão realizados entendimentos diretos com o prefeito da Capital, no sentido de que sejam atacados com urgência os trabalhos de construção do grandioso estádio do grêmio florestino, conforme promessa do sr. Otacílio Negrão de Lima[16].
De fato, esta seria a hipótese que se confirmaria ao longo da semana em que Lunardi permaneceu no Rio de Janeiro. Realizando um trabalho de relações públicas, o dirigente setembrino comunicava e propalava à imprensa carioca os seus planos, já claramente vislumbrando a conivente oportunidade da realização da Copa do Mundo em terras brasileiras para capitanear o aceleramento das obras do seu estádio, bem como da sua divulgação e valorização.
Nota-se que esta tratativa se dá praticamente um ano após o início de construção do estádio, o que reforça a nossa hipótese que, de fato, o Independência não tem a sua edificação motivada originalmente pela realização da Copa do Mundo no Brasil. Em outra edição, o “Folha de Minas” explicitava as manobras de Lunardi, esclarecendo os motivos da sua viagem:
RIO, 7 (Asapress) – Encontra-se aqui, o sr. Antonio Lunardi, presidente do Sete de Setembro Futebol Clube, de Belo Horizonte, que comunicou à Confederação Brasileira de Desportos, que em abril do próximo ano será inaugurado o “Estádio Independência”, o maior de Minas e um dos melhores do Brasil, onde poderão ser realizados jogos do campeonato mundial. O sr. Antonio Lunardi esteve também em visita a alguns jornais da Capital, expondo o plano da construção do estádio setembrino, dizendo que a municipalidade belorizontina ajudará seu clube em seu intento de dotar Minas Gerais de um estádio à altura de seu prestígio e renome esportivos. Por ocasião da inauguração do “Estádio Independência”, irão a Belo Horizonte dezenas de dirigentes e esportistas cariocas, como convidados especiais do fidalgo grêmio belorizontino, podendo assim ver de perto a grandiosa obra do Sete de Setembro, que não estão medindo sacrifícios no sentido de construir uma magnífica praça esportiva. O sr. Antonio Lunardi foi recebido pelos dirigentes da CBD, a quem disse da boa nova, tendo os jornais locais dedicado manchetes ao grande empreendimento do tradicional clube belorizontino[17].
A partir daqui há uma evidente mudança nos rumos da construção do Independência. Desmontando a tese que recorrentemente vigora (não apenas no senso-comum, mas também em parte das publicações científicas), de que o estádio teria sido construído para[18] a realização do Campeonato Mundial de 1950, as evidências encontradas nas fontes indicam que o mesmo não foi concebido, primariamente, como parte do conjunto de exigências da FIFA para a consecução do evento em Belo Horizonte.
Ele tornou-se[19]o estádio da Copa em Belo Horizonte, já durante o processo de sua execução, em função das investidas do presidente do Sete, Antonio Lunardi, com o apoio do poder público local (que enxergava no sediamento belorizontino uma propaganda mundial para a cidade). Para esclarecer melhor este fato (que julgo essencial para o entendimento da representação que tenciono elaborar), a cronologia dos acontecimentos se mostra fundamental.
Talvez o fato mais relevante que tenha corroborado para que o Brasil fosse escolhido o país-sede da Copa do Mundo de Futebol de 1950 tenha sido a ocorrência da Segunda Grande Guerra. Isto porque, na reunião entre os dirigentes da FIFA que acontecera durante a Copa de 1938 para definição das candidaturas dos países que receberiam a próxima Copa do Mundo (que seria em 1942), a grande favorita era a Alemanha (avalizada pelo sucesso dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936).
Outra forte candidata era a Argentina, que já tinha sido preterida por outras duas vezes e alegava o fato de que a Europa recebera duas edições seguidas (1934, na Itália; e 1938, na França), devendo, portanto, ocorrer uma mudança de continente. O Brasil também apresentara sua candidatura, usando como argumento principal o fato de ser o único país sul-americano a participar de todas as três edições anteriores.
Jules Rimet, então presidente da FIFA e conhecido por possuir hábil jogo político, se viu em uma condição desconfortável, posto que brasileiros e argentinos (sentindo o franco favoritismo alemão) queixavam-se de um indisfarçável eurocentrismo nas decisões da entidade. A eclosão da Segunda Grande Guerra alteraria os rumos de todo o processo de escolha (e colateralmente facilitaria a deliberação de Rimet). Suspensa as duas edições seguintes (1942 e 1946), uma nova reunião da FIFA somente aconteceria em julho de 1946, em Luxemburgo.
Com a Europa devastada pelos confrontos bélicos, e a derrotada Alemanha fora do páreo (o país perdera inclusive sua filiação à FIFA, tendo sido expulsa juntamente com o Japão), o caminho parecia aberto para o Brasil confirmar sua intenção de sediamento (principalmente com a desistência da vizinha Argentina)[20].
No entanto, a presença de Belo Horizonte como cidade-sede da Copa só viria a ser confirmada em 1949, apenas um ano antes da realização do evento, conforme apontam as fontes periódicas que apresentamos a seguir, numa cronologia da imprensa belorizontina sobre todo este acontecimento.
Muito provavelmente a viagem de Antonio Lunardi à capital do país logo em seguida se deu em razão da busca de uma garantia, por parte dos organizadores do evento, de que a os jogos da Copa ocorreriam em Belo Horizonte, caso o Independência ficasse pronto. Com esta hipoteca, Lunardi poderia fazer pressão à municipalidade para que investisse na conclusão do seu estádio.
De fato, a ida do dirigente setembrino ao Rio de Janeiro parecia surtir imediato efeito. O “Estado de Minas”, via telegramas e telefonemas, seguia atualizando as informações sobre os resultados da investida do clube da Floresta aos próceres cebedenses. E as notícias davam conta de que Belo Horizonte sediaria uma das chaves do Mundial, desde que o estádio Independência ficasse pronto a tempo. Os dirigentes da CBD também anunciavam uma série de viagens à capital mineira, para visitar as obras de construção do estádio, fiscalizando e relatando o andamento das mesmas ao Comitê Organizador. A matéria esclarecia:
RIO, 4 (Meridional) – Acaba a Confederação Brasileira de Desportos de atender ao anseio dos mineiros que desejavam ardentemente que Belo Horizonte fosse incluída entre as cidades brasileiras que servirão de palco para os jogos da Copa do Mundo. Na tarde de hoje, o presidente da entidade suprema, dr. Rivadávia Corrêa Meyer programou uma chave do Campeonato do Mundo para a capital montanhesa, constante de três rodadas duplas. A partida inaugural foi escalada para o dia 29 de junho de 1950. Além desta Capital e de São Paulo, também Porto Alegre foi aquinhoada com uma “chave”. – TAMBÉM UMA FINAL EM BELO HORIZONTE – RIO, 4 (Pelo Telefone) – Deliberou igualmente a CBD que fará realizar no Estádio Independência uma das finais do certame mundial, uma vez que que as arrecadações das pugnas eliminatórias sejam compensadoras. Nesta hipótese, terão os montanheses 7 pelejas internacionais para ver e, por conseguinte, conhecer no mínimo quatro seleções europeias. Pode-se acrescentar ainda que, segundo um telegrama recentemente divulgado aqui, caberá a Minas ver o grupo que inclui as representações da Inglaterra, País de Gales e Escócia. – VISITARÃO O ESTÁDIO DO SETE – RIO, 4 (Meridional) – Fala-se aqui que o presidente do Conselho Nacional de Desportos, dr. João Lira Filho, visitará as obras de construção do Estádio Independência, no próximo dia 17 do corrente. Em sua companhia irão os srs. Plinio Segurado Pinto e Canor Simões Coelho. O primeiro é figura de projeção dentro da CBD e o segundo representante dos clubes e da Federação Mineira nesta Capital. – ESTÁ NO RIO O PRESIDENTE LUNARDI – Podemos, de nossa parte, informar que o presidente do Sete, sr. Antonio Lunardi, se encontra no Rio desde sábado último, tendo ido à Guanabara para tratar deste assunto e de promover uma exibição do Brasil em Belo Horizonte.[21]
A vinda dos dirigentes da CBD seria acompanhada com vivo interesse pela imprensa belorizontina. Conforme anunciado pelos jornais do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, a comitiva da Confederação Brasileira de Futebol desembarcava na capital mineira para acompanhar o andamento das obras do estádio do Sete.
Os proceres cebedenses começaram a chegar à cidade, na tarde de ontem. Por via aérea, desembarcaram na Pampulha os srs. Irineu Chaves e Luiz Vinhais, dirigentes da entidade máxima, que aqui aguardarão a chegada dos srs. Rivadavia Corrêa Meyer, João Lira Filho e Pizarro Filho, para dar início às visitas aos estádios do Sete e do América. Observarão aqueles esportistas todos os detalhes da futura praça de esportes do clube rubro, bem como as acomodações do “Otacílio Negrão de Lima”, pois a Confederação Brasileira está mesmo interessada em fazer disputarem Belo Horizonte semi-finais do certame brasileiro e uma “chave” do Campeonato do Mundo. Depois de assistirem ao jogo Atlético x Sete, visitaram os esportistas guanabarinos a redação do ESTADO DE MINAS, onde examinaram, com interesse, aspectos das obras de construção do Estádio Independência, acompanhados pelo comandante Oscar Pascoal, presidente do Conselho Superior da Federação Mineira.[22]
A comitiva carioca realizou, durante a sua estada, importantes tratativas no sentido de viabilizar a vinda de jogos da Copa do Mundo para a capital mineira. Outra reportagem do “Estado de Minas” reverberava, ainda com mais entusiasmo, o pós ocorrido do encontro, destacando com ênfase os resultados do mesmo entre as autoridades esportivas nacional com os representantes mineiros (políticos e desportivos):
A MISSÃO DOS VISITANTES – Como se sabe, esses esportistas vieram a Belo Horizonte afim de conservar a possibilidade de ser a capital uma das sedes do Campeonato do Mundo, a realizar-se em 1950 e ainda do Campeonato Brasileiro, que se disputará no fim deste ano e princípios de 1950. Seu objetivo primordial foi visitar as obras do “Estádio Independência”, que o Sete está construindo no Horto. As obras do campo, iniciadas em 1948, tiveram prosseguimento rápido e se encontram já bastante adiantadas. Por outro lado, também o campo do América será vistoriado, pois tem uma boa capacidade, colocando-se entre as grandes praças de esporte do Brasil.
NOS CAMPOS DO SETE E DO AMERICA – Na manhã de domingo, estiveram os dirigentes da CBD em visita ao estádio do Sete. Lá tivemos oportunidade de comprovar a boa impressão causada pelo andamento das obras. [...] IMPRESSÕES – Tivemos oportunidade de palestrar com o dr. Rivadávia Corrêa Meyer, presidente da CBD, sobre as futuras competições de envergadura que serão patrocinadas pela entidade, o Campeonato Brasileiro e o Campeonato Mundial. Inicialmente, declarou s. s.: - “Estou verdadeiramente satisfeito com as obras do estádio do Sete de Setembro. Depois de completado, poder-se-á equiparar ao Pacaembu e São Januário, ficando inferior somente ao Estádio Nacional do Rio de Janeiro. Achei as obras adiantadas e, com auxílio oficial e coragem por parte dos empreendedores deste magnífico trabalho, em pouco tempo elas estarão prontas. – O CAMPEONATO DO MUNDO – Prossegue o dr. Rivadávia: - “Assim, creio que poderemos fazer realizar jogos do Campeonato Mundial em Belo Horizonte, satisfazendo assim os justos anseios dos esportistas mineiros, que, pela ação grandiosa no cenário esportivo nacional, se fizeram credores de toda a atenção e portadores irrefutáveis do direito de assistir jogos a jogos de grande importância. O estádio do Sete, depois de pronto, servirá magnificamente para o nosso objetivo. Nessa ocasião, quando se disputarem prélios reunindo seleções mundiais, teremos que acrescentar aos desportistas mineiros, além das homenagens de estilo, um bravo “hurrah” pela grandeza e magnificência do “Estádio Independência”.[23]
O fim do ano de 1949 reservava expectativas e anseios (mais ansiedade que anseio), entre a realidade da construção e o desejo da conclusão. No entanto, o tom anunciado pela imprensa seguia sendo extremamente copioso, produzindo discursos de convencimento e de ufanismo quanto ao estádio Independência. Na sua edição de 11 de dezembro daquele ano, o “Estado de Minas” trazia uma reportagem ilustrada, fazendo uma comparação com o “antes” e o “depois” das obras, explicitando imageticamente a evolução dos serviços com o claro intuito de comprovar que os prazos seriam cumpridos:
ONTEM – O estádio do Sete de Setembro era quase um sonho. Apenas o local, um grande local. A topografia muito semelhante à do terreno onde se ergue o majestoso Estádio Municipal de Pacaembu. Um vale imenso, formado por um morro, dando a impressão de enorme ferradura. De início, viram os dirigentes do Sete que seu trabalho seria enormemente facilitado, dadas as condições da encosta, que reduziriam praticamente ao nada o emprego do concreto-armado. Os degraus se cavariam facilmente nos barrancos, para receber os tijolos e uma cobertura simples de cimento. Ontem, o estádio do Sete era quase um sonho. (Foto de Eugenio H. Silva)
HOJE - A praça de esportes do Horto, o Estádio Independência, é uma realidade. Realidade que engrandece os nossos sentimentos de progresso. Realidade que atesta o esforço e a tenacidade do presidente Antonio Lunardi. Realidade que aumenta a dívida de Belo Horizonte para com o prefeito Otacílio Negrão de Lima, pois ninguém desconhece que a Municipalidade encampou os serviços, dando-lhes todo o alento e transformando o sonho de ontem em portentosa realidade de hoje. Aí está, ainda não completo, mas atestando já proporções admiráveis o Estádio Independência, onde os mineiros poderão ver jogos do certame mundial. Um grande presente do Sete de Setembro ao esporte de Minas. (Foto de Eugenio H. Silva)[24]
Em março de 1950, a edição da revista “Vida Esportiva” admitia a participação de Belo Horizonte na Copa do Mundo, e centrava o texto da reportagem no Estádio Independência, como elemento determinante para a ocorrência do evento na cidade:
Aproxima-se rapidamente a realização do IV Campeonato Mundial de Futebol e, com ele, a oportunidade dos mineiros assistirem aos jogos programados para o Estádio do Sete. Segundo os rumores propagados, Minas serviria de séde para as partidas da Argentina ou da Inglaterra. O posterior afastamento dos portenhos, tido como coisa já definitiva, aumentou as possibilidades de vir a Inglaterra fazer peão de sua chave em nossa Capital. Verificando-se tal acontecimento, assistiremos, incontestavelmente, o maior espetáculo esportivo de todos os tempos em nosso Estado. Enfim, aguardemos pela publicação oficial da FIFA, logo após o término da fase eliminatória. No momento, interessa-nos mais diretamente o andamento das obras do futuro e grandioso Estádio Independência, palco das partidas do Campeonato Mundial no Estado de Minas Gerais. Apenas quatro meses distanciam-nos dessa formidável competição, tempo, na verdade, bem exíguo para a total finalização das obras. Cremos, no entanto, levando em boa conta o empenho da administração municipal e da diretoria do grêmio florestino, que o Estádio do Sete estará, na época do colossal certame, em condições de abrigar uma formidável assistência, muito embora, ao que nos parece, não se conclua até aquela época a cobertura das arquibancadas. Isto, todavia, não poderá servir de empecilho para a concretização de tão brilhante festa, uma vez que estará assegurada a total lotação do magnífico estádio. No intuito de dar pleno conhecimento aos nossos leitores da arrojada iniciativa do clube de Antonio Lunardi[25], repetimos, a seguir, os pormenores da obra em andamento. A capacidade total do Estádio será de 45.000 espectadores. O campo terá as dimensões internacionais, circundado por uma magnífica pista de atletismo de 6 metros de largura. As arquibancadas serão construídas com 30 degraus, com 0,50 x 0,30. Cêrca de 3 mil cadeiras de marmorite serão instaladas perto das sociais. O campo estará 3 metros abaixo do nível do primeiro degrau das arquibancadas. Será drenado, tecnicamente, de modo a permitir rápido escoamento das águas fluviais. 4/5 das arquibancadas terão degraus em alvenaria de tijolo e 1/5 em estrutura de concreto armado. Sob essa estrutura serão localizadas as dependências essenciais do clube, constando de três vestiários com instalações completas, sala para a Secretaria e uma outra maior para o Conselho do Clube. Haverá, ainda, uma entrada ampla para caminhões no campo. Perto do nível da pista será feito um reservado coberto para os representantes da Imprensa, Rádio e autoridades policiais. O acesso à arquibancada será quase todo de cima para baixo, feito livremente. O Estádio terá 8 entradas amplas.[26]
À GUISA DE CONCLUSÃO
O Independência cumpria a sua função, de dotar a capital mineira com um estádio de futebol que fizesse frente às maiores cidades do país. Símbolo de um status e da fundação de uma baliza arquitetônica que projetava Belo Horizonte para o resto do mundo, o estádio do Sete de Setembro inaugurava uma nova era no futebol belorizontino (embora, posteriormente, essa “era” seria compreendida como uma transição entre duas fases de construção dos estádios na cidade).
De toda forma, celebrava-se, com a inauguração do “Gigante da Floresta”, um momento de pletora e grandiosidade, onde o orgulho de Minas Gerais parecia se renovar frente ao monumento erguido no Horto.
Todo este panorama circunscrito à construção do “Gigante do Horto” só foi possível graças ao esforço (pessoal e político), do presidente do clube setembrino, o vereador Antonio Lunardi. As fontes periódicas evidenciam a sua fundamental participação, permitindo que a edificação da praça esportiva setembrina passasse do sonho à realidade.
Após a Copa do Mundo o Independência seguiria sendo, durante uma década e meia, o principal palco do futebol de Belo Horizonte, concentrando a atenção das principais disputas e torneios na cidade. A sua existência também contribuiria decisivamente para o ostracismo dos demais estádios da capital[27], que sucumbiriam frente à uma presença tão significativa.
REFERÊNCIAS
DIÁRIO Esportivo. Belo Horizonte, p. 4, 16 ago. 1945.
ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 8, 17 ago. 1948.
ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 7, 20 ago. 1948.
ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 8, 03 set. 1948.
ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 10, 05 jul. 1949.
ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 10, 19 jul. 1949.
ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 1, 11 dez. 1949.
FOLHA de Minas. Belo Horizonte, p. 10, 22 ago. 1948.
FOLHA de Minas. Belo Horizonte, p. 8, 01 jul. 1949.
FOLHA de Minas. Belo Horizonte, p. 7, 09 jul. 1949.
REVISTA Vida Esportiva, dez. 1948, p. 17.
REVISTA Vida Esportiva, mar. 1950, p. 18.
SCHETINO, André Maia. Os Gigantes e as Multidões: estádios e cultura esportiva em Belo Horizonte (1950-1965). 2014. 244f. Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
[1] Professor Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
[2] O clube Sete de Setembro ganhava também a designação de “grêmio da Floresta” em função de se localizar no bairro do Horto Florestal, popularmente conhecido por “Floresta”.
[3]ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 7, 20 ago. 1948.
[4] FOLHA de Minas. Belo Horizonte, p. 10, 22 ago. 1948.
[5]Grifo Nosso.
[6] DIÁRIO Esportivo. Belo Horizonte, p. 4, 16 ago. 1945.
[7]Antônio Lunardi foi vereador na primeira Câmara de Belo Horizonte, entre os anos de 1947/1951. Em seguida, se tornou Deputado Estadual na segunda legislatura mineira, de 1951 a 1955. Além do envolvimento no campo político, Lunardi era próspero empresário, proprietário da Fábrica de Ladrilhos e Marmoraria Lunardi e Officinas Lunardi Filhos Ltda.
[8]ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 8, 17 ago. 1948.
[9]ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 8, 03 set. 1948.
[10]Idem
[11] Tigre era a mascote do Sete do setembro.
[12] Raposa é a mascote do Cruzeiro Esporte Clube.
[13]Revista Vida Esportiva, dez. 1948, p. 17.
[14]Idem.
[15]Tratamos aqui na nota apenas da primeira hipótese. A segunda hipótese dizia respeito à especulação de que a viagem do dirigente florestino seria para tratar de reforços para o clube setembrino.
[16] FOLHA de Minas. Belo Horizonte, p. 8, 01 jul. 1949.
[17] FOLHA de Minas. Belo Horizonte, p. 7, 09 jul. 1949.
[18]Grifo nosso.
[19]Idem.
[20] Este parágrafo e o anterior foram escritos com subsídios de informações contidas na Revista “O Gigante do Horto - A história do Estádio Independência”, editada em 2012 pelo Jornal Hoje em Dia, p. 14-16.
[21] ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 10, 05 jul. 1949.
[22] Idem.
[23] ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 10, 19 jul. 1949.
[24] ESTADO de Minas. Belo Horizonte, p. 1, 11 dez. 1949.
[25] Grifo nosso.
[26]Revista Vida Esportiva, março de 1950, p. 18.
[27] Estádio Otácilio Negrão de Lima (do América); Estádio Antônio Carlos (do Atlético); e Estádio Juscelino Kubitschek (do Cruzeiro).