REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092 Recebido em: 29/01/2020 Aprovado em: 20/03/2020 |
Como citar este artigo
Silva RM, Beck CLC,
Morais KCP, Santos JLG. Cronotipo e
qualidade de vida em trabalhadores de enfermagem de clínicas cirúrgicas.
Rev Norte Mineira de enferm. 2020; 9(1):22-28.
Autor correspondente
Rosângela Marion da Silva.
Universidade Federal
de Santa Maria
Correio eletrônico: cucasma@terra.com.br
ARTIGO ORIGINAL
CRONOTIPO
E QUALIDADE DE VIDA EM TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE CLÍNICAS CIRÚRGICAS Chronotype and quality of life in nursing reinforcing
in surgical clinics |
O
presente trabalho foi realizado com apoio financeiro do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico- Brasil (CNPQ), processo Nº
476041/2011-2. Rosângela Marion da Silva1, Carmem
Lúcia Colomé Beck2, Karen Cristiane Pereira de Morais3,
José
Luis Guedes dos Santos4 1 Doutor em Ciências. Departamento de Enfermagem.
Universidade Federal de Santa Maria. http://orcid.org/0000-0003-3978-9654 2 Doutor em Filosofia. Departamento de
Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. http://orcid.org/0000-0001-9060-1923 3 Mestre em Enfermagem. Universidade
Federal de Santa Maria. http://orcid.org/0000-0003-4538-715X 4 Doutor em Enfermagem. Departamento de
Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. http://orcid.org/0000-0003-3186-8286 Objetivo: Analisar
a qualidade de vida e cronotipo em trabalhadores de enfermagem de clínica
cirúrgicas. Método: estudo transversal e analítico, realizado com 93 trabalhadores
de enfermagem atuantes em clínicas cirúrgicas de hospitais universitários da
região Sul do Brasil. Utilizou-se para a coleta de dados questionário para
caracterização sociolaboral/de saúde, Questionário de Matutinidade-Vespertinidade
de Horne e Östberg e o WHOQOL-BREF. Os
dados foram analisados por meio da estatística descritiva e analítica e
adotou-se intervalo de confiança de 95%. Resultados:
Predominaram os trabalhadores com cronotipo matutino, que apresentaram melhor
percepção da qualidade de vida em todos os domínios. Trabalhadores com
tendência a matutinidade estão concordantes com turno de trabalho (p=0,003) e
associaram-se a melhor percepção da qualidade de vida nos domínios social
(p=0,005) e ambiental (p=0,041). Conclusão:
Trabalhadores concordantes
com turno de trabalho e cronotipo apresentaram melhor percepção da qualidade
de vida. Descritores: Qualidade
de vida; Equipe de enfermagem; Ritmo circadiano; Saúde do trabalhador; Trabalho em Turnos. Objective: to analyze the quality of life and chronotype in nursing
workers from surgical units. Method: cross-sectional and analytical
study with 93 nursing workers from surgical units at university hospitals in
the southern of Brazil. Data collection was carried out with a questionnaire
for socio-occupational/health characterization, Horne and Östberg Morningness–Eveningness Questionnaire and
WHOQOL-BREF. The data were analyzed using descriptive and analytical
statistics and a 95% confidence interval was adopted. Results: Workers
with a morning chronotype predominated, who had a better perception of
quality of life in all domains. Workers with a tendency to be in the morning
are in agreement with the work shift (p = 0.003) and are associated with a
better perception of quality of life in the social (p = 0.005) and
environmental (p = 0.041) domains. Conclusion: Workers in agreement
with the work shift and chronotype showed a better perception of quality of
life. Keywords: Quality of Life; Nursing, Team; Circadian
Rhythm; Occupational Health; Shift Work Schedule. |
INTRODUÇÃO
A
instituição hospitalar tem como uma das suas características a organização do
trabalho em turnos, que prevê assistência ininterrupta. Trabalho por turnos é entendido
como qualquer organização do trabalho em que as pessoas, a partir de uma certa
regularidade, ocupam os mesmos postos de trabalho(1). O trabalhador de enfermagem que atua em um sistema de
trabalho em turnos pode apresentar distúrbios do sono relacionados às características
da profissão, pois o número de horas trabalhadas e o horário de trabalho
têm impacto na saúde, no bem-estar, no equilíbrio entre a vida profissional e
familiar e na produtividade(2).
Essas
situações sugerem interferência na qualidade de vida (QV), compreendida a
partir de indicadores objetivos e subjetivos relacionadas às concepções que
fazem parte da vida humana. Pesquisas têm evidenciado redução da
qualidade de vida de trabalhadores de enfermagem decorrente da não concordância
do trabalhador entre turno de trabalho e cronotipo(3-4).
O
cronotipo caracteriza-se como tendências individuais para a escolha do momento
de realizar atividades durante um período(5), sendo descrito como sendo os diferentes ciclos de vigília-sono(6)
e reconhecido como fator contribuinte para a adaptação ou a má adaptação ao
trabalho(7).
O cronotipo pode ser classificado em matutino,
característico daqueles que preferem dormir e acordar cedo, com bom nível de
alerta e desempenho físico/mental para as atividades laborais pela manhã; vespertino,
típico daqueles que preferem dormir e acordar tarde e têm bom desempenho para
atividades laborais pela tarde e início da noite; e indiferente, peculiar
daqueles que têm maior flexibilidade, escolhendo horários intermediários de
acordo com as necessidades de sua rotina(8). A divergência entre o cronotipo e turno de trabalho
promove desequilíbrio no ritmo biológico(9-11), o
que sugere impacto negativo na saúde do trabalhador e, consequentemente, na sua
QV.
Estudos
realizados com a equipe de enfermagem relacionaram o cronotipo e a qualidade de
vida em diferentes setores hospitalares(3-4), não sendo
identificados estudos realizados em clinica cirúrgica, o que justifica a
realização deste estudo.
A
partir disso, delineou-se como objetivo deste estudo analisar o cronotipo e a
qualidade de vida de trabalhadores de enfermagem atuantes em clínicas
cirúrgicas. A hipótese é de que trabalhadores concordantes com turno de
trabalho e cronotipo apresentem melhor percepção da qualidade de vida.
MÉTODO
Estudo
transversal, que foi realizado em clínicas cirúrgicas de três Hospitais
Universitários (HU) denominados HU-1, HU-2 e HU-3, situados na região sul do
Brasil.
A
população de 108 trabalhadores de enfermagem estava assim distribuída: 49
trabalhadores no HU-1, que contava com 46 leitos de internação de clínica
cirúrgica, 29 trabalhadores no HU-2, que possuía 25 leitos de clínica cirúrgica
e 30 trabalhadores no HU-3, que apresentava 37 leitos de clínica cirúrgica. Os
critérios para inclusão foram: atuar no turno da manhã (07h- às 13 h), tarde
(13h às 19 h) ou noite (19 h às 07h do dia seguinte) e ter, no mínimo, um ano
de trabalho na enfermagem na área hospitalar. Excluíram-se os trabalhadores que
estavam em licença ou afastamento de qualquer natureza.
A
coleta de dados ocorreu no primeiro semestre de 2015 e foi realizada por acadêmicos
de enfermagem residentes nos municípios sede dos HU, que foram treinados e
certificados em encontros presenciais ou online para a coleta dos dados, a fim
de garantir a fidedignidade da coleta. Os participantes foram convidados
pessoalmente e no local do trabalho para participar do estudo, sendo informados
e esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e a voluntariedade da
participação. A anuência com a pesquisa foi expressa mediante a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em que uma via ficou com o
pesquisador e a outra com o participante da pesquisa.
Posterior
a essa etapa, os participantes receberam um questionário autoaplicável,
desenvolvido para este estudo pelos próprios autores, com questões fechadas referente
a idade, sexo, tempo de trabalho em clínica cirúrgica, turno de trabalho, outro
emprego, envolvimento em acidente de trabalho, uso de medicação, tratamento de
saúde e prática de atividade física.
Para
avaliar o cronotipo foi utilizado o Questionário de Matutinidade/Vespertinidade(8),
versão em português(12), que mede hábitos de vigília e
sono autorreferidos. É composto por 19 questões com respostas de múltipla
escolha que envolvem as principais atividades desempenhadas pelo indivíduo ao
longo do dia, e a resposta reflete o horário preferencial para executar as
atividades do cotidiano. A cada item é atribuída uma pontuação e o escore final
é obtido pela soma aritmética de cada questão, podendo variar entre 16 e 86.
Quanto maior a pontuação, maior é a tendência à matutinidade, e quanto menor a
pontuação, maior tendência à vespertinidade. Neste estudo, para maximizar as
diferenças entre grupos, as classificações foram– matutino (59-86 pontos), tipo
intermediário (42-58 pontos), e vespertino (16-41 pontos).
Para
determinar a concordância do cronotipo e turno de trabalho, adotou-se a
seguinte opção metodológica já desenvolvida previamente(13). Considerou-se "concordantes" os
trabalhadores que atuavam no turno da manhã com cronotipo matutino ou tendência
a matutinidade, e trabalhadores com atuação no turno da noite e tendência a
vespertinidade. Determinou-se que seriam discordantes os trabalhadores com
atuação no turno da manhã com tendência a vespertinidade e trabalhadores com
atuação no turno da noite com tendência a matutinidade. Assim, para determinar
a concordância ou discordância em relação ao turno de trabalho e cronotipo
foram excluídos da análise os trabalhadores que atuavam no turno da tarde e os
indivíduos classificados com o cronotipo indiferente uma vez que, por definição,
são aqueles que não referem horário preferencial para realizar atividades.
Para
avaliar a qualidade de vida foi utilizado o World Health Quality of Life
(WHOQOL-bref), composto por 26 questões que compõem quatro domínios: físico,
psicológico, social e ambiental. O domínio físico avalia a dor, desconforto,
energia, fadiga, sono, mobilidade, dependência de medicações ou tratamentos. O
psicológico avalia sentimentos negativos e positivos, memória e autoestima. O
domínio relações sociais avaliar suporte social, atividade sexual e relações
pessoais. O domínio ambiental avalia segurança física e proteção, ambiente no
lar, recursos financeiros, participação em atividades de recreação e lazer,
ambiente físico (poluição, ruído, transporte e transito), oportunidade de
adquirir novas informações e habilidades. Todas as questões são apresentadas em
forma de escala do tipo Likert de cinco
pontos, que varia de 1 a 5. Para pontuar o WHOQOL-Bref,
separaram-se as questões por domínio e calculou-se a média de todos os
participantes, ou seja, somam-se os escores das questões de cada domínio e
dividiu-se pelo número total de participantes. Assim, os escores de cada
domínio foi calculados segundo sintaxe própria para a análise do instrumento,
sendo zero o pior e 100 o melhor resultado(14).
Após
o prazo de cinco dias, estipulado para a devolução dos documentos preenchidos,
os dados foram digitados em uma planilha excel e analisados estatisticamente
com o auxílio do Predictive Analytics Software, da SPSS INc., Chicago – USA,
versão 18.0 for Windows. As variáveis qualitativas foram descritas por meio da
frequência absoluta e relativa e associadas ao questionário do cronotipo e
qualidade de vida utilizando o teste Qui-Quadrado. Quando analisadas as
variáveis quantitativas, realizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para
verificar a aderência dos dados à distribuição normal.
As
variáveis idade e tempo de trabalho na unidade atenderam o pressuposto da normalidade
e foram descritas por meio da média e desvio padrão. Em todos os testes foi
utilizado o nível de significância de 5% (p<0,05). A consistência interna
foi avaliada por meio do alfa de Cronbach, que para o questionário de
matutinidade e vespertinidade foi de 0,84 e para o Questionário de Qualidade de
Vida foi de 0,81.
A
pesquisa foi autorizada pelas instituições participantes, está de acordo com o
preconizado pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e recebeu
parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa número 47167.
RESULTADOS
Dos
108 trabalhadores, 10 foram excluídos por não atender aos critérios
estabelecidos. Assim, a população elegível foi de 98 pessoas. Destes, houve
cinco perdas (preenchimento incompleto do questionário). Assim, participaram 93
trabalhadores de enfermagem (27 enfermeiros, 46 técnicos e 20 auxiliares de
enfermagem), sendo 83,9% (n=78) do sexo feminino e 16,1% (n=15) do sexo
masculino, com média de 40,62 (± 8,82) anos de idade.
A
atuação predominante foi no turno da noite 39,8% (n=37), seguido por 31,2%
(n=29) no turno da manhã. Identificou-se que 77,4% (n=72) não tinha outro
emprego e 52,7% (n=49) se acidentaram no trabalho.
Sobre
as questões relacionadas a saúde, 64,5% (n=60) não realizavam tratamento de saúde,
60,2% (n=56) não faziam uso de medicação e 62,4% (n=58) não realizava atividade
física.
A
Tabela 1 apresenta a distribuição dos trabalhadores por turno de trabalho e
classificação do cronotipo. Observa-se a ausência de trabalhadores com cronotipo
vespertino no turno da manhã e a presença do cronotipo matutino no turno da
noite.
Tabela
1
- Distribuição dos trabalhadores por turno de trabalho e classificação do
cronotipo (n=93). Rio Grande do Sul, 2015 .
TURNO |
CRONOTIPO |
||
Matutino n=38 |
Indiferente n=37 |
Vespertino n=18 |
|
Manhã
(n=29) |
37,9%* |
62,1% |
- |
Tarde
(n=27) |
48,1% |
33,4% |
18,5% |
Noite
(n=37) |
35,2% |
29,7% |
35,1% |
*teste
Qui-quadrado; p<0,0
De
acordo com a Tabela 1, dentre os trabalhadores atuantes no turno da manhã
(n=29), 37,9% eram matutinos e, portanto, estavam concordantes com o turno de
trabalho e cronotipo. Dos 37 trabalhadores que atuavam no turno noturno, 35,1%
(n=13) possuíam cronotipo vespertino, estando concordantes com o turno de
trabalho e cronotipo. Foi identificada
diferença significativa entre turno de trabalho e cronotipo (p=0,003), sendo que
os trabalhadores do turno da manhã estavam associados ao cronotipo matutino.
Ao
avaliar a distribuição das médias dos domínios da qualidade de vida segundo o
cronotipo, foi possível verificar que o cronotipo matutino atingiu as maiores
médias nos domínios físico, psicológico, social e ambiental. A Tabela 2 mostra a
distribuição das médias dos domínios da qualidade de vida e cronotipo.
Tabela
2 – Distribuição das médias dos domínios WHOQOL- bref conforme cronotipo.
(n=93). Rio Grande do Sul, 2015
Domínios
WHOQOL-bref |
CRONOTIPO |
||
Matutino N=38 |
Indiferente N=37 |
Vespertino N=18 |
|
Fisico |
58,74 |
56,37 |
55,03 |
Psicológico |
65,30 |
63,42 |
59,80 |
Relações
sociais |
78,72* |
68,01 |
66,70 |
Ambiental |
65,00* |
57,80 |
58,11 |
*Post
hoc complementado pelo teste de Tukey; p<0,05
Para
comparar a média dos diferentes cronotipos e os domínios do questionário de
qualidade de vida, foi realizado o teste ANOVA, que identificou diferença
significativa nos domínios social (p=0,005) e ambiental (p=0,041). O teste Post
Hoc, complementado pelo teste de Tukey de múltiplas comparações, evidenciou que
no domínio social o cronotipo matutino difere significativamente dos cronotipos
vespertino (p=0,025) e indiferente (p=0,012).
No domínio ambiental, foi identificado que o cronotipo matutino difere
estatisticamente do cronotipo indiferente (p=0,05).
DISCUSSÃO
Os
resultados desse estudo confirmam a hipótese inicial. Trabalhadores de
enfermagem concordantes com turno de trabalho e cronotipo apresentaram melhores
escores de qualidade de vida. E ainda, que a maioria dos participantes era do sexo
feminino, dado semelhante ao encontrado em pesquisas na enfermagem(3-4,10),
e que 62,4% dos trabalhadores não realizava atividade física. A adoção de estilo de vida ativo, que pode ser
promovido pela prática regular de atividade física, contribui para a melhoria
da QV(15).
Sobre
a ocorrência de acidentes de trabalho, evidenciou-se que 52,7% já sofreram
acidente de trabalho, o que corrobora com dados de investigação que identificou
percentual de 53% de profissionais de enfermagem envolvidos com acidente de
trabalho, situação relacionada à exposição aos riscos presentes no ambiente de
trabalho(16). Este dado demonstra que as condutas de proteção e
segurança no ambiente hospitalar necessitam ser planejadas continuamente para
segurança dos trabalhadores de saúde.
A
relação entre acidente de trabalho e a discordância entre turno de trabalho e
cronotipo não é consenso na literatura. Estudo realizado em uma unidade hospitalar
identificou que 56,7% dos trabalhadores concordantes com o turno de trabalho e
cronotipo já havia sofrido acidente de trabalho(10). Frente a isso,
entende-se que proporcionar meios de trabalho que favoreçam o desempenho
produtivo e a QV é importante para que a assistência não seja prejudicada; entretanto,
para que isso ocorra de forma satisfatória, é preciso, sobretudo, empenho e
compromisso dos gestores(3).
Ao
relacionar a variáveis, identificou-se associação significativa entre a variável
cronotipo e as variáveis turno de trabalho e os domínios social e relações
sociais. Os trabalhadores de enfermagem com tendência a matutinidade
apresentaram maiores escores em todos os domínios da qualidade de vida, o que
sugere que esses trabalhadores apresentaram melhor qualidade de vida em relação
aos trabalhadores com cronotipo indiferente e vespertino.
No
domínio físico, o sono é uma das dimensões avaliadas e precisa ser considerado
na avaliação do trabalho em turnos. Em Taiwan, estudo realizado com enfermeiros
identificou falta de associação entre cronotipo e duração do sono entre as
enfermeiras do dia e da noite; porém, o cronotipo matutino correlacionou-se com
a redução da eficiência do sono(9). Pesquisa
realizada com enfermeiras da unidade de terapia intensiva da Holanda identificou
diferença entre os cronotipos no comportamento do sono antes e depois das
mudanças noturnas, mas não no desempenho, apesar dos aumentos significativos na
fadiga e sonolência e no impacto social(11).
Pesquisa
realizada com trabalhadores de enfermagem identificou que aqueles com tendência
a matutinidade apresentaram escores mais altos
nos domínios psicológicos e de relações sociais(13). O
cronotipo vespertino pode ter relação com problemas de saúde mental (17),
e com o humor depressivo em trabalhadores de turno, dado que indica a
necessidade de implantar programas de promoção e intervenção em saúde adaptadas
a diferentes horários de turno ao tentar melhorar os distúrbios do sono e do
humor(18).
Neste
estudo, não foram identificados indivíduos com tendência a vespertinidade no
turno da manhã, o que caracterizaria uma discordância entre cronotipo e turno
de trabalho. Os resultados mostram que trabalhadores que atuavam no turno da
manhã apresentaram melhores escores para qualidade de vida em relação aos
discordantes.
Por
fim, apesar da identificação de trabalhadores de enfermagem atuantes em clínicas
cirúrgicas discordantes com o turno de trabalho e cronotipo, dado que pode
impactar na qualidade de vida e segurança no trabalho decorrente das alterações
no ritmo biológico do trabalhador, foram identificados trabalhadores atuantes
no turno da manhã e cronotipo matutino, ou seja, concordantes com o turno de
trabalho e cronotipo e que obtiveram melhores escores nos domínios da qualidade
de vida. Isso sugere que indivíduos concordantes com o turno de trabalho
possuem uma tendência a apresentar melhor percepção da qualidade de vida.
CONCLUSÕES
Evidenciou-se
associação entre cronotipo e as variáveis turno de trabalho e domínios da qualidade
de vida, o que sugere que trabalhadores com tendência a matutinidade estavam
concordantes com turno de trabalho e apresentaram melhor percepção da qualidade
de vida nos domínios relações sociais e ambiental.
Os
limites deste estudo estão relacionados ao delineamento transversal, pois no
mesmo a causalidade reversa não pode ser descartada. Além disso, a confiança nos dados auto-relatados pode gerar dados
imprecisos devido aos efeitos da deterioração da memória.
Este
estudo agrega conhecimento para a área da enfermagem e saúde, pois apresenta
dados de uma região importante do Brasil que merece atenção por parte dos
gestores hospitalares no intuito de valorizar as tendências individuais dos
trabalhadores para a organização das escalas, o que pode contribuir para a
saúde e segurança no trabalho.
REFERÊNCIAS
1. Comissão para Igualdade no trabalho e no
emprego. Código do trabalho, artigo 220º de 2016, Disponível em
<http://cite.gov.pt/pt/legis/CodTrab_indice.html> Acesso em 13 jan 2018.
2. EUROFOUND.
European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions.
(2015). Improving working conditions in occupations with multiple
disadvantages. Luxembourg: Publications Office of the European Union. Disponível
em<http://digitalcommons.ilr.cornell.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1493&context=intl>
Acesso em 20 jan 2020.
3. Costa KNFM, Costa TF da, Marques DRF et
al. Qualidade de vida relacionada à saúde dos profissionais de enfermagem. Rev
enferm UFPE on line. 2017;11(Supl. 2):881-9.
4. Silva AE, Lima PKM, Oliveira C.
Qualidade de vida dos profissionais de enfermagem de nível médio em unidade de
terapia intensiva. R Enferm Cent O Min.
2016; 6(3):2318-30.
5. Treven Pišljar, N., Štukovnik, V., Zager Kocjan, G.,
& Dolenc-Groselj, L. (2019). Validity
and reliability of the Slovene version of the Morningness-Eveningness
Questionnaire. Chronobiol Int. 2019;36(10):1409-17.
6. Argentac, Benbenishtyj, Flaatten
H. Chronotypes, night shifts and intensive care. Intensive Care Med. 2015;
41(4):698-700.
7. Zhang Y,
Duffy JF, Castillero ER, Wang K. Chronotype, Sleep Characteristics, and
Musculoskeletal Disorders Among Hospital Nurses. Workplace Health Saf. 2018
Jan;66(1):8-15.
8. Horne JA,
Ostberg O. A self-assessment questionnaire to determine morningness-eveningness
in human circadian rhythms. Int J Chronobiol. 1976; 4(2): 97-110.
9. Ching-Yi
L, Hsi-Chung C, Mei-Chih MT, Hsin-Chien L, Lian-Hua H. The relationships among
sleep quality and chronotype, emotional disturbance, and insomnia vulnerability
in shift nurses. Journal
of Nursing Research. 2015; 23(3):225–35.
10 Silva RM, Zeitoune RCG, Beck CLC, Souza
SBC, Santos E. Cronótipo e acidente de trabalho na equipe de enfermagem de uma
clínica cirúrgica. Texto Contexto Enferm. 2015; 24(1): 245-52.
11 Reinke L1, Özbay
Y, Dieperink W, Tulleken JE. The
effect of chronotype on sleepiness, fatigue, and psychomotor
vigilance of ICU nurses during the night shift. Intensive Care Med. 2015;41(4):657-66.
12
Benedito-Silva AA, Menna-Barreto L, Tenreiro S. Self-assessment
questionnaire for the determination of morningness-eveningness types in Brazil.
Prog Clin
Biol Res. 1990; 314B:89-98.
13. Souza, SBC de et al. Influência do turno
de trabalho e cronotipo na qualidade de vida dos trabalhadores de enfermagem. Rev
Gaúcha Enferm. 2012;33(4):79-85.
14 Fleck MPA, Louzada D, Xavier M,
Chachamovich E, Vieira G, Santos L. et al. Aplicação da versão em português do
instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Rev
Saúde Pública. 2000;34(2):178-83.
15 Soares JPS, et al. Qualidade de Vida,
Estresse, Nível de Atividade Física e Cronotipo dos Auxiliares/Técnicos de
Enfermagem em Unidades de Pronto Atendimento em Palmas/TO. Revista CPAQV –
Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida. 2017; 9(1):2.
16 Rezende LCM, et al. Acidentes de trabalho
e suas repercussões na saúde dos profissionais de enfermagem. Rev Baiana de Enfermagem. 2015; 29(4):307-17.
17. Cheng WJ1, Hang LW. Late chronotype and high social jetlag are
associated with burnout in evening-shift workers: Assessment using the
Chinese-version MCTQshift. Chronobiol Int. 2018 Jul;35(7):910-919.
18. Choi SJ, Song P, Suh S, Joo WY,
SSung Ik Le. Insomnia Symptoms and Mood Disturbances in Shift Workers
with Different Chronotypes and Working Schedules J Clin Neurol. 2020 Jan;
16(1): 108–115.