NOVAS CONFIGURAÇÕES TÉCNICO-TÁTICO-ESTRATÉGICAS DO BASQUETEBOL CONTEMPORÂNEO
NEW TECHNICAL-TACTICAL-STRATEGIC CONFIGURATIONS OF CONTEMPORARY BASKETBALL
NUEVAS CONFIGURACIONES TÉCNICO-TÁCTICAS-ESTRATÉGICAS DEL BALONCESTO CONTEMPORÁNEO
Universidade do Estado do Amazonas- UEA - Amazona, Brasil.
E-mail: felipe.canan@gmail.com
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFP- Paraná, Brasil.
E-mail: chinahirata@gmail.com
Universidade do Estado do Amazonas- UEA - Amazona, Brasil.
E-mail: ycsds.edf21@uea.edu.br
Universidade do Estado do Amazonas- UEA - Amazona, Brasil.
E-mail: alpa.edf19@uea.edu.br
Universidade Estadual de Maringá - UEM- Campus Ivaiporã, Paraná, Brasil.
E-mail: joaopaulomalagutti89@hotmail.com
Data de Submissão: 19/01/2022 Data de Publicação: 24/05/2023
Como citar: CANAN, F. et al. Novas configurações técnico-tático-estratégicas do basquetebol contemporâneo. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 14, n. 21, jul. 2023. https://doi.org/10.46551/rn2022131900070
O basquetebol tem passado por contínuos processos de modificação e pormenorização da compreensão sobre estilos de jogo, funções dos jogadores e diversificação das ações tático-técnicas. Tendo essa perspectiva em vista, objetivou-se identificar e analisar novos padrões de ações tático-técnicas dos jogadores, funções estratégico-táticas dos jogadores e estilos de jogo das equipes, diferentes do que é comumente apresentado em livros didáticos tradicionais de basquetebol. Trata-se de uma pesquisa descritivo-exploratória com procedimento documental. A fonte de dados consistiu em todas as 1.795 publicações do perfil de Instagram especializado em análise de jogadores de basquetebol, denominado Central do Draft, entre setembro de 2019 e fevereiro de 2022. Foram identificadas de 105 novos ações/funções/estilos, sendo 61 ações táticos-técnicas, 39 funções estratégico-táticas e 5 estilos de jogo. A maioria diz respeito à fase ofensiva do jogo. O quantitativo de ações/funções/estilos identificadas corrobora a premissa de que o basquetebol tem se modificado e pormenorizado.
Palavras-chave: Basquetebol. Técnica. Tática. Estratégia
Basketball has been going through continuous processes of modification and detailing of understanding about styles of play, player roles and diversification of tactical-technical actions. With this perspective in mind, we aimed to identify and analyze new patterns of players' tactical-technical actions, players' strategic-tactical roles and team playing styles, different from what is commonly presented in traditional basketball textbooks. This is descriptive-exploratory research with a documentary procedure. The data source consisted of all 1,795 publications from the Instagram profile specialized in basketball player analysis, called Draft Central, between September 2019 and February 2022. A total of 105 new styles/actions/roles were identified, of which 61 tactical-technical actions, 39 strategic-tactical functions and 5 styles of play. Most concern the offensive phase of the game. The number of identified actions/roles/styles corroborates the premise that basketball has been modified and detailed.
RESUMEN
El baloncesto viene pasando por continuos procesos de modificación y profundización de la comprensión sobre los estilos de juego, roles de los jugadores y diversificación de las acciones técnico-tácticas. Con esta perspectiva en mente, el objetivo fue identificar y analizar nuevos patrones de acciones táctico-técnicas de los jugadores, roles estratégico-tácticos de los jugadores, estilos de juego de los equipos, diferentes a lo que comúnmente se presenta en los libros de texto tradicionales de baloncesto. Se trata de una investigación descriptiva-exploratoria con procedimiento documental. La fuente de datos consistió en la totalidad de las 1.795 publicaciones del perfil de Instagram especializado en análisis de jugadores de baloncesto, denominado Draft Central, entre septiembre de 2019 y febrero de 2022. Se identificaron un total de 105 nuevas acciones/funciones/estilos, de las cuales 61 acciones técnico-tácticas, 39 funciones estratégico-tácticas y 5 estilos de juego. La mayoría se refiere a la fase ofensiva del juego. La cantidad de acciones/funciones/estilos identificados corrobora la premisa de que el baloncesto ha sido modificado y detallado.
Palabras clave: Baloncesto. Técnica. Táctica. Estrategia
INTRODUÇÃO
O basquetebol tem se tornado cada vez mais dinâmico, com jogadores progressivamente mais habilidosos e polivalentes e perfis de organização de jogo cada vez mais livres, com sistemas cada vez mais abertos, menos movimentações pré-estabelecidas (popularmente chamadas de jogadas ensaiadas), concedendo maior liberdade de tomadas de decisão, criatividade e ação aos jogadores e, consequentemente, menos controle centralizado pelo treinador. Ou seja, há uma gradativa ampliação da variedade de ações tático-técnicas e funções estratégico-táticas realizadas pelos jogadores, além de mudanças nos estilos de jogo das equipes (LEITE; SAMPAIO; ABRANTES; FERREIRA, 2007; LEITE; VAZ; MAÇÃS; SAMPAIO, 2009; ALAGAPPAN, 2012; RANGEL; UGRINOWITSCH; LAMAS, 2019; ZITA, 2019; KALMAN; BOSCH, 2020).
Essa maior liberdade de organização da equipe e decisão e ação dos jogadores tem despertado o surgimento ou, no limite, tomada de consciência, reconhecimento e consequente possibilidade de aprendizagem e treinamento de diferentes ações tático-técnicas (catch and shoot, floater etc.) e características de atuação de equipes e jogadores, progressivamente assumindo funções de jogo, algumas mais e algumas menos especializadas, que vão além da tradicional divisão em posições de jogo (armador, ala e pivô), tradicionalmente citadas em livros didático-científicos de basquetebol, como por exemplo, Ferreira e De Rose Junior (2003), Paes, Montagner e Ferreira (2009), De Rose Junior (2011), Maroneze (2018) e Canan (2020).
Estas posições não obrigatoriamente deixam de existir, mas passam a conjugar-se entre si de forma a criar jogadores polivalentes por um lado, e hiper especializados por outro. Por exemplo, independentemente de serem armadores, alas ou pivôs, em ataques pautados na ideia de isolamento (LAMAS; NEGRETTI; DE ROSE JUNIOR, 2005), ou seja, em enfrentamentos de 1 contra 1 (que já é, por si só, uma nova tendência de estilo de jogo do basquetebol), enquanto um jogador assume a função de permanecer muito tempo com a bola nas mãos a fim de criar arremessos para si próprios ou para companheiros, outro assume a função de permanecer parado na zona morta (parte da quadra próxima à intersecção entre linha de fundo e lateral) para, se receber um passe, instantaneamente arremessar (ALAGAPPAN, 2012; RANGEL; UGRINOWITSCH; LAMAS, 2019; ZITA, 2019; KA1LMAN; BOSCH, 2020).
Enquanto ao primeiro concede-se liberdade e exige-se polivalência, ao segundo impõem-se restrições e exige-se especialidade e, com isso, ambos mantêm a possibilidade de serem relevantes para equipe e consequentemente de poderem continuar participando do jogo.
Essas mudanças nos estilos de jogo, nas opções estratégico-táticas das equipes, bem como nas próprias ações tático-técnicas dos jogadores, cada vez mais adaptadas e criativas, acabam sugerindo o rompimento com estereótipos tecnicistas até então entendidos como únicos e praticamente obrigatórios (LEITE; SAMPAIO; ABRANTES; FERREIRA, 2007; LEITE; VAZ; MAÇÃS; SAMPAIO, 2009) (por exemplo, o arremesso baixo e rápido de Stephen Curry, apesar de permitir ao jogador ser considerado um dos melhores arremessadores da história do basquetebol, seria considerado inadequado perante o modelo técnico historicamente considerado ideal, com ponto de soltura da bola mais alto).
Essas mudanças nas características do basquetebol podem ser decorrentes de fatores múltiplos, tais como: evolução natural do jogo; difusão da prática informal e consequente desenvolvimento de um estilo de jogo mais livre e baseado em habilidades, próprio dos pickup games (peladas), streetball (basquete de rua) e, mais recentemente, da institucionalização e difusão do basquete 3x3 (CANAN, 2021); aprimoramento da pedagogia do esporte no âmbito dos jogos esportivos de bola e, consequentemente, do basquetebol, compreendendo a importância do desenvolvimento tático (leitura de jogo, tomada de decisão) e não apenas técnico do jogador; influências provenientes de jogadores e equipes internacionalmente influentes e com estilos de jogo diferentes dos até então adotados como padrão, como por exemplo, Stephen Curry (Golden State Warriors, temporada 2022-2023) (jogo pautado em habilidade a arremessos rápidos de longa distância) e Lebron James (Los Angeles Lakers, temporada 2022-2023) (polivalência ofensiva e defensiva) no caso de jogadores, e Los Angeles Clippers de Chris Paul, Blake Griffin e DeAndre Jordan (década de 2010) (jogo pautado no pick and roll) ou Golden State Warriors de Stephen Curry, Klay Thompson e Draymond Green (década de 2010-2020) (jogo com formação coletiva baixa e rápida e muita velocidade) no caso de equipes; desenvolvimento científico dos métodos de treinamento físico dos jogadores e de análise de jogadores e jogo etc.
Muitas dessas configurações que têm se mostrado presentes e até evidentes não são necessariamente novas, mas têm vindo à tona com maior incidência a partir da década de 2010. Análises de estatísticas avançadas (que buscam, a partir de fórmulas, identificar fatores de desempenho que vão além dos tradicionais indicadores de jogo, como quantidade de arremessos, rebotes, assistências etc.) (CANAN; MALAGUTTI; HIRATA, 2021) e pormenorização de perfis de jogadores e equipes de basquetebol, que consideram a intersecção entre aspectos estratégicos, táticos, técnicos, físicos e até psicológicos são comuns em âmbito internacional, especialmente norte-americano em relação à NBA (liga norte-americana de basquetebol masculino).
Além do próprio site da NBA e outros especializados em basquetebol ou estatísticas esportivas, um bom exemplo é o MIT Sloan Sports Analytics Conference, que se trata de um dos mais relevantes, senão o mais importante evento internacional destinado à difusão e discussão de trabalhos e pesquisas relacionadas à análise estatística em esporte, dentre os quais, o basquetebol, voltado a profissionais (executivos e pesquisadores líderes) e estudantes envolvidos com a indústria esportiva (MIT SLOAN SPORTS ANALYTICS CONFERENCE, 2023).
No Brasil, contudo, esse tipo de evento, de análise estatística mais profunda e de publicações científicas e não científicas a respeito são mais escassos. Esse tipo de análise e percepção do jogo tem sido difundido especialmente pelos canais de mídia dinâmica e espontânea, não necessariamente comerciais, como blogs e, principalmente, redes sociais, além, inclusive, de jogos eletrônicos. O perfil de Facebook/Instagram chamado Central do Draft (2019), por exemplo, propõe-se a ser o maior canal do Brasil em análise de jogadores. Mesmo dedicando-se a análises muito específicas que fogem ao senso comum e conhecimento popular e tendo como escopo jogadores da NBA e, sobretudo, jovens prospectos que buscam chegar à NBA, detém mais de duas dezenas de milhar de seguidores no Brasil.
Ao contrário dos livros e artigos científicos escritos em português em geral, muitos jogos eletrônicos e principalmente esses canais dinâmicos de comunicação online apresentam uma informação atual e com tradução simultânea do que vem sendo discutido em países com outros idiomas, especialmente o Estados Unidos da América, país central do basquetebol no mundo (onde o basquetebol foi inventado, onde é mais difundido/popular, que detém as mais importantes ligas profissionais e universitárias do mundo e que detém hegemonia em termos de títulos internacionais) e que tem como característica a adoção de análises estatísticas e científicas aplicadas a melhorias nas modalidades esportivas nele praticadas (SALVADOR, 2004).
Ao mesmo tempo, esses canais midiáticos mostram-se ágeis e atuais, pois, além de buscarem justamente difundir e analisar/discutir a informação atual, não se prendem aos procedimentos burocráticos para publicação de materiais didáticos e/ou científicos. Em outras palavras, ainda que não gozem do status de publicação científica, não por isso devem ser caracterizados como informação de baixa qualidade. Pelo contrário, justamente pela constante avaliação popular à qual são submetidos diariamente, pois que mídias de elevado alcance social, mostram-se compromissados com a qualidade das informações que produzem. Como colocam Tomaél, Alcará e Di Chiara (2005), as redes sociais não apenas difundem informação, mas também constroem conhecimento e produzem inovação. Desprezá-las enquanto fonte de conhecimento em um mundo informatizado e globalizado pode mostrar-se um erro. Obviamente, é necessário que o leitor, principalmente no que diz respeito à produção científica, estabeleça filtros em relação à qualidade dos perfis e informações selecionadas.
Em termos específicos de basquetebol, o que se percebe, assim, é uma disparidade entre o conteúdo identificado em publicações didáticas e científicas, como livros e artigos, e informação veiculada via mídias sociais. Em outras palavras, parece que a “língua falada" nos livros tem sido diferente da “língua falada” no cotidiano popular do basquetebol.
Enquanto os primeiros ainda prendem-se a padrões técnicos, táticos e estratégicos (tipos de arremesso divididos em parado com uma das mãos, jump, bandeja e gancho ou posicionamento dos jogadores divididos em armador, ala a pivô, por exemplo), as mídias sociais identificam novas variantes que retratam a diversificação pela qual o basquetebol tem passado (funções de jogo, como os 3-and-D e playmaker, tipos/situações de arremesso, como catch and shoot, fadeaway, pullup etc., estilos de jogo como small ball, por exemplo) e que já são conhecidas por espectadores mais aficionados e inclusive citadas em transmissões televisivas, principalmente da NBA, mas não ainda apresentadas/difundidas científica e didaticamente em veículos próprios para tal.
Dessa forma, acredita-se que a análise do conteúdo dessas mídias no que diz respeito a questões técnicas, táticas e estratégicas do basquetebol possa contribuir para um aprimoramento científico, didático e pedagógico sobre o tema, consequentemente ajudando a aprimorar a compreensão sobre essa modalidade esportiva e seus processos de ensino-aprendizagem-treinamento. Tendo esses pressupostos e essa finalidade em vista, adotou-se como objetivo deste artigo identificar e analisar novos padrões de elementos técnicos, táticos e estratégicos do basquetebol.
É bom esclarecer que, isso não significa desconsiderar, desprezar ou superar o conhecimento tradicional que ainda mantém-se presente, importante e de base para compreensão e ensino do basquetebol, mas sim, agregar a ele a partir das novas dinâmicas que têm permeado esse esporte.
Realizou-se uma pesquisa documental de caráter descritivo-exploratório, abordagem qualitativa e procedimento documental. Silveira e Córdova (2009) apontam que a pesquisa descritiva busca descrever fatos e fenômenos de determinada realidade, utilizando para tal, dentre outros meios, a análise de documentos.
A pesquisa exploratória, por sua vez, debruça-se sobre objetos ainda pouco estudados, buscando esclarecer, desenvolver ou mesmo modificar ideias e conceitos (GIL, 2008). A abordagem qualitativa não visa à representatividade numérica, mas sim uma compreensão aprofundada sobre o tema estudado, levando em consideração padrões, mas também pormenores. O procedimento de pesquisa documental adota como fonte de análise, materiais que ainda não foram explorados e descritos seguindo padrões científicos (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009). A fonte documental adotada foi o já citado perfil de Facebook/Instagram Central do Draft. Esta fonte foi selecionada intencionalmente em decorrência de alguns fatores:
- [1] propõe-se a ser o maior canal do Brasil em análise de jogadores (CENTRAL DO DRAFT, 2019), dedicando-se desde 2017 a esse intento (no início, somente o Facebook).
- [2] É um perfil brasileiro e apresenta conteúdo em português, o que demonstra que os dados identificados condizem com um conhecimento já introduzido em cenário nacional, ainda que não necessariamente interpretados e analisados cientificamente (isso significa que a pesquisa não busca verificar atualizações técnicas, táticas e estratégicas conhecidas apenas no exterior e forçar sua inserção em solo nacional, mas sim que busca reconhecer e analisar dados que, por provirem de uma fonte nacional, já poderiam estar sendo mais profundamente incorporados nos processos de ensino, treinamento e competição do basquetebol brasileiro).
- [3] Encontra-se ativo no ano de 2022, período da coleta de dados.
- [4] Tem mais de vinte mil seguidores no Brasil (pouco mais de 26 mil no Facebook e praticamente 20 mil no Instagram), demostrando relevância social mesmo sem dedicar-se a noticiários e postagem sensacionalistas.
- [5] Tem como conteúdo exclusivo, a análise de jogadores e equipes (não abrangendo notícias sobre resultados de jogos, negociações, curiosidades etc.), reconhecendo e interpretando ações técnicas, condutas táticas, opções estratégicas e, ainda, perfis físicos de maneira especializada e aprofundada, indo além da percepção de opções/condutas/ações/perfis mais tradicionalmente considerados no basquetebol.
O recorte temporal selecionado para coleta de dados foi de setembro de 2019 a fevereiro de 2022. Esse recorte é justificado pelo fato de que, no mês de junho de 2019, o perfil, que até então se chamava NBA Rookies Brasil, sofreu um colapso e teve deletado todo seu conteúdo de 2017 até então, restabelecendo-se em setembro de 2019, já com o nome de Central do Draft. O mês de fevereiro de 2022 justifica-se por ser o período de coleta de dados. Todas as 1.795 publicações do perfil neste interim de dois anos e cinco meses foram coletadas e analisadas.
Foram adotadas quatro categorias de análise: [A] novas ações tático-técnicas, para além da divisão tradicional entre drible, passe e arremesso (exemplos: floater, catch and shoot etc.); [B] novas funções estratégico-táticas dos jogadores, para além da tradicional divisão entre armador, ala e pivô (exemplos: playmaker, 3-and-D etc.); [C] novas tendências de opções estratégico-táticas (estilos de jogo) das equipes, para além das movimentações ensaiadas (exemplos: small ball, run and gun etc.).
Buscou-se verificar a incidência de novos conceitos em relação à cada categoria, bem como possíveis explicações expressas ou tácitas (a partir do contexto em que se encontravam no texto e/ou do exemplo) sobre eles. Por exemplo, ao fazer a análise de um jogador, a publicação pode mencionar que ele é um destaque na função de 3-and-D, que se adapta bem ao estilo de jogo small ball e se destaca pela eficácia no catch and shoot. Se somente com essa descrição do jogador ainda não for possível compreender os respectivos conceitos de 3-and-D, small ball e catch and shoot, eles são buscados/complementados a partir de outras publicações feitas pelo perfil.
Caso, mesmo com o somatório de publicações do perfil, alguma ação/função/estilo não tenha sido suficientemente bem-conceituada, buscou-se complemento para sua compreensão a partir de três meios: outros perfis de redes sociais que abordem análise de jogadores e equipes; internet de maneira geral, mesmo que em idioma diferente do português; interpretações e diálogos tecidos entre os autores da pesquisa. Os resultados são apresentados de maneira descritiva, com o nome da ação/função/estilo e seu conceito já sintetizado pelos autores da pesquisa.
A análise possibilitou a identificação de 105 funções/estilos/ações, sendo 61 novas ações táticos-técnicas, 39 novas funções estratégico-táticas e 5 novos estilos de jogo, na sequência apresentadas tendo em conta sua destinação às fases de jogo ofensiva, defensivas ou ambas.
Novas ações tático-técnicas dos jogadores
Nesta categoria não são abordados somente novos tipos de ações tático-técnicas, mas principalmente variações e pormenores de ações já tradicionalmente conhecidas e difundidas. Ou seja, as ações tático-técnicas dificilmente vão além das tradicionais (drible, passe, arremesso, rebote, bloqueio) normalmente apontadas em livros didático-científicos de basquetebol, como os de Ferreira e De Rose Junior (2003), Paes, Montagner e Ferreira (2009), De Rose Junior (2011), Maroneze (2018) e Canan (2020), por exemplo, mas todas essas ações apresentam uma vasta gama de possibilidades de variação e aplicação em diferentes situações de jogo, que, se reconhecidas e difundidas, podem ser incorporadas às rotinas de ensino-aprendizagem-treinamento, consequentemente aprimorando as competências dos jogadores. As novas ações tático-técnicas são listadas e conceituadas no Quadro 1.
Quadro 1: Novas ações tático-técnicas dos jogadores
Fase do jogo |
Ação |
Conceito |
Ofensiva |
Absorção de contato |
Firmeza no equilíbrio corporal e proteção da bola ao receber contato durante a passada ou finalização da badeja. |
Backdoor |
Ação em que o jogador explora os espaços vagos encontrados atrás da defesa, oferecendo opção de passe. |
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Bandeja reversa |
Bandeja na qual o jogador realiza a passada ou o solto de um lado do aro para o outro, utilizando-o como escudo contra o bloqueio do defensor. |
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Catch and finish |
Ação em que o jogador recebe o passe já na passada em direção à cesta, culminando na bandeja ou enterrada. |
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Catch and shoot |
Arremesso rápido e fluido diretamente após receber um passe. |
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Counter move o contramovimento |
Movimento de variação e/ou sequência do go-to-move, no qual o jogador também é especialista. |
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Criação de contato |
Projeção do corpo (sem cometer falta), normalmente o ombro, contra o defensor, durante a passada o finalização da bandeja. |
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Criação do próprio arremesso |
Ação em que o jogador consegue criar espaço para seus arremessos fazendo uso de drible, fintas, cortes, fisicalidade, movimentos de perna (step back, side steps, eurosteps) e variações de arremesso. |
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Drive and dish |
Ação em que o jogador infiltra com bola, atraindo a defesa e então a passa a um companheiro posicionado ou infiltrando sem bola o garrafão. |
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Drive and kick |
Ação em que o jogador infiltra com bola, atraindo a defesa e então a passa a um companheiro posicionado no perímetro. |
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Drop off |
Passe próprio do drive and dish, pelo qual o atacante que infiltrou com bola, a “deixa” (“faz um passe curto ou entrega” a um companheiro posicionado ou infiltrando no garrafão). |
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Drop step |
Passo para diagonal traseira realizado pelo jogador que se encontra no poste, sucedido por giro e finalização. |
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Escape dribble |
Ação em que o atacante faz uma finta de arremesso (finge que vai arremessar) realiza um drible e dá um passo para o lado, reequilibra-se e arremessa. |
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Eurostep |
Passada da bandeja, normalmente bem alargada, na qual cada passo é feito em diagonal (e não para frente ou cruzado), em busca de fintar o defensor. |
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Face up |
Jogada de 1 contra 1 em que o atacante se encontra de frente para a cesta sem ainda ter realizado o drible. |
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Fadeaway |
Arremesso realizado com salto para trás. |
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Floater |
Espécie de bandeja ou arremesso pós-parada brusca do drible, cuja finalização é feita com um único braço (semelhante a um gancho, mas de frente para cesta) e próxima ao centro do garrafão (ou distância equivalente pelas diagonais ou laterais), com uso de um arco bastante alto da bola para encobrir os defensores protetores de aro. |
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Parte da técnica de arremesso considerada ideal, na qual, após soltar a bola, o jogador mantem a posição de finalização de arremesso durante alguns milésimos/segundos (ação de “seguir a bola”). |
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Gancho curto |
Arremesso feito com apenas uma mão, estando o braço lateralizado em relação à cesta, utilizado tanto em bandejas quanto no poste baixo. |
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Go-to-move |
Movimento funcional no jogador qual o jogador é especialista, normalmente relacionado a algum tipo de finta. |
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Handoff |
Ação em que o jogador entrega a bola na mão do companheiro que passa por trás, normalmente simultaneamente realizando um bloqueio em seu defensor. |
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Hang drible |
Finta de drible em que o jogador parece que o jogador vai acelerar, mas acaba hesitando e arremessando. |
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Hesitação |
Finta de drible em que o jogador freia seu deslocamento, parecendo que vai parar ou arremessar, mas rapidamente acelera novamente. |
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High low |
Passe realizado do jogador no poste alto para o jogador no poste baixo, normalmente antecedido por um ou mais bloqueios diretos e/ou indiretos. |
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Hockey assist |
Espécie de pré-assistência, pela qual o jogador realiza um passe que desequilibra a defesa, sendo a jogada continuada por uma assistência do jogador que recebeu o passe. |
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In-and-out |
Ação em que o jogador, driblando, ameaça uma mudança de direção (como se fosse trocar a bola de mão), mas não o faz. |
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Jab |
Ação em que o jogador ameaça dar o primeiro passo e iniciar a corrida, a partir da bola segurada sem drible. |
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Jump stop |
Ação em que o jogador realiza uma parada brusca após o drible, equilibrando-se sobre as duas pernas para arremessar. |
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Lob |
Passe realizado sobre o companheiro posicionado no poste baixo, sobre o seu defensor, que se encontra fechando a linha do passe e não a linha da cesta. Regra geral, o receptor realiza o escoramento no defensor, para poder receber o passe. |
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Manutenção da bola acima da cabeça |
Utilização da altura e do corpo para mantar a bola acima da cabeça dentro ou na proximidade do garrafão ofensivo, visando a proteção, o passe ou o arremesso contra defensor mais baixos. |
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One dribble pullup |
Ação em que o jogador, a partir da bola segurada, realiza um drible concomitante a um passo para frente, reequilibra-se com o segundo passo e arremessa. |
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Pace |
Ritmo com que uma equipe ou um jogador atua ofensivamente. |
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Passe de entrada no garrafão |
Passe realizado a um companheiro que infiltra sem bola em velocidade, recebendo-a já na passada da bandeja. |
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Pick and pop |
Ação em dupla, na qual o atacante sem bola realiza um bloqueio para o atacante com bola e, depois de fazê-lo, gira em direção ao perímetro, oferecendo opção de passe, especialmente se a defesa se preocupou em congestionar o garrafão. |
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Pick and Roll |
Ação em dupla, na qual o atacante sem bola realiza um bloqueio para o atacante com bola e, depois de fazê-lo, gira em direção à cesta, oferecendo opção de passe, especialmente se a defesa realizou a troca e caracterizou-se um mismatch. |
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Pindown |
Bloqueio indireto realizado por um jogador mais próximo à cesta para um jogador mais distante da cesta, em posição diagonal à mesma. |
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Pocket pass |
Passe entre os defensores. |
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Ponte de passe |
Ação em que um pivô ou ala-pivô recebe a bola no perímetro ou cotovelos e a segura para que os companheiros possam se movimentar em busca de desequilibrar a defesa e receber o passe. |
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Primeiro passo |
Passada rápida em direção à cesta, ultrapassando o adversário a partir da do domínio da bola ou do drible. |
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Pullup |
Arremesso rápido e fluido, realizado a partir de uma transição contínua diretamente do drible, bastante utilizado após a saída do bloqueio. |
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Pump fake |
Finta de arremesso. |
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Putback |
Ação em que o jogador conquista o rebote de ataque e simultaneamente realiza uma enterrada. Popularmente chamado de rebodunk. |
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Recepção de passes em áreas congestionadas |
Ação de receber o passe em meio a vários defensores, com utilização do escoramento e projeção em direção à bola. |
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Runner |
Espécie de bandeja, cuja finalização é feita antes do centro do garrafão (ou distância equivalente pelas diagonais ou laterais), com movimento de braços idêntico ao do arremesso. Popularmente chamado de bandejump. |
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Scoop shot |
Bandeja com finalização realizada de baixo para cima. |
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Separação |
Ação de criar espaço frente a uma marcador próximo, ultrapassando-o ou distanciando-o a partir de fintas e fisicalidade. |
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Shooting pocket |
Posição de pega de bola ideal para iniciar o arremesso, sem a necessidade de ajeitá-la para realiza-lo. |
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Side step |
Passo para o lado, seguido de arremesso, após finta de drible para frente ou para o lado oposto. |
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Skip pass |
Passe que atravessa a quadra. |
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Slip screen |
Ação em que o atacante sem bola ameaça realizar um bloqueio, mas, percebendo um espaço vazio deixado pela tentativa de antecipação da defesa, o ocupa, oferecendo opção de passe. |
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Spot up |
Ação em que o jogador se mantém parado, pré-ativado para projetar o arremesso logo que receber o passe, realizando o catch and shoot. |
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Step back |
Passo para trás seguido de arremesso, após finta de drible para frente. |
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Turnaround |
Arremesso realizado após o drop step, com o jogador utilizando o segundo passo para girar e se equilibrar sobre ambos os pés, de frente para a cesta. |
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Wide open |
Situação em que o defensor mais próximo se encontra a, no mínimo, 1,8 metros de distância. |
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Defensiva
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Box out |
Ação em que um defensor escora (segura com o corpo) um atacante, impedindo-o de se aproximar da cesta, em uma disputa de rebotes. |
Closeout |
Ação em que um defensor se aproxima de um atacante com bola que se encontra livre, tentando impedir seu arremesso ou fechar as linhas de infiltração. |
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Hard hedge ou blitz |
Ação em que o defensor do atacante que realiza o bloqueio adversário passa a defender o atacante que recebeu o bloqueio, pressionando-o antes mesmo do início do seu drible ou ao menos a fim de que não tenha liberdade para arremessar, mas consequentemente arriscando ser ultrapassado a partir do drible. |
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Semidobrada |
Ação em que um defensor abandona parcialmente o atacante que está marcando para aproximar-se do atacante com bola, somando-se ao marcador deste e diminuindo seu espaço de ação. |
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Soft hedge ou drop coverage |
Ação em que o defensor do atacante que realiza o bloqueio adversário passa a defender o atacante que recebeu o bloqueio, mas em vez de aproximar-se deste, permanece recuado protegendo o aro, a fim de evitar o mismatch, mas consequentemente oferecendo liberdade para o arremesso demeia ou longa distância. |
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Under |
Ação em que o defensor que sofre um bloqueio passa por trás do defensor do bloqueador para tentar reencontrar o atacante que estava marcando. |
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Ofensiva e defensiva |
Saltos consecutivos |
Ação em que o jogador consegue saltar rapidamente várias vezes, como se estivesse “quicando”, utilizada na proteção do aro e na disputa de rebotes. |
Fonte: dados da pesquisa.
Pelo Quadro 1 é possível identificar que a maioria das novas ações tático-técnicas diz respeito à fase ofensiva do jogo, principalmente relacionadas a variações de arremesso. Por exemplo, o floater é uma variação da tradicional bandeja, mas realizado com pormenores específicos. Um step back não é um arremesso em si, mas um movimento específico prévio que permite ao jogador se desvencilhar do marcador e arremessar. O follow through é uma parte da técnica de arremesso. E assim por diante. É importante que professor/treinador conheça essas variações para poder intencionalmente ensiná-las e não apenas esperar que os jogadores a aprendam incidentalmente.
Além das variações de arremesso, são também bastante incidentes as condutas táticas, ou seja, ações que não são gestos técnicos em si, mas sim diferentes possibilidades de decisões e comportamentos esperados para situações específicas de jogo (CAÑADAS ALONSO; IBÁÑEZ GODOY, 2010; CANAN; MALAGUTTI; HIRATA, 2019). Absorção de contato, criação de contato, criação do próprio arremesso, backdoor, recepção de passe em áreas congestionadas, drop off, sleep screen etc., são exemplos dessas condutas. Não há uma técnica específica para cada qual, mas sim um conjunto de decisões e ações que variam a cada situação e que, por isso, precisam ser aprendidas e aprimoradas em situações de jogo. Note-se, por exemplo, que um floater, um runner, um turnaround etc. podem ser aprendidos e treinados tecnicamente, repetitivamente, sem necessariamente o contexto de jogo (o que, claro, não significa que não devam também ser aprendidos em treinados em situações de jogo), ao passo que um backdoor, drop off, sleep screen ou as condutas defensivas em geral somente existem se existir uma situação de jogo.
Novas funções estratégico-táticas dos jogadores
Nesta categoria são abrangidas as funções estratégico-táticas dos jogadores, ou seja, os papeis exercidos dentro do jogo ou em determinamos momentos do jogo. Essas funções não necessariamente substituem a tradicional classificação posicional dos jogadores (armador, ala-armador, ala, ala-pivô e pivô), mas sim, somam-se a ela, demonstrando diferentes atributos possíveis na atuação de cada qual. Um panorama pormenorizado dessas funções ou especialidades de jogo é apresentado no Quadro 2.
Quadro 2: Novas funções ou especialidades estratégico-táticas dos jogadores
Fonte: dados da pesquisa.
Ao se analisar as funções e descritas no Quadro 2, identifica-se 3 tipos de categorias: funções estratégico-táticas propriamente ditas; especialidades do jogador; características peculiares do jogador. No primeiro caso, são encontradas as funções em si, ou seja, as formas como o jogador atuam em relação à sua posição de jogo (seria o “como o jogador atua em quadra). Algumas funções dizem respeito a especificidades no desempenho ofensivo e defensivo do jogador, ao passo que outras se preocupam apenas com a atuação ofensiva ou defensiva. Nestes últimos casos, a atuação do jogador na fase de jogo não abrangida pela função é determinada pelo que tradicionalmente se espera de cada posição de jogo. Nessa categoria são encontrados o espaçador de quadra, espaçador vertical, go-to-guy, lead guard, point center, point forward, sniper, defensive stopper, defensor de ajuda, defensor de perímetro, defensor disruptivo, defensor versátil, protetor de aro (rim protector), 3-and-D, combo forward, combo guard, pivô de small ball, playmaker, power guard, stretch 4, stretch 5 e wing (híbrido das posições 2 e 3).
Na categoria “especialidades”, identificam-se não exatamente formas de atuar, mas sim atributos tático-técnicos em que o jogador é especialista, que contribuem para o que o jogador encaixe-se em determinada função. Defensivamente, a especialidade acaba se confundindo com a própria função, pois que a habilidade específica que o jogador apresenta consiste no próprio papel que executa. Um protetor de aro, por exemplo, trata-se de um jogador com habilidade para defender sua cesta atuando dentro ou próximo ao garrafão, o que, por si só, já determina que é nessa região que ele atuará, não saindo ou saindo pouco para ajudas, coberturas e defesas de perímetro. Dessa maneira, todas as especialidades elencadas dizem respeito à fase de ataque do jogo, sendo: ball handler, cutter, pontuador metódico e eficiente, pontuador por volume de jogo, rim runner, roller, screener, shooter, slasher e trailer.
A categoria de características peculiares, por sua vez, não se trata de uma função ou especialidade em si, mas sim de alguma caracterização propriamente dita, algum tipo de atributo que identifica uma potencialidade (ou eventualmente uma fraqueza) do jogador. Abrange o clutch, hopper, streaky, pesky, game changer, homem de energia e two-way player.
Percebe-se, pela análise, que as três categorias de funções estratégico-táticas identificadas se complementam. Por exemplo, 3-and-D trata-se de uma função de ataque e defesa que necessita de uma especialidade ofensiva de shooter, funções defensivas de defensor do perímetro e defensive stopper e, eventualmente, dependendo do momento do jogo, das características defensivas de pesky e homem de energia. Um exemplo é o jogador Patrick Beverley (Los Angeles Lakers na temporada 2022-2023).
Outros exemplos que ilustram as intersecções entre as categorias são os de Stephen Curry e Clay Thompson (Golden State Warriors, temporada 2022-2023) ou o de Rudy Gobert (Minnesota Timberwolves na temporada 2022-2023). Os dois primeiros são shooters (dois dos maiores arremessadores da história do basquetebol mundial), mas Curry é considerado um game changer ofensivo, enquanto Thompson afigura-se como um two-way player e, no jogo, Curry exerce a função de lead guard enquanto Thompson cumpre a função de 3-and-D. Gobert, por sua vez, trata-se de um espaçador vertical no ataque e um protetor de aro e defensor disruptivo na defesa, apresenta especialidade de screener e é considerado um game changer defensivo.
Novas opções estratégico-táticas (estilos de jogo) das equipes
Nos livros didático-científicos de basquetebol, como por exemplo, Ferreira e De Rose Junior (2003), Paes, Montagner e Ferreira (2009), De Rose Junior (2011), Maroneze (2018) e Canan (2020), é comum que a apresentação da organização ofensiva abranja a citação das posições tradicionais de jogo (armador, ala e pivô) e dos chamados sistemas de ataque, elaborados conforme a quantidade de pivôs adotada pela equipe (1 pivô, 2 pivôs ou 5 abertos, ou seja, nenhum pivô). Pautam-se, em geral, em um padrão tradicional de basquetebol, com as posições dos jogadores bem definidas a até mesmo fixas. Eventualmente é apresentada alguma movimentação ensaiada (jogada flex, chifre etc.).
A defesa, por sua vez, normalmente é dividida entre individual (homem a homem), por zona ou mista. Em alguns casos, são apresentadas também condutas táticas individuais, em duplas ou trios, como flutuações, ajudas, coberturas e trocas de marcação. É comum que o contra-ataque também seja lembrado, normalmente dividido em primário (máximo um passe até a finalização) ou secundário (conjunto de passes trocados em velocidade até a finalização).
Um padrão um pouco mais contemporâneo, que busca apresentar mais variações organizacionais e de movimentações é identificado em Pelosini e Rocha (2021), mas mesmo nesses autores são pouco identificados estilos de jogo em termos de possibilidades de formação das equipes (conforme as funções estratégico-táticas dos jogadores), velocidade/ritmo das ações, controle da posse de bola, comportamentos defensivos coletivos etc. Exemplos desses estilos de jogo são interpretados e apresentados no Quadro 3.
Quadro 3: Novas opções estratégico-táticas (estilos de jogo) das equipes
Fase do jogo |
Estilo de jogo |
Conceito |
Ofensiva
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Criação de mismatches e cross-matches |
Organização ofensiva que se utiliza de muita velocidade na transição da defesa para o ataque (mesmo após a equipe ter sofrido a cesta) visando a geração de cross-matches (mismatches logo no início da posse de bola). Caso não haja finalização, o ataque tem continuidade com a realização de muitos bloqueios (diretos e indiretos) para forçar trocas defensivas e, assim, continuar criando mismatches no perímetro (atacante ágil marcado por um defensor lento) ou no poste (atacante alto marcado por um defensor baixo). |
Fast pace ou run and gun |
Jogo em alta velocidade, baseado no contra-ataque e transição rápida da defesa para o ataque mesmo após a equipe ter sofrido a cesta. |
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Isolation (ISO) |
Organização ofensiva baseada na criação de situações de isolamento para que um go-to-guy da equipe possa atacar em 1 contra 1. Normalmente adota um sistema de 5 abertos, ou seja, todos os jogadores da equipe atuando no perímetro, deixando o garrafão livre. Normalmente o isolamento é antecedido por um bloqueio, na tentativa de que a equipe adversária realize uma troca defensiva e, assim, seja criado um mismatch (situação em que o defensor tem poucos recursos apropriados para defender o atacante que está defendendo). |
|
Defensiva |
Trocas defensivas constantes |
Organização defensiva em que os jogadores trocam de atacante a cada bloqueio realizado pela equipe adversária. Baseia-se na versatilidade defensiva dos jogadores, especialmente no que diz respeito à competência de defesa no perímetro (deslocamento lateral e manutenção da posição entre o atacante e a cesta). |
Ofensiva e defensiva |
Small ball |
Formação coletiva sem um pivô (e muitas vezes também sem um ala-pivô) tradicional, utilizando em seu lugar um jogador mais ágil. Essa formação baseia-se na versatilidade ofensiva e defensiva. No ataque, não exatamente uma posição fixa dos jogadores, que rotacionam pelo perímetro, deixando o garrafão livre para infiltrações. Na defesa, há flutuações, ajudas, coberturas e trocas constantes. |
Fonte: dados da pesquisa.
Tendo em conta que o perfil Central do Draft se preocupa prioritariamente em analisar jogadores e não equipes, os estilos de jogo coletivos são abordados com menos incidência, normalmente somente servindo de subsídio justamente para que se possa compreender a função do jogador dentro da equipe. Contudo, ainda assim foi possível abstrair alguns estilos de jogo que foge às formações tradicionais supracitadas.
O que se percebe é uma tendência eminente a um basquetebol jogador de maneira mais rápida (cross-matches, fast pace, small ball) e fluida e dinâmica (mismatches, trocas defensivas constantes), com menos incidência do basquetebol tradicional com 1 ou 2 pivôs no poste. O jogo de ISO parece uma opção feita por poucas equipes e/ou restrito a momentos finais dos 24 segundos de ataque, quando as demais opções não funcionaram.
Para, além disso, é importante se considerar que os estilos não necessariamente se opõem, mas, ao contrário, se complementam. A formação de small ball, por exemplo, favorece o jogo mais rápido e dinâmico próprio do fast pace, tentando gerar um cross-match inicial, continuando em busca de mismatches constantes e, não sendo efetivos, finalizando a partir do 1 contra 1 em ações de ISO.
Defensivamente, como consequência desse jogo mais dinâmico em que há muita velocidade e versatilidade ofensiva (com os 5 atacantes abertos), tem-se optado pela realização de trocas defensivas constantes, o que, por sua vez, exige defensores também cada vez mais versáteis, capazes de evitar ou minimizar os mismatches criados pelo ataque.
As 105 ações/funções/estilos corroboram a premissa de que o basquetebol tem se modificado ao longo dos anos e acrescentado novos elementos técnicos, táticos e estratégicos ao seu rol de conteúdos a serem ensinados, aprendidos e treinados. Não significa que todos eles sejam ações/funções/estilos até então inexistentes, mas sim que muitos deles eram, até então, realizados somente incidentalmente, consequentemente correndo o risco de não serem ensinados, aprendidos e treinados.
Em outras palavras, as ações/funções/estilos, quando não efetivamente novas, têm passado por um processo de identificação e reconhecimento, podendo, assim, materializar-se como um conteúdo conhecido e, então, intencionalmente trabalhado em processos de ensino-aprendizagem-treinamento.
Vale destacar que o rol de ações/funções/estilos apresentado não se pretende definitivo. Muito pelo contrário, ele, além de apresentar-se limitado, pois que se baseou em uma única fonte de dados (Central do Draft), tem o condão de servir somente como um ponto de partida para que outras ações/funções/estilos possam ser identificadas e para que aquelas identificadas possam ser mais bem compreendidas e difundidas em pesquisas posteriores.
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