1
Sistematização da assistência de enfermagem a uma mulher vítima de violência
doméstica: relato de experiência
Nursing care systematization a woman victim of domestic violence: case studies
Márcia Maria Conceição Eugênio
1
Jessica Adriene Diniz
1
Larissa Lopes Batista
1
Letícia de Toledo Vaz de Alencar
1
Adilene Viana Machado Gonçalves
1
Dyulia Correa Santos
1
Mateus Henrique dos Santos
1
Olívia Araújo Rodrigues
1
Luís Paulo Souza e Souza
2
Resumo: Objetivou-se aplicar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) a uma
mulher tima de violência doméstica. Trata-se de estudo qualitativo, do tipo estudo de caso,
seguindo o embasamento teórico do Processo de Enfermagem da Wanda Horta. Os diagnósticos
de enfermagem foram feitos de acordo com a classificação proposta pela Associação Norte
Americana de Diagnósticos de Enfermagem NANDA Internacional. Os dados relatados pela
mulher e no relatório do hospital no dia do atendimento de urgência foram: mulher, 30 anos de
idade, deu entrada no setor de emergência de um hospital público na região metropolitana de
Belo Horizonte por volta das duas horas da madrugada, trazida por dois amigos, relatando ter
sido brutalmente agredida por seu ex-companheiro. Os principais diagnósticos de enfermagem
foram: Autoestima: Situacional Baixa, Conflito de Decisão, Desesperança, Dor Crônica,
Distúrbio da Imagem Corporal, Insônia, Medo, Isolamento social e Síndrome pós-trauma. Após
a identificação dos diagnósticos foram pautadas as intervenções sugeridas e intervenções
principais, e encontrados os resultados esperados e resultados encontrados com a mulher.
Conclui-se que a SAE proporcionou ao acadêmico a aproximação com a assistência e a
realização das ações de saúde em enfermagem, obtendo resultados satisfatórios junto à mulher
acompanhada.
Palavras-chave: Violência Doméstica; Profissionais da Saúde; Processo de Enfermagem;
Cuidados de Enfermagem.
Abstract
Aimed to apply systematization of nursing care (SAE) a woman victim of domestic violence.
This is qualitative study, case study type, following the theoretical basis of nursing process of
Wanda Horta. Nursing diagnoses are made in accordance with the classification proposed by
the North American Nursing Diagnosis Association - NANDA international. The data reported
by the patient and in the report of the hospital on the day of the emergency care were: Patient,
30 years old, was admitted to the Emergency Department of a public hospital in the
1
Acadêmic@s do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Vale do Rio Verde, Minas Gerais, Brasil
2
Enfermeiro, Doutorado em Saúde blica pela Universidade Federal de Minas Gerais, Professor do
Departamento de Medicina da Universidade Federal de São João del Rei, Minas Gerais, Brasil.
Endereço para correspondência: luis.pauloss@hotmail.com. Telefone: (38) 991381405
2
metropolitan region of Belo Horizonte at around 2 o'clock in the morning, brought by two
friends, reporting have been brutally assaulted by your ex-partner. The main nursing diagnoses
were: Self-esteem: Low, Situational Decision conflict, Hopelessness, chronic pain, Body Image
disorder, Insomnia, fear, social isolation and post-traumatic Syndrome. After the identification
of the diagnoses were based interventions suggested and major interventions, and found the
results expected and results with the patient. It is concluded that the SAE provided academic
approach with the assistance and the realization of health actions in nursing, obtaining
satisfactory results with the woman accompanied.
Keywords: Violência Doméstica; Profissionais da Saúde; Processo de Enfermagem; Cuidados
de Enfermagem.
INTRODUÇÃO
A violência contra mulher é considerado pelo ministério da saúde como um dos
principais agravos a saúde da mulher. Atualmente esse agravo é considerado crime segundo o
que diz a lei Lei número 11.340 de 07 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), no seu Artigo
5º, considera a violência no âmbito doméstico como aquela compreendida como espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas, e no âmbito da família, como aquela compreendida como a comunidade formada
por indivíduos que são, ou se consideram, aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade
ou por vontade expressa. A Lei ainda faz referência à violência conjugal como aquela que se
em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independente de coabitação
1
.
Historicamente, a violência atinge todos os setores da sociedade, sendo um fenômeno
multideterminado e, como tal, complexo. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
2
define
violência como o uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente,
contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes
probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou
privações.
Destaca-se que o uso da palavra poder amplia a natura dos atos violentos, ampliando a
natureza do ato violento, saindo do conceito usual de apenas cunho físico, incluindo atos que
resultem em de uma relação de poder ameaças, intimidações, privações, etc.
3
Neste contexto, pode-se explicar atos violentos de diversas formas, devido a existir uma
grande variedade de tipos. Autores
4
dividem a violência em três amplas categorias,segundo as
características daqueles que cometem o ato violento: a) violência autodirigida (subdividida
em comportamento suicida; pensamentos suicidas, tentativas de suicídio; agressão auto-
infligida, automutilação); b) violência interpessoal (violência de família e de parceiros
3
íntimos; violência na comunidade violência entre indivíduos sem relação pessoal); c)
violência coletiva (violência social, política e econômica).
A figura abaixo exemplifica a natureza dos atos dentro de cada uma das três categorias.
A natureza dos atos pode ser: 1) física; 2) sexual; 3) psicológica; 4) relacionada à privação ou
ao abandono. A série horizontal na ilustração indica quem é atingido, e a vertical descreve como
a vítima é atingida.
Figura 1 - Tipologia da violência.
Fonte: Dahlberg e Krug (2006)
4
.
Observação: A série horizontal na ilustração indica quem é atingido, e a vertical descreve como
a vítima é atingida.
Dentro deste contexto, destaca um tipo de violência que apresenta importante impacto
para a saúde pública, que é a violência intrafamiliar. A violência intrafamiliar atinge parcela
importante da população, podendo atingir crianças, adultos, parceiros íntimos, idosos desde que
estejam no círculo familiar; e repercute de forma significativa sobre a saúde das pessoas a ela
submetidas. Configura-se como um desafio para os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS)
5-
7
. Na realidade, a violência intrafamiliar é uma questão de grande amplitude e complexidade
cujo enfrentamento envolve profissionais de diferentes campos de atuação, requerendo, por
conseguinte, uma efetiva mobilização de diversos setores do governo e da sociedade civil
8-10
.
A violência doméstica é qualquer ato, conduta ou omissão que tem como objetivo infligir, com
4
intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou econômicos, de modo direto ou indireto,
que pode ocorrer mediante de ameaças, coação ou qualquer outro meio, às pessoa que habite
na mesma residência, como crianças, jovens, mulheres e homens adultos ou idosos ou as vezes
mesmo não habitando na mesma residência, o gente da violência, seja cônjuge ou companheiro
ou ex-cônjuge ou ex-companheiro
11
.
Para assistir uma mulher vítima de violência é necessário que os profissionais de saúde,
destacando o(a) enfermeiro(a), tenha fundamento crítico aliado a prática bem como capacidade
cientifica, pois, além de ser atribuído a ele a realização de uma boa entrevista , exame físico
completo, a fim de observar as lesões, o profissional deve fornecer segurança e confiança para
que esta mulher relate o caso ocorrido e crie vínculo com o serviço. Destaca-se, portanto, a
necessidade de melhor formação dos profissionais de saúde para atenderem estas mulheres em
situação de violência
12
.
Sistematizar a assistência de enfermagem com a mulher vítima de violência doméstica
é de suma importância para garantir a essa mulher um atendimento de forma integral e holístico,
dando a ela todo o suporte necessário para a sua recuperação, física, psicológica e emocional.
Para cuidar, é necessário o estabelecimento de uma relação de cuidado em que é preciso existir
um processo interativo entre o enfermeiro e a pessoa que está sendo cuidada. Para que esta
relação aconteça, é necessário intencionalidade, disponibilidade, receptividade, confiança e
aceitação promovendo o crescimento de ambos, profissional e paciente. Para cuidar, é preciso
conhecimento técnico-científico, habilidades e competências próprias da profissão que
favoreçam a percepção do ser humano nos aspectos biológico, psicológico, social e espiritual.
Assim, este estudo objetivou relatar a experiência da aplicação da Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) a uma mulher tima de violência doméstica, seguindo os
pressupostos do Processo de Enfermagem da Wanda Horta.
METODOLOGIA
Estudo qualitativo, do tipo estudo de caso, realizado em Betim-MG, no período de
agosto a novembro de 2018, que foi elaborado a partir da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE), que é composto de: Histórico de Enfermagem; Diagnóstico de
Enfermagem; Planejamento de Enfermagem; Implementação de Enfermagem (Plano de
Cuidados); e Avaliação de Enfermagem, conforme a Associação Norte Americana de
Diagnósticos de Enfermagem (Nanda 2015/2017)
13
. Seguiu-se o embasamento teórico acerca
do Processo de Enfermagem da Wanda Horta
14
.
5
A escolha do paciente aconteceu por meio de uma das integrantes do grupo, que trabalha
em um pronto atendimento de um hospital público da região metropolitana de Belo Horizonte
e teve uma paciente relatando ter sofrido violência física do ex-parceiro e com a sua devida
autorização para realizar o processo de enfermagem. A realização da SAE iniciou-se com a
abordagem com o paciente, em que foram explicadas as raes da realização de um estudo de
caso, como seria realizado e quais suas finalidades. Logo após, foram feitos os seguintes passos
da SAE: Identificação (nome, dados pessoais, gênero, estado civil...), queixa principal (o que
motivou a procura pelo serviço), histórico familiar (doenças congênitas, hereditárias), exame
físico e das funções mentais, estudo das medicações em uso, identificação de fatores de risco,
levantamento de problemas, diagnósticos de enfermagem (problemas e riscos evidenciados e
suas relações) e elaboração do plano de cuidados. Os diagnósticos de enfermagem foram feitos
de acordo com a classificação proposta pela Associação Norte Americana de Diagnósticos de
Enfermagem NANDA Internacional (2015/2017)
13
.
DESENVOLVIMENTO
Relato de caso
Paciente sexo feminino, morena, 30 anos de idade, solteira, reside com a filha, deu entrada
no setor de emergência de um hospital público na região metropolitana de Belo Horizonte por
volta das duas horas da madrugada. Proveniente de sua residência, onde relata ter sido
brutalmente agredida por seu ex-companheiro, trazida por dois amigos. Admitida no setor de
emergência onde foi colocada na cadeira de rodas com a ajuda do segurança da instituição e
encaminhada a sala de emergência, paciente lúcida orientada respondendo a solicitações
verbais, muito nervosa e preocupada com seu estado de saúde perguntando o tempo todo se vai
morrer, relatou ter perdido muito sangue enquanto estava em luta corporal com o seu agressor,
segundo a paciente seus múltiplos ferimentos foram causados por uma faca e uma navalha SIC.
Paciente hipotensa, taquicardica, acianótica, hipocorada, com lesões nas mãos, na região
posterior do tórax, região abdominal, região cervical e na região do queixo, todas as lesões
profundas. Após ser avaliada pelo médico foi puncionado acesso venoso periférico com cateter
número 18, encaminhada ao setor de raio-X para exames de imagem, após seu retorno foi feita
a suturas das lesões e curativo, medicada conforme prescrição médica e encaminhada para a
observação. Três meses após o ocorrido, paciente relata dificuldade para dormir devido aos
pesadelos e lembranças e faz uso Rivotril, dificuldade de se relacionar e confiar em outras
6
pessoas, baixa auto-estima devidos às cicatrizes, dor e dificuldade de usar a mão esquerda e
medo do retorno do ex-parceiro.
Aplicação da SAE
Os principais diagnósticos de Enfermagem levantados, suas definições; intervenções
sugeridas; intervenções principais; resultados esperados; resultados encontrados com a paciente
são apresentados no Quadro 1.
Quadro 1 Principais diagnósticos de Enfermagem levantados, suas definições; intervenções
sugeridas; intervenções principais; resultados esperados; resultados encontrados com a paciente.
DIAGNÓSTICO
DE
ENFERMAGEM
DEFINIÇÃO
INTERVENÇÃO
SUGERIDA
RESULTADO
ESPERADO
Autoestima:
Situacional Baixa
Desenvolvimento de
percepção negativa sobre
seu próprio valor em
resposta a uma situação
atual (agressão física pelo
companheiro).
Escutar ativamente;
Aconselhamento e
apoio emocional; Apoio
a proteção contra o
abuso; Terapia
Recreacional
Adaptação e
funcionamento positivo
de um indivíduo após
crise adversas
significativas;
Julgamento pessoal do
autovalor; Resposta
psicossocial de
adaptação de um
individuo a uma
mudança de vida
Conflito de Decisão
Incerteza sobre um curso
de ação a ser tomado,
quando a escolha entre
ações conflitantes envolve
risco, perda ou desafio a
valores e crenças de vida
pessoais.
Redução da ansiedade;
Escutar ativamente.
Capacidade de adquirir,
organizar e usar
informações;
Capacidade de fazer
julgamento e de fazer
escolhas entre duas ou
mais alternativas.
Desesperança
Estado subjetivo em que o
individuo não enxerga
alternativas ou escolhas
pessoais disponíveis e é
incapaz de mobilizar
energia a seu favor.
Terapia ocupacional;
Reestruturação
cognitiva; Apoio
emocional; Terapia
com animais; Apoio
familiar; Escutar
ativamente; Prevenção
do suicídio; Apoio a
tomada de decisões.
Melhora no humor;
Melhora pelos
interesses pelas coisas
da vida; Otimismo que
pessoalmente satisfaz e
oferece apoio a vida;
Impulso e energia para
manter as atividades da
vida diária, a nutrição e
a segurança pessoal;
Alcance da percepção
positiva das atuais
circunstancias da vida;
Determinação e esforço
para sobreviver.
Dor, Crônica
Experiência sensorial e
emocional desagradável,
que surge de lesão tissular
real ou potencial, ou é
descrita em termos de tal
lesão. Inicio súbito ou
lento, de intensidade leve
a intensa, constante ou
recorrente, sem um
termino antecipado ou
previsível, com duração
por mais de 6 meses.
Administração de
analgésicos; Promoção
do envolvimento
familiar; Terapia
ocupacional; Promoção
do exercício; Apoio
emocional;
Apoio espiritual.
Alcançar a percepção
positiva do cuidado da
enfermagem para o
alivio da dor; Ação
pessoais para controle
da dor; Melhora da
gravidade dos efeitos
causados pela dor
crônica.
Distúrbio da
Imagem Corporal
Confusão da imagem
mental do eu físico de
uma pessoa.
Escutar ativamente;
Redução da ansiedade;
Apoio emocional;
Aconselhamento;
Reestruturação
cognitiva.
Percepção da própria
aparência e funções do
corpo; Marcos do
progresso físico e
cognitivo.
Insônia
Distúrbio na qualidade e
na quantidade do sono,
que prejudica o
funcionamento normal de
uma pessoa.
Controle de energia;
Controle de
medicamentos;
Controle do ambiente;
Massagem.
Alcançar a percepção
positiva da própria
condição da saúde e
vida do individuo;
Melhora na qualidade e
na quantidade do sono;
Melhora na qualidade
de vida do individuo;
Melhora na qualidade e
na quantidade do sono.
Isolamento social
Solidão experimentada
pelo individuo e
percebida como imposta
por outros e como um
estado negativo ou
ameaçador.
Manutenção do sistema
familiar; Escutar
ativamente; Terapia
com animais; Controle
do ambientes;
Terapia ocupacional;
Redução da ansiedade
Adaptação do tom
emocional prevalente
em resposta das
circunstancias; Melhora
em relação ao
isolamento emocional,
social ou existencial
Medo
Reação a ameaça
percebida, que é
conscientemente
reconhecida como um
perigo.
Apoio a proteção contra
o parceiro; Escutar
ativamente; Apoio a
tomada de decisão;
Apoio emocional.
Controle do ambiente;
Prevenção da violência;
Melhora do sistema de
apoio;
Redução da ansiedade
Síndrome pós-
Trauma
Resposta mal-adaptada e
sustentada a evento
traumático e opressivo.
Apoio emocional;
Apoio familiar;
Proteção dos direitos do
paciente; Melhora da
segurança;
Melhora da autoestima;
Controle do humor;
Melhora do sistema de
apoio;
Melhora da segurança;
35
A violência de gênero diz respeito a sofrimentos e agressões dirigidos especificamente
às mulheres pelo fato de serem mulheres. Como termo genérico usado para referir à situação
experimentada pelas mulheres quer remeter também a uma construção de gênero, isto é, se por
um lado este termo evidencia uma dada ocorrência sobre as mulheres, também quer significar
a diferença de estatuto social da condição feminina. Esta diferença faz com que situações de
violência experimentadas pelas mulheres, especialmente a violência que se por agressores
conhecidos, próximos e de relacionamento íntimo, sejam vistas como experiências de vida
usuais
15
.
A violência contra a mulher recebe está denominação por ocorrer dentro do lar, e o
agressor ser, geralmente, alguém que manteve, ou ainda mantém, uma relação íntima com a
vítima. Pode se caracterizar de diversos modos, desde marcas visíveis no corpo, caracterizando
a violência física, até formas mais sutis, porém não menos importantes, como a violência
psicológica, que traz danos significativos à estrutura emocional da mulher
11
.
Falando sobre violência e, mais especificamente, sobre a violência contra mulheres,
percebemos que a noção de gênero muitas vezes é confundida com a idéia de sexo feminino,
quando, na verdade, surgiu exatamente para destacar tal distinção. Enquanto sexo indica uma
diferença anatômica corporal, gênero indica a construção social, material e simbólica dos seres
humanos
15
.
Esta dicotomia influencia a vidas das pessoas. Estas são diferenças culturais
determinantes entre o feminino e o masculino. A identificação do sexo,
normalmente, determina o comportamento social e as características pessoais.
As pessoas são divididas em dois grupos exclusivos nos quais os interesses,
as aspirações e habilidades são assumidos e bem definidos (o que corresponde
aos estereótipos dos papéis sexuais). Dentro dos lares, essas posturas também
são assumidas e exigidas, apesar de vários grupos, a partir dos anos 60, as
caracterizarem como rígidas e disfuncionais. Os papéis acabam por restringir
os comportamentos dos indivíduos a determinadas atividades consideradas
apropriadas para o seu sexo. Desta forma, os homens, especialmente os
homens jovens, estariam muito mais sujeitos do que as mulheres à violência
no espaço público e ao homicídio, cometido por estranhos ou conhecidos.
as mulheres estão mais sujeitas a serem agredidas por pessoas conhecidas e
íntimas. Este fato pode significar violência repetida e continuada o que, muitas
vezes, se perpetua cronicamente por muitos anos ou até vidas inteiras
15:30
.
Uma das formas mais comuns de violência contra a mulher ocorrer é por seus maridos
ou parceiros íntimos. O fato é que as mulheres geralmente estão envolvidas emocionalmente
com seus parceiros e dependem financeiramente deles, o que acaba resultando em sua
submissão. Isso ocorre em qualquer esfera social independentemente do grupo econômico,
religioso, social ou cultural.
36
Este tipo de violência tem importante impacto na saúda pública, pois influencia
sobremaneira as formas como as mulheres vivem, adoecem e morrem
5-7
.
Diante da violência contra mulher no âmbito dos serviços de saúde, as ações devem
considerar atenção integral e humanizada, tendo o profissional de saúde, enfatizando o
enfermeiro, um facilitador diante do processo terapêutico, implementando e desenvolvendo
estratégias e respeitando o contexto social, suas particularidades, estabelecer uma relação com
a realidade vivenciada e evidenciado os conflitos característicos ás queixas que não são
relatadas
16
.
Nesta perceptiva, ressalta que o profissional de saúde diante dos casos de violência, nos
vários contexto de assistência, devem ser atentos, buscar rede de apoio para redirecionamento
das ações, a fim de acolher as mulheres nos serviços de saúde, de forma a fomentar o seu
empoderamento, e encorajar outras mulheres a denunciarem, trazendo desenvolvimento do
pensamento critico, refletindo a importância da decisão no contexto de gênero e não nas ações
prescritiva do enfermeiro
16
.
Neste contexto autores
17
acrescentam que a enfermagem pode e deve ter grande
participação na intervenção e acolhimento das vítimas, com a possibilidade de construir elos de
confiança, permitindo assim reduzir índices desse agravo e contribuir para a realidade social. É
de fundamental importância profissional qualificada para essa assistência, pois é um fenômeno
que tende a acontecer diariamente em diferentes ambientes.
Analisar e discutir as aspectos éticos e legais da assistência das mulheres vítimas de
violência é relevantemente fundamental, considerando que consequências imediatas
fazendo com que elas busquem atendimento ao serviços de urgência e emergência analisar,
sendo que a enfermagem esta presente deste o inicio até final do atendimento da paciente. No
entanto, há uma fragmentação na formação destes profissionais, somado à pressão relacionada
às histórias de violência, que formam impasses e incoerências, havendo comprometimento no
processo do cuidado humanizado e efetivo
18
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo, destaca-se a extrema importância na humanização e
sistematização na assistência às mulheres vítimas de crimes passionais, incluindo ainda na
graduação em Enfermagem. Torna-se preciso o estímulo à rodas de educação popular, criação
de espaços para discursão e ações em conjunto com a universidade como forma de promoção
da saúde e prevenção da violência baseada no gênero, de forma a incentivar as denúncias,
divulgar, esclarecer e orientar a sociedade, mulheres de todas as idades, independente da classe
37
social.
Destaca-se, ainda, a relevância da SAE nos cuidados às vítimas, identificando as
principais necessidades e elaborando um plano de cuidado que realmente atenda às
necessidades da mulher. No caso em questão, pode-se apreender que os resultados esperados
foram alcançados. A SAE é uma tarefa intrínseca à Enfermagem e proporcionou aos
acadêmicos a aproximação com a assistência e a realização de ações cientificamente
comprovadas. Também foi possível, por meio da metodologia usada, aprimorar os
conhecimentos teóricos e práticos, dando a oportunidade de os acadêmicos avaliarem a
paciente, prescreverem cuidados de enfermagem necessários, colaborando para a qualidade de
vida da mulher e de sua família.
REFERÊNCIAS
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