EDUCAÇÃO FÍSICA: DIFICULDADES E APRENDIZADOS NO ENSINO FUNDAMENTAL
PHYSICAL EDUCATION: DIFFICULTIES AND LEARNING IN ELEMENTARY EDUCATION
EDUCACIÓN FÍSICA: DIFICULTADES Y APRENDIZAJE EN LA EDUCACIÓN PRIMARIA
Andressa Matos da Silva
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
E-mail: andressamatos819@gmail.com
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
E-mail: nadielly.figueiredo@gmail.com
Thais Priscila de Souza
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
E-mail: thaisprisciladesouza@gmail.com
Yasmim Cristhie dos Santos
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
E-mail: yasmim05.santos@gmail.com
Micaela Cardoso Barbosa
Escola Estadual Dona Quita Pereira
E-mail: micaelacbarbosa@gmail.com
Fernanda de Souza Cardoso
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
E-mail: fernanda.cardoso@unimontes.br
O Programa Residência Pedagógica (PRP) é gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sendo uma ação do Ministério da Educação do Brasil que tem como objetivo promover entre as instituições de ensino superior (IES) e as escolas da educação básica a inserção dos acadêmicos dos cursos de licenciaturas no campo de sua futura atuação profissional, a escola. Indubitavelmente é nesse momento de imersão na escola que o licenciando poderá aproximar-se da realidade de sua área de formação, produzindo experiências formativas e ajudando-o a compreender o “ser docente”, estabelecendo uma relação entre teoria e prática, que o direciona para seu futuro exercício profissional (SILVA; RIOS, 2017). Partindo desse pressuposto, concordamos que a inserção em Programas como este é de suma importância para o processo formativo do acadêmico e futuro professor, promovendo oportunidades de materializar em sua prática pedagógica, os conhecimentos aprendidos na graduação. Certo disso, o Programa tem a finalidade de aperfeiçoar a formação dos discentes das licenciaturas, por meio do desenvolvimento de projetos que fortaleçam o campo da prática e conduzam o licenciando a exercitar de forma ativa a relação entre teoria e prática profissional docente (CAPES, 2018a). Desta maneira, propomos nesta pesquisa relatar as experiências vividas pelas residentes do PRP da Escola Estadual Dona Quita Pereira, buscando apresentar e justificar o conhecimento adquirido no segundo Módulo do Residência Pedagógica, nos anos iniciais do ensino fundamental, partindo das dificuldades e dos aprendizados alcançadas. Esperamos com este relato de experiência contribuir para a reflexão sobre a formação de professores, como também partilhar vivências que possam provocar uma reavaliação das práticas pedagógicas e do lugar da Educação Física escolar. Almejamos que os leitores interessados neste tema possam conhecer um pouco mais sobre a realidade da escola, os múltiplos problemas que fazem parte do seu cotidiano, como também as muitas possibilidades que a educação possui.
MÉTODO
O presente texto se constitui em um relato de experiência, sendo, portanto, descritas as experiências vivenciadas pelas cinco residentes durante três meses (maio, junho e julho) do Módulo II do PRP. Esta etapa teve início em maio de 2023 e ainda está em andamento. Neste relato estamos focando na apresentação das aprendizagens e das dificuldades enfrentadas pelas acadêmicas com os anos iniciais do ensino fundamental, nas aulas de Educação Física (EF). A escola campo em que as experiências se deram é a Escola Estadual Dona Quita Pereira, localizada na cidade de Montes Claros – MG. As residentes foram organizadas na escola nos horários e dias em que a preceptora ministrava aulas na instituição, ou seja, de segunda a quinta-feira. Os alunos com os quais trabalhamos eram do 2° ao 5° ano. Algumas aulas foram desenvolvidas em sala de aula e outras na quadra, em função do planejamento, sendo que este foi elaborado pelas residentes com o acompanhamento da professora de Educação Física/preceptora do Programa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo do Módulo II, cumprindo a carga horária exigida pelo PRP, as residentes se faziam presentes na escola campo acompanhando as atividades da preceptora, como também executando as suas intervenções planejadas. Cabe destacar que as aulas ministradas (regência) pelas acadêmicas tinham como documentos de referência, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG), disponibilizados para estudo e preparação dos planos de aula. O Plano Anual da instituição viabilizado pela preceptora contém: temática, objeto de conhecimento, habilidades que devem ser desenvolvidas, conteúdos relacionados e os planejamentos das aulas seguindo as semanas.
No que diz respeito às dificuldades enfrentadas, identificamos a falta de materiais diversificados para as aulas de Educação Física; a alta demanda de eventos escolares e a desvalorização do professor de EF no contexto escolar. Detalhando a questão dos recursos didáticos, tínhamos, por exemplo, poucos bambolês, cones e bolas para usarmos nas aulas. Para se realizar uma atividade com bola, as acadêmicas tinham, em alguns momentos, que usar duas bolas diferentes com a mesma turma. Tal situação dificultava e muitas vezes inviabilizava a execução de diversos jogos e brincadeiras pensados pelas residentes. Em um estudo feito por Canestraro, Zulai e Kogut (2008), os autores identificaram a falta de materiais como principal dificuldade enfrentada pelos professores de Educação Física, interferindo negativamente no processo de ensino-aprendizagem. Aliado a esta pesquisa, Aguiar (2014) apontou o mesmo em seu estudo, salientando que a escassez de materiais foi uma dificuldade apresentada pelas professoras ao ministrarem aulas de EF. Estes estudos apontam para a afirmação de que, na história da Educação Física, a falta de materiais esteve e continua sendo presente no desenvolvimento das aulas em escolas públicas (KRUG, 2008). Outro ponto que destacamos é o fato de que ao longo do ano diversos eventos escolares acontecem, por sua vez, existe uma alta demanda de responsabilidade para a professora de Educação Física. Desta maneira, no mês de junho, durante a regência do Módulo II, a maioria das aulas que seria ministrada pelas residentes, foi direcionada para os ensaios da quadrilha da escola, uma vez que era a época da Festa Junina. Tal situação interfere de forma negativa no planejamento anual da professora e no ensino da Educação Física. Embora reconheçamos que a quadrilha, enquanto uma importante manifestação da cultura popular seja uma temática que deve fazer parte do nosso planejamento, esta fica dependente da maneira como é conduzida e exigida pela escola, já que ensaios e a festa, em si, não são propriamente aulas. Em relação à última dificuldade, a desvalorização do professor de EF, anteriormente destacada, ressaltamos que embora a EF seja um componente curricular, ela não recebe o mesmo tratamento que as demais disciplinas. De acordo com a pesquisa de Prandina e Santos (2016) existe pouca valorização do professor de EF, seja por parte da sociedade, pais dos alunos e demais professores. Sendo assim, ao longo do Módulo II, notamos, por exemplo, dificuldades quanto à devolutiva de atividades e pesquisas propostas pelas residentes. Muitos alunos não entregaram as atividades na data prevista, o que denota certo desapreço pelas atividades teóricas relacionadas à EF e seus conteúdos. Além disso, ao longo do Módulo, algumas falas de alunos foram observadas, e nelas fica nítida a concepção quem eles têm do professor de Educação Física, visto como o docente menos atarefado da escola e pouco compromissado. Tal situação se estende também para os demais professores, que enxergam a EF como recreação, diversão, e a utilizam, inclusive, como moeda de troca, já que buscam punir os alunos que foram indisciplinados na aula, impedindo sua participação na EF. Assim, diante da complexidade da ação docente, as dificuldades surgem cotidianamente, mas concordamos com Somariva; Vasconcellos e Jesus (2013, p.1), quando os mesmos argumentam: “a identificação das dificuldades dentro do cotidiano profissional é imprescindível para o planejamento de ações que garantam a melhoria das condições de trabalho e, consequentemente, da qualidade do ensino da Educação Física”. Mas, apesar das dificuldades, os residentes também tiveram aprendizados, dentre eles, vale destacar o entendimento da importância do planejamento para a efetividade do processo de ensino-aprendizagem, sistematizando, desta forma, os conteúdos da EF escolar. Tal organização é imprescindível para uma prática pedagógica competente, facilita o trabalho em sala de aula e evita contratempos, corroborando com o entendimento de que, o planejamento é o fio condutor da ação docente, e sem ele o professor não conseguiria visualizar a sequência lógica a ser trabalhada, o desenvolvimento harmônico das atividades e a relação entre objetivo, conteúdo e método da aula (MEDEIROS, 1998). Nas aulas planejadas tivemos a possibilidade de exercitar nossa criatividade, e esta, segundo Melo e Martinez (2012), pode ser eficiente no auxílio do planejamento e execução de aulas atrativas, agradáveis e que alcancem à diversidade dos alunos. Assim, ao longo do Módulo II, as aulas foram pensadas e repensadas buscando a inovação das mesmas. Além disso, destacamos o fato de percebermos o plano de aula como uma estrutura flexível, realizando alterações quando necessário. Todas estas características são importantes para a formação de um bom professor. Apesar dos ensaios para a quadrilha já terem sido citados anteriormente como um desafio, ressaltamos que esta experiência trouxe também aprendizado para as residentes, uma vez que, tal situação apresentou a realidade da escola, e esta circunstância poderá ser enfrentada quando as residentes se tornarem, de fato, professoras. Além disso, foi uma oportunidade de vivenciarmos o período de preparação e a satisfação da comunidade escolar, no dia da Festa Junina. De maneira geral, um considerável aprendizado se deu a partir da vivência como residente, e o PRP tem se diferenciando dos estágios obrigatórios ao longo do curso, uma vez que, um dos objetivos deste Programa é “induzir a reformulação do estágio supervisionado nos cursos de licenciatura, tendo por base a experiência da residência pedagógica” (CAPES, 2018, p. 1), com isso, através do PRP os residentes se inserem de forma mais ativa na comunidade escolar, buscando desempenhar seu papel da melhor forma, com responsabilidade e competência.
CONCLUSÃO
Ao final deste relato, a partir das experiências vividas em três meses do Módulo II do Residência Pedagógica, já que o mesmo se encontra em andamento, enfatizamos as principais dificuldades enfrentadas, como também apresentamos os aprendizados conquistados. Quando falamos nas dificuldades destacamos: a falta de alguns recursos didático-pedagógicos na escola-campo, o que de certa forma, influencia nas aulas planejadas; a concepção equivocada dos alunos e docentes sobre a professora de EF, sendo dada, por parte dos primeiros, menor importância às atividades propostas pelas residentes, e por parte dos últimos, a EF parece ficar reduzida à mera atividade recreativa ou moeda de troca. Neste sentido, evidenciamos que há certa negligência por parte dos estudantes (assim como dos familiares) no cumprimento e retorno das tarefas; e que há ainda uma desvalorização da Educação Física por parte da comunidade escolar, muitas vezes não sendo a mesma, reconhecida como um componente curricular. Revelamos também uma alta demanda para a professora de EF, no que refere aos eventos propostos no calendário escolar. Assim, esta ocorrência influencia o planejamento, sendo necessárias adequações quanto à proposta. Em relação a esta questão, destacamos a Festa Junina da escola, sendo preciso a participação das residentes na preparação dos alunos para esta evento. Desta forma, parte da regência foi voltada para os ensaios da quadrilha. Esse momento se constituiu em um desafio, mas também trouxe à tona a realidade, já que esta situação parece ocorrer todos os anos na escola. Ela nos permitiu, não somente enfrentar a questão, mas realizá-la da melhor forma que pudéssemos. Diante de todas essas dificuldades, não podemos deixar de destacar o acompanhamento e auxílio da nossa preceptora, pois foi a partir destes que conseguimos avançar em nossos propósitos. E quando falamos em aprendizados salientamos: o entendimento sobre a importância do planejamento para uma prática pedagógica efetiva; a compreensão real de que os planos de aula não são estruturas engessadas, mas flexíveis, portanto, podem ser reavaliadas, sofrer adequações; a oportunidade de exercermos nossa criatividade facilitando o processo de ensino-aprendizagem e estimulando os alunos a participarem das aulas de EF. Desta forma, conseguimos ter mais autonomia no âmbito escolar e a relação residente-aluno pôde ser ampliada. Concluímos que o Residência Pedagógica trouxe experiências jamais vivenciadas durante a nossa graduação, apesar de já termos tido contato com o ambiente escolar nas disciplinas de estágio. No entanto, no PRP, nossa inserção na instituição de ensino é feita de uma maneira mais profunda e mais organizada, nos garantindo maior autonomia e segurança ao assumirmos as aulas na escola campo. Precisamos, portanto, ter a mesma responsabilidade e competência que demonstra nossa preceptora. É importante que entendamos a responsabilidade que temos diante dos alunos atendidos no PRP e o quanto nossas escolhas e práticas pedagógicas possuem alcances que estão além do momento da aula, já que nosso corpo experimenta o mundo não apenas pela experiência física, mas também pela social, cognitiva, emocional. Percebemos que a cada aula dada ou interações experimentadas na escola, vamos ampliando nossos conhecimentos e competências, vamos nos construindo enquanto professoras. A cada nova experiência vivida e/ou compartilhada, vamos construindo nossa identidade docente e nos aproximando das professoras que realmente desejamos ser.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo apoio financeiro e oportunidade de inserção no Programa Residência Pedagógica.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, P. S. Educação Física nos anos iniciais do ensino fundamental: um paradoxo educacional, 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
CANESTRARO, J. F.; ZULAI, L.C.; KOGUT, M.C. Principais dificuldades que o professor de educação física enfrenta no processo ensino-aprendizagem do ensino fundamental e sua influência no trabalho escolar. VIII Congresso Nacional de Educação ‒ EDUCERE, Paraná, v. 1, 2008.
CAPES. Programa de Residência Pedagógica. 2018a. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/educacao-basica/programa-residencia-pedagogica. Acesso em: 18 de jul. 2023.
CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Edital 6: Chamada pública para apresentação de propostas no âmbito do programa de residência pedagógica. 2018. Brasília: Ministério da Educação, 2018b.
KRUG, H. G. Vale a pena ser professor... de Educação Física Escolar?. Revista Digital Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 13, n. 122, p. 1-7, 2008.
MEDEIROS, M. Didática e prática de ensino da Educação Física: para além de uma abordagem formal. Goiânia: UFG, 1998
MELO, A. C. R.; MARTINEZ, A. M. As principais tendências pedagógicas da educação física e sua relação com a inclusão. Revista da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Campinas, v. 10, n. 8, p. 180-195, 2012.
PRANDINA, M. Z.; SANTOS, M. de L. dos. A Educação Física escolar e as principais dificuldades apontadas por professores da área. Horizontes - Revista de Educação, v. 4, n. 8, p. 99–114, 2017. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/horizontes/article/view/5745. Acesso em: 02 de ago. 2023.
SILVA, F; RIOS, J. A. P. Narrativas de si na iniciação à docência: o PIBID como espaço e tempo formativos. Educação & Formação, v. 3, n. 2, p. 57-74, 2017.
SOMARIVA, J.F.G.; VASCONCELLOS, D.I.C.; JESUS, T.V. de. As dificuldades enfrentadas pelos professores de Educação Física das escolas públicas do município de Braço do Norte. In: SIMPÓSIO SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES (SIMFOP) ‘Educação Básica: desafios frente às desigualdades educacionais’, 2013, Tubarão. Anais, Tubarão: Campus Universitário de Tubarão, 2013. p. 1-14.