ARTIGO ORIGINAL

 

OS DESAFIOS DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

 

THE CHALLENGES OF PHYSICAL EDUCATION TEACHERS IN THE EARLY YEARS OF ELEMENTARY SCHOOL

 

LOS DESAFÍOS DE LOS PROFESORES DE EDUCACIÓN FÍSICA EN LOS PRIMEROS AÑOS DE LA ESCUELA PRIMARIA

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Valdiney Fernandes de Souza Carmo Descrição: downloadDescrição: Lattes

Centro de Educação a Distância da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, (CEAD/Unimontes), Montes Claros (MG), Brasil

E-mail: valdineyfernandes19@gmail.com.

 

Vânia Olímpia Barbosa Silva Descrição: downloadDescrição: Lattes

 Centro de Educação a Distância da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, (CEAD/Unimontes), Montes Claros (MG), Brasil

E-mail: olimpia.vania@gmail.com.

 

Data de Submissão: 04/06/2022 Data de Publicação: 30/08/2022

Como citar: CARMO, V. F. S.; SILVA, V. O. B Os desafios dos professores de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, Edição Especial. v. 5, n. 6, ago. 2022.

 

RESUMO

O presente trabalho tem como tema os desafios dos professores de Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Para a coleta dos dados foram investigados dezenove professores de Educação Física que ministram aulas em escolas públicas do município e do estado. Foi utilizado um questionário envolvendo perguntas fechadas relacionadas aos desafios do cotidiano da prática pedagógica do professor. Os dados coletados através dos questionários foram separados e analisados, para em seguida ser feita a discussão. O resultado foi revelado através de gráficos construídos pelo programa Microsoft Office Word – Microsoft Excel. Após o levantamento dos dados, observou-se que os professores encontram maiores dificuldades quanto ao material disponível pela escola para trabalhar a sua prática pedagógica, infra estrutura das escolas e desvalorização do profissional da educação.

Palavras-Chave: Educação Física escolar; Professores; Desafios.

 

ABSTRACT

The present work has as its theme the challenges of physical education teachers in the early years of elementary school. For data collection, nineteen Physical Education teachers who teach in public schools in the city and state were investigated. A questionnaire involving closed questions related to the daily challenges of the teacher's pedagogical practice was used. The data collected through the questionnaires were separated and analyzed, after which the discussion took place. The result was revealed through graphics built by the Microsoft Office Word – Microsoft Excel program. After collecting the data, it was observed that teachers face greater difficulties with the material available at the school to work on their pedagogical practice, school infrastructure and devaluation of the education professional.

Keywords: Physical Education; Teacher; difficulties

 

RESUMEN

El presente trabajo tiene como tema los desafíos de los profesores de Educación Física en los Años Iniciales de la Enseñanza Fundamental. Para la recolección de datos, fueron investigados diecinueve profesores de Educación Física que ejercen la docencia en escuelas públicas de la ciudad y del estado. Se utilizó un cuestionario de preguntas cerradas relacionadas con los desafíos cotidianos de la práctica pedagógica del docente. Los datos recogidos a través de los cuestionarios fueron separados y analizados, y luego se llevó a cabo la discusión. El resultado fue revelado a través de gráficos construidos por el programa Microsoft Office Word – Microsoft Excel. Luego de la recolección de los datos, se observó que los docentes encuentran mayores dificultades en cuanto al material disponible por parte de la escuela para trabajar su práctica pedagógica, infraestructura de las escuelas y desvalorización del profesional de la educación.

Palabras clave: Educación Física Escolar; maestros; Desafíos.

 

 

INTRODUÇÃO

            A educação brasileira tem passado por significativas alterações, dentre elas, destacam-se as mudanças no processo de ensino e aprendizagem decorrentes da Base Nacional Comum. Este é o documento que serve de sustentação para a Educação Básica brasileira e direciona quais conhecimentos e habilidades os alunos devem aprender durante toda a vida escolar. Além disso, a BNCC norteia para a formação e promoção de uma educação integral, com desenvolvimento pleno dos estudantes (BNCC, 2019).

            Enquanto espaço de educação, a escola exerce na sociedade papel fundamental no processo de desenvolvimento das crianças e adolescentes. É através dela que um país se desenvolve, no entanto, no Brasil, como na maioria dos países em desenvolvimento, a educação encontra-se, ainda, defasada (GUIMARÃES et al., 2001).

            É de inegável importância, que a Educação Física configura-se em uma disciplina que contribui para a formação crítica do sujeito inserido na escola e fora dela. Documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), apresentam propostas pedagógicas em que o ensino desta área tem como objetivos, dentre outros, “compreender a cidadania como participação social e política”, e complementa afirmando sobre a importância de promover o “exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedades, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito” (BRASIL, 1997).

                     

            A Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, assim como em todo o ensino formal, alcançou a condição de disciplina obrigatória, devendo ser ofertada em todos os níveis de ensino. Este talvez tenha sido um dos desafios mais importantes enfrentados por tal componente curricular e, para compreender como foi alcançado este status, é preciso analisar como as questões legislativas e pedagógicas têm se constituído ao longo dos anos.

            Deste modo, tecendo um breve histórico, foi através da Constituição Federal de 1937 que a Educação Física escolar foi incluída pela primeira vez no sistema educacional brasileiro. No art. 131 da Constituição Federal ficou prevista a sua obrigatoriedade em todas as escolas primárias, normais e secundárias, não podendo nenhuma dessas escolas serem autorizadas ou reconhecidas sem que contemplassem aquela exigência legal (BRASIL, 1937).

            Em 1961 foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) por meio da Lei 4024/1961, e a presença da Educação Física foi novamente colocada como obrigatória nos currículos escolares. Em seu art. 22 foi previsto que a prática da Educação Física era obrigatória nos cursos primário e médio, até a idade de 18 anos (BRASIL, 1961).

            Após a publicação da LDB o Ministério da Educação e do Desporto publicou nos anos de 1997 e 1998, respectivamente, os PCNs de 1ª a 4ª séries e de 5ª a 8ª séries. Estes documentos pretendiam viabilizar a construção de uma base comum nacional para o Ensino Fundamental e orientar as escolas na formação de seus currículos, considerando as suas especificidades.

            Já em 1971 houve alterações da LDB por meio da Lei 5.692/1971 e do Decreto 69450/1971 que estendeu a obrigatoriedade da Educação Física também aos Anos Iniciais. Neste momento histórico, sua prática passou a ser integrada como atividade escolar, em todos os níveis de ensino, com o objetivo de desenvolver forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do aluno (BRASIL, 1971).

            Em 1996 houve nova atualização na LDB através da Lei 9394/96 indicando que a Educação Física fosse integrada à proposta pedagógica da escola, passando a ser considerada como um componente curricular da Educação Básica, que deveria ser ajustado de acordo com a faixa etária do aluno, ficando destacada neste período a necessidade dos currículos do Ensino Fundamental estar de acordo com a Base Nacional Comum (BRASIL, 1996).

            Em 2017 o Ministério da Educação (MEC) através do Conselho Nacional de Educação (CNE), por meio da Resolução CNE/CP nº 02, instituiu e implementou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este é o documento que serve de sustentação para a educação básica brasileira e direciona quais conhecimentos e habilidades os alunos têm o direito de aprender durante toda a vida escolar. Além disso, a BNCC norteia para a formação e promoção de uma educação integral, com desenvolvimento pleno dos estudantes.

            O decurso do tempo, trouxe significativas e importantes alterações legislativas que tratam da Educação Física no Brasil, dentre estas destacam-se as mudanças no processo de ensino e aprendizagem decorrentes da BNCC. Neste documento, a Educação Física foi incluída na área de Linguagens e, passou a ser formada por unidades temáticas (brincadeiras e jogos, esportes, ginásticas, danças e lutas) assumindo, além do aspecto físico, um relevante papel sociocultural para o desenvolvimento dos alunos (CNE, 2017).

            Imprescindível para o desenvolvimento do país, a educação brasileira, como na maioria dos países em desenvolvimento, ainda encontra-se defasada. Embora a evolução legislativa e teórica tenha avançado, ainda é preciso superar os inúmeros desafios que podem comprometer a qualidade do ensino da Educação Física escolar. São muitas as dificuldades encontradas nas escolas, como a marginalização e insatisfação dos professores, ausência de recursos e infraestruturas adequadas, o que refletem na qualidade de sua prática (LEMOS, 2009).

            Para além destes problemas, deve-se ainda considerar a dificuldade inerente do trabalho de docência. Esta profissão se difere muito de outras e ao falar sobre este assunto é preciso compreender suas especificidades e as mudanças ocorridas ao longo do tempo. Sua complexidade deriva do fato do professor sofrer influências de múltiplos aspectos, sejam eles políticos, econômicos, sociais, culturais, psicológicos, institucionais, éticos, técnicos, afetivos, dentre outros, tendo que lidar, além do conhecimento, com relações sociais que envolvem constantes tensões (OLIVEIRA; CIRILO, 2015).

            Para Oliveira e Cirilo (2015), são vários os tipos de desvalorização enfrentados pelo professor, sendo a baixa remuneração e a desvalorização política e social um dos mais marcantes deles. Isto afeta diretamente o professor, pois coloca em risco a sua subsistência e a da sua família, além de inviabilizar uma ascenção social, acesso a bens de cultura e lazer, impedindo até mesmo a obtenção de conhecimentos necessários ao aprimoramento pessoal e profissional, podendo refletir na qualidade de seu trabalho.

            Para minimizar as dificuldades existentes, a escola tem que proporcionar um ambiente agradável, confortável, adequado e prazeroso aos alunos e professores. Esta estrutura confere aos alunos melhores condições de aprendizagem, superando medos e desafios que possam encontrar no seu dia a dia, ajudando a encontrar meios facilitadores de ensino e locomoção no ambiente escolar (SILVA; VOLPINI, 2014).

            Neste sentido, Betti (1991), afirma que problemas existem sim, mas não podem ser tidos como obstáculos instransponíveis para o desenvolvimento das aulas. É importante que a escola, juntamente com todos os seus profissionais, especialmente os que trabalham com a Educação Física, se adaptem a novas metodologias, tendo em vista uma educação de qualidade. No entanto, por mais criativos que sejam ou possuam os mais belos ideais e iniciativas educativas, os professores de Educação Física podem fracassar, caso não encontrem espaços e condições para concretização de seus planos de trabalho (CANASTRARO, 2009).

            Uma das alternativas de enfretamento dos desafios diários na educação é através da própria conduta do professor conforme assevera Xavier (1986), ao dizer que os professores de Educação Física escolar devem possuir conhecimentos amplos e seguros sobre quais recursos serão mais apropriados para aplicarem a cada momento da aula, a cada nova situação de ensino, pois as aulas de Educação Física constituem um instrumento pedagógico valiosíssimo. Assim, o professor de Educação Física escolar precisa ser criativo e deve buscar diversificar suas aulas, tentado evitar o comprometimento de sua qualidade frente às dificuldades encontradas.

            Face ao exposto, a relevância deste estudo para a área de Educação Física está na possibilidade de gerar discussões e propor reflexões acerca da realidade escolar dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação(LDB) 9394/96), prever a obrigatoriedade da disciplina Educação Física nas escolas de Ensino Formal e o governo ter elaborado os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’S), ainda assim são grandes os problemas enfrentados pelos professores no país. Torna-se necessário refletir sobre como o trabalho docente tem sido tratado pela sociedade e poder público, buscando compreender o que pode ser feito para minimizar ou eliminar os problemas e potencializar as ações positivas existentes.

            Sendo assim, analisar os desafios dos professores de Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental da rede pública de ensino é imprescindível para o planejamento de ações que garantam a melhoria das condições de trabalho e, consequentemente, da qualidade do ensino nas unidades escolares. Ao identificar os desafios dos professores de Educação Física é possível propor um planejamento de ações que garantam a melhoria das condições de trabalho, contribuindo para uma prática escolar mais eficiente, para a formação de sujeitos culturalmente inseridos, ou seja, para a formação integral dos alunos em um processo de ensino-aprendizagem com qualidade.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

            A metodologia utilizada está pautada na investigação qualitativa e descritiva, a qual compreende os fenômenos em toda sua complexidade e privilegia, essencialmente, a compreensão dos fenômenos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação. De acordo Gil (2007), a pesquisa descritiva, é uma análise em profundidade que visa descrever, classificar e interpretar o objeto estudado e utilizar técnicas mais sistematizadas e rigorosas. Também foi realizada pesquisa bibliográfica e de campo.

            A população dessa pesquisa foi composta por 20 (vinte) professores, de ambos os sexos; que ministram aulas de Educação Física na rede estadual de ensino do Estado de Minas Geais. O nome dos professores bem como das escolas em que trabalham não foram mencionados por questões éticas. O mecanismo de coleta para a realização da pesquisa foi um questionário disponibilizado na plataforma Google forms, estruturado com dez perguntas fechadas direcionadas aos professores de Educação Física sobre os desafios de sua prática docente.

            O procedimento utilizado respeitou e considerou as normas internacionais de experimentação com humanos, nos termos da resolução 466 do CNS que trata de pesquisas em seres humanos e atualiza a resolução 196. O questionário utilizado foi validado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) por meio do parecer técnico número 6.145.357.

            Após a coleta dos dados, com a utilização de softwares da plataforma do Microsoft Office, os programas: Microsoft Word, Microsoft Excel e Microsoft PowerPoint, foi feita a tabulação deles de forma quantitativa com o objetivo de maior facilidade e organização no tratamento dos dados.

 

RESULTADOS

            A pesquisa teve como pesquisa inicial a análise da estrutura escolar para o desenvolvimento das aulas de Educação Física. As respostas encontradas evidenciaram problemas variados, não havendo uma prevalência significativa em determinado aspecto. É o que revela o gráfico abaixo:

 

     Gráfico 1: Existe estrutura física para a prática da Educação Física?

     Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Pelos dados apresentados destaca-se que apenas pouco mais da metade dos entrevistados consideram a estrutura da escola excelente ou satisfatória, sendo relevante o número de professores que apontaram que a estrutura da escola em que trabalham precisam de algum tipo de mudança.

            Ao verificar a valorização da disciplina de Educação Física pela escola em que trabalham, foram revelados os seguintes dados:

 

Gráfico 2: A escola valoriza a disciplina de Educação Física?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Devido a sua reconhecida e comprovada importância, o gráfico II revela que grande parcela dos professores 63,% respondeu que é razoavelmente valorizada, já 26,% afirmam que a Educação Física é pouco valorizada pela escola, destacando, ainda que some em 11% dos casos a disciplina foi considerada como pouco valorizada pela escola.

            Ao contrário da pouco valorização que a escola confere à Educação Física, ao abordar o interesse dos alunos nas aulas de Educação Física, não foi apontando nenhum caso de pouco ou nenhum interesse na disciplina. É o que revela o gráfico:

 

Gráfico 3: Interesse dos alunos durante as aulas de Educação Física

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Importante destacar, ainda, que grande parcela dos entrevistados, 74%, apontaram um elevado grau de interesse dos alunos nas aulas de Educação Física, afirmando que há muito interesse por parte dos alunos na prática da disciplina enquanto apenas 26% mencionaram interesse razoável e nenhum citou as opções pouco interesse ou não se interessam.

            Outro ponto pesquisado foi o número de alunos por turma. Infelizmente, esta questão apontou a existência de um grave problema enfrentado pelas redes públicas de ensino, o número excessivo de alunos. É o que se pode visulaizar no gráfico abaixo que mostra que 63,2% dos entrevistados afirmaram que há um número excessivo de alunos por turma e, 36,8% afirmaram que o número de alunos não excede.

 

Gráfico 4: Na sua escola um número excessivo de alunos por turma?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Questionados se o número excessivo de alunos por turma atrapalha o desenvolvimento do trabalho do professor, o gráfico abaixo mostra que apenas 10,5% responderam que não atrapalham, sendo que a totalidade de 89,5% dos entrevistados responderam que sim.

 

 

 

 

Gráfico 5: O número excessivo de alunos por turma atrapalha a aula?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Ao analisar o processo de formação continuada e o incentivo da escola para o professor participar de cursos de formação para aprimorar sua prática pedagógica, uma parcela de 20,5% dos entrevistados responderam que não são incentivados. Para 79,5% dos professores foi anotada que há incentivo neste sentido. É o que revela a representação abaixo:

 

Gráfico 6: Você é incentivado a participar de cursos de formação continuada?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Outro aspecto pesquisado foi à disciplina dos alunos durante as aulas. Um dado preocupante foi constatado nesta questão, pois apenas 8,5% dos professores responderam que não possuem problemas com indisciplinas em suas aulas. Já 91,5% outros entrevistados relataram que há algum grau de indisciplina, revelando a necessidade de a comunidade escolar refletir sobre as razões deste elevado índice. Abaixo os resultados encontrados:   

 

Gráfico 7: Como é a disciplina de seus alunos durante as aulas?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Quando questionados se a indisciplina que é um fator que pode prejudicar as suas aulas, 100% dos sujeitos da pesquisa responderam que de fato a indisciplina traz prejuízos significativos as aulas, sendo assim as opções prejudica pouco; prejudica de forma razoável e não prejudica não foram mencionadas. É o que mostra o gráfico a seguir:

 

 Gráfico 8: A indisciplina é um fator que pode prejudicar de que maneira as suas aulas?

 Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Ao verificar se a questão salarial pode interferir na prática pedagógica, a grande maioria apontou que, de alguma forma, pode interferir. Apenas 21,1% dos entrevistados relataram que a remuneração não é um fator que interfere em sua prática pedagógica enquanto 78,90% responderam que interfere e, pouco interfere não foi citado. É o que se extrai na representação gráfica abaixo:

 

Gráfico 9: A remuneração salarial é um aspecto que interfere na sua prática

pedagógica?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Por fim, foi verificado se as dificuldades encontradas na escola já fizeram os entrevistados pensarem em abandonar o seu emprego de professor de Educação Física, obteve-se os seguintes dados:

 

Gráfico 10: As dificuldades encontradas já fizeram você pensar em abandonar o seu emprego?

Fonte: Pesquisa realizada durante o segundo semestre de 2021.

 

            Ou seja, 67% significativa dos professores já pensaram em abandonar sua profissão em decorrência das dificuldades que a docência impõem enquanto 33% não pensaram e, às vezes não foi apontada. Este é um dado importante e preocupante e que deve ser mais bem analisado para tentar suprimir as dificuldades que levam um profissional a pensar em tomar esta atitude.

 

DISCUSSÃO

 

            Percebe-se que um número considerável de escolas não possui estrutura adequada para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, o que acaba dificultando o trabalho do professor. Souza (2013), sugere que para a falta de espaço físico medida paliativa à adaptação de condições existentes, reinventando e criando espaços propícios usando recursos disponíveis.

            A escola tem que proporcionar um ambiente agradável, confortável e prazeroso, onde os alunos tenham condições de aprender, desenvolver-se superando seus medos e desafios que venham a encontrar no seu dia a dia, ajudando então a encontrar meios facilitadores de ensino e aprendizagem e locomoção no ambiente escolar (TEIXEIRA; VOLPINI, 2014).

            Por mais criativos que sejam ou possuam os mais belos ideais e iniciativa educativas, os professores de Educação Física podem fracassar, caso não encontrem espaços e condições materiais para concretização de seus planos de trabalho. (CANASTRARO, 2009).

                        Infelizmente, conforme apresentado nos gráficos a disciplina Educação Física ainda é pouco valorizada, o que acaba desmotivando o professor e comprometendo sua prática pedagógica. É preciso que esse histórico de desvalorização seja revertido e a Educação Física e seus profissionais sejam realmente valorizados. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam que a disciplina à Educação Física: [...] é a área do conhecimento que introduz e integra os alunos na cultura corporal do movimento, com finalidades de lazer, de expressão de sentimentos, afetos e emoções, de manutenção e melhoria da saúde (BRASIL, 1997 p.62).

            O professor de Educação Física deve estar sempre se aperfeiçoando, pois, a formação do educador é considerada um dos principais pontos e, é por meio dela que o professor alcançará subsídios para o exercício de sua função. (BARADEL, 2007).

            A indisciplina atrapalha o desenvolvimento das aulas, a prática pedagógica do professor e compromete o processo de construção do conhecimento dos alunos, além de causar sérios danos como o desrespeito e a violência. A falta de interesse e desrespeito por parte dos alunos também se apresenta com um fator que dificulta a prática da docência em Educação Física. DARIDO et. al (2006) entende que os casos de indisciplina não são (ou pelo menos não deveriam ser) responsabilidade exclusiva do professor.

            Gatti e Barretto (2009, p. 247) corroboram “[...] os salários recebidos pelos professores não são tão compensadores, especialmente em relação às tarefas que lhes são atribuídas.” É do conhecimento de todos os quanto à desvalorização e baixa remuneração do magistério interferem mo processo educacional do país. O não cumprimento das leis que regem o Piso Salarial Nacional e a escassez de políticas públicas voltadas para a valorização do professor acaba muitas vezes causando desmotivação e abandono à profissão.

            O professor de Educação Física se depara com certas situações, que eventualmente representam dificuldades no processo de ensino- aprendizagem de seus alunos, principalmente em escolas públicas municipais. Muitas vezes, essas dificuldades acabam desmotivando os professores. (CANESTRARO; KOKUT. 2008). Situações não adequadas de trabalho (materiais, espaços, salário, jornada de trabalho, entre outras) afetam diretamente a prática docente. (LEITÃO. 1997, p 2).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Com a realização desta pesquisa percebeu-se que os professores possuem muitas dificuldades no exercício docente da disciplina Educação Física. Dentre elas a falta de materiais didáticos, escolas sem estrutura, desvalorização profissional, indisciplina, salas de aula superlotadas, entre outros desafios. Apesar disso, gostam do que fazem e lutam por uma educação pública de qualidade.

            Ficou evidente ainda que apesar das dificuldades enfrentadas, os professores desempenham um bom trabalho, incentivam, motivam seus alunos e procuram desenvolver um trabalho a partir da realidade da escola em que trabalham, buscando metodologias que possam inovar suas práticas pedagógicas nas aulas de Educação Física.

            A partir desta pesquisa pode-se perceber que as condições das salas de aula e os materiais apresentados para a prática da educação física (instalações, material didático, espaço físico) interferem de modo significativo nos trabalhos pedagógicos da disciplina de Educação Física. Deste modo, notou uma carência apesar do embasamento legal tanto na dimensão estrutural (física) da escola quanto na material ( pedagógica esportiva), pois a disciplina é extremamente dinâmica e requer recursos concretos que permita ao aluno o desenvolvimento motor, os objetos permitem a interação psicomotora.

            Assim sendo, espera-se que os resultados levantados possam servir de subsídios para futuras discussões nos cursos de Licenciatura, especialmente em Educação Física e que os governantes possam implantar novas políticas públicas de valorização profissional dos educadores e melhorias na qualidade da Educação Física de qualidade.

 

REFERÊNCIAS

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