ARTIGO ORIGINAL
ANSIEDADE ENTRE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19
ANXIETY AMONG PHYSICAL EDUCATION PROFESSIONALS IN TIMES OF THE COVID-19 PANDEMIC
ANSIEDAD ENTRE PROFESORES DE EDUCACIÓN FÍSICA EN TIEMPOS DE PANDEMIA DEL COVID-19
Carlos Marcelo Ribeiro de Almeida
Centro de Educação a Distância da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, (CEAD/Unimontes), Montes Claros (MG), Brasil
E-mail: marceloalmeida2045@gmail.com
Centro de Educação a Distância da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, (CEAD/Unimontes), Montes Claros (MG), Brasil
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Centro de Educação a Distância da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, (CEAD/Unimontes), Montes Claros (MG), Brasil
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Data de Submissão: 03/06/2022 Data de Publicação: 30/08/2022
Como citar: ALMEIDA, C. M. R.; FONSECA, A. A.; SOARES, W. D. Ansiedade entre professores de educação física em tempos de pandemia da Covid-19. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, Edição Especial. v. 5, n. 6, ago. 2022.
RESUMO
A Organização Mundial da Saúde revelou que a ansiedade teve um aumento muito grande nos últimos tempos quando se trata da população brasileira, deixando o país no ranking dos que mais possuem pessoas que desenvolveram esse transtorno. O presente estudo objetivou analisar a prevalência de ansiedade em profissionais de Educação Física escolar durante o período da pandemia da Covid-19. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de natureza descritiva, com abordagem quantitativa, comparativa e transversal. A amostra foi composta por 21 professores de Educação Física, ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, selecionados de forma aleatória e submetidos ao Inventário de Ansiedade de Beck. Os resultados apontaram que todos os avaliados apresentaram algum nível de ansiedade, seja moderado ou severo. Ao final foi possível depreender que os níveis de ansiedade se mostraram bem alarmantes, existindo uma necessidade latente de aprofundamento para diagnosticar causas e possíveis tratamentos.
Palavras-chave: Ansiedade. Professor. Covid-19. Pandemia. Educação Física.
ABSTRACT
The World Health Organization revealed that anxiety has had a very large increase in recent times in relation to the Brazilian population, leaving the country in the ranking of those with the most people who have developed this disorder. The present study aimed to analyze the prevalence of anxiety in school Physical Education professionals during the period of the Covid-19 pandemic. For this, a descriptive research was carried out, with a quantitative, comparative and transversal approach. The sample consisted of 21 Physical Education teachers, both sexes, aged 18 years or older, randomly selected and submitted to the Beck Anxiety Inventory. The results showed that all evaluated has some level of anxiety, whether moderate or severe. In the end, it was possible to infer that the levels of anxiety were very alarming, with a latent need to go deeper to diagnose causes and possible treatments.
Keywords: Anxiety. Teacher. Covid-19. Pandemic. Physical Education.
RESUMEN
La organización mundial de la salud mostró que la ansiedad tuvo un aumento muy grande en los últimos tiempos en relación a la población brasileña, dejando el país en un ranking de los que más poseen personas que obtuvieron el transtorno. El presente estudio tiene objetivo de analizar a la prevalencia de la ansiedad en profesionales de Educación física escolar por el periodo de la pandemia del covid-19. Para este estudio, fue realizado un estudio descriptivo, con rasgos cuantitativos, comparativos y transversal. La muestra fue realizada por 21 profesores de educación física, del sexo masculino y femenino, con edad igual o superior a 18 años, seleccionados de forma aleatoria y les someterán al inventario de ansiedad de Beck. Los resultados tuvieron apunte que todos los avaliados obtuvieron algún nivel de ansiedad, sea moderado o severo. Al final fue posible demostrar que los niveles de ansiedad se mostraron alarmantes, teniendo una necesidad latente de profundizar para diagnosticar las causas y posibles tratamientos.
Palabras clave: Ansiedad. Profesor. COVID-19. Pandemia. Educación Física.
INTRODUÇÃO
De acordo Honorato (2020), as ocorrências dos últimos anos mudaram a maneira de aprender dos alunos. As aulas presenciais que antes possuíam bastante interação entre estudantes foram modificadas se transformando em ambientes virtuais, gerando o distanciamento social. Devido a esses acontecimentos, desafios variados apareceram, junto de inseguranças, sobrecarga de trabalho, incertezas e ansiedade, sedentarismo, sem contar no grande aumento da desigualdade educacional e social também, além de outros fatores que manifestam o sentimento no período em que nos encontramos.
Por isso, é de grande importância e necessidade a adequação às novas estratégias tecnológicas para os modos de ensino. Dessa forma, também é conveniente que os profissionais se adaptem às aulas remotas ou híbridas, pois esse período tem a possibilidade de se prolongar ainda por um tempo, já que ainda se tem a presença de novas variantes do vírus da Covid-19 (MARCELINO, 2020).
Compreender que no período da pandemia, pelo motivo do grande e rápido avanço da Covid-19, o alvoroço das mídias em distribuir as informações acerca do andamento da situação, que muitas vezes divergiam sobre os fatos que apareciam, propiciaram um espaço conveniente para mudanças de comportamento que auxiliaram na oscilação do estado psicológico da pessoa, que por sua vez acarreta em trazer maus resultados para a sua saúde mental (LIMA, 2020).
Pesquisadores evidenciaram em estudos no Reino Unido o grande impacto da pandemia para o desenvolvimento e avanço da ansiedade e da depressão, pelo motivo da chegada de uma avalanche constante de novas informações a respeito do vírus e o contágio e também pela nova situação de confinamento devido ao afastamento e permanência quase que integral dentro de casa (RUBIN, 2020; WESSELY, 2020).
Sendo assim, o presente estudo objetivou analisar a prevalência de ansiedade em professores de Educação Física escolar durante o período da pandemia da Covid-19.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes sob o parecer nº 5.032.555/2021. Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa e transversal.
A amostra foi composta por 21 professores, ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, selecionados de forma aleatória. Foram incluídos todos os professores de Educação Física que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa e estavam devidamente matriculados nos cursos pesquisados. E excluídos aqueles que se recusaram a assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) e/ou não responderam completamente ao questionário.
Como instrumento de pesquisa foi utilizado para a avaliação dos níveis de ansiedade o questionário nomeado “Inventário de Ansiedade Beck (BAI)”, composto por 21 (vinte e uma) questões de múltipla escolha, para responder a temática proposta, que permitem classificar quatro diferentes níveis de ansiedade nos voluntariados que participaram da pesquisa; sendo eles ausência de ansiedade, ansiedade leve, ansiedade moderada e ansiedade severa (CUNHA, 2001). Vale lembrar que os cálculos foram realizados com base nos resultados obtidos na pesquisa supracitada.
O questionário foi aplicado a partir de um formulário do Google e enviado para os entrevistados por um link. Foram selecionados os profissionais de Educação Física através de uma busca ativa em uma das escolas do Município de Pintópolis e outros educadores e professores que, por via de contatos e contribuições, foi possível entrar em contato com eles, através de números de telefone para auxiliar com a pesquisa.
Todos os dados coletados foram planilhados e realizada uma análise descritiva com valores em média, desvio padrão, frequência real e absoluta. Para comparação entre sexo foi utilizado o Teste T para amostras independentes com valor de significância de 5%. Todos os procedimentos foram feitos no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 26.0 para Windows.
RESULTADOS
Foram avaliados vinte e um professores de Educação Física, ambos os sexos, na faixa etária de 22 a 50 anos (35,8 ± 7,9 anos).
Tabela 1 – Apresenta os dados com valores em frequência real e absoluta (n = 21).
VARIÁVEL |
OPÇÕES |
n (%) |
Sexo |
Masculino Feminino |
9 – 42,9 12– 57,1 |
Ansiedade |
Ausência Leve Moderada Severa |
0 – 0 0 – 0 11 – 52,4 10 – 47,6 |
Fonte: Próprio autor. 2022
Os resultados da Tabela 1 apontaram que todos os avaliados apresentaram sintomas de ansiedade, na maioria moderado, seguido de severa. Houve um predomínio do sexo feminino na participação deste estudo, mas não foram encontradas diferenças estatisticamente nos níveis de ansiedade entre os sexos (p ≤ 0,201).
DISCUSSÃO
Este estudo buscou analisar a ansiedade entre professores de Educação Física em tempos de pandemia da Covid-19. Foi verificado que, entre os professores avaliados, todos apresentam algum grau de ansiedade que pode ter sido desenvolvido ou aumentado durante o período da pandemia.
Segundo um estudo realizado por Caldas et al. (2021), que tinha como objetivo verificar a percepção docente, qualidade de vida e ansiedade entre professores universitários, realizado na Universidade de Santa Rita no estado de Minas Gerais, mostraram que os níveis de ansiedade dos professores da rede pública de ensino, foram níveis muito altos desenvolvidos pelos participantes voluntários de ambos os gêneros, igualmente aos resultados da presente pesquisa que se fazem semelhantes.
Em estudo feito por Soares et al. (2022), na cidade de Montes Claros em Minas Gerais, que avaliou a prevalência de depressão e ansiedade em professores da rede pública, igualmente no período da pandemia, foram encontrados resultados semelhantes aos nossos em relação aos níveis de ansiedade desenvolvidos pelos educadores na era Covid-19.
A pandemia foi um grande ocorrido que gerou muita surpresa em todo o mundo, fazendo toda a civilização repensar e ter a necessidade de mudança e adequação a uma adversidade que não era esperada. Nas palavras de Nóvoa e Alvim (2021) não houve nenhuma programação perante o acontecimento, tudo foi inesperado. Porém, só existem acontecimentos nas palavras dos autores, os que possuem grande relevância e mudam pouca coisa futuramente, e os que transformam tudo num piscar de olhos. Então, só existem os "acontecimentos" que na sociedade, geram a necessidade regular de se ajustar e adaptar e dispor dos "instrumentos" para que ocorra a transição.
Devido à pandemia o ensino mudou completamente de forma geral. O ensino remoto, que antes era visto comumente em ensino superior na Educação à Distância (EAD), agora estava sendo o meio de aprendizagem para educandos de qualquer idade, trazendo consigo um espanto, ansiedade e receio do que poderia vir pela frente, já que se tratava de uma situação adversa.
Atividades escolares no ambiente online foram propostas que não eram esperadas, ainda mais para o Ensino Fundamental I e a Educação Infantil, pois não era como os cursos em EAD que utilizavam de práticas e metodologias mais específicas, que eram empregadas no nível superior de ensino, como de costume. O ensino remoto foi a maneira que se encontrou para a aula presencial se adaptar à pandemia, por meio de ferramentas tecnológicas de comunicação e informação (DIAS-TRINDADE, 2020; ESPÍRITO SANTO, 2020).
Para Santos (2019), procurar entender e dar procedência à informação na internet e, também, conseguir transformar essa mesma informação em conhecimento, comunicar-se online, como também criar textos em linguagens variadas, são conhecimentos fundamentais para se incluir na Cybercultura. O conhecimento desse conjunto de espaços na internet é fundamental para o docente conseguir exercer o seu papel no universo online.
Com o que aconteceu não foi difícil presumir que a ansiedade alcançou níveis muito altos, os educadores e professores não ficaram de fora. Profissionais do sexo feminino que exerciam algum trabalho durante o período da pandemia, no Brasil, mostraram maior predomínio dos sintomas de ansiedade do que em comparação ao sexo masculino (MAZZA et al., 2020).
Os estudos que previram e comprovaram que ocorreria esse acontecimento com o gênero foram realizados nas Filipinas, China e na Itália durante o crescimento da Covid-19. Nestes, as mulheres foram as que mais demonstraram níveis de estresse, ansiedade, depressão e impacto psicológico e, dessa forma, foram classificadas no grupo de risco nos resultados psicológicos adversos no período da crise de saúde pública (TEE et al., 2020; WANG et al., 2020).
Existe uma cobrança bem grande nas funções que estão sendo desempenhadas pela escola que deveriam, na verdade, estar sendo cumpridas por outras instituições sociais, como é o caso da família. O professor cada vez mais vem recebendo funções que vão além daquelas que ele necessita exercer no seu trabalho, e, ainda assim, vem sendo desqualificado e cada vez mais sobrecarregado. E é uma das classes de trabalhadores que apresentaram bastante transtorno no comportamento, além de ter bastante responsabilidade em ensinar e ter bastante importância na comunidade (TOSTES et al., 2018).
Propiciar estímulo para aprendizagem do aluno, ensinar a viver na sociedade, suprir as falhas da instituição escolar, promover a harmonização entre escola e comunidade e, ainda, de forma independente, ter que procurar a melhoria profissional, são alguns dos afazeres que o professor encontra ao realizar na situação atual (TOSTES; COLS., 2018).
Com isso, pode-se concluir que, além de toda essa nova bagagem, as mulheres ainda possuem a jornada dupla de trabalho, que acabou por se tornar uma única coisa maçante no período da pandemia devido à sobrecarga que mesclou o ambiente familiar com os afazeres do trabalho (PLUUT et al., 2018). Nos resultados da pesquisa, o percentual de professoras com ansiedade severa é mais da metade que apresentou a ansiedade moderada.
O presente estudo apresenta limitação inerente às pesquisas de cunho transversal pela impossibilidade da relação de causa e efeito.
CONCLUSÃO
Os resultados encontrados nos permitem concluir que existe uma alta prevalência de ansiedade nos professores de Educação Física escolar pesquisados durante o período da pandemia da Covid-19.
Recomenda-se a produção de novas pesquisas com maior aprofundamento, para que possa embasar ou não os resultados aqui encontrados.
REFERÊNCIAS
CALDAS, L. R. R.; TELES, M. C.; GUIMARAES, A. L. R.; SOUSA, J. F. G. Remote education during the COVID-19 pandemic: teaching perception, quality of life and anxiety among university professors in Minas Gerais, Brazil. Research, Society and Development, v.11, n.1, p.e37511125041, 2022.
CUNHA, J. A. Manual da versão em português das escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2001.
DIAS-TRINDADE, S.; ESPÍRITO SANTO, E. Educação a distância e educação remota emergencial: convergências e divergências, dos pesquisadores. In: Dinamara Pereira Machado (organizadora). Educação em tempos de COVID-19: reflexões e narrativas de pais e professores. Curitiba: Editora Dialética e Realidade, 2020.
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