REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
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INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde estima que até 2030, mais de 23,6
milhões de pessoas morrerão anualmente por apresentarem alguma doença
cardiovascular no mundo. No Brasil essas doenças são responsáveis por cerca de
30% dos óbitos, principalmente quando relacionado ao infarto agudo do miocárdio(1).
Apesar do avanço no tratamento clínico das cardiopatias e da abordagem
minimamente invasiva, a cirurgia cardíaca permanece como intervenção de escolha
para esses casos.
Entretanto, os pacientes submetidos a essas cirurgias normalmente
são encaminhados para Unidades de Terapia Intensiva (UTI) no pós-operatório,
diante destas cirurgias serem consideradas complexas e de grande porte(2).
As cirurgias cardíacas exigem das equipes de saúde planejamento de
ações que visem a assistência de qualidade, tanto para a recuperação quanto
para a desospitalização dos pacientes. O enfermeiro tem papel fundamental no
planejamento e organização da assistência individual dos pacientes, buscando
atender as necessidades de cada um deles, no período pré-operatório e
pós-operatório imediato, mediato ou tardio(3).
A assistência de enfermagem tem como objetivo pôr em prática as
ações planejadas, assegurando que o paciente receba um atendimento integral.
Entre as intervenções realizadas pelo enfermeiro e pela equipe de saúde
destacam-se a monitoração cardíaca, administração de líquidos, controle de
diurese, controle da pressão arterial e cuidados psicossociais, como a
explicação da rotina pós-operatória, redução de ansiedade e entendimento
perante as limitações provenientes do procedimento cirúrgico. Além disso,
também envolve incluir os familiares no cuidado, pois estes se tornam
fundamentais no sucesso e efetividade da recuperação(3).
O enfermeiro é considerado como
um gerenciador do serviço de saúde, nas instituições hospitalares promove as
relações entre equipes, pois articula e interage com os diferentes
trabalhadores e é identificado por importantes ações de liderança e coordenação
do processo de trabalho(4).
Acredita-se que durante o
período perioperatório de cirurgia cardíaca, o enfermeiro desenvolva atividades
de diferentes complexidades e específicas de acordo com o acometimento cardíaco
do paciente. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo conhecer a
percepção do enfermeiro quanto ao processo de trabalho no período
perioperatório de cirurgia cardíaca.
METODOLOGIA
Estudo qualitativo, do tipo exploratório e descritivo,
desenvolvido em um hospital referência em cirurgia cardíaca localizado no Sul
do Brasil. Foram convidados a
participar do estudo enfermeiros que desenvolviam suas atividades em quatro
unidades pertencentes ao referido Complexo Hospitalar: Unidade de Internação
Pré-Operatória, Unidade de Internação Pós-Operatória, Centro Cirúrgico e Unidade de Terapia Intensiva Pós-operatória
(UPO).
Participaram do estudo 14 enfermeiros,
sendo três enfermeiros administrativos, responsáveis pelo gerenciamento
e organização do trabalho nas unidades, com carga horária de 40 horas semanais
e 11 assistenciais com 36 horas semanais, distribuídos da seguinte maneira nas
unidades: um enfermeiro administrativo e quatro enfermeiros assistenciais das
unidades de internação pré e pós-operatória; um enfermeiro administrativo, um
enfermeiro perfusionista e dois enfermeiros assistenciais do Centro Cirúrgico e
um enfermeiro administrativo e quatro enfermeiros assistenciais da UPO.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da área da
Saúde, com o CAAE nº 88598818.2.0000.5324. A coleta de dados ocorreu após a
autorização da instituição e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido pelos participantes, no período de julho a agosto de 2018, nos
turnos manhã, tarde e noite.
Realizou-se entrevista semiestruturada individual, a partir de um
roteiro contendo questões fechadas para caracterização dos participantes e
questões abertas relacionadas ao processo de trabalho da Enfermagem aos
pacientes em perioperatório de cirurgia cardíaca e as dificuldades e
potencialidades para o desenvolvimento do trabalho. As entrevistas
oportunizaram ao participante a possibilidade de falar livremente sobre o tema
proposto manifestando seu ponto de vista, percepções e sentimentos sobre a
temática. A identidade dos participantes foi preservada e identificada a partir
da sigla ENF seguida do número referente à ordem sequencial de realização das
entrevistas.
Os dados foram submetidos à análise de conteúdo de Bardin(5) que
se configura como um conjunto de procedimentos que norteiam a interpretação das
mensagens, permitindo fazer deduções sobre o conteúdo. A técnica de análise
obedeceu a três etapas propostas: pré-análise, onde ocorreu a organização e exploração
do material, a escolha das mensagens que foram analisadas e formulação das
hipóteses; exploração do material consistindo na definição das categorias
através da interpretação dos achados da pesquisa; e tratamento dos resultados,
inferência e interpretação, utilizando-se análise crítica e reflexiva do
conteúdo.
RESULTADOS
Participaram do estudo, 14 enfermeiros, 13 deles do sexo feminino
e um do sexo masculino, com idade entre 24 e 50 anos. Com relação ao tempo de
atuação profissional, identificou-se o mínimo de nove meses e máximo de 24 anos
de atuação. Quanto à formação, os trabalhadores relataram a continuidade de seu
aperfeiçoamento: um realizou mestrado em enfermagem, um especialização em saúde
do trabalhador, um especialização em atenção ao paciente crítico, urgência,
emergência e UTI, cinco possuíam especialização em andamento e um possuía curso
profissionalizante de perfusionista.
A partir da análise dos
resultados elaboraram-se duas categorias: Fragilidades encontradas por
enfermeiros no processo de trabalho no período perioperatório de cirurgia
cardíaca; Fortalezas vivenciadas por enfermeiros no processo de trabalho no
período perioperatório de cirurgia cardíaca.
Fragilidades encontradas por enfermeiros no processo de trabalho no período
perioperatório de cirurgia cardíaca
Entre as fragilidades encontradas pelos enfermeiros no processo de
trabalho destacaram-se a desvalorização da categoria profissional, evidenciada
pelo reconhecimento inadequado do seu papel e das suas atribuições como enfermeiro,
tendo em vista, que desenvolvem diversas atividades de responsabilidade de
outros profissionais da equipe de saúde.
“A questão da
desvalorização da categoria. A gente acaba se submetendo a diversas situações
que muitas vezes não condizem com a formação que a gente buscou [...]. A
prioridade é que entre o maior número de cirurgias e que o faturamento aumente.
Mas ninguém vê a questão da qualidade.” (ENF-02)
“Particularmente aqui eu
não faço serviço de enfermeiro, eu faço mais o serviço de técnico. Muitas vezes
circulante, me revezo na sala com o circulante. [...] Por isso que eu digo que
é mais complicada essa parte, porque eu acho que não fica bem definida a parte
do enfermeiro por exemplo, o que eu faço como enfermeiro?” (ENF-09)
“A nossa maior dificuldade
aqui na cardiologia é a gente não ter um Centro de Material e Esterilização, e
o Centro de Material e Esterilização do hospital não fazer os serviços para
nós. Então a gente além de trabalhar nas salas, as gurias além de ser circulantes
das salas quando tem uma cirurgia, elas têm que sair de sala e tem que lavar
todo o material e encaminhar para o Centro de Material e Esterilização. Quando
elas não tem que se disponibilizar se o material está muito contaminado a
encaminhar na caixa suja e ir junto para o Centro de Material e Esterilização
para fazer todo o processo de lavagem.” (ENF-01)
“Acho que não somente a função das caixas, mas também até campos, aventais
essas coisas todas. Muitas vezes acaba faltando ou atrasando não por causa do
nosso trabalho e sim por causa do trabalho dos outros. A gente faz o nosso e a
gente tenta que os outros façam, mas muitas vezes não acontece isso, e ai [...]
muitas vezes da uns estresses, do cirurgião ficar brabo que falta coisa.” (ENF-10)
Outro fator
destacado pelos enfermeiros, que compromete as demandas de cirurgias cardíacas
da instituição é a falta de materiais e de manutenção dos equipamentos para
suprir as necessidades do trabalho.
“Tem
épocas que a gente tem que poupar em luva, às vezes não tem determinado
medicamento, antibiótico, aí a gente faz pedido de compra, demora um pouco pra
vir, faltam determinados materiais até medicamentos por causa da crise
financeira”. (ENF-05)
“Quando a gente enfrenta dificuldades em aparelhos, quando precisa de um
respirador e o respirador não funcionou, tem que ligar para o colega da outra
unidade. Essa parte é bem complicada. Precisa de bomba de infusão e não tem
suficiente. Então e complicado isso.” (ENF-13)
“A manutenção com certeza também. Muitos aparelhos aqui que
deveriam, uma vez por ano ao menos, passar por uma manutenção e isso não tem há
muitos anos.” (ENF-05)
O número reduzido de
trabalhadores foi identificado como uma fragilidade encontrada para o
desenvolvimento do processo de trabalho, o que compromete a qualidade da
assistência prestada aos pacientes e as demandas para a realização das
cirurgias cardíacas.
“Como aqui a gente está sempre trabalhando
com um déficit de funcionários a gente não tem condições de ficar o tempo todo
acompanhando aquele paciente. Então a gente sempre solicita que
obrigatoriamente tenha um familiar pelo menos na véspera da cirúrgia, que o
paciente seja acompanhado de familiar por causa das medicações.” (ENF -14)
“Dificuldade com número reduzido de funcionários. Eu não posso
abrir mão, o médico não vai abrir mão, a instituição não vai abrir mão isso é
protocolo das Unidades de Terapias Intensivas Pós-operatórias, A gente não pode
abrir mão porque todas as Unidades de Terapias Intensivas Pós-operatórias têm
que ter um técnico por paciente. Então está bem difícil.” (ENF-04)
Ainda, foram relatadas
como fragilidades no trabalho do enfermeiro no período perioperatório de
cirurgia cardíaca: a ausência de preparo do paciente no pré-operatório, assim
como o estado emocional do paciente. Ambos são apontados pelos enfermeiros como
dificultadores na qualidade do cuidado, diante da ausência ou não compreensão
das limitações no pós-operatório.
“Quando o paciente faz o preparo aqui, que é bem mais raro, a gente
percebe que o paciente vem mais calmo, porque eu já expliquei ou as técnicas de
enfermagem já explicaram tudo o que vai acontecer [...]. Quando o paciente não
sabe o que vai acontecer, eles acordam e eles já começam a se debater. Aí tem a
questão do sangramento, de perder um acesso, eles tentam retirar o tubo, eles
tentam arrancar o dreno. Ai às vezes por efeito da ação da anestesia tu tenta
explicar o que está acontecendo e ele não entendem.” (ENF-04)
“A fragilidade para mim é o emocional deles. Eles ficam muito
emocionais. A gente conversa com eles: ah porque antes eu agia de uma maneira,
antes eu fazia isso e agora eu não vou poder fazer. Ai a gente começa a
trabalhar com eles, começa a conversar com eles, que eles fizeram, mas vamos
ter calma agora. Já passou por um processo muito mais difícil.” (ENF-03)
Fortalezas identificadas por enfermeiros no processo de trabalho no período perioperatório de cirurgia cardíaca
Entre as fortalezas evidenciadas pelos enfermeiros,
destaca-se a busca pelo conhecimento através da educação continuada ou por meio
da identificação de cada trabalhador com relação as suas necessidades de
atualização. Os enfermeiros consideram importante adquirir conhecimentos, com a
finalidade de realizar suas atribuições com mais segurança e ofertar suporte
para os pacientes e equipe.
“Aqui no hospital, na
instituição tem a educação continuada. Então geralmente eles fornecem cursos. O
pessoal vai e faz palestras. Se a gente acha que tem alguma coisa dentro da
nossa rotina e acha que o pessoal podia fazer uma palestra sobre
eletrocardiograma, a gente solicita e eles promovem.” (ENF-01)
“O primordial é o
conhecimento. Tu precisas saber do que se trata para antever, prever tudo o que
pode acontecer, porque do contrário não há tempo hábil para corrigir. Então é
necessário ter conhecimento sobre o paciente, a patologia, possíveis
intercorrências, funcionamento da máquina.” (ENF-02)
“Quando eu vim para cá, aqui tem muito cateterismo e angioplastia e eu não
sabia o que era e eles te perguntam. Então eu vou, eu busco, vou ler. As vezes
entro em contato com alguma colega para saber algo que eu não sei. [...] as meninas perguntam também “a essa medicação
tem que diluir em quanto?’’ “tal coisa não tem, como eu faço?’’ Então a gente
está sempre buscando conhecimento, e disposta a isso.” (ENF-14)
“Eu acho que o
conhecimento, a comunicação e a tua disponibilidade de dar o teu melhor para o
teu trabalho. O paciente sair daqui muito bem te deixa satisfeito. Quando o
paciente acha que já não tem mais esperança para aquele, e ele consegue sair
daqui bem e conversando, caminhando isso é muito gratificante para toda a
equipe.” (ENF-05)
Os enfermeiros afirmam sobre a importância das orientações, tanto
para os pacientes, quanto para os acompanhantes ou familiares, como uma
fortaleza no processo de trabalho, a qual proporciona melhor recuperação e
reabilitação do pós-operatório.
“Nós enfermeiros trabalhamos muito com a parte de orientação. Os pacientes são bem
solicitantes quanto ao esclarecimento de dúvidas, a duração da cirurgia, dos
riscos, das medicações, de como vai ser a função do pós-operatório na Unidade de terapia
Intensiva Pós-operatória. Então eles são bem solicitantes assim quanto
a essas orientações.”
(ENF-14)
“Quando eles internam aqui
às vezes eles não sabem que é para procedimento cirúrgico. Então passa por todo
procedimento de exame, cateterismo. Eles levam aquele susto quando vão ter que
ir para a cirurgia e a gente tem que passar toda orientação, tentar acalmar e
explicar como é o pré-operatório, como é o pós-operatório [...]” (ENF-06)
“A equipe que me ajudou, que eu perguntava e eles me respondiam,
por que tu tens que ter humildade, e tu pergunta. Então o apoio da equipe é
fundamental. Se tu não tiver o apoio da equipe tu não trabalha, e o contrário é
verdadeiro.” (ENF-04)
“Eu acho que o suporte que a gente tem um no outro. A gente vai e
tenta adaptar, e geralmente, a gente consegue obter sucesso [...] Às vezes duas
mentes pensam melhor do que uma.” (ENF-07)
“A nossa fortaleza é a
nossa rotina. Quando eles montaram o serviço aqui no hospital a equipe foi toda
para o instituto em Porto Alegre para ser treinada. Então a gente mantém a
mesma rotina desde que se criou a cirurgia cardíaca aqui na cardio. Então a
gente tenta manter essa rotina, essa comunicação. Então acho que essa é a nossa
fortaleza, as cirurgias mesmo levando de 4 à 5h. A gente já está capacitado
para isso. A gente não tem correria, não gera tumulto, não gera estresse. A
equipe é capacitada para atender. A gente tem essa rotina. Eu acho que essa é a
nossa fortaleza. Todo mundo capacitado, a equipe treinada. Acho que a equipe
tem essa educação para trabalhar na cirurgia cardíaca. Ela foi treinada pra
isso.” (ENF-01)
“Na cirurgia cardiaca nós
deixamos tudo já organizado para a cirurgia que vai ter no outro dia. Então
quando precisa de um suporte, precisa de uma caixa de coronária, precisa de
determinados materiais específicos da cirurgia cardiaca, já estão em sala. Ah
precisa de cânula tamanho 32, tamanho 36. A gente tem no mínimo 3 ou 4 se essa
cair no chão. A gente ter a de reposição. Então é bem organizado.” (ENF-10)
DISCUSSÃO
Entre as fragilidades encontradas pelos enfermeiros para
desenvolver o processo de trabalho no período perioperatório de cirurgia cardíaca
destaca-se a dificuldade em prestar a assistência, realizando atribuições que
não são do enfermeiro, o que pode gerar desvalorização da profissão.
Corroborando com isto, estudo(6) realizado com 91 enfermeiros em uma
Unidade de Terapia Intensiva revelou que os participantes apresentaram altos
níveis de exaustão emocional, despersonalização e baixo nível de realização
profissional, podendo relacionar entre esses motivos a falta de incentivo e a
realização de atividades que não competem a função.
Entre as atividades que os enfermeiros desenvolvem durante a
realização de cirurgias cardíacas, evidencia-se a responsabilidade de
gerenciamento da equipe, buscando o funcionamento adequado e atendimento de
qualidade aos pacientes, incluindo supervisão dos cuidados, interação com a
equipe multidisciplinar e controle materiais e equipamentos. Após o
procedimento cirúrgico, o enfermeiro recebe o paciente na unidade
pós-operatória e realiza acompanhamento contínuo, desenvolvendo procedimentos
complexos em virtude da possível desestabilização do paciente, que exige
cuidados imediatos e uso de tecnologias(7).
Os enfermeiros também relataram que o prédio da Instituição onde
está situada as unidades de cardiologia, não possui um Centro de Materiais e
Esterilização próprio e que necessitam realizar as atividades de limpeza dos
materiais no setor e encaminhá-los para outro local da instituição, o que pode
dificultar a realização de cirurgias, devido a falta de materiais disponíveis.
A falta de recursos, tanto materiais quanto humanos compromete a qualidade da
assistência e, concomitantemente, pode vir a interferir na segurança dos
pacientes, uma vez que, ao não dispor de materiais e pela sobrecarga de
trabalho pelo número inferior de trabalhadores, leva a necessidade de improvisar
para que as atividades de assistência continuem sendo realizadas(8).
O número reduzido de trabalhadores foi identificado como uma
fragilidade do processo de trabalho de cirurgia cardíaca. A equipe de
enfermagem realiza as atividades em constante sobrecarga de trabalho, devido ao
número reduzido de profissionais, dificuldade da delimitação dos papéis dentro
da equipe, turnos excessivos de trabalho e falta de reconhecimento. O
reconhecimento dessas fragilidades é um desafio, que deva ser mensurado e
superado, por meio de melhorias no ambiente de trabalho(9).
A falta de materiais disponibilizados pela Instituição e a falta
de manutenção dos equipamentos para suprir as necessidades da demanda de
cirurgias cardíacas são consideradas pelos enfermeiros fragilidades no processo
de trabalho. Este resultado corrobora com o estudo que evidenciou que entre as
dificuldades para melhorar a segurança do paciente, está à falta de uma
estrutura adequada, tendo como implicações a ausência de materiais, equipamentos
velhos e instalações antigas(10). O preparo emocional dos pacientes,
anterior a cirurgia, é outro aspecto relacionado a fragilidades do processo de
trabalho no período perioperatório, uma vez que, o paciente que não recebe
orientações, apresenta dificuldade para lidar com o seu processo de saúde e
doença.
Destaca-se que os principais estressores percebidos pelos
pacientes no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca estão relacionados
aos pacientes possuírem sede, estarem com tubos ou sondas e não conseguirem
dormir. As ações da equipe de saúde podem controlar esses estressores, por meio
do conhecimento das necessidades dos pacientes, auxiliando na implementação de
práticas que visem à redução do estresse e na educação em saúde aos pacientes(11).
Quanto às fortalezas
identificadas no estudo, os enfermeiros referiram à busca por conhecimentos,
que auxiliam na assistência ao paciente. Corroborando com isso, um estudo(12)
descreveu que os enfermerios são profissionais responsáveis e possuem
iniciativa na busca por atualização e aperfeiçoamento do conhecimento para a
atuação em áreas de maior especificidade. Além disso, o desenvolvimento de capacitações em diferentes temáticas
proporciona atualização e complementa o conhecimento dos trabalhadores, possibilitando
melhor desempenho, assim como, constitui-se como uma necessidade da área da
saúde, pois possui constantes mudanças e exige do enfermeiro, qualificação
profissional permanente e atualização(12).
Neste sentido, a equipe de enfermagem envolvida no processo de
trabalho deve receber treinamento adequado para o desenvolvimento adequado e de
qualidade do serviço. Ademais, observa-se que ao termino da cirurgia, o
enfermeiro realiza procedimentos como a conferência de compressas, a
identificação de peças para anatomia patológica, o preenchimento de impressos e
a organização do prontuário, a transferência do paciente para cama, o
transporte e a passagem de plantão para UTI que são de suma importância no
ambiente perioperatório(13).
A satisfação da recuperação do paciente também foi caracterizada
como uma fortaleza do processo de trabalho, e a equipe de enfermagem é
considerada fundamental neste cuidado, pois são os trabalhadores que lidam
direta e continuamente com o paciente. Estudo(14) afirma que a
atuação do enfermeiro é o diferencial no pós-operatório para a recuperação do
paciente, no entanto, são necessários, recursos materiais e humanos adequados,
equipe capacitada, com embasamento científico e habilidades necessárias para o
cuidado do paciente em período perioperatório de cirurgia cardíaca.
Os enfermeiros reafirmam que as orientações realizadas para o
paciente compreendem uma fortaleza para o desenvolvimento do processo no
período perioperatório de cirurgia cardíaca. Outro estudo(15)
destaca que educar o paciente é responsabilidade do enfermeiro e da equipe de
enfermagem, para tanto, deve-se realizar uma avaliação da compreensão que os
pacientes possuem sobre a doença e assim, desenvolver um plano de ensino, que
vise à troca de conhecimentos. Na cirurgia cardíaca, são temas fundamentais, a
educação, a fisiopatologia, a importância do equilíbrio hídrico, dieta
hipossódica e identificação de sinais de sobrecarga hídrica.
Por fim, os enfermeiros evidenciaram como fortalezas, o apoio e
suporte da equipe e a rotina já estabelecida na instituição, como elementos que
contribuem para a integração do enfermeiro no local de trabalho e qualificam a
assistência prestada. Destaca-se que para a atuação dos enfermeiros em unidades
de cirurgia cardíaca, é necessário à realização de um treinamento admissional,
posterior a isso, o trabalhador é acompanhado para adaptação ao cotidiano do
serviço, o que pode ser realizado por meio de educação continuada(7).
Desta forma, o trabalho em equipe pode ser qualificado, por meio
de elementos constitutivos, como a comunicação, que é compreendida como
transversal entre os demais elementos, a confiança e vínculo, os quais podem
relacionar-se ao tempo de trabalho com a mesma equipe. Assim como, o
compartilhamento de experiências positivas conjuntas, respeito, reconhecimento
do trabalho do outro e colaboração, que se fortalecem pela participação do
trabalhador em discutir diferentes opiniões(16).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Este
estudo identificou as fragilidades e fortalezadas encontradas pelos enfermeiros
em desenvolver o processo de trabalho no período perioperatório de cirurgia
cardíaca, entre as fragilidades, destacam-se a desvalorização profissional,
pelo fato dos enfermeiros desempenharem funções diferentes das suas atribuições
profissionais. Além do déficit de trabalhadores, que podem comprometer a
qualidade da assistência, a falta de materiais e manutenção de equipamentos,
responsáveis por adiamento de procedimentos cirúrgicos e o preparo adequado do
paciente, que envolve o conhecimento acerca do pós-operatório de cirúrgica
cardíaca.
As
fortalezas evidenciadas pelos enfermeiros estão relacionadas à busca constante
de conhecimento, por meio de educação continuada e que fundamenta a prática de
enfermagem. Assim como, a recuperação do paciente e a realização de orientações
no período perioperatório, que são responsáveis por empoderar o paciente para o
cuidado. E, por fim, o desenvolvimento das atividades de assistência com apoio
e suporte da equipe e a rotina organizada e específica da instituição.
As
fragilidades do processo de trabalho, que podem interferir na qualidade da
assistência prestada e na qualidade de vida do trabalho do enfermeiro, podem
ser superadas focando nas fortalezas também presentes no processo de trabalho.
Para isso, a discussão acerca da temática deve ocorrer tanto durante a formação
profissional, quanto continuamente entre os trabalhadores nas instituições de
saúde, de forma que os enfermeiros desenvolvam o processo de trabalho em
período perioperatório de cirurgia cardíaca com qualidade.
Declaramos que não há conflitos de interesse.
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