REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
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INTRODUÇÃO
O atendimento pré-natal, segundo as recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS)(1), visa uma experiência
gestacional positiva com o objetivo de obter resultados perinatais e maternais
positivos. Nesse sentido, essas recomendações foram desenvolvidas de forma a
serem adaptadas e flexibilizadas em cada país, baseando-se no contexto e
necessidades daquela população.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a gestação, o parto
e o nascimento englobam vivências sexuais e reprodutivas de homens e mulheres,
passando a ser um evento único para as famílias e comunidades, sendo uma
experiência humana enriquecedora para quem a vivencia(2). Sendo
assim, o resgate dessa vivência remete ao início dos tempos, época em que as
mulheres tinham seus corpos preparados para a reprodução da espécie. Todavia,
com o passar dos anos, as práticas e costumes que englobavam o parto têm
variado bastante, tendo em vista suas
culturas e costumes, principalmente, devido à institucionalização médica do
acontecimento(3).
No ano de 2011, o Ministério da Saúde apresentou uma
estratégia inovadora para o Brasil, para qualquer Rede Cegonha, que tenha uma proposta de
mudança no contexto do gestar e parir.Isto garante à mulher seus direitos
reprodutivos e de atenção humanizada durante toda a gravidez, o parto e
pós-parto e, também, aos bebês, um nascimento seguro e crescimento saudável.
É importante destacar que a Rede Cegonha elege a enfermeira
obstétrica ou obstetriz como profissional responsável no acompanhamento da
gestante durante o trabalho de parto e nascimento, capaz de avaliar qualquer
intercorrência e encaminhá-la para o profissional médico(4).
Nessa linha, a Casa de Parto
David Capistrano Filho (CPDCF) propicia um modelo assistencial desmedicalizado,
com propostas de utilização de práticas obstétricas humanizadas.Dentre elas:
encontram-se o estímulo e a orientação às gestantes, nos grupos educativos,
para a confecção do próprio plano de parto, com a finalidade de
prepará-las para o parto, o nascimento e
o puerpério. Esse instrumento é uma carta de intenção com declarações sobre
quais atendimentos espera receber a gestante para si e para o seu bebê.Tais
procedimentos visa atender suas expectativas e como quer ser tratada durante o
processo de parturição(5).
As gestantes, por meio das
oficinas duranteo pré-natal, são estimuladas para a criação dos seus planos de parto(6),
uma vez que as declarações contidas nesse instrumento fazem aflorar o sentimento
de domínio sobre seus próprios corpos, como estratégia para garantir o seu
poder de decisão e o resgate da sua autonomia na cena do parto(7)e,
por consequência,o seu direito reprodutivo.
Dessa maneira, na CPDCF, a
humanização da assistência obstétrica vem sendo implementada cada vez mais como
uma filosofia de trabalho na assistência ao pré-natal, um trabalho educativoa
priorirealizado pela enfermeira obstétrica, objetivando melhorar a qualidade da
atenção e o empoderamento da mulher e sua família por meio de orientações,
estímulo e atividades em
grupo em prol do fortalecimento cidadania e dos vínculos familiar, profissional
e institucional(8).
Diante
do exposto, este estudo tem como objetivo identificar a construção do plano de parto pelas
mulheres do grupo educativo do pré-natal na Casa de Parto David Capistrano
Filho.
MÉTODOS
Trata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, estando em
conformidade com a Resolução
nº 466/12(9), que dispõe sobre a pesquisa com seres humanos, sendo
aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense
(Parecer nº1.963.984 e CAAE nº 62132416.2.00005243) e da Secretaria Municipal
de Saúde do Rio de Janeiro (Parecer nº 2.023.037 e CAAE nº
62132416.2.3001.5272).
O local da pesquisa foi na Casa de Parto David
Capistrano Filho.
Participaram do estudo onze (11) gestantes no período de abril a junho
de 2017 e todas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta de dados ocorreu por meio da entrevista individual semiestruturada e
teve como roteiro questões que continham perguntas sobre condições
socioeconômicas, histórico gestacional, reprodutivo, processo parturitivo e
plano de parto.
Para
realização das entrevistas foram selecionadas puérperas que participaram dos
grupos de roda de conversa 30 (trinta) dias após o parto. Na sequência,
manteve-se contato com cada uma nos grupos para explicar detalhes desta
pesquisa em foco, considerou-se como critério de inclusão, foi perguntado quais
as mulheres que gostariam de participar da pesquisa. As entrevistas foram
realizadas ao término de cada grupo, na própria sala de grupo. Entretanto,
mesmo sendo tais dados de suma importância para a elucidação de questões desta
pesquisa. A coleta de dados foi encerrada com11 (onze) mulheres, devido
saturação dos depoimentos.
Além
disso, foram utilizados critérios de inclusão: puérpera com 18 anos de idade
completos ou mais, participantes das rodas de conversa com, no máximo, um mês
de pós-parto. Entretanto, foram excluídas do estudo as mulheres com problemas
de saúde mental, aquelas transferidas de maternidade e as que não construíram o
respectivo plano de parto. Por razões éticas, as puérperas foram identificadas
pela letra “P” seguida de um algarismo arábico (P1, P2,...P11), conforme a
realização das entrevistas, dessa forma garantindo o seu anonimato e o sigilo
dos respectivos depoimentos.
Os dados aqui obtidos foram analisados através da
organização prevista na análise temática(10),
efetuada em três diferentes pólos: pré-análise, na qual foram sistematizadas as
ideias iniciais por meio da leitura flutuante das entrevistas transcritas;
exploração do material, em que se obteve a visualização do material para
compreensão da etapa seguinte; tratamento dos resultados obtidos e
interpretação. Além de estabelecer a validação dos significados e a
confrontação sistemática dos resultados obtidos com o material pesquisado.
A codificação ocorreu quando as respostas foram agregadas
por recorte, enumeradas e classificadas, atingindo a representação que
esclareceu as características dos textos. Dessa forma, foram identificadas as
unidades de registro (UR), que corresponderam a frases relacionadas ao conteúdo
das entrevistas, considerado como Unidade de Base. Em seguida, foi utilizada a
frequência através de sua intensidade, como regra de enumeração para saber o
número de vezes em que determinadas palavras apareceriam nas respostas.
A categorização efetivou-se a partir da diferenciação
dos conjuntos de palavras e, em seguida, pelo reagrupamento de acordo com os
sentidos similares. Tais processos foram estruturados em duas etapas: através
do isolamento das palavras ou frases; e pela classificação, quando as palavras
foram agrupadas de acordo com a similaridade de significados.
Vale ressaltar que a inferência se deu a partir da
disposição de dados significativos e fiéis, o que permitiu exercitar
interpretações a partir do objetivo, além de situações não visualizadas
anteriormente e que surgiram após a leitura e análise do conteúdo.
Sendo assim, a partir da identificação das UR e
posterior definição dos Núcleos Temáticos e das Unidades Temáticas, surgiu o
eixo temático abordando as tecnologias de cuidados não invasivas expressas no plano
de parto. Desse modo, foi delimitada a seguinte categoria analítica: “O
pré-natal como estratégia para construção do plano de parto".
RESULTADOS
Para a elaboração do perfil socioeconômico das
participantes, os dados foram coletados por autodeclaração a respeito de faixa
etária, raça/cor, religião, estado civil, escolaridade, ocupação/profissão,
renda familiar e história obstétrica e, em seguida, organizados com o objetivo de perceber melhor
o perfil das puérperas que participaram da pesquisa.
Na Casa de Parto em questão,
as mulheres têm a oportunidade de realizar seu pré-natal quando se descobrem
grávidas. Assim, no início da gestação, elas passam por grupos educativos cujo
objetivo é proporcionar-lhes melhor conhecimento de seu corpo, principalmente
em relação ao trabalho de parto e parto. Os temas abordados são mudanças
fisiológicas da gravidez, direitos da gestante, gênero e sexualidade, vínculo,
amamentação, cuidados com recém-nascido, tecnologias não invasivas de cuidado e
trabalho de parto.
Esses grupos são relacionados ao período da
gestação em que a mulher se encontra, sendo organizados em oficinas com um
método participativo e criativo, através de dinâmicas, jogos, dramatizações e
orientações. Verifica-se também que em todas as atividades incluem os
acompanhantes. Na ocasião, as mulheres e seus familiares participam dessas
oficinas, com isso todos obtêm informações relevantes relacionadas à gestação,
principalmente, a gestante quanto ao seu trabalho de parto, parto e puerpério.
Segue-se
a apresentação da categoria deste estudo, que se refere ao plano de parto. Esta
categoria foi construída com base nos depoimentos das mulheres, que tiveram
seus filhos na Casa de Parto David Capistrano Filho, onde o plano de parto é
uma tecnologia de cuidado utilizada durante o pré-natal, o parto e o
nascimento.
O
pré-natal como estratégia para construção do plano de parto
É interessante notar que as puérperas
entrevistadas demonstraram em suas falas que se sentiram com total liberdade e
autonomia para escrever e executar seus planos de parto. Também idealizaram e
concretizaram esse momento, descrevendo a construção da confiança, calma,
serenidade, diminuição da ansiedade, acreditando na sua capacidade de parir e
no respeito da equipe de saúde em relação às suas decisões. Os depoimentos
confirmam claramente o que foi dito:
Primeiro eu comecei a idealizar como
seria o parto, pensar nos momentos [...] planejando como seria como eu gostaria
que fosse, a hora, né? Do nascimento dele do que eu gostaria de estar ouvindo
nesse momento, como eu gostaria que o clima tivesse [...] no que me daria mais
tranquilidade o que me deixaria mais calma, para esse momento [...] e fui
pensando o que me deixaria mais tranquila relaxada como seria esse processo até
finalizar o plano de parto. (P1)
[...]eu trouxe o plano de parto, tudo
direitinho, e foi isso, saiu como eu queria, com certeza [...]eu me planejei,
então eu já fui bem preparada [...] na hora que eu fiz o plano de parto eu já
me planejei [...] faz uma diferença, faz pensar no parto. No plano de parto
você vai deixar claro o que você quer, vai parir da forma como você quer.
Perfeito para mim, é da forma que eu esperava que fosse. Assim, é com a questão
do respeito a mim. (P2)
Durante as oficinas e no pré-natal,
as gestantes foram incentivadas a realizar seu plano de parto, instrumento
muito importante para construir o conhecimento de cada uma durante todo o
processo de parturição. Antes disso, elas passaram por essas oficinas
educativas e também por orientações durante todo o pré-natal. Mas, quando
começam a idealizar o parto, todas buscam mais conhecimento, seja perguntando
às enfermeiras obstétricas ou através de pesquisas em livros ou pela internet.
Assim, ao finalizar seu plano de
parto em desenvolvimento durante a gestação, ela ainda busca saber com os
profissionais de saúde, durante a consulta de pré-natal, tudo o que é possível
fazer no trabalho de parto e parto. Pode-se observar esse processo de
conhecimento nos seguintes depoimentos:
[...] Aí eu botei a forma que eu
queria [...] trouxe o rascunho para a consulta. Na consulta a enfermeira foi me
ajudando, ela foi falando, me ajudando [...] o conhecimento foi ter passado por
todo o processo de aprendizado, as oficinas, tudo aquilo que eu fiquei lendo de
relato de parto, até isso me ajudou, fez diferença para mim na hora do parto. (P5)
[...] entendo de plano de parto. Foi
algumas coisas que eu entendi nas oficinas e algumas coisas que eu procurei,
também na internet, nos relatos sobre plano de parto também, os modelos de
plano de parto [...] foi através de pesquisa, né? E também conversei com algumas pessoas,
conversei com pessoas daqui da casa de parto também, trouxe para fazer tipo uma
avaliação, né? E aí, foi assim que eu constitui. (P7)
Portanto, observa-se que esse instrumento assistencial mostrou-se
eficiente para aumentar o vínculo entre gestantes e familiares, mostrando que a
sua construção significa um momento em que a família se reúne para planejar o
parto junto com a mulher, o que é muito importante para o aumento da
participação do acompanhante e compreensão de todos acerca do trabalho de parto
e parto, tornando esse momento radiante. Registra-se esse resultado nas
seguintes respostas das entrevistadas:
Eu fiz meu plano de parto sozinha,
depois eu li para ele, para ver se ele tinha alguma coisa para acrescentar
[...] O bom do plano de parto também, é que meu marido estava ciente, minha
irmã estava ciente de tudo que eu queria que acontecesse, porque talvez se eu
não tivesse feito o plano de parto, tudo isso ia ficar só na minha cabeça e
eles não teriam nem como fazer isso acontecer [...]. (P5)
Conversei com meu marido também,
muitas coisas ele perguntou se poderia fazer [...] foi também muito bom para
poder introduzir ele também no meu trabalho de parto, porque não era só meu,
ele também tava de alguma maneira parindo comigo [...]. (P7)
É bom lembrar que mesmo quando a
mulher não constrói seu plano de parto junto com seus familiares, fica clara a
importância desse instrumento assistencial para que, no momento do parto, o seu
acompanhante esteja ciente daquilo que ela idealizou, não indo de encontro ao que ela desejou, podendo ambos vivenciarem
esse momento de forma mais prazerosa.
A enfermeira obstétrica tem um papel
importante em relação às tecnologias não invasivas, em especial, na orientação
da construção do plano de parto, na compreensão do conceito de não invasão do
corpo feminino e no respeito ao que é natural e fisiológico(17).
Isto se dá porque ela exerce o cuidar de forma mais sensível, favorecendo a
mulher ao resgatar um cuidado feminino ao parto e nascimento, conforme,
descrito nos depoimentos abaixo:
[...] Tinha várias coisas no meu
plano de parto, usei a música. Eu trouxe pen-drive e a gente usou, foi bem
legal. A posição foi na água, a posição que escolhi [...] plano de parto eu
coloquei o acompanhante, a minha mãe e o meu marido [...]. (P3)
[...] pedi música, eu pedi massagem.
Música teve, massagem teve. Meu marido fez o tempo inteiro massagem nas minhas
costas, as meninas me deram óleo para ajudar na massagem [...] botaram a
música. Elas trouxeram um óleo, elas baixaram a luz, elas fizeram tudo que eu
tinha pedido sim. (P8)
O respeito a vontades expressas no
documento e também quanto à possível utilização dos mesmos, traz as tecnologias
não invasivas a um contexto positivo no trabalho de parto e parto. Com essas
informações as gestantes, durante todo o pré-natal, sentiram-se capazes de
fazer suas escolhas, informadas no que diz respeito às tecnologias não
invasivas do cuidado ao parto e nascimento. Isso fica evidente nas falas a
seguir:
[...] eu queria aceitar todas as
ideias, de rebozo, escalda pés, eu queria tudo que fosse bom para aliviar
aquela tensão do momento, a dor [...] as tecnologias que aqui tinha, para eu
poder fazer [...]quando eu cheguei aqui, eu fui bem acolhida, já fui para
debaixo do chuveiro[...]. (P5)
[...] colocaram a música que eu
escolhi, a luz, o ambiente que eu falei, que não queria que ficasse muito
silêncio. Eles deixaram a gente à vontade para ficar conversando. Meu marido
[...] minha prima, que é madrinha dela, e quando a bolsa estourou, eles já
encheram a banheira. Porque eu também tinha planejado fazer na água e, graças a
Deus, foi tudo tranquilo, nasceu na água [...] e o corte do cordão umbilical
também, que tava no meu plano de parto e ele cortou. Foi tudo bem perfeito pra
mim [...]. (P10)
Fica claro nesses depoimentos, que as
puérperas tinham conhecimento do que poderiam escolher para o seu trabalho de
parto e parto, sabendo de seus benefícios. Nesse sentido, enfatizaram as
tecnologias não invasivas de alívio para dor, relataram como queriam o ambiente
(luz baixa, música, silêncio), o local do parto, as posições que lhes
garantissem maior conforto e a presença fundamental de seus acompanhantes.
Após os grupos educativos realizados
na Casa de Parto, durante a gestação em conjunto com o pré-natal, as mulheres
adquiriram informações suficientes para decidirem qual tecnologia não invasiva
gostariam de utilizar em seu trabalho de parto, tornando evidente a importância
de um pré-natal que lhes proporcionasse autonomia no processo de parturição
efetivando, com êxito a construção do plano de parto como tecnologia em saúde.
DISCUSSÃO
No Estado do Rio de Janeiro, a Lei nº 7.191, de 06 de janeiro
2016, que dispõe sobre o direito ao parto humanizado na rede pública de saúde
no Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências, prevê em seus Artigos 4º,
5º, 6º, 7º e 8º a
elaboração de um Plano Individual de
Parto, a avaliação de médicos e enfermeiros para verificação dos fatores riscos
da gravidez, o manifesto da gestante e esclarecimentos de forma clara, precisa
e objetiva sobre as implicações de cada uma das suas disposições de vontade e as
condições de segurança materna ou do recém-nascido, quando as vontades do Plano
Individual do Parto forem contrárias(11).
O pré-natal e os grupos educativos são fundamentais para a
construção do plano de parto, uma vez que a prática educativa possibilita o
acesso à informações
indispensáveis para que a mulher tome
decisões relacionadas ao seu parto, com isso aumentando a autonomia diante das
suas escolhas. Os grupos educativos, por sua vez, favorecem a segurança e a
autonomia do casal, transformando atitudes e comportamentos, sendo que esse tipo de atividade tem impacto positivo
nas mulheres e na sociedade como um todo(8).
É evidente que as atividades nos grupos educativos
contribuiram decisivamente para o desenvolvimento humano, conforme os
depoimentos das entrevistadas, e assim, concebendo às mulheres um novo pensar, levando-as a refletirem sobre seus partos, colocando-se
como protagonistas e tomando decisões em relação à assistência, sempre a partir do plano de parto. Essas informações
adquiridas são importantes para manter as escolhas na hora do parto e, também,
para que o parto seja realizado da forma como ela imaginou(12).
O plano de parto é construído pela mulher, mas também pode
ser acordado com seus familiares, posto que tem como objetivo preparar a
gestante, seus familiares e também a equipe de saúde para o parto8.
Com esse instrumento, os familiares têm a possibilidade de, junto com a
gestante, planejar o momento do parto, diminuindo a ansiedade e o medo durante
esse processo. Ademais, ao compartilhar suas escolhas em relação ao parto e
nascimento, a partir do plano de parto, o vínculo afetivo é fortalecido entre a
mulher e seu companheiro ou familiares(13).
Desse modo, é importante aproveitar a atenção realizada no
pré-natal para nortear a mulher e sua família, incentivar sua autonomia,
empoderamento no processo de parto e nascimento, por intermédio da orientação e
do estímulo à construção do plano de parto. Além de contribuirem também para
uma qualidade elevada da assistência, pois, traz a gestante para esse processo
participativo13. Nesse
snetido, a construção do plano de parto constitui um importante estratégia para
a garantia da sua autonomia e expectativas em relação ao seu processo
parturitivo.
Considera-se que o plano de parto, enquanto tecnologia não
invasiva de cuidado de enfermagem obstétrica, além do mais favorece uma
assistência de qualidade por ser personalizado, gerando um vínculo entre a
mulher/família e o profissional, levando
assim a um trabalho de parto e parto satisfatórios(14).
O plano de parto deve ser um instrumento em que a gestante
participa suas preferências e torna suas escolhas esclarecidas, de acordo com
bases científicas e com os benefícios e implicações do trabalho de parto e
parto para o recém-nascido e seus familiares. Assim, percebe-se a importância
da elaboração do plano de parto como tecnologia de assistência ao parto e
nascimento, possibilitando às mulheres uma relação de diálogo autêntico entre o
desejável e o possível durante o processo de parto e nascimento(5, 8,
14-15).
As tecnologias do cuidado são práticas não invasivas que
contribuem, respeitosamente, para atender à mulher e seu corpo no trabalho de
parto e parto. Dentre elas: estão o incentivo à presença do acompanhante, o alívio da dor, o estímulo à
deambulação, a mudança de posição e o uso da água para relaxamento(15).
Nessa perspectiva, a equipe de saúde prepara a mulher e estimula que ela faça
esse plano. Com isso, ela sente-se apoiada a lutar pelos seus direitos como
protagonista de seu parto bem como pela
participação diretamente de todas as possibilidades de escolhas, melhorando
os resultados no parto e o seu nível de satisfação(16).
A concepção do Projeto Rede Cegonha preconiza uma assistência
humanizada ao parto e nascimento, respeitando a gestante como um todo,
fortalecendo sua autonomia e protagonismo, mantendo o uso de tecnologias
apropriadas e baseadas em evidências, incluindo a liberdade de movimentos, de
escolhas de posições durante o processo de parturição, direito ao acompanhante
previsto na Lei nº 11.108/05, além de um cuidado com seu bem estar e
integridade corporal(17).
Resgata-se aqui um estudo realizado com enfermeiras de duas
maternidades públicas do Rio de Janeiro, quando foi observado que a liberdade
de posição da parturiente durante o trabalho de parto e parto favorecia a
autonomia da gestante, melhorando a progressão fetal, concluindo-se que esse
processo deveria ser construído no pré-natal, com a efetivação do plano de
parto(18).
A ideia vem ao encontro de outro estudo, no qual se afirma
que a construção do plano de parto possibilita liberdade às mulheres no
processo de parturição, citando como exemplo alternar posições como sentada no
leito, na cadeira, na banqueta, ficar em decúbito lateral, ajoelhada, agachada,
de quatro apoios ou em pé jogando o corpo para frente, pode ajudar a reduzir a
dor, facilitar a circulação materno-fetal e a descida do feto. Essas posições,
sem dúvida, podem ser construídas no plano de parto(19).
Esse processo contínuo de construção durante o pré-natal,
mencionado pelas entrevistadas, possibilita um significado ímpar, pois o
envolvimento da família, e principalmente o acompnhante contribui a sua
inserção dentro da perspectiva do cuidado da mulher, e tendo uma centralidade
para ela, e suas expectativas.
A propósito das tecnologias inseridas
no plano de parto, o banho de imersão é importante por acelerar o trabalho de
parto e minimizar a dor, porque a água morna tem um efeito relaxante, e auxilia
para tirar o foco da gestante das contrações e diminuindo sua impaciência(20). Outro estudo aponta que o
banho, no trabalho de parto como uma tecnologia, que se caracteriza por medidas
de conforto físico, fazendo com que a gestante sinta-se revigorada, consiga
relaxar, além de ser estimulada a movimentar-se, em razão da Lei da Gravidade a
qual ajuda na descida do feto, dessa maneira, a mulher sentia-se mais forte resultando
num aumento da dilatação, assim contribuindo para que o parto torne-se um
processo mais rápido e com menos dor(21). Reforçando os estudos
anteriores, é consenso na prática assistencial de que o banho morno favorece a
redução dos níveis de adrenalina e, consequentemente, propicia o alívio da dor
da gestante(22).
Os planos de parto enfocam o desejo da gestante pela
massagem, como meio de proporcionar apoio e segurança para que ela se sinta
importante, seja pelo simples afago ou por meio da massagem propriamente dita(18),
visto que a massagem é um estímulo sensorial que contribui significativamente
para o alívio da dor, além de proporcionar uma sensação de relaxamento na
gestante, minimizando o estresse emocional, aumentando o fluxo sanguíneo e a
oxigenação dos tecidos(19). Eses métodos inseridos no plano de
parto, permite a mulher a vivenciar seu processo de nascimento, com mais
plenitude da parturição, e assim, suportatr mais a dor, e sustentando uma
atenção mais humanizada e respeitosa.
Outro aspecto relevante, é o
caso da musicoterapia, a qual
ajuda às gestantes efavorece o aumento da tranquilidade, interferindo
beneficamente no ciclo medo-tensão-dor-medo de forma relaxante, diminuindo o
nível da dor causada pelo parto(22). As mulheres entrevistadas nesta
pesquisa, relataram que em seus planos de parto, a música foi importante no
processo de parturição.
A presença do acompanhante é muito importante para a gestante
durante o trabalho de parto, parto e pós-parto, porque traz segurança e tranquilidade,
uma vez que reduz o tempo de trabalho de
parto e o número de cesarianas. O plano de parto deve ser construído pela
gestante e seu companheiro e/ou outra pessoa de sua escolha, tendo como
objetivos também servir de apoio à gestante, aumentar o vínculo do casal,
e o companheiro seja mais participativo
com o bebê e, sobretudo, tenha mais atenção com as necessidades da puérpera(23).
Diante do que foi mencionado acima, reforça-se a importância
do cumprimento da Lei do Acompanhante, já referida neste estudo, para que todas
as gestantes tenham garantido o direito da presença de um acompanhante de sua
livre escolha, em todo trabalho de parto e pós-parto, como uma estratégia
considerada não
farmacológica de redução da dor
durante esse processo(24). Diante de tais cuidados com a mulher, a
figura da enfermeira obstétrica repercute positivamente e satisfatóriamente com
um cuidado mais integral, qualificado, humanizado e centrado nas vontades das
mulheres.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em consideração os
resultados,tornou-se evidente que o plano de parto, na voz das mulheres que
pariram na Casa de Parto David Capistrano Filho, é um instrumento fundamental
para a construção da autonomia da parturiente e na vinculação com a equipe de
saúde, elementos que configuraram a construção desse instrumento, a partir do
apoio oferecidos nas oficinas de gestantes e no pré-natal realizado na Casa de
Parto.
Infere-se,portanto,
que para a construção do plano de parto,
as mulheres utilizaram como estratégia o pré-natal e as oficinas de gestantes
como espaços, onde tinham total liberdade para trocar experiências, sanar
dúvidas e receber orientações para elaborá-lo, inclusive buscaram informações
nas mídias sociais, entre outros canais de informação.
É inegável, a importância do
grupo educativo no pré-natal, como papel
fundamental para oferecer conhecimento às gestantes e seus acompanhantes,
contribuindo para que a mulhertorne-seempoderada em relação à sua vida e, principalmente,
na hora do parto. Logo, na ocasião em que
a mulher constrói o seu plano de parto, ela redige um documento cuja
expressão maior atribui todos os seus anseios e expectativas relacionados ao
parto e nascimento, colocando em prática tudo o que lhe foi esclarecido acerca
do assunto, trazendo para si uma sensação de segurança.
Conclui-se
que a confecção do plano de parto foi considerada uma ferramenta muito
importante por proporcionar às gestantes condições para manifestarem sentimentos como segurança e
tranquilidade por poderem confiar em si mesmas e na equipe de enfermeiros, que
iriam cuidá-las - como sujeitos de direito- respeitando suas individualidades e
compartilhando todas as decisões,no respectivo plano de parturição. No entanto,
considera-se importante ressaltar o papel das enfermeiras obstétricas ao
informarem às gestantes, ainda nos grupos educativos, que nem tudo o que estava
escrito nesse plano poderia ser executado, exatamente, conforme o planejado.
Caso o organismo materno seguisse um processo de parturição que necessitasse de
intervenções. Enfim, em outras palavras,
foram claras junto às parturientes e aos seus companheiros ao dizerem que, se
houvesse alguma intercorrência durante o parto, o desejo expresso no plano de
parto não poderia ser realizado, deixando-os prevenidos em relação ao assunto,
destarte, salvaguardando a segurança do próprio trabalho e a dos demais
integrantes da equipe de saúde.
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