ARTIGO ORIGINAL
PERCEPÇÃO DO AMBIENTE E CONDIÇÕES DE TRABALHO DE PROFESSORES DE GINÁSTICA EM ACADEMIAS
PERCEPTION OF THE ENVIRONMENT AND WORKING CONDITIONS OF GYM TEACHERS IN GYMS
PERCEPCIÓN DEL MEDIO AMBIENTE Y CONDICIONES DE TRABAJO DE LOS PROFESORES DE GIMNÁSTICA EN LAS ACADEMIAS
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA GRANDE FLORIANÓPOLIS – IESGF
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
E-mail: rubiandiego@gmail.com
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA GRANDE FLORIANÓPOLIS – IESGF
E-mail: brunamartinsgbf@gmail.com
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA GRANDE FLORIANÓPOLIS – IESGF
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
E-mail: saedfisica@gmail.com
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
E-mail: ana.martins@udesc.br
Rafaella Zulianello dos Santos
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA GRANDE FLORIANÓPOLIS – IESGF
E-mail: rafaella.zulianello@gmail.com
Data de Submissão: 04/03/2022 Data de Publicação:29/09/2022
Como citar: ANDRADE R. D. et al Percepção do ambiente e condições de trabalho de professores de ginástica em academias. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 13, n. 20, Ago - Dez. 2022. https://doi.org/10.46551/rn2022132000061
RESUMO
Analisar as condições de trabalho e percepção do ambiente de profissionais de Educação Física que atuam com ginástica coletiva. Participaram 21 professores das modalidades de Step Training, Power Jump, Cycling Indoor. O instrumento para avaliação das variáveis dependentes foi o “Perfil do Ambiente e Condições de Trabalho e Perfil do Estilo de Vida”. Esse instrumento é formado por 15 questões em cinco domínios: ambiente físico (AF), ambiente social (AS), desenvolvimento e realização profissional (DRP), remuneração e benefícios (RB) e relevância social do trabalho (RST). Utilizaram-se análises descritivas (médias e desvios-padrão), frequência simples e relativa. Para as análises inferenciais realizou-se o teste de correlação de Spearman e para a diferença entre as médias, o teste U de Mann-Whitney. Para todas as análises, considerou-se nível de significância de 5%. O domínio com menor pontuação foi o RB (5,71 pontos). Em relação aos indicadores desse domínio destaca-se sobre os benefícios de saúde oferecidos pela instituição aos trabalhadores com 1,33 pontos. Por outro lado, o domínio com melhor pontuação foi o AS (7,53 pontos), tendo como o indicador com melhor pontuação a oportunidades de lazer e congraçamento com trabalhadores e familiares (2,76 pontos). Os professores de ginástica coletiva das academias analisadas apresentaram melhor percepção no domínio Ambiente Social, destacando a relação com seus colegas e chefes. Além disso, percebem elevada a relevância social de suas empresas perante a sociedade. Por outro lado, os resultados para o domínio Remuneração e Benefícios indicam a necessidade de atenção maior, por apresentar menor pontuação entre os domínios.
Palavras-chave: Jornada de trabalho. Saúde do trabalhador. Salários e benefícios. Meio social. Qualidade de vida.
ABSTRACT
To analyze the working conditions and perception of the environment of Physical Education professionals who work with collective gymnastics. Twenty-one teachers from Step Training, Power Jump and Indoor Cycling participated. The instrument for evaluating the dependent variables was the “Profile of the Environment and Working Conditions and Lifestyle Profile”. This instrument consists of 15 questions in five domains: physical environment (AF), social environment (AS), professional development and fulfillment (DRP), remuneration and benefits (RB) and social relevance of work (RST). Descriptive analyzes (means and standard deviations), simple and relative frequency were used. For the inferential analysis, the Spearman correlation test was performed and for the difference between the means, the Mann-Whitney U test. For all analyses, a significance level of 5% was considered. The domain with the lowest score was RB (5.71 points). Regarding the indicators in this domain, the health benefits offered by the institution to workers stand out with 1.33 points. On the other hand, the domain with the best score was AS (7.53 points), with the best scoring indicator being opportunities for leisure and socializing with workers and family members (2.76 points). The collective gymnastics teachers of the analyzed gyms showed better perception in the Social Environment domain, highlighting the relationship with their colleagues and bosses. In addition, they perceive the social relevance of their companies to society as high. On the other hand, the results for the Remuneration and Benefits domain indicate the need for greater attention, as it presents a lower score among the domains.
Keywords: Work Hours. Occupational Health. Salaries and Fringe Benefits. Social environment. Quality of life.
RESUMEN
Analizar las condiciones de trabajo y la percepción del entorno de los profesionales de Educación Física que trabajan con gimnasia colectiva. Participaron 21 profesores de Step Training, Power Jump y Indoor Cycling. El instrumento de evaluación de las variables dependientes fue el “Perfil de Medio Ambiente y Condiciones de Trabajo y Perfil de Estilo de Vida”. Este instrumento consta de 15 preguntas en cinco dominios: entorno físico (AF), entorno social (AS), desarrollo y realización profesional (DRP), remuneración y beneficios (RB) y relevancia social del trabajo (RST). Se utilizaron análisis descriptivos (medias y desviaciones estándar), de frecuencia simple y relativa. Para el análisis inferencial se realizó la prueba de correlación de Spearman y para la diferencia de medias la prueba U de Mann-Whitney. Para todos los análisis se consideró un nivel de significancia del 5%. El dominio con menor puntuación fue RB (5,71 puntos). En cuanto a los indicadores en este dominio, se destacan los beneficios en salud que ofrece la institución a los trabajadores con 1,33 puntos. Por otro lado, el dominio con mejor puntuación fue AS (7,53 puntos), siendo el indicador de mejor puntuación las oportunidades de ocio y socialización con trabajadores y familiares (2,76 puntos). Los profesores colectivos de gimnasia de los gimnasios analizados mostraron mejor percepción en el dominio Ambiente Social, destacándose la relación con sus compañeros y jefes. Además, perciben que la relevancia social de sus empresas para la sociedad es alta. Por otro lado, los resultados para el dominio Remuneración y Beneficios indican la necesidad de mayor atención, ya que presenta un puntaje más bajo entre los dominios.
Palabras Clave: Jornada laboral. Salud del trabajador. Salarios y beneficios. Medio social. Calidad de vida.
INTRODUÇÃO
Os profissionais de Educação Física são considerados, por lei, responsáveis pela prestação de serviços na área do exercício físico em suas diversas facetas, incluindo a ginástica de academia (BRASIL, 1998, MANFREDI, 2002; MACHADO, 2018). A área da ginástica coletiva em academias vem se desenvolvendo a cada ano com o surgimento de novas técnicas e ou modalidades. No entanto, a discussão acerca da preocupação com a saúde destes profissionais acaba sendo negligenciada pela comunidade acadêmica, tornando assim, este debate necessário, atual e promissor. Aspectos que afetam negativamente a prática profissional destes podem impactar tanto em sua própria saúde quanto na de seus alunos/clientes. Neste sentido, o ambiente e as condições de trabalho podem ser considerados como aspectos relevantes para manutenção e melhora das funções laborais, na qualidade da prestação de serviço e na qualidade de vida no trabalho (SOUZA et al., 2015; DORSEY et al., 2016; ANTUNES; LÜDORF; COELHO FILHO, 2017). Logo, são fatores chave que afetam tanto o desempenho dos profissionais quanto a satisfação no trabalho (SAMPAIO, 2012; ANTUNES; LÜDORF; COELHO FILHO, 2017).
Ainda, uma vez que a expressão “condição de trabalho” seja bastante abrangente, pesquisadores e profissionais da área utilizam-se de alguns indicadores como a iluminação, o nível de ruído, a jornada de trabalho, a fadiga física e mental e o número de acidentes de trabalho para sua avaliação (BORGES et al., 2013; SILVA; BORGES, 2015; PIZZIO; KLEIN, 2015). Assim, um ambiente de trabalho atraente e que ofereça boas condições de trabalho garante o suprimento das necessidades de seus colaboradores no exercício de suas funções (DORSEY et al., 2016).
No que tange à relação do binômio saúde-trabalhado no contexto do profissional de Educação Física, a remuneração, as condições insalubres de trabalho, o excesso de aulas ao dia, a jornada em diferentes locais e a falta de valorização podem dificultar o exercício da profissão, bem como o prolongamento da carreira profissional (MENDES; AZEVEDO, 2014). Além disso, Hartwig et al., (2012) observaram elevada prevalência de dores musculoesqueléticas em profissionais atuantes em academias na cidade de Pelotas, ainda que a percepção de saúde no trabalho tenha sido considerada boa. Tais episódios podem indicar um certo grau de desconhecimento do profissional acerca dos reais impactos que as condições de trabalho podem acarretar na saúde do próprio trabalhador.
Portanto, o presente estudo pode servir como apoio para o desenvolvimento de políticas de saúde e qualidade de vida no trabalho que visem a atender estes aspectos que muitas vezes são desconhecidos pela própria categoria profissional. Ainda, o presente trabalho é relevante na medida que não foram identificadas pesquisas com profissionais de Educação Física atuantes exclusivamente em modalidades de ginástica coletiva, uma vez que as pesquisas publicadas sobre o assunto no contexto da Educação Física abordam em sua maioria a Educação Física Escolar (COSTA, 2018; SILVA, 2019; KRUG et al., 2020) ou Instrutores de academia (BORGES et al., 2021). Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar as condições de trabalho e percepção do ambiente de profissionais de Educação Física que atuam com ginástica coletiva em academias que contemplam alguns municípios da Grande Florianópolis.
MÉTODO
A amostra não probabilística e por conveniência foi composta por 21 professores de ginástica coletiva de municípios da região Florianópolis/SC (Florianópolis, São José e Palhoça). Como critérios de inclusão, os professores deveriam ter pelo menos um ano de atuação profissional nas modalidades de Step Training, Power Jump e Cycling Indoor e com registro no Conselho Regional de Educação Física (CREF/SC). Foram excluídos os profissionais com menos de um ano de atuação profissional, com atuação em outras modalidades de ginástica, que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), além de aqueles cujos questionários foram preenchidos de forma incompleta.
Este estudo faz parte de um macroprojeto intitulado “Condições de Trabalho e as aulas de Ginástica Coletiva”. Este estudo faz parte de um macroprojeto intitulado “Condições de Trabalho e as aulas de Ginástica Coletiva” e teve o seu desenvolvimento aprovado pelo Comitê de Ética Pesquisa da Universidade Paulista – UNIP (parecer número 3.180.468/2019). As coletas de dados aconteceram entre os meses de fevereiro e março de 2019. Devido ao cenário causado pela pandemia de Covid-19, e por conta do Decreto do Governo do Estado de Santa Catarina nº 506, de 12 de março de 2020 (isolamento social e o fechamento das academias), parte da coleta de dados foi realizada forma on-line.
Para avaliação da variável dependente Percepção do Ambiente e Condições de Trabalho, utilizou-se o instrumento elaborado por Nahas et al., (2009). O inventário contém cinco domínios: 1) Ambiente Físico (AF); 2) Ambiente Social (AS); 3) Desenvolvimento e Realização Profissional (DRP); 4) Remuneração e Benefícios (RB); e 5) Relevância social do trabalho (RST). Cada um dos domínios contêm três questões, totalizando 15 tópicos, com respostas de quatro níveis pré-estabelecidas (0 = ruim; 1 = regular/sofrível; 2 = bom/boa; 3 = excelente). A pontuação máxima para cada domínio é de 9 pontos e do instrumento completo, 45 pontos. Quanto maior a pontuação, melhor a percepção do ambiente e condições de trabalho.
Além da variável dependente, foram analisadas variáveis sociodemográficas: sexo, idade, estado civil e renda, e as variáveis profissionais: formação superior, formação complementar, modalidades de atuação e tempo de formação. Para fins estatísticos, esta última foi categorizada em iniciantes (<6 anos de formação) e veteranos (> 6 anos de formação).
O programa estatístico utilizado para a análise dos dados foi o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows versão 20.0. A distribuição não normal foi e confirmada por meio do teste de Shapiro-Wilk (p <0,05). Foram realizadas análises descritivas e inferenciais. Para as análises descritivas, foram utilizadas medidas de médias e desvios-padrão para as variáveis contínuas, e frequência simples e relativa para as variáveis categóricas. Para as análises inferenciais, realizaram-se os testes de correlação de Pearson, no qual considerou-se índice de magnitude forte rho <0,70 (MUKAKA, 2012). Para a diferença entre as médias, utilizou-se o teste TU de Mann-Whitney. Para todas as análises, considerou-se nível de significância de 5%.
RESULTADOS
No que se refere às características sociodemográficas e profissionais dos sujeitos tem-se que a maioria era do sexo masculino (66,7%), com média de idade de 34,33 (±7,0) anos, solteiros (61,9%), bacharéis em Educação Física (61,9%), formados há pelo menos 9 (±7,20) anos, pós-graduados (52,4%) e com renda salarial média de R$ 3.238,24 (±2.513,31). A modalidade com maior atuação foi o Cycling Indoor (38,1%), seguida pelo Power Jump (33,3%) e Step Training (9,5%). Ressalta-se que 19% dos sujeitos atuam em mais de uma destas modalidades.
Na Tabela 1 estão apresentados os domínios e indicadores do instrumento de Percepção do Ambiente e Condições de Trabalho. Destacam-se os resultados para o domínio AS por apresentar maior pontuação (7,53 pontos) e o domínio com menor pontuação foi o RB (5,71 pontos). Já entre os indicadores, destaca-se com menor pontuação a questão referente aos benefícios de saúde (1,33 pontos) e a maior pontuação foi obtida na questão “Sobre as oportunidades de lazer e congraçamento entre trabalhadores e familiares” (2,76 pontos).
Tabela 1. Indicadores do instrumento de percepção do ambiente e condições de trabalho (n=21).
PERCEPÇÃO DO AMBIENTE E CONDIÇÕES DE TRABALHO |
X |
DP |
Ambiente Físico (AF) |
||
Sobre as condições de limpeza e iluminação do local de trabalho |
2,33 |
0,73 |
Sobre a adequação ergonômica de mobiliário e equipamentos |
2,14 |
0,73 |
Sobre as condições de ruído e temperatura |
2,14 |
0,80 |
Total ambiente físico |
6,61 |
1,93 |
Ambiente Social (AS) |
|
|
Sobre o relacionamento com os demais trabalhadores |
2,67 |
0,58 |
Sobre o relacionamento com seu(s) chefe(s) imediato(s) |
2,48 |
0,60 |
Sobre a oportunidade para expressar opiniões relacionadas ao trabalho |
2,38 |
0,67 |
Total ambiente social |
7,53 |
1,47 |
Desenvolvimento e Realização Profissional (DRP) |
|
|
Sobre crescimento e aperfeiçoamento profissional oferecidos pela instituição |
1,57 |
1,20 |
Sobre o nível de conhecimento/habilidade para realizar suas tarefas |
2,62 |
0,50 |
Sobre o grau de motivação e ânimo ao chegar para trabalhar |
2,62 |
0,59 |
Total desenvolvimento e realização profissional |
6,81 |
1,43 |
Remuneração e Benefícios (RB) |
|
|
Sobre a remuneração em relação ao trabalho que realiza |
1,62 |
0,74 |
Sobre os benefícios de saúde oferecidos pela instituição aos trabalhadores |
1,33 |
1,01 |
Sobre as oportunidades de lazer e congraçamento entre trabalhadores e familiares |
2,76 |
3,22 |
Total remuneração e benefícios |
5,71 |
3,59 |
Relevância Social do Trabalho (RST) |
|
|
Sobre a imagem da instituição perante a sociedade |
2,52 |
0,68 |
Sobre a relevância do seu trabalho para a instituição e a sociedade |
2,43 |
0,51 |
Sobre o nível de equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal/ familiar |
2,29 |
0,84 |
Total relevância social do trabalho |
7,24 |
1,54 |
Legenda: X = média; DP = desvio-padrão.
Fonte: próprio autor
Na comparação da pontuação geral do Perfil de Ambiente e Condições de Trabalho entre os sexos não houve diferença significativa (p = 0,523). Porém, na análise de cada indicador separadamente foram identificadas diferenças nas seguintes questões: “Sobre a adequação ergonômica de mobiliário e equipamentos” (p = 0,047) com pontuação superior para o sexo masculino (homens = 2,36; mulheres = 1,71). Esse comportamento também foi identificado na questão: “Sobre os benefícios de saúde oferecidos pela instituição aos trabalhadores” (p = 0,046) (homens = 1,64; mulheres = 0,71).
Na variável formação acadêmica, também não foi identificada diferença na pontuação geral entre bacharéis e licenciados (p = 0,636). No entanto, a questão “Sobre os benefícios de saúde oferecidos pela instituição aos trabalhadores” apresentou diferença significativa entre os pares (p = 0,040). Os bacharéis apresentaram maior pontuação quando comparados aos licenciados, 1,69 e 0,71 pontos, respectivamente.
Na variável “tempo de formação” também não foi identificada diferença na pontuação geral do instrumento (p = 0,074). Entretanto, houve diferenças significativas entre as categorias nas questões “Sobre a adequação ergonômica de mobiliário e equipamentos” (p = 0,025), “Sobre o relacionamento com seu(s) chefe(s) imediato(s)” (p = 0,044) e “Sobre a remuneração em relação ao trabalho que realiza”. É possível observar que os iniciantes possuem menor percepção no que diz respeito: as adequações ergonômicas de mobiliário e equipamentos (iniciantes = 1,83; veteranos = 2,56); a relação com seus chefes imediatos (iniciantes = 2,25; veteranos = 2,78); e acerca da remuneração pelo trabalho que realiza (iniciantes = 1,33; veteranos = 2,00). Vale destacar que, nas variáveis “tipos de modalidades” não foram identificadas diferenças na pontuação geral entre os grupos e nem nos indicadores.
A Tabela 2 apresenta a análise da correlação entre os domínios. Destaca-se que na análise da correlação entre a pontuação geral dos cinco domínios, apenas AS e RB apresentaram correlação de magnitude forte (rho ≥ 0,7), positiva e significativa (rho = 0,745; p < 0,001). Desta forma, entende-se que quanto melhor a percepção da remuneração e benefícios, melhor é a percepção do ambiente social.
Tabela 2. Análise de correlação entre os domínios de Percepção do Ambiente e Condições de Trabalho
Domínios |
|
AF |
AS |
DRP |
RB |
RST |
Ambiente físico (AF) |
rho p-valor |
- - |
0,269 0,239 |
0,583 0,006* |
0,257 0,261 |
0,428 0,053 |
Ambiente social (AS) |
rho p-valor |
0,269 0,239 |
- - |
0,622 0,003* |
0,745 <0,001* |
0,476 0,029* |
Desenvolvimento e realização profissional (DRP) |
rho p-valor |
0,583 0,006* |
0,622 0,003* |
- - |
0,611 0,003* |
0,337 0,135 |
Remuneração e benefícios (RB) |
rho p-valor |
0,257 0,261 |
0,745 <0,001* |
0,611 0,003* |
- - |
0,494 0,023* |
Relevância social do trabalho (RST) |
rho p-valor |
0,428 0,053 |
0,476 0,029* |
0,337 0,135 |
0,494 0,023* |
- - |
Legenda: AF = Ambiente físico; AS = Ambiente social; DRP = Desenvolvimento e realização profissional; RB = Remuneração e benefícios; RST = Relevância social do trabalho; rho = índice de correlação; p-valor = nível de significância. * valores de p-valor significativo.
Fonte: próprio autor
A análise anterior indicou que a pontuação entre os domínios AS e RB apresentou correlação de alta intensidade. No sentido de aprofundar esta análise, realizou-se a correlação de Spearman entre os indicadores com a pontuação de cada um dos domínios (AS e RB). Os valores dos índices de correlação bem como o nível de significância estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Análise de correlação dos indicadores com os domínios AS e RB.
Indicadores do Domínio Ambiente Social (AS) |
Remuneração e Benefícios (RB) |
|
rho |
p-valor |
|
Sobre o relacionamento com os demais trabalhadores |
0,376 |
0,093 |
Sobre o relacionamento com seu(s) chefe(s) imediato(s) |
0,687 |
0,001* |
Sobrea oportunidade para expressar opiniões relacionadas ao trabalho |
0,628 |
0,002* |
Indicadores do Domínio Remuneração e Benefícios (RB) |
Ambiente Social (AS) |
|
rho |
p-valor |
|
Sobre a remuneração em relação ao trabalho que realiza |
0,542 |
0,011* |
Sobre os benefícios de saúde oferecidos pela instituição aos trabalhadores |
0,461 |
0,035* |
Sobre as oportunidades de lazer e congraçamento entre trabalhadores e familiares |
0,665 |
0,001* |
Legenda: AS = Ambiente social; RB = Remuneração e benefícios; rho = índice de correlação; p = p-valor. * valores de p-valor significativo.
Fonte: próprio autor
DISCUSSÃO
O objetivo do presente estudo foi analisar a percepção do ambiente e as condições de trabalho de professores de ginástica coletiva em academias de três municípios da região de Florianópolis. Um dos principais resultados encontrados foi a menor pontuação no domínio RB. Sobre o que tange esta questão, Machado, Freitas e Oliveira, (2017) e Machado (2018) afirmam que a valorização do profissional implica respeito, reconhecimento ao trabalho realizado. Desta forma, a valorização de uma profissão em termos de remuneração e benefícios é uma construção social e representa o valor que a sociedade atribui àquela profissão. Diante disso, é necessário que órgãos de classe, entidades contratantes, bem como o próprio profissional discutam estas questões, valorizem o trabalho realizada pelo profissional de ginástica coletiva diante da sua importância dentro estrutura organizacional da sociedade na promoção da saúde coletiva.
Na consideração particular dos indicadores, o que teve a menor pontuação foi ‘sobre os benefícios de saúde oferecidos pela instituição aos trabalhodores, o qual pertence ao domínio RB. Segundo Moitinho (2011), os benefícios podem ser proporcionados de diversas formas, como gratificações, assistência médica, odontológica, auxílio-creche ou com objetivos de proporcionar ações recreativas como, passeios, excursões, podendo assim possibilitar uma qualidade de vida para o profissional e sua família. Anversa et al., (2019), analisando a satisfação de profissionais de Educação Física que ministram aulas de ginástica de academia, identificaram que a falta de assistência em relação aos benefícios oferecidos pela empresa pode contribuir para instabilidade no emprego.
Por outro lado, o domínio com maior pontuação entre os professores foi o AS. Este domínio retrata o bom relacionamento com os colegas de trabalho e seus chefes. Estes resultados vão ao encontro de Pereira et al. (2014) que, estudando professores de educação básica, incluindo professores de Educação Física, apontaram uma percepção positiva para esse domínio por apresentar um grau de satisfação maior dos professores no ambiente de trabalho, com maior percepção dos trabalhadores no domínio ambiente social, melhorando as condições de trabalho. Nesse sentido, entre os indicadores do domínio AS, o que apresentou maior pontuação foi o referente ao relacionamento com os demais trabalhadores. O convívio social é essencial no ambiente de trabalho para se tornar um trabalho leve, produtivo, ocorrendo uma troca de conhecimento contribuindo no crescimento profissional e pessoal (MACHADO; FREITAS; OLIVEIRA, 2017; MACHADO, 2018; SANTOS, 2019).
Houve correlação positiva e significativa e com magnitude forte entre os domínios RB e AS indicando que, quanto maior a percepção de remuneração mais positiva a percepção de convívio social. Mendes e Azevedo (2014) relaram que a baixa remuneração e a desvalorização dos profissionais estão associadas ao baixo rendimento no trabalho. Além disso, os autores destacam como um dos motivos que podem levar a desistência da profissão é o mau relacionamento entre colegas de trabalho e chefes. Os profissionais de recursos humanos buscam na satisfação com o trabalho um bom indicador para o clima organizacional de uma empresa (MENDES, 2010; FERREIRA; DIAS, 2017). Ainda, em estudo realizado com 20 profissionais de ginástica coletiva, observou-se que a satisfação dos profissionais no trabalho está relacionada a fatores com diversas inter-relações, entre esses, a interação social no trabalho, a satisfação com o salário de acordo com o tempo de atuação e formação acadêmica. Evidencia-se, portanto, a importância de que rendimentos e relacionamentos sociais convergem para o mesmo sentido (ANVERSA et al., 2019; SANTOS, 2019).
Ainda, a análise da correlação entre o domínio RB com os indicadores do domínio AS mostrou que quanto melhor é o relacionamento com os chefes imediatos e a oportunidade de expressar opinião relacionada ao trabalho, a percepção de remuneração é maior. Esses resultados podem ser justificados a partir de pesquisas que apontam o quanto o apoio social e autonomia repercutem de maneira positiva na percepção de remuneração (MOITINHO, 2011; ANVERSA et al., 2019; BIROLIM et al., 2019, SANTOS, 2019). A relação entre patrão e empregados, por mais hierárquica que seja, deveria ser considerada horizontal e não vertical, como na maioria das organizações (AMORIM; COMINI; FISCHER, 2019). Esta relação favorece, muitas vezes, as relações interpessoais e provoca ambientes favoráveis, aumentando a produtividade da equipe. Assim, entende-se que para além de se ganhar bem, outros fatores como liderança democrática e empática, oportunidade de expressão, repercutem de maneira positiva nos resultados de uma organização (MOITINHO, 2011; SANTOS, 2019).
CONCLUSÃO
Professores de ginástica coletiva em academias da Grande Florianópolis, mostraram-se percepção elevadamente positiva do ambiente social (AS) em que estão inseridos, principalmente na relação com seus colegas e chefes, e ainda de suas empresas perante a sociedade. Por outro lado, os resultados apontam que se faz necessário dar maior suporte às questões relativas ao domínio Remuneração e Benefícios (RB), oportunizando aos professores de ginástica coletiva uma remuneração compatível ao nível de conhecimento, às habilidades exigidas e ao trabalho realizado. Proporcionar benefícios como plano de saúde, vale alimentação, assistência à creche, plano odontológico e participação nos lucros, visando à valorização profissional poderia ser uma maneira de fortalecer vínculos empregatícios, proporcionando assim maior estabilidade profissional e bem-estar para melhorar as condições de ambiente de trabalho. Por fim, sugere-se replicar este estudo com uma amostra maior e representativo e em outros contextos e estados brasileiros a fim de comparar as realidades profissionais.
REFERÊNCIAS
AMORIM, W.A.C.; COMINI, G.; FISCHER, A.L. Ensino e pesquisa em gestão de pessoas/gestão de recursos humanos no brasil: convergência ou divergência. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 59, n. 3, p. 215-221, 2019.
ANTUNES, M.F.C.; LÜDORF, S.M.A; COELHO FILHO, C.A.A. O trabalho do profissional de educação física com ginástica coletiva em academia. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 1, n. 22, p. 212-236, 2017.
ANVERSA, A.L.B. et al. Satisfação de profissionais de educação física na regência em aulas de ginástica de academia. Revista Psicologia e Saúde, Campo Grande, v. 11, n. 1, p. 63-71, 2019.
BIROLIM, M.M. et al. Trabalho de alta exigência entre professores: associações com fatores ocupacionais conforme o apoio social. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, p. 1255-1264, 2019.
BORGES, A.F. et al. Condições de Trabalho e Aspectos Pedagógicos de Professores de Educação Física em Academias de Ginástica. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 454-470, 2021.
BORGES, L.O. et al. Questionário de condições de trabalho: reelaboração e validação de construto. Avaliação Psicológica, Itatiba, v. 12, n. 2, p. 213-225, 2013.
BRASIL. Presidência da República. Lei n.º 9.696 de 1 de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. Brasília/DF, 1998.
COSTA, M.C.S. Trabalho docente na educação básica: as condições e a jornada de trabalho na educação física na Educação de Jovens e Adultos trabalhadores no município de Belém do Pará. Revista Trabalho Necessário, Niterói, v. 16, n. 29, p. 138-155, 2018.
DORSEY, J. et al. Using the WEIS-SR to evaluate employee perceptions of their college work environment. Work, Amsterdam, v. 54, n. 1, p. 103-111, 2016.
FERREIRA, G.B.; DIAS, C.C. A importância da qualidade de vida no trabalho e da motivação dos colaboradores de uma organização. Psicologia e Saúde em Debate, Patos de Minas, v. 3, n. 2, p. 30-43, 2017.
HARTWIG, T. et al. A. Condições de saúde de trabalhadores de academias da cidade de Pelotas-RS: um estudo de base populacional. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, Florianópolis, v. 17, n. 6, p. 500-511, 2012.
KRUG, H.N. et al. Implicações das Condições de Trabalho na Prática Pedagógica de Professores de Educação Física Iniciantes na Educação Básica. Pensar Acadêmico, Manhuaçu, v. 18, n. 3, p. 487-509, 2020.
MACHADO, C.C.; FREITAS, A.M.; OLIVEIRA, C.C.M.F. As Dificuldades do Exercício Profissional da Educação Física e o Aparecimento de Sintomas Sugestivos para a Síndrome de Burnout, no Município de Cabo Frio, RJ. Revista Olhares, Salvador, v. 1, n. 7, 2017.
MACHADO, L.R. O profissional de educação física na saúde: inserção e intervenção. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 137-146, 2018.
MANFREDI, S.M. Educação profissional no Brasil. São Paulo: Cortez editora, 2002.
MENDES, A.D. Atuação profissional e condições de trabalho do educador físico em academias de atividades físicas. 2010. 235 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
MENDES, A.D.; AZEVÊDO, P.H. O trabalho e a saúde do educador físico em academias: uma contradição no cerne da profissão. Revista brasileira de educação física e esporte, São Paulo, v. 28, n. 4, p. 599-615, 2014.
MOITINHO, G.C. Remuneração, benefícios e a retenção de talentos nas organizações. Revista Digital de Administração, Gama, v. 1, n. 1, 2011.
MUKAKA, M. A guide to appropriate use of correlation coefficient in medical research. Malawi Medical Journal, Zomba, v. 24, n. 3, p. 69-71, 2012.
NAHAS, M.V. et al. Reprodutibilidade de uma escala para avaliar a percepção dos trabalhadores quanto ao ambiente e às condições de trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 34, n. 120, p. 179-183, 2009.
PEREIRA, É.F. et al. Associação entre o perfil de ambiente e condições de trabalho com a percepção de saúde e qualidade de vida em professores de educação básica. Cadernos Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 113-119, 2014.
PIZZIO, A.; KLEIN, K. Qualidade de vida no trabalho e adoecimento no cotidiano de docentes do Ensino Superior. Educação & Sociedade, Campinas, v. 36, n. 131, p. 493-513, 2015.
SAMPAIO, J.R. Qualidade de vida no trabalho: perspectivas e desafios atuais. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 121-136, 2012.
SANTOS, C.S.F. Qualidade de vida no trabalho: O Papel da Psicologia Organizacional. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. São Paulo, v. 3, n. 4, p. 54-71, 2019.
SILVA, M.C.; BORGES, L.O. Condições de trabalho e clima de segurança dos operários da construção de edificações. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, Brasília, v. 15, n. 4, p. 407-418, 2015.
SILVA, M.M. As condições de trabalho e sua relação com o processo de ensino e aprendizagem em educação física no ensino médio em formosa (GO). 2019. 140 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) - Facultad De Ciencias Jurídicas, Políticas y de la Comunicación, Universidad Autónoma de Asunción, Assunção, 2019.
SOUZA, A.P et al. Qualidade de vida no trabalho utilizando a ginástica laboral. Saúde em Foco, São Lourenço, n. 7, p. 271-281, 2015.