ARTIGO ORIGINAL
OS ESTUDOS OLÍMPICOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: análise curricular das Universidades Federais presentes nas capitais do Brasil
OLYMPIC STUDIES IN PHYSICAL EDUCATION: curricular analysis of Federal Universities present in the capitals of Brazil
ESTUDIOS OLÍMPICOS EN EDUCACIÓN FÍSICA: análisis curricular de las Universidades Federales presentes en las capitales de Brasil
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF – Campus Governador Valadares
E-mail: professorigormaciel@gmail.com
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF – Campus Governador Valadares
E-mail: professorigormaciel@gmail.com
Data de Submissão: 10/02/2022 Data de Publicação:23/03/2022
Como citar: SILVA, J. I. G.; SILVA,I. M.. OS ESTUDOS OLÍMPICOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: análise curricular das Universidades Federais presentes nas capitais do Brasil. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 13, n. 19, jul. 2022.https://doi.org/10.46551/rn2022131900056
RESUMO
O estudo mapeou a presença do conteúdo Estudos Olímpicos nos Currículos dos cursos presenciais de Educação Física das Universidades Federais (UF), presentes nas capitais do Brasil, modalidades bacharelado e licenciatura. Para isso, os Currículos das UF foram eleitos fontes. As plataformas consultadas foram o banco de dados e-ME e os sites das UF. Os Currículos foram separados em 3 grupos: 1) Currículo sem nenhuma referência olímpica; 2) Currículo com referência vaga sobre as Olimpíadas; 3) Currículo que tem Estudos Olímpicos dentro de outra disciplina. Ao final observou-se que, nenhuma UF da amostra abriga a disciplina de Estudos Olímpicos. Contudo, destaca-se que a Universidade Federal de Rondônia, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul se propuseram aos Estudos Olímpicos como tópico de outros conteúdos.
Palavras-chave: Estudos Olímpicos. Olimpíadas. Currículo.
ABSTRACT
The study mapped the presence of the Olympic Studies content in the curricula of physical education courses at Federal Universities (UF), present in the capitals of Brazil, bachelor and licentiate modalities. For this, the UF Curriculums were chosen as sources. The platforms consulted were the e-ME database and the UF websites. The CVs were separated into 3 groups: 1) Curriculum without any Olympic reference; 2) Curriculum with vague reference to the Olympics; 3) Curriculum that has Olympic Studies within another discipline. In the end, it was observed that none of the UFs in the sample have the discipline of Olympic Studies. However, it is noteworthy that the Federal University of Rondônia, the Federal University of Minas Gerais and the Federal University of Rio Grande do Sul proposed Olympic Studies as a topic for other content.
Keywords: Olympic Studies. Olympics. Curriculum.
RESUMEN
El estudio mapeó la presencia del contenido de Estudios Olímpicos en los planes de estudio de los cursos de educación física en las Universidades Federales (UF), presentes en las capitales de Brasil, en las modalidades de licenciatura y licenciatura. Para ello, se escogieron como fuentes los Currículos de la UF. Las plataformas consultadas fueron la base de datos e-ME y los sitios web de la UF. Los CV se separaron en 3 grupos: 1) Currículum sin ninguna referencia olímpica; 2) Currículo con vaga referencia a los Juegos Olímpicos; 3) Plan de estudios que tenga Estudios Olímpicos dentro de otra disciplina. Al final, se observó que ninguna de las UF de la muestra alberga la disciplina de Estudios Olímpicos. Sin embargo, se destaca que la Universidad Federal de Rondônia, la Universidad Federal de Minas Gerais y la Universidad Federal de Rio Grande do Sul propusieron los Estudios Olímpicos como tema de otro contenido.
Palabras Clave: Estudios Olímpicos. Juegos Olímpicos. Plan Estudios.
INTRODUÇÃO
O objetivo geral deste artigo é mapear a presença do conteúdo Estudos Olímpicos nos cursos presenciais de Educação Física – modalidades bacharelado e licenciatura – das Universidades Federais (UF), presentes nas capitais do Brasil, a partir da análise de seus Currículos.
Ao francês Pierre de Freddy (1863-1937), popularmente conhecido como Barão de Coubertin, é conferido o título de idealizador dos Jogos Olímpicos Modernos, com a sua primeira edição instaurada em 1896 em Atenas, cuja inspiração remonta aos Jogos Olímpicos realizados na Grécia Helênica até o ano de 394 (RUBIO, 2009). “Sua preocupação fundamental era valorizar a competição leal e sadia, o culto ao corpo e à atividade física” (RUBIO, 2009, p. 72), através da internacionalização do modelo desportivo desenvolvido sobretudo na Inglaterra, em que as mesmas regras poderiam ser jogadas por diferentes nações. Soma-se a isso o desejo da ação pedagógica do esporte, isto é, o reconhecimento dos benefícios que o fenômeno teria no comportamento da juventude, na intenção de fomentar a educação dos corpos e propagar confraternizações em prol da paz (RUBIO, 2009).
Coubertin foi o paraninfo do 5° aniversário da União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos, realizado em 25 de novembro de 1892. Naquela ocasião trouxe a público o desejo de recriação dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, e somente em 1894, na Sorbonne, em Paris, em um congresso esportivo-cultural, apresentou a proposta para os Jogos Olímpicos Modernos. Para tanto, foi necessária a criação de uma entidade para gerir a proposta, nesse caso, o Comitê Olímpico Internacional (COI), fundado naquele mesmo ano (RUBIO, 2009).
O Movimento Olímpico possui códigos de conduta representados pelo Olimpismo. “O termo Olimpismo refere-se ao conjunto de valores pedagógicos e filosóficos do Movimento Olímpico, e não apenas os Jogos Olímpicos”, que acredita que os esportes e as atividades físicas são caminhos para o aperfeiçoamento dos indivíduos em sua totalidade: corpo e mente; ética e moral (RUBIO, 2009, p. 75-76). A respeito do desenvolvimento da ética e moral, elas se destacam no Olimpismo especialmente pela noção de fair-play. De acordo com Rubio (2009), o fair-play tem a sua inspiração no cavalheirismo dos homens nobres ingleses do século XIX, por isso, no Olimpismo,
O fair-play presume uma formação ética e moral daquele que pratica e se relaciona com os demais integrantes de uma competição, e que esta pessoa não fará uso de outros meios que não a própria capacidade para superar os oponentes. Nessas condições não há espaço para formas ilícitas que objetivem a vitória, suborno ou uso de substâncias que aumentem o desempenho (RUBIO, 2009, p. 78).
Na contemporaneidade, o fair-play assume novos significados: o fair-play formal, baseado especialmente no respeito às regras, e o fair-play não formal, que muda de modalidade para modalidade e diz respeito às escolhas individuais dos envolvidos durante as competições (RUBIO, 2009). Um exemplo de fair-play não formal pôde ser visualizado nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, quando a atleta Abbey D'Agostino ajudou outra competidora a se levantar após uma queda nas provas eliminatórias dos 5.000 metros.
Os Jogos Olímpicos da Modernidade, doravante Jogos Olímpicos, caracteriza-se pela realização de Olimpíadas que acontecem de quatro em quatro anos e abrigam os Jogos Olímpicos de Verão, realizados desde 1896 (RUBIO, 2010), e os Jogos Olímpicos de Inverno, realizados desde a Semana Internacional de Desportos de Inverno em 1924, sendo que não acontecem de modo sucessivo e sim no intervalo de dois anos entre um e outro. Os Jogos Paraolímpicos foram acrescentados ao calendário Olímpico somente em 1960 e os Jogos Paraolímpicos de Inverno a partir de 1976.
Mesmo se tratando das Olimpíadas Modernas, seria um equívoco entender esse fenômeno como inerte e único – único no sentido de não acontecerem alterações ou divergências durante o seu período de realização, pois, como todas as criações humanas, essa também é afetada pela variação de período temporal, sociedade, conflitos e costumes onde está inserida (RUBIO, 2010). Então, a fim de compreender melhor o movimento olímpico, a periodização dos Jogos Olímpicos é dividida em 4 fases a partir de fatos históricos que transformaram tanto a visão do COI quanto do Olimpismo (RUBIO, 2010). As 4 fases são denominadas por Rubio (2010), como: Fase de estabelecimento – de Atenas (1896) a Estocolmo (1912); Fase de afirmação – Antuérpia (1920) a Berlim (1936); Fase de conflito – de Londres (1948) a Los Angeles (1984); Fase profissional – de Seul (1988) até os dias atuais.
A fase de estabelecimento é compreendida como o período de consolidação do COI que objetivou dar luz e elevar o fenômeno olímpico a nível mundial. Também é vista como uma ousadia da burguesia européia e norte-americana, pois, as Olimpíadas não excederam a regra da época de que os esportes eram praticados apenas por aqueles que teriam condições para o ter como única ocupação, não admitindo o amadorismo (RUBIO, 2010).
Sobre a fase de afirmação é importante entender que ela se passa em um contexto de entre guerras, por isso a marca dessa fase é a tentativa de trazer de volta valores que a duras custas foram perdidos mediante conflitos característicos daquela época, como por exemplo: a promoção da paz entre as nações retratada na criação da bandeira olímpica em 1914, em que os 5 anéis entrelaçados simbolizam a união dos 5 continentes; o primeiro hasteamento da bandeira em 1920 na edição após a Primeira Guerra Mundial; e ainda em 1920, o respeito ao próximo é percebido no juramento olímpico que sela o comprometimento com o fair-play (RUBIO, 2010). Entretanto, nas Olimpíadas de 1920 houve problemas, dos quais destaca-se que a edição foi marcada pelo primeiro boicote olímpico pelos seguintes países: Áustria, Hungria, Bulgária, Polônia e Rússia. Também, sabe-se da tensão política entre Bélgica e Alemanha, pois, a Bélgica, país sede, abriu mão de convidar a Alemanha, deixando essa tarefa para o COI (RUBIO, 2010).
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou polarizado entre os capitalistas, liderados pelos Estados Unidos da América, e socialistas comandados pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no período conhecido como Guerra Fria, pois, não houve guerra armada, mas sim, disputa tecnológica e, mais significativa para este trabalho, a esportiva. As Olimpíadas, então, tornam-se, mesmo contra o espírito olímpico, um campo de batalhas para esses dois blocos, em que cada medalha conquistada passa a contar como demonstração da força de ideologias políticas (RUBIO, 2010).
Por fim, o período atual dos Jogos Olímpicos é conhecido como a fase profissional, evidenciada pelas seguintes edições: Roma (1960), marcada pela chegada em massa da televisão, em que o efeito dessa mídia fomentou o comércio esportivo associado a audiência televisiva. Mas foi na edição de Los Angeles (1984), com o boicote no fornecimento de verbas por parte dos Estados Unidos da América, que o poder da indústria esportiva apareceu com força total, pois, somente com verbas de patrocínios é que todos os Jogos foram custeados e renderam lucros. Tal fato fomentou cada vez mais a inserção de patrocínios para os atletas e as grandes marcas começaram a ganhar destaque através de feitos esportivos (RUBIO, 2010). Nisso, percebe-se que os Jogos Olímpicos, enquanto o maior megaevento do mundo, apresenta possibilidades de se levantar bandeiras que não dizem apenas de paz e unidade, mas também do esporte enquanto produto, veículo para outras mercadorias. Contudo, não é uma reflexão que se quer finalizar aqui.
Demarcado o contexto histórico dos jogos olímpicos, ressalta-se a importância da temática sobre os estudos olímpicos na formação do profissional da Educação Física, bacharelado ou licenciatura, contudo, infelizmente, invisível nos Currículos. A exemplo da pesquisa de Silva, Martins e Lima (2020), entre as nove universidades federais de Minas Gerais que oferecem o curso de Educação Física, somente a Universidade Federal de Lavras apresenta o conteúdo Estudos Olímpicos de modo obrigatório, e a Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares de modo eletivo. Desse modo, a notabilidade desta pesquisa se justifica mediante a necessidade de evidenciar a importância dos Estudos Olímpicos nos cursos de Educação Física; a exposição do lugar que ocupam nos cursos de Educação Física e fomentar a sua presença nos currículos.
Isto posto, pretende-se obedecer aos seguintes objetivos específicos: 1) Analisar o lugar do conteúdo Estudos Olímpicos nos Currículos dos cursos; 2) Verificar a ementa das disciplinas direcionadas ao conteúdo, direta ou indiretamente; 3) Situar as referências direcionadas ao conteúdo.
METODOLOGIA
Os projetos de criação, seleção, organização e distribuição do conhecimento nos âmbitos de ensino relacionam-se visceralmente com os meios de produção do capitalismo. Tal teoria se comprova pela observação dos meios de ensino, nos quais o conhecimento é marcadamente replicado, repassado pela figura do professor a partir de um Currículo pensado para o saber funcional, ou seja, voltado para o mercado de trabalho (SILVA, 1990). Neste contexto, no ano de 1996, com objetivos liberais positivistas de ordem e progresso e do ensino para os meios trabalhistas criou-se a Lei nº 9.394, estabelecendo as Diretrizes e Bases Educacionais Brasileiras, a qual circunscreve o perfil de ser humano que o Estado tem interesse em moldar (SILVA, 1990; BRASIL, 1996; NUNES; RÚBIO, 2009). A partir dessa consideração, a metodologia empregada foi a análise documental, e as fontes adotadas foram os Currículos dos cursos presenciais de Educação Física das universidades federais presentes nas capitais do país.
O Currículo é considerado um documento oficial que compreende a exemplificação, demarcação e seleção do modelo de sociedade que as instituições de ensino querem criar ou manter. Também é entendido como referência política, social e trabalhista que transparece o que o grupo idealizador entende como ideal. Portanto, o Currículo é sempre uma seleção de saberes que se direcionam e se adequam ao perfil de uma dada sociedade, cidadão e cidadã que dada instituição quer formar (SILVA 1990; NUNES; RÚBIO, 2008).
Já a análise documental, busca informações que possam ser retiradas de documentos (LÜDKE; ANDRÉ 1986). Entende-se que documentos são testemunhos do passado que quando indagados tornam-se fontes, ou seja, objetos de estudo (LE GOFF, 2013). Sem esgotar a lista, alguns tipos de documentos são: jornais, revistas, fotografias, filmes, programas de disciplinas entre outros. Dentre as muitas vantagens de adotar a análise documental como metodologia, cita-se que: os documentos são fontes regulares e duradouras de conhecimento; podem ser amplamente abrangentes pois, cada pesquisador pode olhá-los de diversas formas, a depender da pergunta que é proposta; e, principalmente, a sua representatividade parcial, ou seja, os documentos não registram a realidade em sua totalidade, mas sim tem relação ao contexto em que foram criados, por isso é importante entendê-los como representação, isto é, um fragmento de experiências que já aconteceram (LÜKED; ANDRÉ, 1986; SILVA, 2021).
Mediante o estabelecimento dos objetivos supracitados e o reconhecimento de qual fonte atenderia aos mesmos, decidiu-se investigar os Currículos das UF presentes nas capitais do Brasil. A escolha foi feita pois essa pesquisa é inédita no aspecto de busca da presença dos Estudos Olímpicos nos Currículos à nível nacional. Desse modo, serão investigados os centros (capitais), para que novas pesquisas possam investigar outras regiões e instituições.
A procura dos Currículos se deu via site do Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior, Cadastro e-MEC, organizado pelo Governo Federal[1], o qual traz em seu banco de dados informações sobre todas as instituições brasileiras de ensino superior públicas e privadas. Vale ressaltar que, tal plataforma apresenta falhas no campo Código de Verificação, por isso foram necessárias várias tentativas para algumas buscas.
A busca aconteceu da seguinte forma: 1) Dentro da aba Consulta Avançadas restringiu-se a procura para Instituição de Ensino Superior (IES); 2) No filtro UF foi selecionado cada Estado do Brasil; 3) Em Município foi selecionada cada capital de Estado; 4) Em Categoria Administrativa optou pela categoria Pública Federal; 5) Em Organização Acadêmica foi marcado o campo de Universidades; 6) No Tipo de Credenciamento optou-se pela modalidade Presencial.
A lista com as UF filtradas apareceu na parte de baixo da página consultada. Após, com a opção Visualizar Detalhes da IES, a pesquisa foi direcionada para outra página, a qual inclui todas as informações sobre a universidade selecionada, e no menu Graduação identificou-se os cursos que a IES possui, assim como outras informações. A partir disso, como critério de inclusão na pesquisa foram inseridas na amostra apenas as IES que se enquadram como universidades situadas nas capitais dos Estados e do Distrito Federal, e que ofertam o curso de Educação Física, bacharelado ou licenciatura, de modo presencial. Além disso, foram separadas e organizadas em grupos por suas regiões, sendo elas: Centro-Oeste; Sudeste; Norte; Nordeste; Sul. Após essa ação, os Projetos Pedagógicos (PP) das UF foram procurados dentro dos sites das mesmas, com nomenclaturas que variaram em: Projeto Pedagógico Curricular (PPC), Projeto Político Pedagógico (PPP), Projeto de Ensino (PE), Projeto Pedagógico (PP) e Relatório Perfil Curricular (RPC), os quais nesta pesquisa são nomeados genericamente de Currículo.
Algumas dificuldades do percurso metodológico da pesquisa se relacionam ao fato de que em alguns sites sugeridos pela plataforma não foi possível localizar os Currículos, então fez-se contato via telefone ou e-mail institucional. Contudo, algumas UF não retornaram, por isso, nesses casos, a instituição foi excluída do estudo. Em outro sentido, houve contatos exitosos. Como principal exemplo, cita-se que quando pesquisado sobre a Universidade Federal do Espírito Santo no site e-MEC, não apareceu nenhum curso de graduação em Educação Física. Então, foi feita a busca no site da mesma, que, ao se acessar os menus, na seguinte ordem: cursos; graduação; lista de cursos, apresentou um link para o curso de bacharelado e um para a licenciatura. No entanto, esses dois links foram direcionados para a página da Pós-Graduação da Universidade Federal do Espírito Santo. Com isso, foi iniciado o contato com a instituição, a qual encaminhou o e-mail do Departamento de Educação Física que de imediato enviou o site do Departamento, lugar onde foi possível acessar os Currículos.
Acrescenta-se a isso que a Universidade Federal de Sergipe não foi incluída no estudo porque não possui Campus na capital Aracaju, portanto, não atendeu aos critérios de inclusão da pesquisa. Ainda, o curso de bacharelado em Esportes da Universidade de São Paulo, também foi excluído, pois não se trata de um curso no formato curricular do bacharelado ou licenciatura em Educação Física.
A consulta nos Currículos se deu através da função “Ctrl+F”, na busca dos seguintes descritores: olímpico(a); olimpíadas; Olimpismo; e megaeventos. Para os cursos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro a procura se deu através do site, pois os mesmos não contam com os Currículos disponibilizados no formato pdf com as ementas das disciplinas. Para isso, deve-se entrar no site das instituições, acessar a opção Graduação no menu Ensino e procurar o curso que deseja acessar o Currículo. Também, o Instituto de Educação Física e Esporte da USP, em que encontram-se três cursos: bacharelado em Esportes (excluído deste estudo, conforme justificativa acima); bacharelado em Educação Física; licenciatura em Educação Física, e deve-se clicar no hiperlink localizado nos códigos das matérias. No currículo da licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte foi realizada a leitura integral do documento por se tratar de um arquivo escaneado, por isso não possibilitou a busca com a função “Ctrl+F”.
Os Currículos que fazem parte desta pesquisa dizem respeito a 19 instituições, que serão mencionadas junto às suas siglas: Universidade de Brasília (UnB); Universidade Federal de Goiás (UFG); Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal do Amapá (UNIFAP); Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade Federal do Acre (UFAC); Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR); Universidade Federal do Ceará (UFC); Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Universidade Federal de Alagoas (UFAL); Universidade Federal do Paraná (UFPR); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A partir disso, os Currículos foram separados em três grupos: 1) Currículo sem nenhuma referência olímpica; 2) Currículo com referência vaga sobre as Olimpíadas; 3) Currículo que tem Estudos Olímpicos dentro de outra disciplina. Ademais, evidencia-se que, inicialmente a análise foi pensada para se fragmentar em 4 grupos, sendo o último referente aos Currículos que continham a matéria Estudos Olímpicos, no entanto, nenhum Currículo contemplou esse aspecto.
Para o tratamento dos dados optou-se pela Análise de Conteúdo, constituída de um grupo de técnicas metodológicas que se propõe a interpretação de discursos pela inferência, que é constituída de pré-análise, exploração dos documentos, tratamento dos resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 1977).
Outras plataformas consultadas, foram: Google acadêmico, SciELO e Currículo Lattes. Nelas foi possível consultar algumas das obras presentes nos Currículos, as quais serão mais bem detalhadas nos tópicos que seguem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Antes da apresentação dos resultados da pesquisa é necessário ressaltar a falta de uniformidade dos Currículos, devido a isso, alguns contam com algumas informações que faltarão em outros, como, por exemplo, a carga horária de disciplinas, número das páginas e outros.
Currículo sem nenhuma referência olímpica
No primeiro grupo – Currículo sem nenhuma referência olímpica – os currículos dos cursos de bacharelado da UFC; licenciatura e bacharelado da UFPB; licenciatura da UFPE; licenciatura e bacharelado da UFPR, não apresentaram nenhuma disciplina ou referência sobre os Estudos Olímpicos (UFC, 2012; UFPB, 2007; UFPE, 2013; UFPR, 2013; UFPR, 2012). Apenas, destaca-se que no curso bacharelado da UFC, existe a matéria Esportes Paraolímpicos (48h) ofertada de modo optativo. No entanto, ela não possui bibliografia recomendada e aborda exclusivamente aspectos técnico-táticos em sua ementa, que diz:
Aprofundamento das modalidades esportivas
pertinentes aos jogos paralímpicos, olimpíadas especiais e demais esportes
adaptados, seus aspectos históricos, organizacionais, técnicos e táticos;
elaboração, dinamização e avaliação de treinamentos, programas e eventos
desportivos para pessoas com deficiência (UFC, 2012, p.70).
Com isso, são seis cursos de Educação Física localizados em capitais, que formam profissionais que não possuem de forma curricular declarada nenhum aspecto do Olimpismo, Olimpíadas e seus desdobramentos tão benéficos para a Educação Física e sociedade.
Currículo com referência vaga sobre as olimpíadas
Já o segundo grupo – Currículo com referência vaga sobre as Olimpíadas – os cursos de licenciatura da UnB; bacharelado da UnB; licenciatura da UFG; bacharelado da UFG; bacharelado da UFMT; licenciatura da UFMG; bacharelado noturno da UFMG; bacharelado e licenciatura da UFES; licenciatura da UFAM; licenciatura da UFAC; bacharelado da UFRN; licenciatura da UFRN; bacharelado da UFRJ e licenciatura da UNIFAP, não contam com disciplinas ou bibliografia que façam referência aos Estudos Olímpicos. Os únicos descritores encontrados são: Olimpíadas; Centro Olímpico; Piscina olímpica e semi-olímpica; Ginástica Olímpica; Ginásio Olímpico. Essas expressões, em sua maioria, são relativas à estrutura dos campi, e há também a palavra Ginástica Olímpica, a qual parece ser uma forma usual para se referir à Ginástica Artística (UFAC, 2005; UFAM, 2007; UFES, 2014; UFES, 2016; UFG, 2013; UFG, 2015; UFMG, 2011; UFMG, 2016; UFMT, 2011; UFRN, 2010; UFRN, 2015; UNB, 2011; UNB 2015; UNIFAP, 2010).
Acrescenta-se ao segundo grupo de análise que, no Currículo do bacharelado da UFMT o curso conta com o Projeto de Extensão Ação Social Preventiva que, dentre outros objetivos, propõe a “identificação de talentos esportivos tendo em vistas às Olimpíadas” e tem como “público-alvo: famílias e crianças carentes da comunidade Beira-Rio” (UFMT, 2011, p. 63-64). Com isso, os Currículos das UF das capitais da região Centro-Oeste acessados não apresentam os Estudos Olímpicos em seu conteúdo, seja em matérias obrigatórias, optativas ou dentro de outras disciplinas ou grupos extras a grade curricular formal.
Já na licenciatura da UFAM, o curso possui dois documentos do Comitê Olímpico Espanhol sobre as modalidades olímpicas Ginástica Rítmica e Taekwondo, abordando os regulamentos das modalidades, quadro de pontuações, bases metodológicas do ensino e aprendizado e os aspectos técnico-tático das modalidades. Ainda, não é reconhecido o porquê da preferência pelos documentos do comitê da Espanha, uma vez que, as entidades brasileiras também possuem documentos sobre as modalidades (UFAM, 2007).
Por último, na licenciatura da UFAC há a seguinte referência: “Olimpíadas especiais criadas pela Fundação Joseph P. Kennedy Júnior. Futebol/Natação/Atletismo, 1991”. As Olimpíadas Especiais foram concebidas por Joseph P. Kennedy, Jr. Foundation, criada em 1968, como uma homenagem ao aviador da marinha americana Joseph P. Kennedy Júnior, irmão mais velho do ex-presidente dos Estados Unidos, na época, John Fitzgerald Kennedy (THE JOSEPH P. KENNEDY, JR. FOUNDATION, 2022; UFAC, 2005). A sua missão é o desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual (SPECIAL OLYMPICS, 2022):
A missão da Special Olympics é fornecer treinamento esportivo durante todo o ano e competição atlética em uma variedade de esportes do tipo olímpico para crianças e adultos com deficiência intelectual, dando-lhes oportunidades contínuas de desenvolver a aptidão física, demonstrar coragem, experimentar alegria e participar de um compartilhamento de presentes, habilidades e amizade com suas famílias, outros atletas da Special Olympics e a comunidade. Entretanto, esta referência não dá pra saber em qual matéria e de que como está inserida, pois, as referências de todas as matérias encontram-se juntas no final do documento (UFAC, 2005, s.p.).
Findadas as considerações acerca do segundo grupo de análise, apresenta-se que o terceiro grupo, de certa forma, engloba as características do seu antecessor, pois, as referências que compõem o grupo dois também podem ser encontradas em praticamente todos os Currículos do grupo três. Contudo, por uma questão de organização, segue o grupo de análise três para elencar apenas as referências aos Estudos Olímpicos.
Currículo que tem estudos olímpicos dentro de outra disciplina
A análise do terceiro e último grupo, inicia-se com o curso bacharelado em Educação Física da UFMG, em que a disciplina do quarto período de nome Sociologia do Esporte (30h), de natureza obrigatória, apresenta no seu programa os tópicos “Olimpismo” e “Legado de Megaeventos Esportivos” (UFMG, 2016).
O primeiro tópico, Olimpismo, expõe as várias facetas que cercam o tema, demonstra sua importância social pela educação olímpica e inclusão pelo esporte, e o multiculturalismo, uma das marcas mais importantes das Olimpíadas que diz do encontro de diversas culturas que coexistem, influenciam e são influenciadas não só pelos atletas, mas pelo mundo. Contudo, não há referências bibliográficas que, em seus títulos, tenham palavras de cunho olímpico, então, para sanar essa necessidade, foi feita a leitura de toda a bibliografia da disciplina e foram encontrados três trabalhos que se propuseram em pelo menos um capítulo aos Estudos Olímpicos, são eles: Sociologia do Esporte (MAGNANE, 1969); na sequência, Desporto - Discurso e Substância (BENTO, 1997), o qual é usado como uma referência nos Parâmetros Nacionais Escolares de Educação Física (UFMG, 2016), e por fim, o livro publicado pelo Ministério do Esporte, Legados dos Megaeventos Esportivos (2008). Esse último, se propõe a estudar a cultura e os ideais olímpicos, assim como os legados que os megaeventos proporcionam para as cidades sedes, não apenas como desenvolvimento de infraestrutura, mas também como desenvolvimento da cidadania, das questões ambientais e da sustentabilidade que são os alicerces de eventos esportivos internacionais (UFMG, 2016).
Os cursos de Bacharelado e Licenciatura da USP possuem Currículos de natureza parecidas e contam com as mesmas citações sobre os Estudos Olímpicos, então, a análise dos dois documentos será feita em conjunto. A disciplina Dimensões Históricas da Educação Física e do Esporte inclui em sua programação o estudo do “Esporte Olímpico: Origem e Evolução”, e para isso, faz uso da referência História do Esporte: panorama e perspectivas (MELOS; FORTES, 2010), a qual apresenta o cenário do movimento esportivo e evidencia os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de Futebol como expressões máximas dessa moção. Em Educação Física Adaptada I e II, há o manual publicado pelo Comitê das Olimpíadas Especiais: Educação Física na escola inclusiva e a base do esporte paraolímpico (CONDE; SOBRINHO; SENATORE, 2006), contudo, esses trabalhos não estão disponíveis para acesso digital, o que impediu a descrição de maiores detalhes. Na disciplina Pedagogia de Modalidades de Combate, Lutas e Artes Marciais, consta a seguinte referência: As Modalidades de Combate nos Jogos Olímpicos (FRANCHINI, 2007), que estuda a influência dos esportes de combate olímpicos nas questões sociais e culturais (LICENCIATURA USP, 2011; BACHARELADO USP, 2011).
Para mais, a inserção dos cursos da USP no grupo três se deu, principalmente, pela matéria Dimensões Econômicas e Administrativas da Educação Física e do Esporte que, apesar da disciplina se voltar para a gestão, economia e marketing do esporte, essa tem em suas referências bibliográficas, assim como no Bacharelado da UFMG, o livro da autora Rejane Penna Rodrigues (2008), Legados de Megaeventos, o qual aborda aspectos dos Estudos Olímpicos, assim como a importância social, cultural e política dos Megaeventos (LICENCIATURA USP, 2011; BACHARELADO USP, 2011).
O Bacharelado e Licenciatura da UFRJ, dentro da disciplina História da Educação Física, de caráter obrigatório, aborda o tema: “manifestações físicas em seus aspectos culturais e educacionais numa perspectiva histórica, particularmente, na antiguidade grega”, e servindo de bibliografia recomendada as seguintes obras: Os jogos olímpicos na Grécia Antiga (GODOY, 1996) e As olimpíadas na Grécia Antiga (BARROS, 1996) (BACHARELADO UFRJ, 2020; LICENCIATURA UFRJ, 2020).
No Bacharelado em Educação Física - Treinamento Esportivo da UFAM, encontram-se 13 menções acerca dos Estudos Olímpicos que, em sua maioria, enquadram-se nas características do segundo grupo, se tratando de palavras vagas, como as já citadas anteriormente. Outras, parecem se aprofundar mais no tema, por exemplo, as seguintes referências: Ginástica Artística feminina e História Oral: a formação desportiva de atletas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos (SCHIAVON, L. M., 2009), na disciplina de Ginástica Artística. Já a obra Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga: Olímpia antiga e os jogos olímpicos (CABRAL, 2004) e Jogos Olímpicos Latino-Americanos: Rio de Janeiro 1922 (TORRES, 2012), na disciplina História do Esporte (BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - TREINAMENTO ESPORTIVO, 2018). A respeito de Torres (2012), a referência não está disponibilizada online, portanto não será feita nenhuma consideração a respeito da obra, apenas acrescenta-se que no ano de 1922, em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, foram promovidas muitas festividades que intencionavam não apenas celebrar a data, mas também divulgar os progressos do país para que, por exemplo, fosse de interesse do Comitê Olímpico Internacional escolher o Brasil como sede da próxima edição dos Jogos, o que não aconteceu.
No entanto, a inserção do curso da UFAM no grupo três se deu devido a matéria de História do Esporte, pois há também a referência bibliográfica básica O Brasil torna-se olímpico: fragmentos históricos do Brasil e do Movimento Olímpico até 1936, de Márcia De Franceschi Neto-Wacker e Christian Wacker (2012). Já na disciplina Fundamentos de Sociologia da Atividade Física, encontra-se o livro de título Sobre a Televisão Seguido de Influência do Jornalismo e os Jogos Olímpicos (BOURDIEU, 1997). A respeito da obra de Bourdieu, o autor se propõe a destrinchar as formas de censura e manipulações midiáticas da Televisão e usa as Olimpíadas como um exemplo de como a mídia usa suas ferramentas para influenciar de acordo com seus gostos. No entanto, esses Currículos não apresentaram nas ementas dessas disciplinas como são abordados os aspectos dos Estudos Olímpicos, tão pouco a forma que usarão as referências aqui citadas (BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - TREINAMENTO ESPORTIVO, 2018; EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO EM PROMOÇÃO DA SAÚDE, 2018). Portanto, estas são as únicas referências diretas às Olimpíadas encontradas no Currículo do curso de bacharelado em Educação Física - Promoção da Saúde da UFAM.
No Currículo da licenciatura em Educação Física da UNIR, é possível encontrar referências às Olimpíadas como, por exemplo, o livro de Godoy (1996), Os jogos olímpicos na Grécia antiga, usado como obra consultada para a escrita do Currículo. No conteúdo Treinamento Esportivo, identificou-se o livro Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico (PLATONOV, 2004). Há também a disciplina optativa Esportes Olímpicos pouco difundidos no Brasil (40h), que tem como objetivo principal a disseminação de experiências pelos esportes pouco conhecidos no Brasil, mas, que também se propõe aos conteúdos “Olimpismo” e “Educação olímpica” que, para tais, são utilizado como bibliografia básica o estudo da Katia Rubio (2009), Esporte, Educação e Valores Olímpicos, e os livros Olimpismo e educação olímpica no Brasil (REPPOLD, 2009) e Coletânea de textos em estudos olímpicos (TURINI, 2002) como bibliografia complementar (UNIR, 2015).
No curso de bacharelado da UFPE, dentro da disciplina obrigatória Gestão do Esporte (60h), há a referência bibliográfica Legado dos Megaeventos, e a ementa da disciplina é voltada para o olhar técnico que circunda os megaeventos, mas também se propõe a “compreender a Gestão Esportiva como construção pessoal, social e temporal” (RODRIGUES, 2008).
A licenciatura em Educação Física da UFAL apresenta na disciplina do terceiro período, Política e Organização da Educação Física, Esporte e Lazer (36h), o livro Legados e megaeventos esportivos (MARCELLINO, 2013). Esse estudo está contido na bibliografia complementar da matéria que, propõe-se a ensinar a organização sociopolítica da Educação Física. Porém, o Currículo não aborda outro tema que se adeque a esta pesquisa (EDUCAÇÃO FÍSICA LICENCIATURA, 2019). Já para o bacharel da UFAL, soma-se à referência anterior, a pesquisa Esporte Olímpico (MELLO, M.; WINCKLER, 2012), apresentada de forma complementar na disciplina Atividade Física Adaptada (72h). Contudo, essa não transparece na ementa a forma como irá abordar os Estudos Olímpicos, qual aspecto etc. (EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO, 2019).
Na UFRGS existe apenas um Currículo comum para os cursos de bacharelado e licenciatura, sendo o tema tratado especificamente, na licenciatura da página 48 até a 65, e no bacharelado da página 66 até a 86. Os dois cursos contam com a disciplina obrigatória de Estudos histórico-culturais da Educação Física e do Esporte (60h), com o seguinte conteúdo programático:
Panorama histórico de eventos e megaeventos esportivos: Jogos Olímpicos; Jogos Paraolímpicos; Jogos Escolares/Olimpíadas Escolares; Deaflympics (Surdolimpíadas); World Indigenous Games (Jogos Mundiais dos Povos Indígenas); Special Olympics (Olimpíadas Especiais) (UFRGS, 2021, p. 126).
Para isso, a sua bibliografia é composta pelos seguintes trabalhos: História do Esporte: abordagens em mutação (BOOTH, 2011), em que não é o seu foco dissertar sobre os Estudos Olímpicos, porém, aborda as características do movimento olímpico ao longo dos principais acontecimentos históricos; Esporte paraolímpico no Brasil: de sua estruturação a sua consolidação (CARDOSO, 2017), aborda exclusivamente as Paraolimpíadas (UFRGS, 2021). Apesar do Currículo apenas listar os grupos de estudo e pesquisa sem maiores detalhes sobre seus temas, existe o Grupo Interinstitucional de Estudos Olímpicos, que conta com site para disponibilizar trabalhos publicados, aulas sobre Estudos Olímpicos e memória dos eventos organizados.
Como último Currículo deste grupo, o curso de licenciatura da UFSC, possui a disciplina Fundamentos Histórico-Pedagógicos da Educação Física (50h), e dentre outros assuntos abordados em sua ementa, a matéria apresenta o tema “o movimento olímpico internacional”, tendo como referência básica o livro O que é Educação Física? (OLIVEIRA, 1983), que aborda o renascimento dos Jogos Olímpicos, o Olimpismo e a importância política das Olimpíadas.
CONCLUSÃO
Em conclusão, é mister elencar as dificuldades encontradas no tratamento dos Currículos, pois esses não possuem um modelo uniforme em suas apresentações. Muitos foram construídos de forma que não apresentam, por exemplo, informações para a compreensão da metodologia de ensino adotada, possuem escrita desconexa e irregular. Ainda, alguns foram difíceis de encontrar, obrigando o garimpo nos sites das instituições para o acesso de tais documentos. A partir disso, sugere-se que os órgãos reguladores do ensino superior do Brasil adotem um modelo padrão para a criação dos Currículos das mesmas, facilitando assim, o acesso dos seus ingressos e também de pesquisadores que tenham como fonte tais documentos.
A priori, tinha-se a expectativa de encontrar ampla abrangência dos Estudos Olímpicos nos Currículos dos cursos de Educação Física. Contudo, isso não foi possível com as UF das capitais do país analisadas, pois, em nenhum Currículo encontrou-se a matéria de Estudos Olímpicos; e quando há referência ao tema, esse é abordado de forma secundária dentro de outras disciplinas. Soma-se ainda, o grande número de UF com nenhuma ou com referências vagas sobre as Olimpíadas, totalizando-se dezenove cursos sem qualquer abordagem substancial sobre o tema, o que abre uma lacuna na formação profissional acerca do conhecimento do maior megaevento esportivo de caráter internacionalizado que se tem notícia. Dito isso, a expectativa inicial é substituída pela preocupação com a formação dos futuros profissionais que, em muitos casos, não possuem mediação declarada a respeito de um conteúdo tão importante para a formação em Educação Física.
Em outro sentido, o curso de licenciatura da UNIR se destacou como o mais amplo na abordagem dos Estudos Olímpicos, pois, foi o único que fez uso dos trabalhos de Kátia Rubio, de Alberto Reppold, de Marcio Turini e Lamartine, considerados como importantes referências nos Estudos Olímpicos no Brasil. Há também os cursos de bacharelado da UFMG, licenciatura da UFRGS e licenciatura e bacharelado da USP, que em suas ementas se propõem aos Estudos Olímpicos e apresentam bibliografia para isso.
Com isso, desta pesquisa surge um questionamento ainda raramente observado nas graduações de Educação Física: por que os Estudos Olímpicos estão escassos nas universidades? Tal pergunta abre caminho para que novos estudos sejam realizados, pois este trabalho apresenta limitações como a de ter analisado apenas os conteúdos de Estudos Olímpicos em cursos de Educação Física presenciais em UF das capitais do país, ficando de fora outros tipos de IES e cursos de Educação Física dos interiores dos Estados; os Estudos Paraolímpicos, Olimpíadas Especiais, Olimpíadas Indígenas, Gay games e outras.
Por fim, espera-se que este estudo tenha contribuído com reflexões inerentes às escolhas curriculares nos cursos de Educação Física do Brasil, para não só repensar os seus Currículos mas também a formação profissional em face às Olimpíadas como área de estudo e atuação profissional. Negligenciar os Estudos Olímpicos na formação em Educação Física é limitar o significado do esporte, dado que os Jogos Olímpicos é a expressão de maior consolidação do fenômeno esportivo à nível mundial.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reta e Augusto Pinheiro, editora Edição 70, França, 1977.
BARROS, G. N. M. As olimpíadas na Grécia antiga. São Paulo: Pioneira, 1996.
BENTO, J. O. Desporto – Discurso e Substância. Campo das Letras Editores S.A. Porto, 2004.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Ministério da Educação-Secretaria de Educação Fundamental, MEC/SEF, Brasília, 1997.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União: título 2, Brasília-DF, ano 108, 20 jan. 1996.
BOOTH, D. História do Esporte: abordagens em mutação. Recorde: Revista de História do Esporte, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 2011, p. 1-40.
BOURDIEU, P. Sobre a televisão: seguido de a influência do jornalismo e os Jogos Olímpicos. Tradução de Maria Lúcia Machado. Rio de Janeiro, editora ZAHAR, 1997.
CABRAL, L. A. M. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga: Olímpia antiga e os jogos olímpicos. São Paulo, Odysseus, 2004.
CARDOSO, V. D. et al. Esporte paraolímpico no Brasil: de sua estruturação a sua consolidação. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Porto, v. 1, n. 16, 2017, p. 59-72.
CONDE, A. J. M. Educação Física na escola inclusiva e a base do esporte paraolímpico. In: CONDE, A. J. M.; SOBRINHO, P. A. S.; SENATORE, V. (Orgs.). Introdução ao movimento paraolímpico: manual de orientação para professores de educação física. Brasília: Comitê Paraolímpico Brasileiro, 2006, p.54-63.
FRANCHINI, E. As modalidades de combate nos Jogos Olímpicos. In: MORAGAS, M.; DA COSTA, L. P. (Org.). Universidade e Estudos Olímpicos. Barcelona: Centre d'Estudis Olímpics, Servei de Publicacions, 2007, p. 716-724.
GODOY, L. Os jogos olímpicos na Grécia Antiga. São Paulo: Nova Alexandria, , 1996.
LE GOFF, J. História e Memória (1924). Tradução de Bernardo Leitão et. al. Ed. 7. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013, 499 p.
LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, Editora E.P.U., 1986.
MAGNANE, G. Sociologia do Esporte. Editora Perspectiva: São Paulo, 1969.
MARCELLINO, N. C. Legado de megaeventos esportivos. Campinas, editora Papirus, 2013.
MELO, V. A.; FORTES, R. História da História da Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama, perspectivas e propostas. Revista Eletrônica de História do Brasil, Juiz de Fora, v.1, n.1, 1997.
MELLO, M.; WINCKLER, C. Esporte olímpico. São Paulo, editora Atheneu, 2012.
NETO-WACKER, M. F.; WACKER, C. O Brasil torna-se olímpico: fragmentos históricos do Brasil e do Movimento Olímpico até 1936. Confederação Brasileira de Atletismo, 2012.
NUNES, M. L. F.; RÚBIO, K. O(s) currículo(s) da educação física e a constituição da identidade de seus sujeitos. Currículo sem Fronteiras, São Paulo, v. 8, n. 2, 2008, p. 55-77.
OLIMPÍADAS ESPECIAIS. Atividades motoras - Programa de Treinamento. SEDES/PR, Departamento dos desportos das pessoas portadoras de Deficiências, 1990.
OLIVEIRA, V.M. O que é Educação Física? 4. ed., São Paulo: Brasiliense, 1986.
PLATONOV, V. N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo. Editora Artmed, Porto Alegre, 2004.
REPPOLD FILHO, A. R.; PINTO, L. M. M.; RODRIGUES, R.P.; ENGELMAN, S. (Orgs). Olimpismo e educação olímpica no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. 270 p.
RODRIGUES. R. P. et al. DA COSTA L. P.. Legados de megaeventos esportivos. Brasília: Ministério do Esporte, 2008.
RUBIO, K. Legado educativo dos megaeventos esportivos. Motrivivência, Florianópolis, ano XXI, n. 32/33, 2009, p. 71-88.
RUBIO, K. Jogos Olímpicos da Era Moderna: uma proposta de periodização. Rev. Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.24, n.1, 2010, p.55-68.
SCHIAVON, L. M. Ginástica Artística feminina e História Oral: a formação desportiva de atletas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos (1980-2004). 2009. 379 f. Tese (doutorado em Educação Física) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2009.
SILVA, I. M. O mais completo dos sports espirituaes: o cinema silencioso em Barbacena (Minas Gerais, 1914-1931). 2021. 172 f. Tese (doutorado em Estudos do Lazer). Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021.
SILVA, I. M.; MARTINS, R.; LIMA, R. S. Cadê os jogos olímpicos nos currículos da educação física? RENEF: Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, Montes Claros, v. 3, n. 3, p. 49, 2020.
SILVA, T. T. da. Currículo, conhecimento e democracia: as lições e as dúvidas de duas décadas. Caderno de Pesquisa, São Paulo, ed. 73, 1990, p. 59-66.
SPECIAL OLYMPIC. Our Mission. Washington, DC, 2022. Disponível em: https://www.specialolympics.org/about/our-mission?locale=en. Acesso em: 24 jan. 2022.
THE JOSEPH P. KENNEDY, JR. FOUNDATION. Home. Washington, DC, 2022. Disponível em: https://www.jpkf.org. Acesso em: 24 jan. 2022.
TORRES, C. Jogos Olímpicos Latino-Americanos: Rio de Janeiro 1922. Manaus/AM, Confederação Brasileira de Atletismo, 2012.
TURINI, M.; DA COSTA, L. Coletânea de textos em estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002.
UFAC. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE. Curso de licenciatura plena em Educação Física: projeto político-pedagógico. Rio Branco-AC, 2005.
UFAL. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Maceió-AL, 2019.
UFAL. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Maceió-AL, 2019.
FAM. UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS. Curso de bacharelado em Educação Física, promoção da saúde e Lazer: projeto político-pedagógico. Manaus-AM, 2018.
UFAM. UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Manaus-AM, 2007.
UFC. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Fortaleza-CE, 2012.
UFES. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Vitória-ES, 2016.
UFES. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Vitória-ES, 2014.
UFG. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Goiânia-GO, 2015.
UFG. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Goiânia-GO, 2013.
UFMG. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico-diurno. Belo Horizonte-MG, 2016.
UFMG. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico-noturno. Belo Horizonte-MG, 2011.
UFMG. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Curso de licenciatura plena em Educação Física: projeto político-pedagógico. Belo Horizonte-MG, 2016.
UFMT. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Cuiabá-MT, 2011.
UFPB. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Curso de Educação Física: projeto político-pedagógico dos cursos de licenciatura e bacharelado. João Pessoa-PB, 2007.
UFPE. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Recife-PE, 2016.
UFPE. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Relatório perfil curricular. Recife-PE, 2013
UFPR. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Curitiba-PR, 2013.
UFPR. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Curitiba-PR, 2012.
UFRGS. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Curso de Educação Física: projeto político-pedagógico dos cursos de licenciatura e bacharelado. Porto Alegre-RS, 2021.
UFRJ. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. A UFRJ te dá as boas-vindas! Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: https://ufrj.br Acesso em: 28 jan. 2022.
UFRN. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Natal-RN, 2010.
UFRN. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Natal-RN, 2017.
UFSC. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Florianópolis-SC, 2005.
UFSC. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Florianópolis-SC, 2005.
UNB. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Curso de bacharelado em Educação Física: projeto político-pedagógico. Brasília-DF, 2015.
UNB. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Brasília-DF, 2011.
UNIFAP. UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Macapá-AP, 2010.
UNIR. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA. Curso de licenciatura em Educação Física: projeto político-pedagógico. Porto Velho-RO, 2010.