A INCLUSÃO DAS LUTAS COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

 

THE INCLUSION OF MARTIAL ARTS AS A TOPIC OF SCHOOL PHYSICAL EDUCATION

LA INCLUSIÓN DE LAS ARTES MARCIALES COMO CONTENIDO DE LA EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR

 

Wellington Danilo Soares Descrição: download Descrição: Lattes

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, Montes Claros (MG), Brasil

E-mail: wdansoa@yahoo.com.br

 

Lucas Lima Barbosa Descrição: download Descrição: Lattes

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, Montes Claros (MG), Brasil

E-mail: lucaslimabarbosa17@gmail.com

 

Vinicius Dias RodriguesDescrição: download Descrição: Lattes

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, Montes Claros (MG), Brasil

E-mail: vinicius.rodrigues@unimontes.br

 

André Luiz Gomes CarneiroDescrição: download Descrição: Lattes

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, Montes Claros (MG), Brasil

E-mail: andre.carneiro@unimontes.br

 

 

Data de Submissão: 22/11/2023 - Data de Publicação: 14/08/2024

Como citar: SOARES, W. D.  et al. A inclusão das lutas como conteúdo da educação física escolar. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física - RENEF, v. 15, n. 24, jun. 2024. https://doi.org/10.46551/rn2024152400091

 

RESUMO

A inclusão das lutas nas aulas de Educação Física é limitada, devido aos vários fatores que afetam as decisões dos educadores sobre o ensino das mesmas. O objetivo deste estudo foi analisar quais as reais dificuldades enfrentadas pelos professores para que haja a inclusão das lutas como conteúdo da Educação Física escolar. Trata-se de um estudo de natureza quantitativa, descritiva e de corte transversal. A amostra foi composta por 30 professores do Ensino Fundamental anos finais e Ensino Médio da rede pública da cidade de Montes Claros/MG, ambos os sexos, na faixa etária de 30 a 56 anos, selecionados de forma aleatória. O instrumento utilizado foi um questionário fechado, contendo um total de dez perguntas cuidadosamente elaboradas para responder a questão do estudo. Após a coleta dos dados foi realizada uma análise descritiva com valores de mínimo, máximo, média, desvio padrão, frequência real e absoluta. Os resultados apontaram que os avaliados em sua maioria já utilizaram as lutas em suas aulas e conhecem os benefícios trazidos pela aplicação do conteúdo. Entretanto os pesquisados queixam da falta de conhecimento técnico sobre o tema, falta de tempo para planejar aulas, escassez de infraestrutura e recursos insuficientes para inclusão e aplicação do conteúdo. Diante disso foi possível concluir que os profissionais ficam limitados a trabalhar com a lutas por motivos estruturais dentro das escolas, como também por falta de domínio e apropriação do tema, fator esse que só será solucionado com investimentos e melhores políticas educacionais, assim como profissionais mais capacitados e competentes atuantes dentro do âmbito escolar.

Palavras-chave: Professores. Educação física. Inclusão. Artes Marciais.

 

ABSTRACT

The inclusion of martial arts in physical education classes is limited due to many issues affecting teachers' decisions about teaching martial arts. This study aimed to analyze the real difficulties faced by teachers so that martial arts is included as a school physical education topic. That is a quantitative, descriptive, and cross-sectional study. The sample was composed of 30 public elementary school final years and high school teachers from Montes Claros/MG, both genders, in the age group between 30 and 56 years old, randomly selected. The instrument used was a closed-ended questionnaire containing ten thoroughly elaborated questions to respond to this study matter. After data collection, a descriptive analysis was made, including the minimum, maximum, average, standard deviation, actual and absolute frequency values. Results indicate that most participants have already employed martial arts in their classes and are acquainted with the benefits of this topic application. However, those researched complain about a shortage of technical knowledge about the topic, lack of time for class planning, infrastructure scarcity, and resource insufficiency to include and employ the topic. Accordingly, it was possible to conclude that the professionals are limited from using martial arts due to the school's structural problem and also lack mastery and appropriation of the topic, an issue that will only be solved through investments and better educational policy, as well as, more qualified and competent professionals active within the school context.
Keywords: Teachers. Physical Education. Inclusion. Martial Arts.

 

RESUMEN

La inclusión de las artes marciales en las clases de Educación Física es limitada, debido a varios factores que afectan las decisiones de los educadores sobre la enseñanza de las artes marciales. El objetivo de este estudio fue analizar las dificultades reales enfrentadas por los profesores para lograr la inclusión de las artes marciales como contenido en la Educación Física escolar. Se trata de un estudio de naturaleza cuantitativa, descriptiva y de corte transversal. La muestra estuvo compuesta por 30 profesores de los últimos años de la Educación Primaria y la Educación Secundaria de la red pública de la ciudad de Montes Claros/MG, de ambos sexos, en el rango de edad de 30 a 56 años, seleccionados de manera aleatoria. El instrumento utilizado fue un cuestionario cerrado, que contenía un total de diez preguntas cuidadosamente elaboradas para responder a la pregunta del estudio. Después de la recopilación de datos, se realizó un análisis descriptivo con valores de mínimo, máximo, media, desviación estándar, frecuencia real y absoluta. Los resultados indicaron que la mayoría de los evaluados ya habían utilizado las artes marciales en sus clases y conocían los beneficios que aporta la aplicación de este contenido. Sin embargo, los encuestados se quejaron de la falta de conocimiento técnico sobre el tema, la falta de tiempo para planificar clases, la escasez de infraestructura y recursos insuficientes para la inclusión y aplicación del contenido. En este sentido, se pudo concluir que los profesionales están limitados para trabajar con las artes marciales debido a razones estructurales dentro de las escuelas, así como a la falta de dominio y apropiación del tema, un factor que solo se resolverá con mejores inversiones y políticas educativas, así como profesionales más capacitados y competentes que trabajen en el ámbito escolar.

Palabras clave: Profesores. Educación física. Inclusión. Artes Marciales.

 

 

 

INTRODUÇÃO

As lutas têm raízes antigas na sociedade, com registros datando cerca de 5.000 a.C. nas regiões da Índia e China. Originando-se no Oriente, essas práticas voluíram para além do combate, adquirindo aspectos educativos e filosóficos, tornando-se um estilo de vida para os guerreiros. Os sistemas de treinamento se desenvolveram ao longo das eras e acompanharam as mudanças sociais, transformando-se em métodos de preparação para conflitos, juntamente com racionalização da atividade humana, progredindo para se tornarem métodos de preparação para guerras (Santos, 2019).

Segundo Araújo et al. (2022), entende-se que a luta é caracterizada pelo confronto entre duas ou mais pessoas que tenham recebido treinamento adequado, independentemente de sua formação. No contexto das artes marciais, a diferença reside no conjunto de técnicas desenvolvidas para fins militares ou de autodefesa, buscando alcançar um equilíbrio entre maior desempenho e menor esforço. Além das técnicas, tanto as lutas quanto as artes marciais estão enraizadas com ideologias e tradições sociais e de confronto.

Para Cisne et al. (2022), as lutas e as práticas de combate são expressões que fazem parte da cultura do movimento corporal. Essas práticas surgem como metodos formativos de disciplina, embora nem sempre deixem claro como um sujeito disciplinado é compreendido. Ao considerarmos a incorporação e a valorização dos princípios das relações humanas como uma experiência resultante da prática das lutas, é possível que tenhamos um cidadão capacitado, fortalecido tanto na sua parte física, psicologica e espiritual.

Araújo et al. (2022) resaltam que ao adentrar o espaço escolar por meio da Educação Física, através da abordagem pedagógica do professor, que envolve os alunos com o conteúdo das lutas, diversas habilidades psicomotoras são desenvolvidas. Isso inclui o aprimoramento da lateralidade, coordenação  motora,  flexibilidade,  agilidade  e  aumento da percepção dos sentidos. Essas práticas permitem que os alunos aprendam a estar sempre alerta e a ter reflexos mais rápidos, o que são aspectos essenciais a serem trabalhados no contexto das lutas.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) é um documento para padronização e normatização, veio para fins de substituir os PCNs. Seu principal objetivo é estabelecer um conjunto de conhecimento básicos, orgânicos e progressivos que cada discente deve obter ao longo da sua caminhada por todos os anos escolares, de acordo com a conceitos políticos, morais estéticos. Ele pretende ser usado para a formação do indivíduo integralmente buscando trazer justiça e igualdade dentro da sociedade escolar. 

No âmbito da Educação Física escolar a (BNCC, 2018) visa compreender as capacidades do corpo em suas dimensões físicas, sociais, culturais e psicológicas. Além disso, integra os alunos na cultura do movimento, capacitando-os a usufruir de atividades como jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas de maneira crítica, contribuindo para uma cidadania ativa e uma melhor qualidade de vida.

Diante disso, observa-se uma variedade de abordagens para incorporar as lutas no contexto escolar. Tanto de maneira direta quanto indireta, as práticas de lutas abrangem todos os movimentos motores fundamentais. Ao desenvolver esses movimentos de forma adequada, é possível obter inúmeros benefícios para os alunos, uma vez que a prática das lutas requer um controle emocional e corporal significativo (Diniz, 2022).

No entanto, So e Betti (2018) lembram que, embora as lutas tenham sido formalmente incluídas nos currículos oficiais de Educação Física, em vários estados e municípios a sua implementação e aceitação nas aulas, ainda são temas de controvérsia e tensões que mais afastam o conteúdo do que o aproximam do uso nas aulas. Apesar do reconhecimento de seus benefícios educacionais e formativos, o ensino de lutas muitas vezes enfrenta resistência de alguns educadores, pais e até mesmo dos próprios estudantes.

Sendo assim o presente estudo buscou analisar quais as reais dificuldades para que haja a inclusão das lutas como conteúdo da Educação Física escolar na cidade de Montes Claros - MG. A pesquisa encontra sua relevância na possibilidade de contribuir com o debate sobre a inclusão das lutas na educação escolar, oferecendo subsídios para diretrizes educacionais mais eficazes. Além disso, busca propor intervenções para superar desafios enfrentados por professores, beneficiando a formação dos alunos. E se torna tambem relevante devido à escassez de material bibliográfico sobre o tema na Educação Física escolar.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Caracterização do estudo e cuidados éticos.

O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, sob o parecer nº 5.032.555/2021 e CAAE: 52141021.6.0000.514. Trata de um estudo de caráter descritivo, com abordagem quantitativa e corte transversal.

 

Amostra

A amostra foi composta por 30 professores, ambos os sexos, na faixa etária de 30 a 56 anos, selecionados de forma aleatória, professores do Ensino Fundamental anos finais e Ensino Médio da rede pública da cidade de Montes Claros/MG.  Foram incluídos apenas professores que lecionem em escolas públicas estaduais, que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, e excluídos aqueles que não responderam ao questionário, parcial ou totalmente, ou que não compareceram no dia da coleta de dados.

 

Instrumento e procedimentos

Foi utilizado um questionário fechado como instrumento de coleta de dados, contendo dez perguntas cuidadosamente formuladas para buscar informações relevantes para a pesquisa. As perguntas foram criadas com base na revisão bibliográfica e na expertise dos pesquisadores, sendo objetivas e diretas para obter informações relevantes. Há opções de respostas predefinidas e, em alguns casos, espaço para comentários detalhados. O questionário segue uma sequência lógica para uma compreensão clara dos tópicos.

Primeiramente foi feito um contato a direção das escolas para autorização e realização da pesquisa que foi oficializada através da assinatura do Termo de Concordância da Instituição – TCI. Em seguida, foi feito contato com os professores voluntários para explicação sobre a pesquisa, com espaço para sanar dúvidas. Todos que aceitaram participar de forma voluntária foi solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. O questionário foi aplicado de forma presencial e individual, nas escolas onde lecionam os docentes participantes no período estipulado para coleta de dados no mês de setembro de 2023, a coleta aconteceu em uma sala reservada para este fim pelos próprios pesquisadores.

Devido à dificuldade de contato com professores, também foi disponibilizado um questionário de forma online no Google Forms e enviado para os avaliados através de mensagens eletrônica.

 

 

 

Tratamento dos dados

Todos os dados coletados foram planilhados no programa Statistical Package for Social Science – SPSS versão 26.0 para Windows, no qual foi realizado uma análise descritiva com valores de média, desvio padrão, frequência real e absoluta.

 

RESULTADOS

Participaram do estudo professores de Educação Física Escolar com idade de 30 a 56 anos (40,3 ± 3,6 anos), com predomínio do sexo masculino (53,3 %), sendo que a maioria (73,3%) possui mais de dez anos de docência.

Quadro – Apresenta o resultado encontrado em frequência real e absoluta (n = 30)

PERGUNTA

OPÇÕES

N - %

Há quanto tempo você leciona Educação Física?

De 1 a 5 anos.

De 5 a 10 anos.

Mais de 10 anos

1 – 3,3

7 – 23,7

22 – 73,3

 

Você já incluiu a prática de lutas como conteúdo nas suas aulas de Educação Física?

Sim

Não

22 – 73,3

8 – 26,7

Qual fator principal representa um obstáculo na inclusão das lutas como conteúdo nas aulas de Educação Física escolar?

Falta de recursos e equipamentos adequados Falta de conhecimento técnico sobre as lutas.

Restrições ou diretrizes da instituição onde trabalha

12 – 40,0

 

17 – 56,7

 

1 – 3,3

Você acredita que as lutas podem contribuir para o desenvolvimento integral dos alunos? Por quê?

Sim, porque promovem disciplina e controle emocional.

Sim, porque estimulam o respeito e a ética.

Sim, porque desenvolvem habilidades motoras e cognitivas.

9 – 30,0

 

 

15 – 50,0

 

6 – 20,0

Qual o principal desafio que você enfrenta ao considerar a inclusão das lutas como conteúdo da Educação Física?

Resistência dos alunos.

 

Falta de apoio da direção da escola.

Falta de tempo para planejamento das aulas.

5 – 16,7

 

7 – 23,3

 

18 – 60,0

Existe algum receio ou resistência dos alunos ou dos pais em relação à prática das lutas nas aulas de Educação Física? Se sim, qual?

Sim, os alunos manifestam receio.

Sim, os pais manifestam resistência.

Sim, ambos manifestam resistência.

Não, não há receio ou resistência.

5 – 16,7

 

2 – 6,7

 

1 – 3,3

 

22 – 73,3

Na sua formação acadêmica o conteúdo das lutas fazia parte da grade curricular? Se sim, como avalia essa formação?

Sim, avalio como muito útil.

Sim, avalio como útil.

Sim, avalio como pouco útil.

7 – 23,3

 

19 – 63,3

4 – 13,3

Em sua opinião, qual medida poderia ser adotada para auxiliar os professores na inclusão das lutas como conteúdo da Educação Física escolar?

Oferecer cursos e capacitações específicas.

Disponibilizar recursos e materiais didáticos sobre lutas.

Criar programas de incentivo a pratica das lutas na escola.

10 – 33,3

 

19 – 63,3

 

 

1 – 3,3

Você considera que a infraestrutura disponível na escola influencia na inclusão das lutas durante as aulas de Educação Física?

Sim, a infraestrutura é um fator determinante.

Sim, a infraestrutura pode influenciar, mas não é o único fator.

8 – 26, 7

 

22 – 73,3

Qual aspecto da infraestrutura escolar você acredita mais dificultar a inclusão das lutas em suas aulas?

Espaço físico inadequado.

Ausência de equipamentos específicos para as lutas.

Falta de local seguro para a prática das lutas.

3 – 10,0

21 – 70,0

 

6 – 20,0

Fonte: Próprio autor

 

DISCUSSÃO

Este estudo objetivou analisar quais as reais dificuldades para que haja a inclusão das lutas como conteúdo da Educação Física na perspectiva do professor de Educação Física Escolar.

Nossos resultados apontaram que os professores participantes da pesquisa em sua grande maioria, já incluíram as lutas durante a ministração das suas aulas de Educação Física.  No entanto, o estudo de Boehl et al. (2018), traz em seus dados um equilíbrio entre as respostas dos docentes entre incluírem ou não as lutas nas aulas, equilíbrio este que nos faz perceber o pouco aproveitamento do conteúdo e nos fomenta a novas investigações.

Apesar da totalidade dos docentes entrevistados falarem que as lutas faziam parte da sua grade curricular durante sua trajetória acadêmica e que o conteúdo abordado foi útil na sua formação, a pesquisa apontou que os docentes julgam que o fator de maior obstáculo para implementar as lutas nas aulas é a falta de conhecimento técnico sobre as lutas. O estudo de Santos e Brandão (2018), aborda que mesmo os professores tendo um contato com a disciplina lutas dentro das faculdades, esse conteúdo acaba sendo fragmentado e trabalhado em modalidades especificas. O que pode explicar a falta de conhecimento e segurança do docente em aplicar o tema lutas em suas aulas, e nos leva a questionar a forma que o conteúdo está sendo trabalhado na grade curricular das universidades.

Nossos resultados demonstraram que os professores acreditam que as lutas contribuem de forma efetiva para o desenvolvimento integral dos alunos, e que através delas os discentes são estimulados a serem mais respeitosos e éticos tanto dentro como fora do ambiente escolar. No estudo conduzido por Becker (2021), uma análise dos dados revelou que, professores ao serem questionados acerca da relevância e do impacto das lutas na vida dos alunos, enfatizaram que atributos como disciplina, ética e respeito se destacam como os valores mais notáveis e os benefícios mais perceptíveis derivados da inclusão do conteúdo das lutas nas aulas de Educação Física. Eles ressaltaram que esses valores fundamentais, promovidos por meio da prática das lutas, desempenham um papel crucial no desenvolvimento pessoal e social dos estudantes, contribuindo para a formação de cidadãos mais responsáveis e conscientes de suas ações.

Mesmo diante dos benefícios e contribuições trazidos pelas lutas, foi constatado que os professores têm como um desafio para inserção das lutas, a falta de tempo para planejamento, fator que delimita ainda mais o processo de inclusão do conteúdo nas aulas de Educação Física. A pesquisa realizada Paim et al. (2021) corrobora dessa preocupação, destacando que a falta de tempo tanto para ministrar quanto para planejar as aulas, a carga horária extensa de trabalho, juntamente com a necessidade de atender a múltiplos níveis de ensino e diferentes locais de trabalho, contribui para a sobrecarga dos professores. Essa sobrecarga, por sua vez, limita a capacidade de estudar e preparar aulas de forma coerente e específica para cada faixa etária e contexto educacional. Como resultado, os professores se veem impedidos de utilizar as lutas como uma ferramenta eficaz de ensino.

Conforme o nosso estudo, os professores quando questionados sobre qual medida poderia ser adotada para o auxiliar na inclusão das lutas, em sua grande maioria disseram que a disponibilização tanto de recursos, quanto de materiais didáticos sobre as lutas seria essencial para uma melhor adequação do conteúdo dentro de suas aulas. O estudo de Santos e Souza (2020), traz dados expressivos que demonstram que a escassez de recurso e material didático das escolas, causam interferência direta nas aulas de educação física. Isso se deve ao fato de os educadores demonstrarem preocupações quanto à ausência de apoio por parte do estado, à falta de capacitação e escassez de literatura disponíveis na escola para aprimorar suas abordagens, tanto no aspecto prático quanto teórico dentro da sua área de atuação.

No que tange à influência da infraestrutura escolar no trabalho dos professores com as lutas, os dados indicam claramente que uma infraestrutura precária exerce uma influência negativa nas aulas, mas que não é o único fator causador do problema de inclusão das lutas durante suas aulas, outros aspectos já elucidados dentro da pesquisa corroboram para isso. O estudo de Souto et al. (2021), com o intuito de analisar os impactos da infraestrutura nas aulas práticas de Educação Física em uma escola pública de Canindé-CE, constatou que quanto melhor as condições estruturais oferecidas, maior será a aprendizagem e desenvolvimento dos discentes durantes as aulas. Uma estrutura de qualidade concede aos alunos experiências imersivas dentro do conteúdo ensinado, além de aumentar a motivação do mesmo a participar das atividades propostas. 

Ainda nesse sentido Souto et al. (2021), diz que apesar da necessidade de uma infraestrutura melhor para os professores de Educação Física, que a falta desses espaços específicos e materiais apropriados não o limite em trabalhar e explorar conteúdos diferentes, que se utilize de adaptações com o que está disponível na escola. Afim de atrair os alunos para o trabalho de novos conteúdos, não deixando que a infraestrutura cause danos no processo de aprendizagem dos mesmos, possibilitando estes a vivenciar todos os campos possíveis dentro da Educação Física.

O estudo apresenta limitação inerente as pesquisas com desenho transversal, pela impossibilidade de estabelecer uma relação de causa e efeito.

 

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos nos permitiram concluir que embora a maioria dos professores em algum momento tenha considerado a inclusão das lutas em suas aulas e reconheça a importância desse tema para o desenvolvimento dos alunos, os docentes vem deixando de trabalhar o conteúdo devido, a falta de domínio sobre o assunto, escassez de tempo para planejar as aulas e a presença de limitações de infraestrutura e de recursos disponíveis no ambiente escolar.

Para que haja maior aproveitamento das lutas dentro das aulas, é necessário que seja feita uma revisão na grade curricular do curso superior de Educação Física para que a disciplina lutas seja trabalhada de forma efetiva, que o Governo e o estado ofereçam um ambiente e recursos satisfatórios aos professores, e que o mesmo busque capacitações para aprimorar suas competências.

Por fim, recomendamos a produção de mais pesquisas sobre a temática proposta com vistas a embasar ou não os resultados aqui encontrados.

 

 

REFERÊNCIAS

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CISNE M. D. N.; et al. Training and pedagogical practice in school physical education: the perception of teachers on the theme of fights. Research, Society and Development, v.11, n.1, p.1-15, 2022.

DINIZ C. J. S. Desmistificação e a importância das lutas na educação física escolar, 2022. Disponível em: https://dspace.uniceplac.edu.br/bitstream/123456789/1761/1/Cleison%20J%c3%banior%20Santos%20Diniz.pdf. Acesso em: 12 de jun. 2023.

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