ARTIGO ORIGINAL

 

SAÚDE MENTAL EM DOCENTES UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS E FATORES ASSOCIADOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

 

MENTAL HEALTH IN BRAZILIAN UNIVERSITY PROFESSORS AND ASSOCIATED FACTORS: AN INTEGRATIVE REVIEW

 

SALUD MENTAL EN PROFESORES UNIVERSITARIOS BRASILEÑOS Y FACTORES ASOCIADOS: UNA REVISIÓN INTEGRADORA

 

Pedro Henrique Almeida Santos  

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

E-mail: pedrouni21@gmail.com

 

Marcus Vinícius Almeida Neves   

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

E-mail: marcusalmeida555@gmail.com

 

Saulo Daniel Mendes Cunha  

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

E-mail: saulodanc@yahoo.com.br

 

Data de Submissão: 23/07/2023 Data de Publicação: 06/12/2023

Como citar: SANTOS, P. H. A.; NEVES, M. V, A.; CUNHA, S.D. M. Saúde mental em docentes universitários brasileiros e fatores associados: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 14, n. 22, dez. 2023. https://doi.org/10.46551/rn2023142200077

 

RESUMO

Investigar os múltiplos agentes estressores e seus fatores de risco para o adoecimento psicológico em professores universitários. Trata-se de uma revisão integrativa, de caráter teórico e descritivo. Foram incluídos no estudo artigos originais, quantitativos e qualitativos, publicados entre janeiro de 2010 a dezembro de 2019. Os artigos foram selecionados através das bases de dados PubMed, Periódicos CAPES e LILACS. Foram utilizados os descritores saúde mental e professores universitários e seus correspondentes na língua inglesa. Obteve-se inicialmente 1.992 publicações, sendo 12 artigos selecionados ao final para construção da revisão integrativa. A maioria dos artigos selecionados apresentou a sobrecarga de trabalho elevada como o fator mais acometido aos problemas psicológicos entre professores universitários. Os dados deste estudo revelaram que os professores universitários brasileiros estão com elevadas cargas de trabalhado. Ademais, essa rotina tem impactado negativamente a saúde desses profissionais.

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Palavras-chave: Doença mental. Condições de trabalho. Saúde do trabalhador. Professor universitário.

 

ABSTRACT

To investigate multiple stressors and their risk factors for psychological distress in university professors. This is an integrative review of a theoretical and descriptive nature. Original, quantitative, and qualitative articles published between January 2010 and December 2019 were included in the study. Articles were selected through the PubMed, CAPES Journals, and LILACS databases. The descriptors used were mental health and university professors and their English equivalents. Initially, 1,992 publications were obtained, with 12 articles selected for the final construction of the integrative review. The majority of selected articles identified high workload as the most prevalent factor contributing to psychological problems among university professors. The data from this study revealed that Brazilian university professors are experiencing elevated workloads. Furthermore, this routine has had a negative impact on the health of these professionals.
Keywords: Mental illness. Working conditions. Worker health. University professor.

 

RESUMEN

Investigar múltiples agentes estresantes y sus factores de riesgo para el malestar psicológico en profesores universitarios. Se trata de una revisión integradora de carácter teórico y descriptivo. Se incluyeron en el estudio artículos originales, cuantitativos y cualitativos, publicados entre enero de 2010 y diciembre de 2019. Los artículos fueron seleccionados a través de las bases de datos PubMed, Periódicos CAPES y LILACS. Se utilizaron los descriptores salud mental y profesores universitarios, así como sus equivalentes en inglés. Inicialmente se obtuvieron 1.992 publicaciones, de las cuales se seleccionaron 12 artículos al final para la construcción de la revisión integradora. La mayoría de los artículos seleccionados identificaron una carga de trabajo elevada como el factor más prevalente que contribuye a los problemas psicológicos entre los profesores universitarios. Los datos de este estudio revelaron que los profesores universitarios brasileños están experimentando cargas de trabajo elevadas. Además, esta rutina ha tenido un impacto negativo en la salud de estos profesionales.

Palabras clave: Enfermedad mental. Condiciones de Trabajo. Salud del trabajador. Profesor universitario.

 

 

INTRODUÇÃO

A saúde mental, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um estado de bem-estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com o estresse rotineiro, trabalha de forma produtiva e encontra-se capaz de dar sua contribuição para com a comunidade (Moss et al., 2016; Gaino et al., 2018). A OMS no início dos anos 2000 previu o aumento de problemas relacionados à saúde mental e o seu impacto na população trabalhadora, que causaria adoecimento e afastamento laboral. Atualmente, diante das mudanças de valores do mundo moderno e globalizado, estudos apontam que houve um crescente aumento no número das doenças ocupacionais, com destaque para o adoecimento mental (Ribeiro et al., 2019).

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Segundo Ribeiro et al. (2019), nos últimos anos os Transtornos Mentais e Comportamentais (TMC) se mantiveram como a terceira maior causa de afastamentos laborais com auxílio-doença.  Fernandes et al. (2018) em seu estudo reitera que entre 2004 para 2013, o número de auxílios-doença concedidos em razão deste tipo de comorbidade passou de 615 para 12.818. Tornando-se um problema de saúde pública que gera grande impacto econômico, social e individual (Brum et al., 2012).

Estudos brasileiros elencam que os transtornos de ansiedade estão entre as categorias mais prevalentes de doenças mentais, sendo a segunda causa maior de afastamentos laborais. Quando não tratados, os transtornos de ansiedade e estresse persistem e causam deficiências significativas na qualidade de vida, prejudicando diretamente a saúde do trabalhador (Fernandes et al., 2018; Ribeiro et al., 2019; Antunes, 2019).

Os reflexos decorrentes de tais transtornos podem ser presenciados no ambiente acadêmico, nos quais consistem na maior causa de ausência no trabalho dos docentes (Coutinho et al., 2011). Para Camargo et al. (2013), é natural que, para enfrentar os desafios da vida, seja necessário um pequeno nível de estresse, contudo, níveis elevados causam inúmeros sintomas adversos, podendo produzir reações como fadiga, tensão muscular, alterações no padrão de sono, problemas cardiorrespiratórios e outros danos emocionais e psicológicos.

Subentende-se que o professor de ensino superior tenha domínio sobre o conteúdo de disciplinas e do plano político-pedagógico da instituição, utilize diferentes metodologias de ensino, prepare aulas e disponha de vinte e quatro horas para realizar atividades de pesquisa e extensão, além de outras atividades administrativas (Gatti, 2010; Massa et al., 2016).

Para Massa et al. (2016), essas exigências para o desenvolvimento profissional do docente, podem proporcionar alguns sentimentos positivos de satisfação e de realização profissional, entretanto, pode caracterizar um trabalho estressante, associado a muitas imposições e sofrimento. Baptista et al. (2019), afirmam que quando professores experimentam níveis elevados de estressores em função do trabalho, acabam tendo dificuldades em desenvolver suas atividades laborais e compromissos não relacionados, esses estressores, se persistentes, podem levar à Síndrome de Burnout, distúrbio emocional provocado pela exaustão e estresse extremo em situações de trabalho desgastante, que impacta significamente a condição física e mental do profissional.

Considerando a relevância do tema na atualidade, a partir da fundamentação teórica baseada na literatura, este estudo objetivou investigar, dentro de um processo de desgaste físico e emocional, os múltiplos agentes estressores e seus fatores de risco para o adoecimento psicológico em professores universitários.

 

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MÉTODOS

O presente estudo se caracteriza como revisão integrativa, de caráter teórico e descritivo. Foram incluídos no estudo artigos originais referentes ao adoecimento psicológico em professores universitários. O trabalho incluiu artigos quantitativos e qualitativos os quais atenderam aos seguintes critérios: estudos que abordem transtornos psicológicos; realizado com professores universitários; conduzido no Brasil; artigos originais de pesquisa com seres humanos; foram incluídos também artigos publicados de janeiro de 2010 até dezembro de 2019; artigos publicados em inglês, português e/ou espanhol disponibilizados na íntegra. Foram excluídos os estudos sem dados claros e optou-se por não incluir teses, dissertações e monografias, visto que a realização de uma busca sistemática das mesmas seria inviável logisticamente.

A busca foi realizada nas bases de dados eletrônicas como o arquivo digital gratuito do U.S. National Institutes of Health (NIH) de periódicos das áreas de biomedicina e ciências da vida (PubMed), Periódicos CAPES e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

Os estudos que preencheram todos os critérios de inclusão foram avaliados, independentemente do periódico. A seleção dos descritores utilizados no processo de revisão foi efetuada mediante consulta ao livro Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Para a busca dos artigos, utilizou-se uma combinação dos seguintes termos: saúde mental e professores universitários, e o seu correspondente em inglês: mental health e teacher. Todos os termos foram identificados no título ou nos resumos dos artigos.

Através do procedimento de busca, foram identificadas, inicialmente, 1.992 publicações (PubMed=1.813, Periódicos CAPES=45, LILACS=134) potencialmente elegíveis para inclusão nesta revisão. A primeira análise dos artigos foi a leitura dos títulos e resumos. Após essa avaliação, os estudos que preencheram os critérios de inclusão foram lidos na íntegra. Nesta etapa, a revisão foi efetuada independentemente por dois pesquisadores.

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Os dados foram analisados em termos descritivos, com o objetivo de apresentar a categorização dos artigos em função de variáveis analisadas, os quais foram registrados em uma única tabela, com autor/ano, título, tipo de estudo, localização, amostra e fatores associados ao adoecimento do professor universitário.

Foram identificados 223 artigos para serem lidos os títulos e resumos após aplicação de filtros. Ao final, 30 artigos foram lidos na integra, deles, 12 artigos atenderam a todos os critérios de inclusão, os demais apresentaram falta de informações ou não se adequaram aos critérios estabelecidos. Os artigos foram analisados por dois revisores, e depois avaliados por mais um terceiro revisor. As principais características dos estudos selecionados ao final das revisões estão presentes nos resultados e organizados em tabela.

 

RESULTADOS

Dos 12 artigos incluídos nesta revisão, 10 deles apresentaram a sobrecarga de trabalho como o fator mais associado ao adoecimento psicológico entre professores universitários brasileiros (Coutinho et al., 2011; Camargo et al., 2013; Arbex, 2013; Ferreira et al., 2015; Massa et al., 2016; Baptista et al., 2019).

Posto isso, o caminho para a seleção dos artigos está descrito na Figura 1. Já os artigos selecionados para compor a revisão integrativa estão descritos na Tabela 1, com autor/ano, título, tipo de estudo, localização, amostra e fatores associados ao adoecimento do professor universitário.

Figura 1 - Fluxograma para o resultado da busca nas bases de dados em relação aos professores universitários brasileiros.

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       Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 1 - Caracterização dos artigos utilizados no estudo em relação aos professores universitários brasileiros.

Autor(ano)

Título

Tipo de estudo

Localização

Amostra

Fatores associados ao adoecimento

Baptista et al. (2019)

Burnout, estresse, depressão e suporte laboral em professores universitários

Estudo quantitativo e transversal

São Paulo - SP

99

(Homens e Mulheres)

Sobrecarga de trabalho.

Assis; Pacheco (2017)

Representações e vivências da docência em professores do ensino superior de uma faculdade privada de Cacoal-RO

Estudo qualitativo e exploratório

Cacoal - RO

4

(Homens e Mulheres)

Elevada quantidade de tarefas diárias; falta de compromisso do aluno; ministrar disciplinas que não é da área de formação do professor; sobrecarga no trabalho.

Prado et al. (2017)

Avaliação da síndrome de Burnout em professores universitários

Estudo quantitativo e transversal

Presidente Prudente - SP

72

(Homens e Mulheres)

Quantidade de cursos em que o docente leciona; contato diário com maior número de alunos.

Coêlho et al. (2016)

A saúde de professores universitários no sertão nordestino – Brasil: investigando suas características clínico-comportamentais

Estudo quantitativo e transversal

Sertão da Paraíba – PB

240

(Homens e Mulheres)

Sobrecarga de trabalho.

Massa et al. (2016)

Síndrome de Burnout em professores universitários

Estudo quantitativo e transversal

Rio de Janeiro - RJ

49

(Homens e Mulheres)

Sobrecarga de trabalho.

Ferreira et al. (2015)

Transtorno mental e estressores no trabalho entre professores universitários da área da saúde

Estudo quantitativo e transversal

Montes Claros - MG

175

(Homens e Mulheres)

Maior esforço no trabalho; pior qualidade de vida no domínio físico.

Batista et al. (2015)

Transtornos mentais que mais acometem professores universitários: um estudo em um serviço de perícia médica

Estudo quantitativo, documental e retrospectivo

João Pessoa - PB

254 (Mulheres)

Avançar da idade (40 a 49 anos); dificuldades relacionadas ao trabalho; jornada semanal de trabalho; perda de significado do trabalho.

Arbex et al. (2013)

Trabalho docente, readaptação e saúde: a experiência dos professores de uma universidade pública

Estudo qualitativo e empírico

Rio de Janeiro - RJ

8

(Homens e Mulheres)

Excesso de exigências acadêmicas; sobrecarga de trabalho; quantidade de alunos; ambiente da sala de aula;

Souza et al. (2013)

Estresse no trabalho em professores universitários

Estudo quantitativo e transversal

Florianópolis - SC

92

(Homens e Mulheres)

Sobrecarga de trabalho.

Camargo et al. (2013)

Estresse percebido, comportamentos relacionados à saúde e condições de trabalho de professores universitários

Estudo quantitativo e transversal

Curitiba - PR

393

(Homens e Mulheres)

Insatisfação com o trabalho; inatividade física; dupla jornada de trabalho.

Coutinho et al. (2011)

Entre o prazer e o sofrimento: um estudo sobre os sentidos do trabalho para professores universitários

Estudo qualitativo

Florianópolis - SC

8

(Homens e Mulheres)

Insegurança quanto ao contrato de trabalho; elevada carga de trabalho.

Servilha; Arbach (2011)

Queixas de saúde em professores universitários e sua relação com fatores de risco presentes na organização do trabalho

Estudo quantitativo e transversal

Campinas - SP

84

(Homens e Mulheres)

Indisciplina em sala de aula por parte dos alunos.

Fonte: Autoria dos pesquisadores dos artigos selecionados para a presente revisão integrativa.

 

DISCUSSÃO

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O trabalho nas universidades é permeado por uma lógica que preside a empresa capitalista atual, no qual o insere o professor de ensino superior em uma performatividade acadêmica, descrita como um fenômeno derivado dos processos de regulação e controle, que se caracterizam pela excessiva valorização da quantidade de produção científico-acadêmica. Esse produtivismo acadêmico tende a desconsiderar a qualidade, que de forma exacerbada e premiada, conduz a competitividade entre os pares. Como efeito, o prolongamento e a intensificação da jornada de trabalho, vêm gerando graves consequências para a vida desses docentes (Coelho et al., 2016).

Nesse processo, a extensa sobrecarga de trabalho, que pode ultrapassar às 40 horas semanais – das quais 20 horas ou mais são dedicadas às atividades extraclasse, pesquisa de extensão e planejamento –, é apontada por Coutinho et al. (2011) como um dos fatores desencadeadores do esgotamento mental e físico. A sobrecarga de trabalho do professor universitário é apontada como motivo de tormento e invasão do espaço pessoal, afetando as atividades particulares diárias desses profissionais, como tempo destinado ao descanso e lazer.

O adoecimento mental entre professores pode estar relacionado não somente à sobrecarga de trabalho docente. Segundo estudos, o aumento nos escores no esforço de trabalho foi diretamente proporcional a incidência de transtornos mentais. Acreditava-se que uma maior recompensa seria inversamente associada à prevalência de TMC, pois de acordo com o modelo de Esforço-Recompensa seria considerar um aumento de recompensas para um comprometimento excessivo. Entretanto, o estudo demonstrou que uma pessoa mais controladora responde de maneira intransigente às situações de trabalho que exigem muito esforço e oferece baixa recompensa, o que acaba por causar episódios de estresse e predispor ao adoecimento (Ferreira et al., 2015).

Estudos têm demonstrado que as mulheres estão ocupando cada vez mais espaço na área do ensino superior ao longo dos anos, e ainda se pode constatar um aumento significativo na obtenção de especializações e doutorado comparados aos homens. É notório que, atualmente, a inserção de mulheres no mercado de trabalho de modo geral tem se igualado ou até mesmo ultrapassado o sexo masculino (Souza et al., 2013).

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Em um estudo com professores universitários, Camargo et al. (2013) evidenciaram maior presença de estresse em mulheres. Consta nesse estudo que o estresse se dá por questões diversas as quais as mulheres são submetidas: cuidado do lar, jornada dupla de trabalho (doméstico e profissional), bem como a baixa remuneração salarial. Do mesmo modo, conjetura-se que para atingir um elevado grau de aprofundamento na profissão, a mulher sacrifica, muitas vezes, sua vida pessoal a fim de conquistar esse espaço profissional que até pouco tempo era mais restrito aos homens (Souza et al., 2013).

O ambiente universitário envolve diversas atividades extras para os professores, como a demanda por produção científica, envolvimento em pós-graduação, participação em bancas de mestrado e doutorado, orientações, reuniões, entre outros, as quais interferem no aspecto emocional desses profissionais, diante do excesso de exigências acadêmicas. Por esse ângulo teórico, interpreta-se que essa dimensão invisível do trabalho acadêmico possui uma interface com um sentimento de não reconhecimento por parte dos docentes. Nesse contexto, não se pode falar em jornada de trabalho formal para o professor universitário, pois essa classe trabalha nos finais de semana, feriados e noites afins. E alguns estudos comprovam a expansão do trabalho do professor, para todo o tempo de descanso e lazer, podendo ocasionar ressonâncias no seu quadro psíquico (Arbex et al., 2013; Coutinho et al., 2011).

Os dados dos artigos presentes nessa revisão mostram esgotamento psicológico nos professores associados ao aluno, como a falta de disciplina, o descompromisso dos mesmos e o elevado número de alunos em sala de aula (Assis; Pacheco, 2017; Prado et al., 2017; Arbex et al., 2013). O estudo de Servilha e Arbach (2011) aponta que a indisciplina em sala de aula é um fator determinante para o desgaste emocional entre professores, sendo esse um dos principais fatores que causam problemas de saúde nesses profissionais. Entretanto, o estudo de Camargo et al. (2013), não encontrou esgotamento psicológico entre professores associado ao elevado número de alunos em sala de aula.

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Porém, de acordo com o estudo de Arbex et al. (2013) o número de turmas e o número de alunos por turma é diretamente proporcional ao esgotamento profissional. Na pesquisa realizada, os professores apontaram como fator de sobrecarga de trabalho o número excessivo de alunos para administrar. Tais estresses também estão relacionados ao comprometimento de lecionar vários cursos, gerando uma carga horária exaustiva, na qual resulta em efeitos adversos para a saúde desse profissional, como o estresse, agitação e irritabilidade (Prado et al., 2017).

Segundo Camargo et al. (2013), verifica-se, no cotidiano universitário, que a inatividade se mostrou associada ao nível elevado de estresse. Por se tratar de uma profissão que possui certas especificidades, o fato de permanecer muito tempo sentado planejando aulas, estudando, corrigindo provas, escrevendo etc., faz com que o indivíduo tenha mais chances de ficar na zona de conforto, no caso a inatividade. Além disso, pode levar o indivíduo a consumir uma alimentação rápida e não-saudável, consumir mais cafés e energéticos e até mesmo o cigarro. Nos quais esses comportamentos, com o passar do tempo, afeta em cheio a vida cotidiana do docente, no qual pode desenvolver uma grande insatisfação no trabalho.

Por outro lado, o estudo de Rafael et al. (2011) demonstrou que há relações significativas entre o histórico de saúde e hábitos saudáveis de vida, pois quanto maior a frequência semanal de atividades físicas, menor possibilidade de desenvolver doenças relacionadas ao trabalho.

Em estudo realizado por Massa et al. (2016), evidenciou que participar de outras atividades que não envolvam o trabalho remunerado contribui potencialmente para a redução das tensões e proporciona momentos de relaxamento e influencia diretamente na forma como o docente pensa, sente e age sobre/em seu trabalho. O estudo demonstrou que os professores participantes da pesquisa, relataram envolvimento em pelo menos uma atividade para aliviar as sensações de estresse relacionadas ao trabalho, como prática de atividade física, atividades de lazer, cultural e/ou participação social. Dessa forma, essas atividades contribuem para reduzir o agitamento diário do trabalho e proporcionam energia suficiente para executar as atividades obrigatórias que estão por vir.

Embora tenha ocorrido, nos últimos anos, um do aumento, em termos absolutos, da demanda dos cursos de graduação e da expansão de oferta de vagas nas instituições privadas. Os professores da universidade privada temem a demissão devido a insegurança quanto ao contrato de trabalho. Essa insegurança apresenta-se como fonte geradora de sofrimento e transtornos psicológicos, pois se implica como baixa autoestima, ansiedade e tristeza. Estudos apontam que docentes da universidade privada apresentam autoestima mais baixa do que aqueles que lecionavam nas universidades públicas (Ferreira et al., 2015).

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Os contratos parciais e temporários, prática mais comum em instituições privadas e comunitárias, não dão garantias de estabilidade para o professor, afetando a saúde mental desses profissionais e provocando pensamentos conflituosos. Pois, não há como saber terão aulas suficientes no próximo contrato ou até mesmo se ainda permanecerão nos empregos, especialmente quando essa é a única fonte de renda do professor (Coutinho et al., 2011).

O trabalho de Batista (2016) destacou que há uma maior incidência desses transtornos psicológicos na faixa etária dos professores universitários entre 40 e 49 anos. Também verificaram em seus estudos outros fatores de riscos associados às condições de trabalho desses docentes, pois deparam com exigências maiores de qualificação comparados aos de ensino fundamental e médio, além de maiores cobranças de ampliação das atividades de pesquisas acadêmicas e orientações, tudo isso associado a um curto espaço de tempo.

Os diversos fatores que interferem na saúde mental do professor universitário geram uma modificação do trabalho e é causador de um grande sofrimento psíquico e, consequentemente, de adoecimento psicológico, na qual pode provocar a perda do significado do trabalho. Assim, o trabalho deixa de ser sadio, causando desgaste emocional e podendo evoluir para uma desistência profissional (Rafael et al., 2011).

De acordo com a pesquisa de Arbex et al. (2013), constatou que dentre os funcionários afastados por TMC, o tempo mais longo de afastamento do trabalho era daqueles com idade superior a 50 anos, que possuíam menor nível educacional. Dessa forma, um menor nível de instrução pode estar relacionado à maior possibilidade de ausência do trabalho por doenças ocupacionais devido às diversas atividades exercidas e, algumas vezes, dificuldade em compreender orientações e instruções. Ademais, para suprir necessidades financeiras, aqueles com baixa escolaridade possuem em sua maioria mais de uma atividade laboral, o que contribui para um maior desgaste físico e psicológico.

De acordo com Rafael et al. (2011) os eventos estressores entre professores podem evoluir para a Síndrome de Burnout, pois formam uma categoria continuamente exposta aos riscos psicossociais. O advento dessa patologia afeta diretamente o ambiente escolar e irá interferir na obtenção de resultados pedagógicos. Manifesta-se através de uma série de sintomas como apatia, insônia, gastrite, alterações menstruais, alergias, cefaléia, palpitações, hipertensão arterial, uso abusivos de medicamentos e álcool. Sendo considerado um problema de saúde de extrema relevância social.

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Dessa forma, na medida em que entendemos melhor esses fenômenos psicossociais como um processo complexo que permeia a vida dos docentes, será mais fácil identificar suas etapas e dimensões, seus estressores mais importantes e seus modelos explicativos. É importante que estratégias de ações sejam criadas para envolver os professores que apresentem esgotamento profissional, visando o retorno do envolvimento saudável com a instituição, com os alunos e reforçando a satisfação com o trabalho (Prado et al., 2017; Massa et al., 2016; Rafael et al., 2011).

 

CONSIDERAÇÕES

A presente revisão integrativa apresenta como limitação a pesquisa envolver apenas professores universitários, restringindo assim, os professores dos demais níveis escolares. A pequena quantidade de artigos selecionados para o estudo entra como limitação, visto que as grandes partes de trabalhos que abordam o adoecimento psicológico são em sua maioria envolvendo professores da educação básica (ensino fundamental e médio). A revisão ser voltada para artigos que abordaram apenas os professores universitários brasileiros também entra como limitação, resultando em um não conhecimento da realidade profissional de professores de outros países.

Mediante esta revisão, foram verificados os possíveis fatores associados ao adoecimento psicológico entre professores universitários, entre elas a elevada carga horária de trabalho docente, insegurança quanto ao contrato de trabalho e dupla jornada de trabalho. O adoecimento do professor é uma questão que destaca a urgência também de maior valorização profissional. Ressalta-se a lacuna de estudos nacionais sobre o tema em questão, sendo importante realizar novos estudos que possibilitem compreender a dimensão psicossocial e a superação do estigma da saúde/doença mental, para que possibilitem novas alternativas metodológicas no patamar da investigação e da intervenção nas organizações, promovendo espaços saudáveis e melhores condições de trabalho para os professores.

 

AGRADECIMENTOS.

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa.

 

 

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