REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM

ISSN: 2317-3092

 

 

 

Como citar este artigo

 

Couto, PLS; Paiva, MS; Suto, CSS; Silva, DO; Porcino, C; Gomes, AMT. O Facebook como ferramenta metodológica e lócus na pesquisa em representações sociais e enfermagem. Rev Norte Mineira de enferm. 2019; 8(1):84-91.

Autor correspondente

 

Pablo Luiz Santos Couto1.

Centro Universitário UniFG.

Correio eletrônico: pabloluizsc@hotmail.com

 

 

 

ARTIGO ORIGINAL

O FACEBOOK COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA E LÓCUS NA PESQUISA EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E ENFERMAGEM

 

Facebook as a methodological tool and locus in research in social representations and nursing

Pablo Luiz Santos Couto1, Mirian Santos Paiva2, Cleuma Sueli Santos Suto3, Dejeane de Oliveira Silva4, Carle Porcino5, Antônio Marcos Tosoli Gomes6.

 

1. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia, Docente do Centro Universitário UniFG. http://orcid.org/0000-0002-2692-9243

2. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Docente credenciada no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/UFBA. http://orcid.org/0000-0003-4399-321X

3. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia, Docente da Universidade do Estado da Bahia- Campus VII. http://orcid.org/0000-0002-6427-5535

4. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia, Docente da Universidade Estadual de Santa Cruz – BA. http://orcid.org/0000-0002-1798-3758

5. Mestrado em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Psicóloga na Associação de Travestis de Salvador (ATRAS)/Grupo Gay da Bahia (GGB). http://orcid.org/0000-0001-6392-0291

6. Pós-Doutor em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Pesquisador 1-D/CNPq, Procientista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Jovem Cientista do Nosso Estado/FAPERJ. http://orcid.org/0000-0003-4235-9647

 

 

 

Objetivo: analisar o uso do Facebook, considerando-o como lócus de pesquisa e estratégia para aplicação de instrumentos de coleta de dados. Método: traz-se a vivência de uma pesquisa multimétodos, realizada on-line, no Facebook, com 84 jovens de todas as regiões do Brasil, no período de fevereiro a março de 2015. Resultados: as redes socais aculturam as pessoas pela facilidade de aproximação virtual, difusão e propagação de informações, favorecem a realização de leituras da realidade e sua utilização como espaço para aplicação das técnicas de coleta de dados. A ferramenta permitiu coletar informação de pessoas em todas as regiões do Brasil e disponibilizou falas/discursos que revelaram suas representações sociais. Conclusão: o Facebook possibilitou delimitar grupos de pertencimento apresentando-se como novas tecnologias a ser utilizada como estratégia/técnica de pesquisas que se propõem a traçar planos de cuidados na educação em saúde de forma rápida e interativa com variados grupos populacionais.

 

Descritores: Rede Social; Pesquisa; Metodologia; Semântica; Enfermagem.

 

Objective: to analyze the use of Facebook, considering it as a locus of research and strategy for the application of data collection instruments. Method: it brings the experience of a multi-method survey, conducted online, on Facebook, with 84 young people from all regions of Brazil, from February to March 2015. Results: social networks acculture people by the ease of virtual approach, dissemination and propagation of information, favor the realization of readings of reality and its use as a space for the application of data collection techniques. The tool made it possible to collect information from people in all regions of Brazil and provided speeches/speeches that revealed their social representations Conclusion: Facebook made it possible to delimit membership groups presenting themselves as new technologies to be used as a strategy/research technique that propose to draw health care plans quickly and interactively with various population groups.

Descriptors: Social Networking; Research; Methodology; Semantics; Nursing.

INTRODUÇÃO

 

A abordagem metodológica tem relação com as etapas da pesquisa científica, a partir de um plano de trabalho elaborado para ser executado visando a produção, ao se considerar as fases do planejamento: delimitação do problema, tomada de decisão quanto ao uso do método ao ser adotado, elaboração do plano de trabalho; organização e escrita das ideias de modo sistematizado(1).

 

Assim, a metodologia é conceituada como o estudo sobre o método, ou seja, a reflexão que os pesquisadores elaboram acerca de estratégias, técnicas e categorias analíticas para o desenvolvimento da sua pesquisa(2). O método, por sua vez, é compreendido como o “caminho a ser construído e percorrido pelo pesquisador/investigador para atingir os objetivos de sua pesquisa, abarcando as dimensões teóricas, técnicas, éticas e criativas”(2:513).

 

Para que o método seja aplicado é fundamental a delimitação do campo ou universo de pesquisa, onde é possível ao pesquisador realizar uma leitura tridimensional da realidade, levando-se em consideração o espaço para a aplicação das técnicas, o tempo necessário que isso seja possível e as relações sociais entre os sujeitos envolvidos(1-2).

 

O facebook, um dos sítios eletrônicos que podem ser utilizado como universo de pesquisa para coleta de dados, é uma ferramenta utilizada em todo mundo, sobretudo no ocidente e entre a população jovem. Cerca de 1 bilhão e 250 mil pessoas, em países desenvolvidos, o número de usuários que utilizam essa rede social gira em torno de 90%; quanto aos jovens, aproximadamente 75% deles usam constantemente a ferramenta(3-4).

 

Qualquer pessoa pode vincular-se ao facebook, a partir de interesses pessoais e/ou motivações pessoais e profissionais, utilizando-se de ferramentas e aplicativos que possibilitam os usuários dessa rede social5 “comunicar e partilhar diversas informações, adicionar fotografias, vídeos, comentários, ligações, enviar mensagens, integrar com outros websites, dispositivos móveis e outras tecnologias”(5:172).

 

Assim, as redes sociais são ferramentas desenvolvidas para a sociedade utilizá-la na transmissão e no compartilhamento de informações(6). Logo, ao transversalizar com a Teoria das Representações Sociais (TRS) e a enfermagem, redefine-se a rede como um importante encontro entre o senso comum e o universo reificado, por meio de uma interação constante e multifacetada, muito mais fluida e abrangente, do que aquela analisada(7) na década de 60 do século passado, o que possibilita aos profissionais de enfermagem detectar e analisar conhecimentos e a sua influência nos comportamentos e práticas de saúde, para implementar a assistência, através de ações de educação em saúde com diversos grupos sociais

 

Salienta-se que a TRS se interessa por compreender o novo conhecimento que se espalha e é apropriado por diversos grupos sociais. À vista disso, a representação social, possibilita investigar o modo como o ser humano compreende o mundo e como, em grupo, se relaciona com ele e o operacionaliza em seu cotidiano(7-8),  quer seja em espaços físicos e/ou virtuais.

 

Nessas relações em rede, em que há a formação de grupos de pertencimento, onde se compartilha ideias, símbolos, fenômenos, crenças, aspectos semelhantes de vidas, há a produção de representações sociais (RS). A formação do grupo de pertença está relacionada à identidade social desenvolvida pelas pessoas em grupo(9).

 

Assim, este estudo proporciona relatar a experiência acerca da utilização do facebook como ferramenta e lócus de pesquisa para aplicação de multitécnicas delimitadas como estratégia para coleta de dados, ao desenvolver  uma pesquisa em enfermagem aportada na TRS. A teoria, utilizada amplamente na pesquisa social em saúde, sobretudo na enfermagem, proporciona investigar determinado objeto e o modo como as representações orientam, organizam e determinam comportamentos e práticas em saúde, auxiliando a enfermeira reordenar/reorganizar no planejamento do cuidado(10). No âmbito da saúde, as redes sociais têm sido utilizadas com várias finalidades, dentre elas na propagação e difusão de informações, o que proporciona a prevenção de doenças(6).

 

Considerando os aspectos trazidos até aqui, ao utilizar-se de novas tecnologias, para apreender os significados acerca do processo saúde/doença, este estudo justifica-se, uma vez que, possibilita a enfermeira compreender como grupos sociais se relacionam para além do mundo físico - no mundo virtual das redes socais. Nesse sentido, emergiu o seguinte problema: como utilizar o facebook, enquanto universo de pesquisa e estratégia para coleta de dados em pesquisa multimétodos para a TRS e na enfermagem? Para responder a tal questionamento, neste artigo traçou-se como objetivo analisar o uso do facebook, considerando-o como lócus de pesquisa e estratégia para aplicação de técnicas e instrumentos de coleta de dados. 

 

MÉTODOS

 

O método e os aspectos éticos essenciais que nortearam o presente manuscrito, também o fizeram na dissertação intitulada: “A influência da religião católica entre os/as jovens sobre o exercício da sexualidade e a prevenção do HIV/aids”(11), que utilizou o facebook como cenário de estudo e deu origem a este manuscrito.

 

A experiência foi possibilitada pela realização de uma pesquisa multitécnicas e multimétodos, cujo objetivo fora apreender as representações sociais de jovens católicos/as sobre o exercício da sexualidade e as formas preventivas para o Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/aids). A investigação ocorreu no facebook, na ferramenta disponibilizada para diálogo entre pessoas, chamada de ‘caixas de bate-papo’.

 

Participaram da pesquisa 84 jovens católicos/as praticantes, com idade compreendida entre 18 a 24 anos, que participaram da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em 2013 no Rio de Janeiro-BR, integrantes da Renovação Carismática Católica e tornaram-se membros da do grupo virtual no facebook vinculado ao site da JMJ. Esse grupo ou página oficial da JMJ no facebook é composto por católicos que ‘curtiram’ a página. Desse total de pessoas, nem todos participaram do evento.

 

Para serem considerados membros do grupo da JMJ no facebook os/as jovens deveriam ter clicado na palavra ‘curtir’[1] na página oficial da rede. O termo ‘curtir’ é muito utilizado nas redes sociais e transmite a ideia de aceitação e concordância com o que foi postado e/ou compartilhado; é o ato de mostrar para as pessoas, que estão vinculadas na rede, que gostaram de algo observado ou lido.

 

Os/as jovens com tais características foram convidados por meio de uma publicação oficial na página da JMJ e através de convites nas páginas particulares de cada um. Foram convidados/as 132 dos quais 84 se dispuseram contribuir. Como a pesquisa valeu-se de três etapas, nas duas primeiras participaram todos que aceitaram contribuir com a pesquisa e que se inseriram dentro dos critérios pré-estabelecidos; na terceira etapa os participantes eram convidados para continuar na pesquisa e contou com 19 entrevistados/as.

 

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia sob o no de protocolo 878.042/2014.

 

Nos encontros on-line, nas ‘caixas de bate papo’, foram explicitados os objetivos do projeto e sua importância, assim como, a entrega e a explanação do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), onde garantiu-se o sigilo das informações e o anonimato dos participantes. As ferramentas da rede social, permitiram a troca e o envio de documentos através da caixa de bate-papo. Através desse espaço, o TCLE foi encaminhado aos/às participantes, e, após a leitura e explanação das dúvidas pertinentes a pesquisa, eles declararam que aceitariam participar e contribuir com a pesquisa. Essa declaração foi digitada (escrita) pelo próprio participante que estava do outro lado da rede, na ferramenta destinada ao diálogo, e, que funcionou como uma espécie de assinatura digital, com a qual afirmaram que concordavam e queriam participar da pesquisa on-line.

 

Esses cuidados partiram da obediência aos requisitos éticos determinado pela Resolução n°466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) a respeito das pesquisas envolvendo os seres humanos, como a beneficência, o respeito à dignidade humana e a justiça. Os/as participantes da pesquisa foram informadas sobre os objetivos e a relevância da mesma, assim como a livre escolha em participar, sem nenhum prejuízo, caso optassem pela desistência, seja qual fosse o momento. Todo/as tiveram orientações sobre o procedimento a ser realizado para obtenção das informações mediante a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP)(12) e a Entrevista em Profundidade, como também dos benefícios esperados e dos possíveis riscos. O anonimato foi garantido aos/às participantes, cujos nomes eram substituídos pelo uso da letra E (entrevistado/a) sequenciado por um número de identificação. Além disso, tiveram orientações em relação ao não benefício financeiro.

 

As pesquisas aportadas na TRS se valem de multimétodos e multitécnicas, uma vez que Moscovici, em 1961, fazia o uso da combinação de métodos mistos em seu estudo pioneiro “A representação social da psicanálise, sua imagem e seu público”(7-12). Portanto, as técnicas definidas para a coleta de dados, e adaptadas para a aplicação online, foram a TALP e a Entrevista em Profundidade.

 

Antes de iniciar de fato, todos os instrumentos e a sequência deles foram testados em um teste piloto, realizado com 19 pessoas, que possuíam perfis no facebook e, também, se encaixavam dentro dos critérios de inclusão, a exceção feita foi que não haveria a necessidade de terem participado da JMJ.

 

Tanto a TALP como a entrevista em profundidade foram realizadas nas ‘caixas de bate-papo’, e, todo o diálogo era digitado e posteriormente transportado para o software Microsoft Word 2007. Existiu um risco de constrangimento durante a coleta de dados, uma vez que foram questionados assuntos referentes à aids e a sexualidade, o que foi dito aos/às jovens, caso se sentissem constrangidos/as, esta seria interrompida.

 

Foram utilizados softwares qualitativos para a análise dos dados, a saber: ALCESTE, TRI-DEUX-MOTS e EVOC. Tais softwares possibilitaram a análise lexical e semântica, análise fatorial de correspondência e análise da estrutura das representações sociais com o núcleo central.

 

RESULTADOS

 

Pondera-se que o facebook, enquanto plataforma tecnológica é um ciberespaço de interação entre os usuários, que contém ferramentas importantes na difusão de informações, cujos recursos são disponibilizados para acelerar e facilitar a troca de mensagens de texto (desde interações emocionais e sexuais), comentários, notícias, vídeo, áudio, fotos e informações pessoais, juntamente com a oportunidade de formar grupos com base em interesses comuns(4).

 

Com intuito de buscar evidências do universo semântico e cognitivos dos participantes e, sobretudo, fugir de respostas elaboradas e politicamente corretas, foi aplicado primeiramente a TALP, uma técnica projetiva adaptada à Psicologia Social. Outro fator preponderante que fez com que a TALP fosse à primeira técnica utilizada, se deve ao corrompimento das respostas que poderia ocorrer nos conteúdos latentes do inconsciente, a partir, das informações oriundas das demais técnicas(12-13).

 

Através de técnicas projetivas, como a TALP, as pessoas delineiam como queriam ser, o que gostariam de ser, o que não querem ser ou como queriam que os outros fossem ou agissem em relação a elas. Elas são indicadas em investigações com pessoas ou grupos que enfrentam problemas de ordens psicológicas ou fisiológicas em uma pesquisa de abordagem com métodos mistos(8). Os estímulos escolhidos para a associação foram: Exercício da sexualidade (e1); catolicismo e exercício da sexualidade (e2); aids (e3); catolicismo e aids (e4). Tais estímulos produziram por parte dos sujeitos palavras e/ou expressões que vinham à sua mente no momento que foram questionados/as.

 

Todos/as que participaram do TALP foram convidados/as para contribuir com a fase de entrevistas. O roteiro com dados sócio-demográficos para a caracterização dos participantes foi aplicado e em seguida a técnica da Entrevista em Profundidade (EP) após convites aos participantes, à medida que um participante não aceitava, novos convites eram feitos a outros até que se atingisse a saturação das respostas.

 

O roteiro para entrevista em profundidade constituiu-se de três questões principais e mais quatro inferências, condizentes com a temática que foi explorada, sendo uma para a primeira questão, uma para a segunda questão e duas outras para a terceira questão. Essas inferências foram necessárias para que fosse possível obter coerência, consistência e profundidade nas respostas/informações.

 

A TALP e a entrevista em profundidade ocorreram individualmente nas caixas de diálogo particular[2] do perfil individual[3] de cada participante. Ressalta-se que essas ferramentas de diálogo virtual, também conhecidas como ‘caixas de bate-papo pessoais’ são ferramentas disponibilizadas pelo facebook, onde as pessoas podem conversar, trocar ideias, compartilhar sua vida com seus amigos da rede. Além disso, as informações trocadas nas respectivas ‘caixas’ podem ser particulares e sigilosas se for entre duas pessoas ou abertas se ocorrer nas caixas em grupo.

 

A coleta de informações aconteceu em horários agendados com a disponibilidade de horário de cada jovem. A média de duração do TALP foi de quatro minutos e meio para cada participante, sendo que o/a participante tinha um minuto para que pudesse responder cinco palavras para cada estímulo. Consideramos este tempo, levando em consideração os problemas técnicos da internet que porventura poderiam interferir na emissão da resposta. As evocações emitidas eram desconsideradas após o primeiro minuto, e passávamos para o próximo estímulo; cada estímulo foi digitado um após o outro, para que as respostas não fossem processadas no inconsciente e evitasse as respostas politicamente aceitas.

Por sua vez, as Entrevistas em profundidades tiveram a duração média de uma hora, e, nesta etapa os/as participantes tinham liberdade e tempo livre para responder a cada uma das perguntas feitas. As perguntas eram feitas uma após outra, e entre cada uma, eram realizadas outras perguntas fundamentadas nas respostas dos participantes que não estavam claras ou possuíam alguma dubiedade.

 

No que se refere às informações que foram obtidas, estas tornaram-se pertinentes à construção do conhecimento sobre as representações sociais dos/as jovens católicos/as, uma vez que foi da interação on-line que captou-se os significados, os conceitos, o rompimento com os estigmas e a (re)significação de paradigmas acerca da sexualidade e as aids.

 

DISCUSSÃO

 

A restrição do grupo não é suficiente para generalizar os resultados do cotidiano vivenciado por outros/as jovens católicos, mesmo que a metodologia adotada e aplicada no facebook atingisse uma população maior. Ainda assim, destaca-se que o grupo possuiu homogeneidade nas representações, pois a religião católica, com seus discursos e dogmas, tem se utilizado das ferramentas de redes sociais na internet para compartilhar e difundir informações acerca da sua religião entre os seus fiéis, o que contribui para a o agrupamento das pessoas e a formação de representações sociais.

 

A confirmação do grupo de pertencimento e, principalmente, do consenso entre os/as participantes do estudo tornou-se relevante, do ponto de vista do processo de formação das representações sociais do grupo de pertença, sobre o objeto em questão. Pois, as significações apresentadas pelo grupo, partem de objetivações ancoradas em conhecimentos e informações difundidas, propagadas e compartilhadas no facebook(14).

 

O facebook tem sido uma plataforma essencial para a divulgação e propagação de informações entre amigos e contatos on-line dos usuários em seu grupo de amigos, diminuindo o tempo de difusão da notícia/informação. O círculo de amigos de cada usuário pode ser muito abrangente, variando desde as origens culturais e sociais e pertencentes a gerações - antigas, atuais, colegas, parentes – os quais podem comungar de interesses e conteúdos em comum(15-16).

 

Nessas relações em rede há a formação de grupos de pertencimento, que compartilham de ideias, símbolos, fenômenos, crenças e religiões, aspectos semelhantes de vidas, favorecendo, portanto, a produção de representações sociais. As redes sociais são definidas como a representação de um conjunto de participantes autônomos que unem ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados(9). Estes motivos foram preponderante para compreender o grupo de pertencimento que participou do estudo.

 

Destaca-se que a variável procedência, item delimitado para caracterização e posteriormente utilizado no processamento de dados em softwares, pouco influenciou nas opiniões, uma vez que o grupo formado por homens e mulheres, com raça autodeclarada distintas, apresentaram discursos e opiniões homogêneas. Essa evidência corrobora com a função das redes sociais em propagar informações rapidamente, formando grupos de pertencimento e promovendo uma “cultura cibernética” o que, consequentemente, acultura os grupos.

 

Essa característica também reforça a contribuição da internet, e nesse caso, da rede social facebook, para a construção do conhecimento das pessoas, que podem mudar ou reforçar opiniões, ideias, significados e a formação de representações sociais. Por conseguinte, no que se refere aos “[...] espaços de produção/circulação discursiva, não podemos negligenciar a participação massiva que tem a rede social facebook na sociedade atual. A heterogeneidade dos campos que aí se apresenta é enorme: publicidade, debates sobre as minorias étnicas, entretenimento”(15:349).

 

Ao proporcionar a formação de comunidades de amigos, colegas, cientistas, acadêmicos, no qual participam de debates, trocam informações relevantes sobre diversas áreas do saber, o facebook permite de forma interativa, o fortalecimento das relações interpessoais no ciberespaço e favorece a comunicação entre os indivíduos(17).

 

Nesse processo de trocas intraindividual, interindividual e intergrupal, que se delimita em um determinando contexto histórico e social, acontecem fusões ou conflitos e, portanto, certa organização social, estrutural e de legitimidade e estabilidade. Logo, tais pressupostos facilitam a compreensão da identidade social associada ao sentimento de pertença, com o qual se formam os grupos de pertencimento(7-9).

 

A identificação do grupo de pertencimento legitima também o trabalho da enfermagem em espaços ‘extra muros’ das instituições de saúde, incluindo o ciberespaço onde há diversas pessoas, pois possibilita a transmissão e difusão de conhecimentos e informações pertinentes à prevenção de agravos e a promoção da saúde, facilitando ações de educação em saúde.

 

Salienta-se que os cuidados condizentes às atividades de educação em saúde, fazem parte do trabalho da enfermeira, e deve ser realizado em todos os espaços disponibilizado na sociedade, e, no mundo atual e tecnológico, incluem não só hospitais, Estratégias de Saúde da Família, escolas e ambulatórios, mas também os espaços virtuais, onde estão inseridas as redes sociais, dentre elas, o facebook, com grupos de pessoas (pacientes), que se encontram em diversas situações de saúde, os quais depende de informações que possivelmente não os alcançam das formas mais tradicionais(18).

 

CONCLUSÃO

 

A participação na Jornada Mundial da Juventude possibilitou a formação do grupo no facebook, aproximando diversos/as jovens. Os ciberespaços de informações constituídos pela identidade religiosa propiciaram discussões que revelaram consensos e/ou dissensos relacionados ao sexo, raça e faixa etária desses/as jovens, de diferentes locais do Brasil, acerca da temática HIV/aids.

 

Destarte, o facebook, utilizado como suporte nessa pesquisa, teve o intuito de possibilitar o conhecimento das RS de um objeto, uma vez que propaga de forma rápida e fácil a informação e forma as pertenças sociais, revelando-se uma ferramenta útil para pesquisas ancoradas na TRS.

 

Ao entender como se formam/processam as representações sociais, na internet, os profissionais de saúde, sobretudo as enfermeiras, compreendem o conteúdo presente no sistema de cognições humanas que se integram e concatenam na vivência do cotidiano social e virtual, onde estão inseridos/as, como em uma via de duplo sentido. Ampliando, assim, seu espectro de entendimento das subjetividades humanas e, consequentemente, o domínio do que estas revelam no (in)visível do ambiente virtual.

 

Ao conhecer a experiência de uma pesquisa desenvolvida no facebook, as enfermeiras podem refletir o universo cognitivo que compreendem as RS de vários grupos, e desse modo, planejar suas práticas de cuidado fundamentadas no conhecimento que o grupo possui sobre o objeto investigado, que extrapola as paredes dos consultórios da atenção primária e do ambiente hospitalar. Assim, ela se aporta de novas tecnologias e de ferramentas disponibilizadas que possibilitam adentrar novos espaços de diálogos e educação em saúde.

 

AGRADECIMENTOS: CAPES – Bolsa de Mestrado

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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[1] Curtir no Facebook é um modo fácil de dizer ao seu amigo virtual que você gostou de algo que ele publicou, sem deixar um comentário. É como um comentário, porém o fato de você ter gostado é assinalado abaixo do item. Disponível em: <https://www.facebook.com/help/110920455663362>.

[2] As caixas de diálogos particulares no facebook se encontram na barra lateral de ‘bate papo’, a qual permite que você contate rapidamente alguns dos amigos com os quais você mais conversa. Basta clicar no nome de um amigo para abrir uma janela virtual que permitirá a conversação. Disponível em: <https://www.facebook.com/help/260938680677469/>.

[3] O perfil individual é uma página no facebook individual e pessoal. Nenhuma empresa, negócio, grupo ou marca pode ser incluído nesta categoria. Esse perfil tem um limite de amigos, até 5.000. Disponível em: <http://www.webmarketingpt.com/social-media/facebook-pagina-vs-perfil/#axzz37YvWNxYa>.